Butterflies

Aquele sonho... Lire tentou esquecê-lo. Tirar da cabeça o homem que invadira seus pensamentos. Afinal, era só um pesadelo, não é?

Resolveu não contar para Arme, já que a mesma não tinha nada a ver com isso e, provavelmente, iria querer saber muitos detalhes. A elfa queria somente apagar seu passado. Se arrumaram e foram para o colégio.

A sala ainda estava um pouco vazia quando chegaram. Apenas havia três ou quatro pessoas. Uma garota de óculos, cabelos azuis na altura do ombro, que lia um livro tranquilamente. Ao fundo, estava um rapaz de cabelos flamejantes que observava uma outra garota, agora de cabelos rosados, soltos e longos, que maquiava e arrumava-se com um espelho de bolso. Realmente, ela era muito formosa. Provavelmente estava apaixonado e Lire suspirou fundo observando a cena.

Arme foi correndo em direção da de cabelos azuis e começou a fazer várias perguntas sobre Tecnomagia, que era um dos assuntos do livro. Pelo o que ouviu, seu nome era Mari.

Simplesmente foi em seu lugar de sempre e começou a sonhar acordada, enquanto todos iam chegando. Seu coração palpitou mais forte quando Ryan passou pela porta, acompanhado de Sieghart e um rapaz de fios prateados. Deduziu que fosse Lass. O druida acenou para a mesma, que corou levemente, retribuindo. Logo em seguida, foi zombado por seus amigos.

— Quem é aquela, hein safadão? — Sieghart sorriu maliciosamente.

— Não é ninguém que lhe venha interessar. — Ryan retrucou, fazendo a figura de cabelos negros calar-se.

Todos jogavam conversa fora enquanto o professor não chegava. Arme voltou com a companhia daquela garota e apresentou-a à elfa.

— Amiga! Essa é a Mari. Mari, essa é a Lire! — A violeta parecia entusiasmada.

— Saudações. — Aparentemente ela não gostava de se expressar.

— Prazer em conhecê-la! — Algo interessante chamou a atenção de Lire. Seus olhos eram de cores diferentes, um vermelho e outro azul. Decidiu não se manifestar sobre isto, apenas cumprimentou-a e começou a assistir à aula, já que a professora acabara de chegar.

— Bom dia, classe. Irei passar um trabalho em dupla. — Comentou Lothos, e todos apressaram-se a falar sobre, já formando as duplas. — E eu escolherei os pares. — Em coro, reclamavam.

Era um trabalho de gastronomia, onde cada par deveria preparar um prato para o grande festival que ocorreria na escola.

— Ok, vou começar. Arme, você vai com o Lass. — A violeta pareceu neutra com a ideia. — Lin e Zero; Amy e Mari; Dio e Sieghart; Ronan e Jin — A escolha não parece ter incomodado-os, mesmo com a desanimação antes. A elfa observava curiosa para quando chegasse sua vez. — Lire e.... Ryan! Pronto. Agora vamos começar com o assunt...— Tudo que estava ao seu a redor parou por um segundo, deixando apenas os batimentos cardíacos soarem.

Quando voltou a si, olhou de canto de olho para Ryan, que parecia bem satisfeito. Isso confortou-a. Por este fato, o resto do dia passou em um piscar de olhos.

...

O final de semana já havia chego. A loira combinara com o druida de se encontrarem na casa dele depois do almoço. Ela precisava se arrumar logo. Entrou debaixo do chuveiro e começou a corar pensando em como seria o dia. Enxugou-se, tirou a umidade do cabelo e prendeu-o num coque mal-feito. Trajou um vestido verde com alguns bordados dourados e calçou uma sapatilha. Soltou a cabeleira, secando-a melhor. Passou um batom rosa-claro. Queria estar razoável para ele.

Saiu de casa, animada. Como era muito perto, foi a pé mesmo. A brisa forte bagunçava seus fios dourados, resolvendo, então, fazer um rabo de cavalo. Já em frente a sua casa, a elfa ajeitou-se melhor e tocou a campainha. Era um casarão, admitia. Foi recebida por um criado muito cavalheiresco.

— Srta. Lire? — A mesma concordou com a cabeça. — Acompanhe-me, Ryan está esperando-lhe. — "Quanta formalidade", pensou, rindo levemente de seu pensamento.

Quando entrou pela porta, ficou boquiaberta com o tamanho da casa por dentro. Era possível observar vários cômodos, além de ser decorada com perfeição. O mordomo levou-a até a cozinha, onde Ryan estava, vestindo um avental branco. Cumprimentou a elfa e a deu um, também.

— Afinal, o que vamos preparar? — Perguntou, curiosa.

— Estou pensando em uma torta de amora e bolinhos de arroz. — Disse com uma determinação de quem cozinhara há anos.

Lire confundiu-se em tudo. Todavia, era sempre guiada por Ryan, que pegava em suas mãos para mostrar o jeito correto. Eles riam delicadamente. O druida passava massas e geleias no rosto da loira, que retribuía, aumentando a quantidade. Em questão de pouco tempo, a cozinha estava toda desarrumada e suja. Os dois tinham farinha pelo corpo todo. O que não faltava era motivo para se divertir.

Ao final da tarde, eles tiveram êxito no preparo dos pratos do festival que já ocorreria amanhã. Duas tortas esfriavam perto de uma grande janela, enquanto os bolinhos de arroz estavam embrulhados em cima da mesa. Sentaram-se, cansados e ofegantes.

— Que sujeira. — Ela riu, enquanto tirava farinha do cabelo. O mesmo concordou com a cabeça.

Foram para a sala-de-jantar. Incrivelmente grande, ela pensou. Haviam lugares suficientes para todo mundo de sua sala e ainda sobrava espaço. O mordomo aproximou-se, trazendo uma bandeja, portando duas fatias da torta, pois fizeram uma a mais para saborearem, e dois copos de suco com laranja e limão.

— Obrigado, Lenwë. — O mesmo curvou-se e saiu do aposento.

Olhando mais atentamente para ele, a loira podia ver que também era um elfo. Tinha cabelos mais esbranquiçados e olhos fundos, de um azul exuberante. Não importou-se muito, e garfou um pedaço enorme da torta. Apreciando enquanto mastigava.

— Que delícia! — Sentiu lisonjeada pelo o que estava comendo, deixando um pouco de geleia de amora sujar o canto de sua boca.

— Ops. Você tem uma sujeirinha. — Ryan esticou-se, ficando muito próximo dela e limpando com a ponta de seu dedo, lambendo-o logo em seguida. — Está mesmo uma delícia. — Sorriu gracioso.

Seu rosto parecia um pimentão. Não acreditara no que o mesmo fizera. Pôs dois dedos no canto da boca, relembrando a cena várias vezes. Segurou o estômago com a outra mão, parecia que várias borboletas estavam invadindo-o. Pediu licença e foi até o banheiro.

Lá, jogou água no rosto e olhou-se no espelho. Não conseguia parar de pensar naquele momento. E sua barriga continuava a manifestar-se de uma maneira estranha. Aconchegou-se no canto do cômodo e tentou acalmar. Arrumou-se e voltou, como se nada tivesse acontecido.

— Acho que é melhor eu ir. — Disse com o rosto de lado, evitando que ele notasse-o corado.

— Por quê? Está tão cedo ainda. — Ergueu-se rapidamente, segurando o braço da elfa, que estava a caminho da porta. A mesma deu um leve tapa na mão de Ryan e correu para fora da casa, logo sumindo entre as ruas, já escuras.

Enquanto corria, seu estômago e coração estavam em conflitos, ambos queriam demonstrar sentimentos excêntricos. Parou um pouco, apoiando-se em um poste de luz, respirando firme. Continuou, e logo estava em casa.

...

"Alô?!"

"Mestre? Sou eu, Lenwë"

"O que você quer desta vez? Não fique me ligando à toa, seu mordomo de quinta."

"Não! Não desligue! Lire esteve aqui hoje, na casa do sr. Ryan!"

"Li...re?" — Houve uma risada maliciosa do outro lado da linha telefônica. —"Ótimo." — Os beeps anunciavam o fim da ligação.

O criado apressou-se a guardar o telefone, enquanto olhava por todos os lados, esperando que ninguém tivesse o observado. Começou a varrer disfarçadamente, retirando-se aos poucos do cômodo.

Continua...