Mamãe entrou chamando meu nome, eu atendi e disse que tínhamos visita. Ela perguntou quem era e meus amigos apareceram.

– Esse é o Nagashima (que você já cohece) e esse é o Kazumi. Convidei-os para entrar pois o trem ia voltar depois de uma hora e meia então decidimos vir à pé.

– O Tatsuo que decidiu... – disse Hayato e eu cutuquei seu braço com meu cotovelo.

– Hmm... Belos garotos, Ayumi. – disse mamãe analisando os dois, principalmente o Hayato-kun.

– MÃE! Eles são meus amigos, isso não foi educado.

Pedi perdão a eles pelos modos da mamãe mas falaram que estava tudo bem. Mamãe colocou o casaco no cabideiro e disse para eu ajudar a guardar as compras. Obedeci e fomos para a cozinha.

– Mãe, eu disse que você levaria-os para casa assim que chegasse... E se ficar tarde demais, os seus pais vão ficar preocupados.

– Ah, eles parecem serem legais, deixem ficar um pouco mais. – disse dando um sorriso para mim.

– Mãe... às vezes eu acho que EU deveria ser você e você deveria ser eu, sabe?

Ao dizer isso mamãe riu e tirou das sacolas pão e patê de atum. Passou nos pães de forma, cortando-os na diagonal e levou até os meninos. Não sei se mamãe sabe, mas eles também têm a vida deles para fazer.

– Meninos, trouxe lanche para vocês. Depois que lancharem, levarei-os para casa em segurança. – disse mamãe entregando a bandeja com os lanches.

– É muita gentileza, Sra. Yang. Agradecemos. – disse Tatsuo cutucando Hayato.

– Ah, sim; claro! Agradeço pelo alimento, Sra. Yang.

Sentei no chão e fiquei ali abraçando minhas pernas. É impressão minha ou mamãe realmente quer ter algum "homem" aqui em casa? Se quiser, eu adoto um cachorro. Hayato me ofereceu um pão e eu recusei, disse que não estava com fome. Mas foi quando mamãe inventa de eu mostrar minhas pastas de jogos. Mas para quê? Hayato foi o primeiro a querer futricar. Peguei as pastas e deixei que ele desse uma olhada. Era quase impossível, mas ele tinha metade dos meus jogos também. Antes que Hayato disse que nós dois podíamos jogar, Tatsuo se levantou, agradeceu pela hospedagem de alguns minutos e disse que a chuva tinha diminuído, e assim disse que tinha que voltar para casa. Ele disse para Hayato-kun se apressar e ele fez o mesmo.

– Espere! Minha mãe irá levá-los para casa. Como prometido.

Fui até a cozinha e chamei mamãe, dizendo que já estava na hora de levar os meninos para casa. Ela pegou as chaves, seu casaco e então chamou-os. Nos despedimos e lá foi mamãe. Enquanto isso, me preparei para ir dormir.

***

No dia seguinte, levantei e mamãe estava na cozinha colocando uma leiterinha em cima da mesa. Me disse bom dia e fiz o mesmo. Sentei-me, peguei uma torrada e passei manteiga. Perguntei se os meninos chegaram bem em casa e mamãe assentiu. Disse que conheceu os pais só de Kazumi e eles eram muito legais, onde agradeceram a carona. Já Tatsuo seus pais não estavam em casa. Depois de tomar meu café, fui me arrumar para o colégio. Sai de casa cedo, mas eu ia aproveitar para passar em algum mercado e comprar alguns pães recheados.

Ao chegar na escola, Naomi estava vindo em minha direção com uma cara triste. Perguntei o que houve e ela pediu perdão por ter saído naquela hora do nada. Então expliquei que o que ela fez foi até que bom, pois nós havíamos perdido o trem. E depois Tatsuo inventou de ir à pé. O Hayato ficou resmungando o tempo todo, até o Tatsuo mandá-lo calar a boca.

– Ele fez isso mesmo? – disse rindo com a mão na boca.

– Sim... Então depois disso cheguei na minha casa e disse para eles entrarem, pois o Hayato estava sem água no corpo. Gastou tudo choramingando. Aí começou a chover forte e as crias acabaram ficando por lá até mamãe levá-los para casa de carro.

– Hmm...

Nesse momento Tatsuo chegou na sala mas nem foi em nossa direção, passou reto. O mesmo com o Hayato-kun.

– O que houve com os garotos? – disse Naomi olhando para mim preocupada.

– Isso que gostaria de saber...

Será que aconteceu alguma coisa que eu fiz mas acabei não percebendo? No intervalo decidi procurá-los, mas não acabei achando-os. Naomi me puxou pelo pulso falando que tínhamos que correr para o vestiários pois teria Educação Física. Enquanto nós corríamos, ficava olhando para as janelas do prédio para ver se achava Tatsuo, mas nada. Foi até eu, de novo, tropeçar e ralar meu joelho. A Naomi parou de correr e me levantou.

– Vamos, eu te levo para a enfermaria. Apoie-se em mim, eu aguento.

– Não, não... Estou bem. Só ralou e está sangrando um pouquinho.

Quando olho para o meu joelho, estava todo vermelho e havia sangue escorrendo pela canela à baixo. No final, estava sentada na cama com a Naomi ao lado de pé com a enfermeira colocando um curativo em meu joelho.

– Daqui a alguns dias seu joelho estará bem melhor. Só tome cuidado da próxima vez, okay? – disse a enfermeira levando uma ficha com meu nome para algum lugar fora da sala.

– Sim, senhora. Muito obrigada.

– Hã, Naomi... A aula... Você pegará punição, terá que limpar o pátio todo.

– Ah, não ligo. Enquanto isso eu aproveito e danço com a vassoura.

– É o quê?! –disse rindo- Dançar com a vassoura?

– É que semana que vem minha prima terá uma festa e terei que dançar com meu primo, eca...

– Boa sorte...

– Obrigada.

O sinal da escola bateu e então voltamos para a sala. Sentei-me deixando meu joelho em algum lugar que ninguém bata, nem mesmo a mesa. Mas acho que não adiantou em nada, pois um menino que passava no corredor não viu minha perna e tropeçou no meu joelho fazendo beijar o chão e eu gritar de dor. Ele se levantou e pediu desculpas, mas disse que estava tudo bem. Mandei um bilhete para o Tatsuo que dizia: "Preciso falar com você. Pode me encontrar atrás do colégio próximo à Área Verde?" A Área Verde era uma espécie de praça arvorizada linda, com muitas flores e também se você tiver sorte, acha borboletas. Ele leu o bilhete e me olhou rapidamente com os olhos arregalados e corado. O que será que ele pensou?