Do I Wanna Know escrita por gryffinanda, Queen Pettyfer


Capítulo 3
Capítulo 3 — O show de George Williams


Notas iniciais do capítulo

Hm... Bom... HOLA!
Podem me xingar pela demora, eu deixo. Muitas coisas aconteceram nesses três meses, como: eu quebrei o note, quebrei meu cel, fiquei de castigo, perdi o capítulo, reescrevi ele todo, procrastinei... Mas, finalmente, aqui estou eu!
Eu espero, de verdade, que gostem e me perdoem por não ter postado. Eu vou recuperar o ritmo de escrever, prometo. Eu realmente perdi a vontade de escrever, porém vou recuperar o hábito e a criatividade.
Mais uma vez, eu sinto muito. Curtam o capítulo, okay?!



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Antes de entrarmos de verdade na minha história com os Turner, existem algumas coisinhas que vocês precisam saber.

Minha amizade com Davina começou do jeito mais puro possível; tirando o olhar de "melhor amiga à vista" que demos uma a outra, começamos a conversar de verdade quando ela ameaçou de morte a Sra. Hipop, professora de física, por querer passar exercícios que valiam nota sem ter explicado a matéria direito (e, cá entre nós, Davina realmente odeia física). Após isso, eu fui obrigada a puxar conversa com ela; ameaçar uma professora de morte não é para qualquer um, ainda mais de um jeito tão bom quanto o meu.

Damen e Dominick vieram por consequência. Eles eram irmãos de Davina e, quando não estavam brigando um com o outro, eram bem legais. Eu ainda estava um pouco embasbacada por eles serem tão iguais, e contei isso para eles, já que nunca fui de guardar segredos.

— Espere só até ver nós três juntos. Se gêmeos idênticos já são um problema pras pessoas, imagine trigêmeos.

Dimitri, eles me explicaram, cabulara aula hoje para ficar em casa jogando vídeo game com George Williams, seu melhor amigo desde os cinco anos para todo, todo o sempre. Palavras de Davina.

— Só eu que senti um leve tom de ciúmes? — perguntei ironicamente. É impressionante a facilidade com a qual eu me sentia confortável perto de pessoas que conhecia há pouco tempo, apesar de sempre medir minhas palavras com medo de dizer algo errado.

— Ah, não, acredite — Damen respondeu, enquanto caia na risada. — Eles se pegam casualmente nas horas vagas.

— Pelo menos eu pego alguém — Davina replicou, e assim começou outra sessão de socos, dessa vez entre ela e Damen.

— Vem cá — Dominick me puxou pela mão, levando-me para longe deles, em direção ao carrinho de sorvete que tinha no pátio da escola.

— Então... — Tentei puxar assunto. — A sua família é bem legal.

— É, você só diz isso porque é filha única. Eu acho que é, né... Você lida com garotos muito bem pra ser filha única.

Senti uma marretada no peito.

— Eu sou. Acho que só prefiro meninos a meninas, por isso me relaciono melhor com eles.

Balancei minha garrafa de água, desconfortável com a situação, enquanto encarava a briga entre os dois.

— Como seus pais aguentam vocês? — sem conseguir me controlar mais, perguntei a Dom sobre seus pais.

— Hm… Bem, é complicado. Nossa história é complicada — ele fez uma pausa e respirou fundo, como se temesse minha reação diante suas palavras. — Nós moramos com nossa tia desde os sete anos. Nossos pais eram drogados. Eles morreram.

— Oh. — Vadia da Ruby com sua droga de boca. — Sinto muito por me intrometer. Eu entendo, até. Minha mãe também morreu.

— 'Tá tudo bem, sério. Só não comenta perto do Damen, tá? Ele não gosta muito desse assunto e acha que deveríamos inventar uma história diferente, assim as pessoas não olhariam pra gente com pena.

— Bom, não espere o olhar de pena da minha parte. Eu não sinto pena de ninguém.

Dominick me estudou de cima a baixo, provavelmente ainda não convencido da história sobre irmãos.

— Você não gosta disso, não é? — perguntou após alguns segundos me observando cuidadosamente. — Gente te olhando com pena.

Sorri amarelo. Você nem imagina.

***

Na aula de inglês, a classe ouviu minha voz pela primeira vez. Eu estava sentada, olhando pela janela e imaginando em que Matty costumava pensar quando fechava os olhos, quando ouvi meu nome. Olhei para frente, para a sra. Buster. Foi como se mil borboletas batessem suas asas no meu peito.

A sala toda me encarava.

— Rurye, você pode ler?

Pigarreei. Sequer sabia em que página estávamos. Então Dominick, como um verdadeiro herói de quadrinhos, inclinou-se sobre meu ombro e colocou na página certa, indicando o poema que eu deveria ler. Era de Elizabeth Bishop; um dos meus preferidos, na realidade.

Comecei a ler quase sem precisar, de fato, ler:

A arte de perder não é nenhum mistério;

tantas coisas contêm em si o acidente

de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero, a chave perdida, a hora gasta bestamente.

A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:

lugares, nomes, a escala subsequente

da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero

lembrar a perda de três casas excelentes.

A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império

que era meu, dois rios, e mais um continente.

Tenho saudades deles. Mas não é nada sério.

Respirei fundo, tentando controlar minha respiração. Em algum momento, eu não estava mais na sala. Transportei-me para outro lugar. Para folhas, uma van vermelha, o cheiro de chuva e colônia masculina, um chaveiro de globo terrestre, e para uma biblioteca com raios de sol entrando por frestas pelas cortinas. Transportei-me para Lawrence, para outro tempo, para outra realidade. Eu não estava mais lendo, mas sim Matty, deitado no chão de seu quarto, com Heart Shaped Box como trilha sonora.

— Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo que eu amo) não muda nada. Pois é evidente

que a arte de perder não chega a ser mistério

por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

Minha voz deve ter saído trêmula, porque o poema era um tornado dentro de mim e a sala inteira me encarava.

A sra. Buster fez o que sempre faz. Encarou a turma pesadamente e perguntou:

— O que acharam?

A mão de Damen rapidamente voou para o ar.

— Bem, é claro que ela está falando merda. Perder as coisas nunca é fácil. Principalmente quando você ama muito algo. Quanto mais amor, mais difícil é perdê-la.

Levantei a mão sem nem perceber.

— Acho que, quando você perde alguma coisa próxima, é como perder a si mesmo. É por isso que, no final, até escrever é difícil pra ela. Ela quase não sabe mais como fazer. Porque quase não sabe mais quem ela é.

Antes que qualquer pessoa pudesse processar a intensidade com a qual eu falara aquilo, o sinal tocou.

Guardei minhas coisas o mais rápido possível. Olhei para Davina e ela parecia estar me esperando, escorada na porta da sala com Damen e Dominick. Lancei um olhar de gratidão à ele. Maldito garoto. Eu o conhecia há menos de seis horas e já havíamos criado laços.

— Rurye, posso conversar com você um instantinho?

Fiquei com raiva da professora, porque os Turner foram embora. Parei, inquieta, em frente à mesa dela até que ela finalmente perguntou:

— Como você está?

Eu ainda estava atordoa pelo poema, então só consegui murmurar:

— Hm... bem. Eu estou bem.

— Certo, então. Você está bem atrasada na matéria. Deveria pedir ao sr. Dominick que lhe emprestasse seu caderno. Ele é um ótimo aluno.

Eu fiz que sim. E então ela disse:

— Ruby, se precisa de alguém para conversar...

Olhei para ela com a expressão vazia. Ninguém chamava-me de Ruby até que eu lhe contasse sobre o apelido. Ninguém sequer o imaginaria até eu falá-lo. Rurye não tem apelidos.

— Eu dava aula no Sandia — ela explicou, com cuidado. — Matthew foi meu aluno no primeiro ano.

Eu não conseguia respirar direito. Estava ficando tonta. Por favor, não desmaie.

Finalmente, ela disse:

— Matthew era um garoto extraordinário.

Engoli em seco.

— Sim — respondi. E saí, determinada a não deixar aquilo me impedir de recomeçar.

Eu queria que todas as vozes se dissipassem e me deixassem em paz.

***

Damen bateu a porta do apartamento com mais força do que o necessário.

— Querida, cheguei! — ele gritou a plenos pulmões, abrindo os braços como se esperasse que alguém pulasse nele.

Não deu em outra.

Três segundos depois, um garoto loiro da minha altura chegou correndo até a porta, pulou nos braços dele, entrelaçando suas pernas ao redor de sua cintura, de modo que sua cabeça ficasse logo abaixo a de Damen. Ele deu uma longa fungada, como se estivesse chorando, e berrou:

— Como eu senti sua falta, sessenta centímetros! Ficar aqui com o Dimitri foi uma tortura! Ele tentou me molestar e me levar pro beco... Quem é essa?! — ele olhou para mim, como se estivesse me vendo pela primeira vez, e encarou-me de cima a baixo como todo mundo fizera hoje.

— Ah, essa é a...

— Damen, ela sabe falar! —Davina entrou no apartamento, esbarrando em Damen, que por consequência derrubou George, que logo saiu correndo atrás dela como um cachorrinho.

Dimitri apareceu na cozinha, bebendo uma latinha de coca despreocupadamente.

— Jesus Cristo! — exclamei, vendo os trigêmeos no mesmo cômodo.

— Eu te disse! — Damen comemorou, rindo. Ele roubou a coca de Dimitri, que ainda olhava para mim.

— Você é...

— Ahm... Rurye. Mas pode me chamar de Ruby.

— Rurye — George, que voltara para a sala massageando o rosto, disse confuso. — Isso é o quê? Índio?

— Indígena — Dimitri corrigiu, coçando a barba por fazer.

— Na verdade, nem eu sei. Minha mãe levou isso pro túmulo com ela.

Dei de ombros e andei até a direção onde Davina havia ido, adentrando o quarto dela, que ela dividia com algum dos irmãos.

— Hey — joguei minha mochila em sua cama e me sentei ao seu lado. — Tudo bem?

Davina respirou fundo, passando a mão pelo resto.

— Tudo ótimo, Rurye. Tudo ótimo.

E levantou-se, deixando-me sozinha sentada em sua cama. Andou até seu guarda roupa e começou a tirar roupas dali, jogando-as na cama de Dimitri — reconheci que ela dividia o quarto com ele pela cômoda estéril e limpa, quase vazia. Havia apenas um frasco de colônia masculina quase nunca usado, um canivete de aço maciço e uma carteira de couro gasta. Algumas notas de cinco dólares escapavam de dentro dela, como se ele juntasse sua mesada e dinheiro do lanche por meses à fio.

Observei Davina novamente. De amigável à fechada emocionalmente em um nanosegundo, tão perto, porém tão afastada. Naquele momento, ali, senti-me mais sozinha que nunca.

Peguei meu diário, juntamente com a minha caneta preferida, e comecei a escrever para ninguém especificamente.

"Sei que Matty está morto. Quer dizer, uma parte racional de mim sabe, mas não parece verdade. Ainda sinto como se ele estivesse aqui, comigo, de alguma maneira. Penso que ele vai entrar pela janela, depois de sair escondido, e me levar para mais uma aventura. Se eu for mais desapegada, como Matty, talvez aprenda a viver sem ele.

Beijos,

Ruby."


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Notas finais do capítulo

George: http://dammit.com.br/wp-content/uploads/2013/04/entrevista.jpg

A cena do poema e esse último parágrafo foram praticamente retirados do livro Cartas de Amor Aos Mortos. Eu recomendo, principalmente se vocês quiserem entender a mentalidade da Ruby, porque ela é bem parecida com a Laurel na época pós Matty e muito parecida com a May na época Matty da vida dela.
Bem, espero que tenham gostado!
Beijocas em todos vocês, fantasmas ou não ♥