Capítulo 3

A luz ali era ainda mais fraca do que no resto da floresta. E o vento frio soprando as folhas das árvores, além de esfriar o lugar, lhe dava uma aparência espectral, podendo facilmente assustar qualquer um que passasse por ali. Mas não era isso que espalhava o terror por cada uma das minhas células, o responsável por esse feito era aquela expressão no rosto de Edward. Uma expressão completamente lisa, sem demonstrar qualquer tipo de sentimento. Eu nunca o tinha visto daquele jeito. Foi ele quem escolheu o lugar para termos, segundo ele, uma conversa muito importante. E aquele lugar me dizia que algo péssimo ia acontecer.

- Bella, nós resolvemos ir embora. Vamos nos mudar no final de semana. – a voz dele foi calma, como se ele estivesse falando sobre o tempo.

- O... quê? – por mais que eu tentasse firmar minha voz, ela saiu um pouco mais alto que um sussurro.

 - Isso mesmo. – mais uma vez a voz era neutra – Tivemos uma espécie de “conselho de família” e decidimos que é melhor sairmos daqui, caso contrário pode haver especulações sobre o nosso envelhecimento, ou a falta dele.

- Simples assim? Vocês... simplesmente vão partir? – o bolo na minha garganta ameaçava me comprimir por falta de oxigênio – E nós?

- Nós? – ele arqueou a sobrancelha perfeita como se não tivesse entendido – Eu sinto muito Bella,, mas acho que não existirá mais “nós”.

 - Tão fácil... é tão fácil para você me deixar... – agora eu olhava pro chão e tentava conter as palavras sem nexo que saiam pela minha boca, mas não estava sendo bem sucedida.

 - Não é fácil.

Ao ouvir essas palavras, levantei a cabeça subitamente. Mas a fagulha de esperança foi completamente apagada ao ver aquela máscara lisa sobre seu rosto.

- Mas você está indo... – eu não ia dizer, eu não ia dizer, eu não ia... – Você disse que me amava.

 - Acho que naquela época eu amava. – alguma coisa relampejou em seus olhos antes de sumir completamente – Não tenho certeza se era amor mesmo ou apenas algum sentimento passageiro que a solidão me causou.

Senti como se alguém tivesse chutado meu estomago. Eu teria cambaleado se não sentisse que cada pedaço do meu corpo estava entorpecido pela dor.

- Sinto muito Bella. É melhor assim.

Ele falava, mas eu não conseguia ver nexo nas palavras. Sentia que o que ele falava fazia sentido, mas eu só conseguia ouvir ruídos. Foi quando senti a mão dele em meu braço. Pulei de susto, me afastando o máximo que eu conseguia, como um animal ferido. Ao que parece, Edward só queria a minha atenção, por que não fez nenhum movimento para se aproximar agora que eu o encarava.

- Adeus Isabella.

A voz dele saiu rouca e alguma coisa parecida com a dor passou pelos olhos dourados.Mas eu devia ter visto errado. Porque se fosse realmente dor, se ele realmente estivesse sofrendo por me deixar não teria desaparecido no segundo seguinte, sumindo por entre as árvores.

Quando ele desapareceu foi que a realidade me atacou de verdade e, junto com ela, a dor excruciante. Cai de joelhos sobre as folhas secas, minha mão apertando meu pescoço tentando aliviar a pressão que havia ali. As lágrimas deslizaram por minhas bochechas, mas eu não as sentia. Só conseguia sentir como meu coração era partido em mais alguns milhares de pedaços a cada segundo que se passava.

Edward... Por quê?!  

Sentei-me abruptamente, meu coração batia na garganta. Olhando em volta percebi que estava sã e salva em meu quarto. Tinha sido um pesadelo. Outra vez aquele mesmo pesadelo. Acho que meu subconsciente fazia questão de me lembrar, quase todas as noites, nos sonhos o que eu tentava sufocar ao máximo quando estava acordada: o dia em que Edward me deixou.

Passei a mão em meus cabelos, eu estava suando frio. Aliás, o quarto também estava frio. Olhei para a janela e ela estava aberta.

- Mas que droga... – resmunguei enquanto andava até ela. – Eu tenho certeza que fechei essa porcaria. – movendo-a para baixo, tranquei-a. – Além de louca, devo estar virando sonâmbula. Caso contrário por que a janela estaria aber...

Estaquei no meio do quarto. Não, ele não faria isso! Ele não tinha motivos para fazer isso! Olhei desesperadamente em volta, para apenas constatar o óbvio: eu estava sozinha no cômodo. Agora eu estava tento ataques de paranóia. Não me falta mais nada! Voltando a cama, me obriguei a dormir, torcendo para não sonhar dessa vez.

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Que barulho abominável era esse?! Ok, não era abominável porque Kings of Leon nunca seria abominável. Mas por que raios ele estava atrapalhando meu sono!? Virando por entre os lençóis tentei alcançar o barulho para fazê-lo se calar. Quando minha mão o alcançou foi que percebi que era meu celular que estava tocando. Coloquei o BlackBerry de qualquer jeito por sobre a orelha, sem nem ao menos ver quem chamava.

- Que foi? – resmunguei para qualquer que fosse a alma infeliz que estava me ligando.

- Isso é jeito de falar com a sua melhor amiga? – Brooke bufou do outro lado da linha. – Bom dia para você também, Bella. Tava dormindo, né?

- É claro que eu estava. Ainda é de madrugada! – nem abrir os olhos eu conseguia. Será que aquela conversa ia demorar muito? Meu travesseiro estava tão confortável hoje.

- Já são dez da manhã. – mais uma bufada impaciente dela – Faça o favor de se levantar porque nós vamos para Port Angeles.

- O quê? Dez da manhã?

Abri um pouco os olhos e visualizei meu despertador que marcava 10:15. Parecia que eu tinha dormido cinco minutos! Era o que acontecia quando eu sonhava com Edward, sempre acordava exausta apesar de ter pegado no sono depois.

- É. É. Dez da manhã. Levanta logo porque eu vou passar ai em quarenta minutos.

- Passar aqui? Por quê? – o sono estava me deixando lenta.

- Por que hoje é domingo e você prometeu que ia comigo no boliche, lembra?

Droga! Aquilo era verdade. Mas eu tinha me esquecido completamente. Acho que é porque eu estava meio que perdida no tempo. Podia jurar que hoje era sábado.

- Ta legal. Te vejo em uma hora. – joguei as cobertas para o lado,  levantando.

- Quarenta minutos. Esteja pronta!

Quando ia discutir ouvi o barulho que indicava o fim da ligação.