Minha vida em Hogwarts não podia ser mais diferente do que a de anos atrás. Acho que isso se deve ao fato de agora eu não estar presa a uma pessoa que nem liga para mim.

Não sei se é pelo fato de eu ter vindo da França, ou ser uma Weasley, ou ter participado da briga em Nicholas e James que teve uma grande repercussão, mas eu estava popular na escola. Bastante popular. E isso não era exatamente um problema já que eu sou acostumada com esse tipo de coisa, em Beauxbatons era ainda pior. Mas com a popularidade veio a atenção do publico masculino, e isso se tornou um verdadeiro inconveniente.

Eles me paravam nos corredores na hora do intervalo, me impediam de comer em paz e não me deixavam descansar no pátio, quanto mais ler na biblioteca! E para piorar a situação minhas primas nunca me ajudavam e Jack... Ah, o Jack... Aquele chato apenas ria da minha desgraça.

_ Meu pai é dono de uma das mais famosas fabricas de cerveja amanteigada da Europa. – o menino dizia na minha frente enquanto eu mantinha um sorriso educado. Jack e Rose que estavam comigo antes já tinham ido para as aulas como bons amigos que são.

_ Isso é bom, mas eu realmente preciso ir para a aula...

_ Ele pode mandar algumas, e então podíamos nos encontrar... a noite... perto do lago... – ele diz se aproximando de mim.

_ Eu estou ocupada. – respondo rápido.

_ Eu nem disse o dia. - ele rebate franzindo a testa e antes que eu posso responder alguém abraça meus ombros.

_ Eaí Texuguinho? – Fred me cumprimenta ignorando o menino a minha frente. – Pronta para a reuniãozinha de família nesse fim de semana?

_ Oq...? Ah! Sim! – digo tentando mascarar minha confusão e então olho para o menino. – Desculpa Brian, mas eu te disse que estava ocupada... Reunião nesse sábado.

_ Podemos nos encontrar domingo. – Brian diz.

_ Mais a reunião é no domingo, e sábado nos temos que nos preparar... É complicado, mas é família, fazer o que! Tchau cara! – Fred diz rapidamente me puxando para longe dali.

_ Obrigada. – gemo agradecida e ele ri, porque todo mundo ri?

_ Na verdade, eu preciso de um favorzinho seu. – ele diz olhando os alunos que passavam no corredor.

_ Que favorzinho Fred? – pergunto desconfiada, já que com Fred é melhor ter uma certa cautela.

_ Isso. – ele diz abraçando minha cintura e me beijando. Sim, me beijando. Arregalei os olhos assustada e tentei afastá-lo mas Fred me segurou. Um dos seus olhos também estava aberto e olhando para algo atrás de mim e sua boca estava apenas encostada na minha.

_ Então é verdade? – uma voz fina diz atrás de mim e Fred me solta, ainda abraçando minha cintura. Me viro e vejo uma menina morena com os braços cruzados e olhos marejados. – Você estava mesmo com outra?

_ Desculpe Holland, mas a fila anda né? – Fred diz erguendo uma das mãos. A menina então se aproxima raivosa e lhe dá um belo tapa na cara que estrala por todo o corredor fazendo muitas pessoas pararem seu caminho.

_ GALINHA IDIOTA! – ela grita antes de sair pisando forte. Fred me solta e esfrega o rosto despreocupadamente e então se vira para mim.

_ Valeu Texuguinho. – ele diz ajeitando o cabelo. – E me lembre de nunca mais sair com nenhuma menina histérica como essa. Ainda mais com uma mão tão pesada...

_ Você... é impossível Fred! – digo meio atordoada.

_ Ninguém é impossível, não para mim. – ele responde com uma piscadela. - Mas só para esclarecer, apesar de você ser bonita eu não tenho desejos incestuosos contigo... Então não fique com expectativas de que o beijo vai se repetir.

_ Credo Fred! – exclamo indignada mas com vontade de rir. – Você também é lindo priminho, mas...

_ Não. – dizemos juntos com caretas e rimos depois.

Seguimos juntos para nossa aula de Adivinhação, que era no térreo, pelo da minha Sala Comunal. O nosso professor era um centauro chamado Firenze, muito velho, tanto é que alguns tios meus já haviam tido aulas com ele. Mas ainda assim ele era ótimo.

A sala tinha uma decoração meio natural, com troncos de arvores e grama no chão. O céu parecia o teto do Salão Principal, mas ficava constantemente mostrando as constelações.

A aula já havia começado quando Fred e eu chegamos, mas Firenze apenas acenou para entrarmos e continuou a aula.

Fred me puxou rapidamente e me fez sentar ao seu lado em um canto, perto de Aaron, James e Kate. Eu tentei me levantar mas ele não deixou.

_ Eu não quero sentar aqui. – sussurro para ele. Conseguia sentir o olhar cínico de Kate sobre mim mesmo na sala meio escura.

Tinha adquirido um certo nojo daquela menina desde que ouvi sua história com James. Ela o havia traído e mesmo assim andava para todo lado com ele, sorrindo e fingindo que eram um casal perfeito. Na verdade, segundo Rox, muitos consideravam os dois o “casal de Hogwarts”... e isso era ainda mais perturbador.

_ Largue de besteira Domi. – Fred diz me segurando ao seu lado.

_ Não é besteira. – resmungo baixinho. – Mas é que eu não gosto de ficar perto de pessoas que não vão com minha cara. – aponto com a cabeça para James e Kate que estavam agarradinhos ouvindo a aula.

_ James vai com tua cara. – Fred diz surpreendente sério. – Só é muito cabeça dura.

_ Ei, vocês! – Aaron diz se virando para nós. – Dá para ficar quietos? Estou tentando aprender sobre o alinhamento dos planetas aqui!

_ Sério? – Fred indaga levantando a sobrancelha.

_ Não, mas estou querendo dormir, e a falação de vocês não ajuda. – Aaron responde sorrindo e Fred o empurra para voltar a se virar.

*

_ Antes que o sinal toque eu queria dizer que no final do mês quero dois rolos de pergaminho contendo as anotações nas posições dos planetas durante todo o mês. – o professor diz no final da aula me despertando de um cochilo. – O trabalho vale metade da nota e será feito em duplas ou trios, então caprichem.

_ Mas para fazê-lo vamos ter que observar os planetas a noite. – uma menina da Lufa-Lufa diz. – Teremos que ter permissão.

_ Vou avisar a diretora para que vocês possam fazer a observação nas noites de quarta e quinta. – Firenze responde balançando sua cauda e trotando até a porta. – Por hoje é só.

Recolhi minhas coisas bocejando e sai dali apertando os olhos com a claridade do lado de fora da sala. Meu horário agora era livre até o jantar, então trazei um rumo até minha sala comunal onde eu planejava descansar.

_ Ei, Domi! – me viro com o chamado de Fred.

_ Não vou te beijar para desiludir mais nenhuma namorada sua. – respondo brincalhona e ele revira os olhos.

_ Quer fazer o trabalho com nós? – ele pergunta descontraído.

_ Ah, claro. – respondo acenando com a cabeça e ele abre um sorriso malicioso. – Espera... “Nós” quem?

_ James e eu, é claro. – ele responde com naturalidade e dando de ombros. – Nós três juntos, como nos velhos tempos... – acrescenta lentamente e vai se afastando. –Até mais texuguinho!

_ Como nos velhos tempos... – murmuro pesarosa, mas logo balanço a cabeça. – Nada disso Domi, você tem que aprender a não se afetar. O que tem fazer esse trabalho? Normal. São seus primos... É normal!

*

*

_ Os ovos não vão sair do lugar sabia? – Jack implicava comigo de manhã enquanto eu comia. Eu não tinha culpa se minha genética me fazia ser uma esfomeada enquanto ele preferia ler quadrinhos enquanto bebia suco.

_ Você podia ser menos chato sabia? – rebato imitando seu tom. Nossa amizade começou a ser essa troca de farpas carinhosas que eu adorava. – Vai fazer o que hoje?

_ O capitão no time quer todos lá para os testes. – ele diz entediado. – Como se novatos fossem resolver nosso time...

_ Ora não diga isso, vocês não são tão ruins. – digo bebendo meu suco.

_ Não... somos péssimos. – ele diz se levantando e eu o acompanho. – Vai ver o teste?

_ Não tenho mais nada para fazer. – digo dando de ombros.

Jack não estava exagerando. O time da Lufa-Lufa era péssimo.

Os atuais jogadores formaram times com os possíveis novos jogadores e começaram a jogar, e eu não conseguia saber quem era pior.

Claro que os jogadores em si não eram de todos ruins. Jack por exemplo voava muito bem e tinha um bom passe, mas nenhuma sincronia com os outros artilheiros, o que acabava com tudo. O apanhador do time se posicionava bem no campo, mas se distraia demais e o capitão que também era batedor, não conseguia organizar ninguém, nem mesmo trabalhar em equipe com o outro batedor.

O resultado era drástico. Vários acidentes no meio do campo, gente trombando em outros, balaços voando para todo lado e goles caindo das mãos dos “futuros” artilheiros.

Jack estava, se possível, ainda mais mau-humorado do que o normal quando eu o encontrei no fim do teste.

_ Nosso capitão é um idiota. I-D-I-O-T-A! – ele exclama nervoso. – Você viu o teste! Ele sempre escolhe qualquer um, e mesmo se o novato tiver potencial, o capitão não vai procurar ajudar!

_ Porque você não vira capitão então? – sugiro parando ele no meio no gramado. O sol do meio-dia já estava forte. – Eu acho que seria muito bom.

_ Eu não sou bem um cara de liderança. – ele diz sorrindo minimamente. – Não sou... digamos... simpático.

_ Você é ótimo, é um dos melhores ali no time e sabe o que precisam para melhorar! – digo com confiança e ele desvia os olhos parecendo pensar.

_ Não, todo mundo adora o Ryan como capitão, porque mesmo afundando o time ele é super simpático e brincalhão e legal..! – ele diz revirando os olhos. – Mas eu... nem sei como posso ser da casa mais amigável daqui. Eu não tenho jeito para isso.

_ Claro que tem! – exclamo. – Você pode ser assim todo mau-humorado e emburradinho, e rebelde com a vida... Mas é uma boa pessoa.E se você quiser tentar ser capitão, saiba que eu vou te ajudar. Tenho experiência com liderança.

_ Ah, claro. Você era a Princesa da França! – ele diz zombeito e eu fecho a cara.

_ De Beauxbatons. E isso não vem ao caso. – resmungo voltando a andar. – Só... pense nisso ok?

_ Ok Dominique. – Jack responde respirando fundo e eu sorrio animada com aquilo. Ele, na minha opinião, seria um ótimo capitão, porque eu via que ele realmente se importava com o time e queria fazê-lo melhor.

Perfeito seria se eu conseguisse jogar. Mas desde que cai feio de vassoura anos atrás eu fiquei malditamente traumatizada. Era só dar impulso com a vassoura e olhar para baixo que eu revia minha vassoura descontrolada, o chão cada vez mais próximo e o medo da dor... E que dor!

_ Dominique! – me viro e vejo Rox e Rose descendo as escadas do castelo e vindo até nós dois. – Chegou cedo.

_ Cedo para que? – pergunto confusa.

_ Para nossa reunião em família! – Rox responde animada. – Fred me disse que tinha te avisado sobre essa nossa tradição! Aquele idiota...

_ Ele comentou. – digo me lembrando da história que Fred me contou para me livrar de um menino idiota. – Mas pensei que era brincadeira.

_ Não é não. Sua irmã começou essa tradição quando entramos em Hogwarts. – Rose diz. – Ela disse que éramos tantos e não conseguimos nos ver com frequência, então ela fez com que todo mês nós nos reuníssemos para uma tarde em família.

_ E será hoje. – Rox acrescenta e me pega pelo braço. – O pessoal vai chegar logo logo...

_ Se quiser vir, tudo bem, Pierce. – Rose diz sorrindo simpática para Jack que estava alheio a tudo.

_ Não, obrigado. – ele responde fazendo uma careta possivelmente por conta do sobrenome mencionado. – Eu preciso tomar banho, comer e descansar um pouco.

_ E pensar também. – digo sugestivamente. –Sobre aquele assunto...

_ Certo. – Jack diz revirando os olhos mais uma vez. – Até mais Weasleys.

_ Seu amigo é estranho sabia? – Rox comenta vendo Jack ir embora e então me guia para a beira do lago.

_ Ele é legal. – afirmo sorridente. – Agora me diz, é só nossa família que vai hoje?

_ Mais ou menos. – Rox responde. – Os gêmeos Scamander, Alice Longbottom, Kate, Aaron, Scorpius e Anthony costumam ir de vez em quando.

_ Hm... Anthony? – pergunto ignorando os outros nomes.- Zabini?

_ O próprio. – Rose diz enquanto andamos na beira do lago cada vez nos afastando mais do castelo.

_ Mas e Molly?

_ Não gosta, mas também não se importa. – Rox diz meio entediada. – Ele odeia Zabini por ele tê-la traído, e passou a detestar todo tipo de relação amorosa, mas não acho que ela ainda tenha sentimentos pelo Anthony. Então a situação fica meio tensa, mas não desconfortável. E Anthony é legal... Meio sacana, mas legal.

_ Ok então. – digo tirando meu cabelo do pescoço por conta do calor. – Para onde estamos indo hein?

_ Logo ali na frente, tem algumas arvores na beira do lago que dão uma boa sombra. – Rose explica apontando para frente. – É um bom lugar porque é calmo, bonito e afastado de bisbilhoteiros e professores. Digamos que certas pessoas as vezes fazem muita bagunça...

_ Nossa, que indireta em Rose? – Rox diz sorrindo. – Nós fazemos bagunça sim, mas por diversão. - a morena afirma categórica. – Mas antes de chegarmos, Domi, eu queria te perguntar uma coisa.

_ Pode falar.

_ Como assim você está de rolo com meu irmão?