POV bela

Quando parei de chorar, levantei a cabeça e olhei a minha volta e fiquei observando o quarto.

Era realmente muito grande. Suas paredes eram creme, com alguns detalhes dourados. Os móveis eram todos sofisticados, a decoração era nobre. A cama tinha um dossel, era bem grande também e estava coberta com lençóis de cetim.

Mas, apesar de todo o luxo do local, não pude deixar de perceber que provavelmente, ninguém entrava ali fazia anos.

Suspirei, me levantei e fechei a porta do quarto, que ainda estava aberta, para em seguida mergulhar na cama macia e tentar dormir, mesmo sendo provavelmente umas sete horas da noite.

Porém, é claro que não consegui. Pelo menos não a noite inteira. Não parava de pensar no que seria da minha vida a partir daquele momento. Mas, mesmo assim, fechei os olhos, na esperança de sonhar com algo bom.

Na manhã seguinte, quando acordei, me sentei na cama e fiquei encarando a parede vazia, pensando no que fazer. Decidi que a partir daquele momento, eu iria definitivamente, parar de sofrer e aceitar que eu iria ficar ali. Resolvi também, parar de pensar no fato de que, se dependesse da loucura daquele rei, a guerra jamais acabaria e que tudo aquilo era meio que minha culpa. E arranjar um jeito de fazer com que minha estada ali não fosse tão ruim.

De repente, batidas na porta arrancaram-me de meus pensamentos. Então, uma voz doce perguntou:

– TOC, TOC. Posso entrar?

Sorri com a brincadeira e apressei-me em responder um "sim", afinal, só porque eu odiava aquela sombra assustadora, isso não significava que eu odiava seus criados também.

Segundos depois, uma simpática senhora entrou no quarto, carregando uma bandeja de prata com alguns alimentos em cima.

– Eu me chamo Charlotte. Qual seu nome querida? - ela perguntou, colocando a bandeja na mesinha de cabeceira e sentando-se na ponta da cama,

– Bela. - respondi, com um fio de voz. Mas apesar disso, ela sorriu. Quando ela ia falar alguma coisa, perguntei:

– Para que bandeja?

– Você não foi jantar ontem a noite. Imaginei que estivesse com fome.

Fiquei comovida com aquela gentileza e comecei a dizer que não precisava, que poderia buscar alguma coisa na cozinha, mas ela me interrompeu e disse que não tinha lhe dado trabalho algum fazer o meu café da manhã. Então, continuou a me perguntar sobre minha vida, perguntou a minha idade ( dezoito anos), se eu tinha irmãos (não) e mais algumas coisas.

Até que ela me perguntou o que eu gostava de fazer e quando eu estava prestes a responder que gostava de ler, uma voz a chamou no corredor.

A voz era de Paul, como ela me apresentou. Quando me viu, ele apenas acenou rapidamente e depois a puxou para o corredor.

Assim que ele saiu, tomei rapidamente o café da manhã e abri o armário. Dentre os luxuosos vestidos, escolhi o mais simples. Então o coloquei, arrumei os cabelos, calcei as sapatilhas e decidi sair do quarto, discretamente e sem chamar a atenção, para não correr o risco de encontra-lo no corredor.

Mas, acabei encontrando Paul e Harry no corredor e eles se ofereceram para me mostrar o castelo. Claro que aceitei, afinal, precisava mesmo de alguma coisa para fazer.

Enquanto os dois me conduziam e iam me explicando a história de cada quadro naquelas paredes, fui ficando completamente fascinada com tudo aquilo. Com a doçura dos criados, com a sofisticação que aquele castelo abandonado possuía, com tudo. E então comecei a pensar no fato de que cada detalhe naquele castelo, fazia dele um lugar encantador e não tão ruim assim de ficar... Exceto a existência dele.