A Dança das Lâminas Rubras escrita por João Emanuel Santos


Capítulo 13
A Fonte da Magia Antiga - Parte Dois.


Notas iniciais do capítulo

Só lembrando que junto deste capítulo, lancei a parte um de “A Fonte da Magia Antiga”.

E repetindo o aviso extra/hiper/mega/ultra importante.
Ganhei uma história de presente da Jodie Holmes, uma one que ela postou aqui no Nyah, se passa no mesmo mundo de Lâminas Rubras, e está MUITO BOA, deem uma checada lá, não vão se arrepender :D

http://fanfiction.com.br/historia/558447/Ascencao_e_queda_de_Adriene_dMaquiavoux

Espero que gostem ^_^



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No dia seguinte após nossa chegada ao castelo de Rei Siegfried, nós participávamos de uma grande ceia. Tínhamos a honra de possuir lugares naquela mesa extensa, ao lado de vários cortesãos e da família real.

Rei Siegfried sentava à cabeceira, se alimentando com uma singela sopa de vegetais. Sir Derek, seu segundo filho, sentava-se a seu lado direito, seguido de Príncipe Ulrich. Os dois irmãos pareciam ter uma conversa agradável, como se nada do que o príncipe mais novo nos dissera no dia anterior fosse de fato acontecer.

Senhora Shannon e sua filha estavam no lado esquerdo do Rei, como convidadas de honra. Após a pequena Senhora Nolwenna, eu me sentava junto dos mercenários.

Gregório escutava pacientemente todas as histórias que o Rei tinha para lhe contar sobre seu avô. Sabrina trocava olhares de desafio com Sofie, escudeira de Sir Derek, que se sentava na parte oposta da mesa. E eu me entretinha com os imensos pedaços de porco assado que estavam na minha frente. Percebi que muitas cortesãs me olhavam como se eu fosse uma espécie de animal descontrolado, talvez por meus maus hábitos à mesa.

– De qualquer forma, Senhor Gregório, o fato é que seu avô era um tipo de homem que não podemos encontrar em qualquer lugar – Rei Siegfried engoliu outra colherada de sopa – Enzo era capaz de ter conversas sérias e filosóficas sobre a vida durante o dia, e depois agir como um cão bêbado durante a noite. Ele era divertido, um grande causador de problemas e também um grande tolo, mas ainda assim, muito divertido.

– Eu fico surpreso com essas histórias, Meu Rei. Meu avô sempre foi um homem muito fechado na minha presença, eu não poderia imaginar que ele viajou até aqui. Muito menos que ele era esse “cão bêbado”.

Rei Siegfried riu.

– Sabe, teve uma vez em que ele conseguiu seduzir sete cortesãs, uma em cada dia da semana. Ele se divertiu bastante com isso, mas não foi tão engraçado quando todas as sete se encontraram ao mesmo tempo em um baile na semana seguinte. O pobre Enzo foi alvo de tantos pontapés e tapas, se bem que, foram merecidos.

– Quanto tempo meu avô passou no castelo?

– Há! Ele ficou por nada mais nada menos do que três anos, aquele inútil aproveitador. Tive vários motivos para expulsar aquele traste daqui, mas não o fiz.

– Por que não? – perguntei, me intrometendo na conversa.

– Bem, apesar de ele ser um grande depravado, ele era honesto, e prestativo. Era exatamente o tipo de amizade que eu necessitava naquela época. Veja, eu acabara de assumir o trono, estava sendo sobrecarregado com vários deveres e tarefas. E Enzo não apenas me ajudou a cuidar desses deveres, como também me ajudou a descobrir que reis também podem se divertir – o Rei olhou para Gregório – Qual é o problema, Senhor Gregório? Por que está tão sisudo?

– Me desculpe, é que, o Senhor está descrevendo uma pessoa completamente diferente de meu avô. Pergunto-me o que aconteceu com ele.

– Bem, se fosse para dar um palpite, eu diria que é essa sua busca. Isso faz os homens perderem a cabeça, Senhor Gregório – Rei Siegfried ergueu uma caneca cheia de vinho – E se for para perder a cabeça, que seja por causa de uma boa bebida.

Gregório sorriu.

Desde que havíamos chegado à cidade de Lennart, o mercenário estava demonstrando um semblante mais sério e preocupado do que o normal. Eu estava começando a imaginar o quão importante era a Fonte da Magia Antiga para Gregório. Afinal, como o Rei dissera um dia antes, sequer sabíamos do que se tratava a “verdadeira magia”. E por conta disso, eu simplesmente não conseguia entender o porquê do mercenário exercer tanto esforço em encontrá-la.

– Meu Rei – Senhora Shannon parecia hesitante em falar – Perdoe-me, mas, onde está Otto? Onde está seu primogênito?

O Rei rapidamente trocou seu sorriso por um rosto pesado.

– Meu irmão mais velho foi morto em uma emboscada – disse Sir Derek, usando um tom pesaroso – Uma emboscada de bandidos, na estrada.

Todos ficaram em silêncio, constrangidos com o assunto que acabara de surgir.

– Perdoe minha indelicadeza, Sir Derek – Sabrina se esforçou para soar cordial – Mas a julgar pela grande quantidade de soldados nas estradas, eu não pensei que bandidos fossem um problema nesse reino. O aumento das vigílias aumentou por conta desse incidente?

– Não, Senhora Sabrina, sempre fomos um reino preocupado com a segurança de nosso povo – Rei Siegfried encarava o centro da mesa com seus olhos espectrais de cor alaranjada – E não se preocupe. Nós já capturamos os bandidos responsáveis pela emboscada. Eu mesmo fiz questão de esfolá-los até a morte – o Rei se levantou – Bem, me desculpem por isso, eu provavelmente estraguei a ceia para todos. Vou para meu aposento, espero que continuem a se divertir, Derek, me ajude a levantar.

Enquanto o cavaleiro se aproximava de seu pai para atender ao pedido, Sofie continuava a encarar Sabrina, com um olhar zombeteiro.

– Senhora Sabrina, estou muito curiosa sobre esse seu sotaque peculiar – disse a escudeira, enquanto enrolava uma das mechas de seu cabelo castanho com um dedo.

– E eu estou muito curiosa sobre esse sotaque que você está escondendo. Ou talvez seja apenas imaginação minha, por causa do vinho – respondeu Sabrina.

Sofie soltou um sorriso forçado.

– Por que você fica seguindo Sir Derek por aí? – perguntei. Pois eu já me acostumara a ser informal com os nobres sem ser punido por isso.

– A plebe sempre é capaz de fazer as melhores perguntas – Sofie me olhou com frieza – Bem, meu pequeno camponês, eu sou a escudeira de Sir Derek, seu braço direito.

– Então você é igual à Sabrina com o Gregório.

As duas me olharam com o cenho franzido.

Sabrina me deu uma cotovelada por baixo da mesa.

– Não precisa ser tão áspera com nossos convidados, Sofie. Até porque eles ficarão aqui por um bom tempo – disse Príncipe Ulrich, enquanto se levantava – Senhor Gregório, se importa de me acompanhar até o pátio? Acredito que essa seja uma boa hora para conversar sobre sua busca.

Enquanto o mercenário se erguia, ele fez um sinal para que o seguíssemos.

– Já vão embora? – perguntou Sofie.

– Sim, e não nos siga, se o fizer, eu vou perceber – disse Sabrina.

As duas soltaram um sorriso macabro enquanto se afastavam uma da outra.

Nós caminhamos por um bom tempo até percorrer todo aquele caminho no palácio gigantesco. Por fim, atravessamos as grandes portas de entrada e andamos lentamente pelo pátio interno, até que nenhum guarda pudesse nos ouvir.

Príncipe Ulrich entregou um pequeno livro de anotações para Gregório.

– Aqui está tudo o que você precisa saber. São todas as informações que meu pai reuniu depois da visita de Senhor Enzo – disse o príncipe.

– Fico feliz em saber que Rei Siegfried continuou a juntar informações sobre a Fonte da Magia Antiga, mesmo sem ter interesse nisso – disse o mercenário.

– Provavelmente foi por causa de Senhor Enzo, meu pai dificilmente cria amizades tão fortes – Ulrich olhou em sua volta – Estão prontos?

– Sim, você preparou nossa bagagem? – perguntou Gregório.

– Estarei esperando por vocês no fim da parte esquerda do bosque, fora das muralhas. Coloquei provisões suficientes para um mês de viagem, e estou mandando dois de meus servos mais confiáveis para ajudá-los. Quando chegarem até o porto que indiquei, um barco vai estar pronto para levá-los de volta ao continente.

Gregório suspirou. Ele ainda parecia relutante em seguir aquele plano.

– Espero que esteja certo – ele cumprimentou o príncipe – Obrigado por tudo. E se tiver a chance, diga ao Rei que ele sempre terá minha gratidão.

No dia anterior, Príncipe Ulrich nos procurou em sigilo.

Aparentemente ele escutara uma conversa entre Sir Derek e sua escudeira, Sofie. O cavaleiro pretendia raptar Senhora Shannon e sua filha, e vendê-las para os lideres da revolução que destruíra o reino da mulher. Seria fácil e simples para Derek fazê-lo, pois ele tinha o comando de todos os guardas da cidade e do castelo. O problema estava no local da troca. Precisava ser um lugar silencioso e inabitado, por conta disso, o cavaleiro escolheu o bosque que ficava em volta de Lennart.

De início, nenhum de nós acreditou na história, e mesmo depois de termos sido convencidos, Gregório se sentia desconfortável em aceitar a ideia e bater de frente com o herdeiro de Rei Siegfried. Se roubássemos Senhora Shannon e fugíssemos com ela antes que Sir Derek a vendesse, arranjaríamos um inimigo poderoso.

Pois o plano era agir em silêncio, sem levar aquele assunto ao conhecimento do Rei.

– Bom, de qualquer forma, devemos isso a ela. Mesmo que não tenha sido particularmente educada conosco, ela nos ajudou a chegar até aqui. Além disso, já somos procurados em tantos reinos, um a mais não fará diferença – disse o mercenário, encerrando a discussão e aceitando o plano de Príncipe Ulrich.

E graças a isso, no dia da troca, estávamos espreitando uma grande carruagem que estava escondida na escuridão do bosque. Eu, Gregório, e Sabrina, estávamos agachados a vários passos do transporte, onde dez soldados do Reino das Cordilheiras, cobertos por mantos negros e encapuzados, aguardavam a chegada de Sir Derek e de seu presente. Dois daqueles homens seguravam tochas que nos permitiam enxergar bem o que estava acontecendo.

– Eu realmente pensei que dessa vez fôssemos sossegar um pouco – resmunguei em voz baixa.

– Cedo ou tarde teríamos que sair da Península Impérvia. Vamos, Drystan, você não sente o cheiro de aventura? – perguntou Gregório, aos sussurros.

Souverain, veja – disse Sabrina.

Um grupo com outros dez homens, dessa vez guardas de Lennart, se destacou das sombras que os carvalhos criavam. Eles pareciam arrastar três pessoas, todas com as mãos e pés amarrados, e todas amordaçadas. A primeira era Senhora Shannon, que esperneava e emitia grunhidos de fúria enquanto chorava. Senhora Nolwenna estava desmaiada, sendo carregada no ombro de um dos guardas. E o terceiro, era Conall, que caminhava com dificuldade.

– Bem, aqui está nossa prova definitiva, Príncipe Ulrich estava certo – disse o mercenário.

Souverain, eu devo atacar todos?

– Não se preocupe, a melhor solução é continuarmos escondidos – Gregório posicionou sua besta no chão – Vejam.

Um virote voou, acertando a garganta de um dos soldados de manto.

– O que foi isso? – gritou um membro do grupo.

Gregório recarregou a arma.

O segundo dardo acertou o crânio de mais um dos homens de negro.

– É uma emboscada! Vocês nos traíram! Seus porcos de Sieg! – gritou outro encapuzado.

– Não! Se fosse uma emboscada não teríamos trazido Rainha Shannon! - disse um dos guardas de Lennart.

Mas já era tarde.

Os grupos agora haviam se entregado para a insanidade, atacando uns aos outros e esquecendo-se de seus verdadeiros objetivos. Os guardas ergueram seus escudos em defesa aos ataques súbitos dos homens do Reino das Cordilheiras, mas a fúria dos encapuzados sobrepujou aquela tentativa de resistência. E eu observei boquiaberto enquanto apenas dois disparos de Gregório haviam provocado uma luta daquela proporção.

Um guarda teve seu escudo quebrado e um braço partido por um golpe de machado. Outro conseguiu bloquear a investida que tentara lhe atingir, respondendo com uma estocada de espada que abriu um buraco na garganta de um encapuzado. Os homens do Reino da Cordilheira logo se deram conta de que estavam em menor número, mas se aproveitaram da falta de experiência dos homens de Lennart para matar seus alvos um a um.

As lâminas continuaram a girar no ar por um bom tempo. Senhora Shannon caiu aos prantos, atirada na lama ao lado de sua filha. Conall tentava, sem sucesso, desfazer suas amarras.

Quando apenas quatro homens sobraram, dois de cada facção, Gregório apontou a besta, e disparou.

O virote acertou o joelho de um dos guardas, que desabou no chão a gritar. Só então os outros três perceberam o que estava acontecendo, e voltaram suas espadas em nossa direção, incertos sobre o que fazer.

Sabrina se levantou e correu até eles. Ela não tinha mais um vestido para lhe atrapalhar, ao invés disso usava calções e botas negras, e uma túnica preta de mangas longas. A mercenária desembainhou uma de suas espadas e pulou em cima do ultimo guarda de Lennart, segurando a lâmina voltada para baixo e descendo-a em uma estocada que atravessou a cota de malha do homem, abrindo um buraco em seu peito.

Gregório atirou outra vez, acertando o espaço entre os olhos de um dos soldados do Reino das Cordilheiras.

Sabrina tinha dificuldades para remover sua arma do corpo de seu primeiro alvo.

O ultimo homem correu até nós, em frenesi, erguendo sua espada.

– Maldição! – exclamou Gregório, pois estava tendo dificuldades para recarregar a besta.

Eu gritei.

E o soldado parou seu golpe, ficando imóvel com a lâmina no ar.

O mercenário deu vários passos para trás, me levando junto, para que nós nos afastássemos do inimigo. Mas logo após parar de investir, o encapuzado caiu de rosto ao chão, e quando ele o fez, pude ver que uma flecha havia atravessado suas costas.

Gregório me empurrou.

E outra seta cortou o vento.

Souverain! – gritou Sabrina, sua voz era um misto de horror e raiva.

Gregório caiu para o lado, uma flecha atingira sua costela direita.

– Oh, que infortúnio – as gargalhadas de Sofie ecoaram pelo bosque, a escudeira estava escondida em algum lugar de toda aquela penumbra – Eu errei duas vezes. Bem não posso fazer nada, está muito escuro aqui.

– É como diz aquele ditado dos plebeus, se você quer algo bem feito – Sir Derek se aproximou da cena, exibindo sua armadura brilhante e uma espada desembainhada – Faça você mesmo.

Souverain! – Sabrina tentou correr até nós.

– Pare! – Gregório fez um esforço para se levantar – Vamos pegar Senhora Shannon e os outros, e sair daqui.

– Vocês parecem estar se esquecendo da situação em que estão – Sir Derek sorria – Sofie, faça com que eles se lembrem.

Uma terceira flecha voou, atingindo a coxa esquerda de Sabrina.

A mercenária berrou de dor, caindo para trás.

– Vocês se intrometeram nos meus negócios, mesmo depois de receberem a hospitalidade de meu pai – Sir Derek se aproximou de Sabrina, com a espada em guarda – Vou lhes mostrar o que acontece com estrangeiros que se metem nos assuntos de Impérvia.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler e acompanhar, toda crítica será bem vinda ;D

Próximo Capítulo: A Fonte da Magia Antiga – Parte Três.