Por Dimitri Belikov.

Acordei com uma equipe de paramédicos a minha volta ou algo assim, havia muitas vozes juntas e muito alvoroço se formando por uma razão que eu não conseguia entender, colocavam uma espécie de respirador em mim e ficavam fazendo perguntas que eu não conseguia ouvir direito. Pelo que entendi alguma coisa grande havia batido de frente com a nossa viatura e haviam sequestrado Rose e não haviam pistas de quem havia feito aquilo e o motivo para tal reação.

– Pra onde estão me levando? Alguém pode me dizer o que está acontecendo e para onde estamos indo? –Perguntei meio grogue e com vontade de vomitar.

Não obtive respostas de qualquer um que fosse, então presumi que minha voz mal estava saindo e eu estava fraco demais para discutir e então eu basicamente desmaiava e acordada por grande parte do tempo, lembrava de poucos rostos e vozes realmente familiares e o resto era um grande borrão preto.

Quando finalmente abri os olhos percebi que não fazia ideia de onde estava, o quarto branco simplesmente não me era familiar em nada, senti uma mão apertar a minha e ao virar o rosto vi que Tasha Ozera me encarava com preocupação.

– Oi, como se sente Dimka? –Perguntou ela com um pequeno sorriso tímido, aliás nossa última conversa não tinha sido muito agradável.

– Meio dopado, mas inteiro eu acho. O que aconteceu? –Perguntei fechando os olhos na esperança de conseguir clarear as ideias mais rápido.

– Você e sua aluna foram encontrados e presos e então alguém atacou o carro que estava transportando vocês. Rosemarie desapareceu e estão achando que ela fugiu ou algo assim. –Respondeu Tasha me encarando com preocupação.

– Merda! – Praguejei totalmente irritado, afinal estávamos tão perto de conseguir.

– Merda digo eu, o que exatamente deu em você para ajudar a sua aluna a fugir daquele jeito Dimka? –Questionou Tasha me olhando com reprovação em seus olhos castanhos chocolate.

– Ah meu saco... Cala a boca Tasha, eu realmente estou sem saco nenhum agora para forçar a minha mente a lembrar que somos amigos bem antigos e então não me obrigue a brigar com você. –Falei fechando a expressão e então percebi que havia uma algema prendendo meu braço a cama. –Isso é sério? Olha, não é por nada não, mas se eu realmente estivesse afim de fugir novamente está na cara que essas algemas não iriam me segurar por mais de 2 segundos.

– Vai por mim, eles sabem muito disso, aliás é exatamente só por isso você está aqui agora. Vivo. Se você reparou metade dos escalados que te pegaram já trabalharam com você no passado e então acharam que poderiam lhe dar a chance de se pronunciar a respeito do que você fez e o porquê. Você deu muita sorte Dimka, não brinca com isso de novo. Olha só, temos no máximo mais 2 minutos antes que o Hans e Guardiões entrarem por essa porta, levarem você e então te farão perguntas por 12 horas. Seja lá o que tenha feito você ajudar sua aluna, por Deus que seja um bom motivo Dimka. –Disse Tasha agora com um olhar preocupado. –Tem algo que você queira dizer pra mim?

– Depois que isso acabar a Corte Real terá muitas desculpas para dar. –Falei de forma ríspida e fria.

E então antes que Tasha pudesse dizer mais alguma coisa, Hans e mais cinco Guardiões entraram no quarto.

– Bom dia Belikov. Desculpe Lady Ozera, fim do horário de visitas. –Disse Hans apontando a porta ao se aproximar da cama onde eu estava.

– Certo, eu já estava me retirando mesmo Hans. E Dimitri, pensa bem no que eu disse com cuidado. –Disse Tasha antes de se retirar.

Hans me encarou com cuidado como se estivesse decidindo se eu ainda era ou não alguém confiável antes de finalmente abrir minhas algumas.

– Dia ruim, não é mesmo Belikov? –Comentou Hans parado a minha frente. – Estamos te solicitando para que escute algumas pessoas ligadas a você e a fugitiva em questão, Rosemarie Hathaway.

Me limitei a encara-lo com a expressão indiferente, porem por dentro tudo que eu conseguia pensar era em Rose e no que diabos teria acontecido com ela.

Seguimos por um corredor até chegar a uma sala de metal com um espelho de vidro, lá dentro estava Mia Rinaldi e então Hans sumiu e entrou lá com uma pasta bege – todo o histórico de vida de Rose, provavelmente.

– Mia Rinaldi, você sabe porque está aqui? -Perguntou Hans abrindo a pasta.

– É obvio que eu sei o que estou fazendo aqui e não dou a mínima. Quer informações sobre Rose? Leia a ficha dela, Rose e eu somos inimigas desde o jardim de infância e as coisas só melhoraram depois do lance em Spokane e depois não é como se tivéssemos virado melhores amigas ou coisa do tipo. –Respondeu Mia de forma rude.

– Entendo. Sabe de alguém mais próximo a ela que poderia nos ajudar? –Questionou Hans sem se deixar abalar.

– Você é idiota? Hans, você sabe muito bem quem são as pessoas mais próximas da Rose. –Respondeu Mia colocando-se em pé – Já posso ir embora agora?

– Claro. –Respondeu Hans apontando a porta e chamando um Guardião em seguida. –Mante Janine Hathaway e Ibrahim Mazur entrarem agora.

Senti meu estomago revirar, as últimas pessoas que eu estava afim de encarar mesmo que através de um vidro eram os pais da minha Roza. Aliás aquela merda de interrogatório estava nos fazendo perder tempo.

A Guardiã Janine entrou acompanhada por Abe e então me esforcei para prestar total atenção no que seria falado, afinal uma informação em falso e haveria a possibilidade de meu segredo com a filha deles ser jogado ali na mesa.

– Bem eu pedi que ambos viessem aqui novamente para ouvir e não para testemunhar, já que anteriormente já fizeram os depoimentos duas vezes para o meu pessoal. Peço que por favor sentem do outro lado da sala e façam silencio. –Disse Hans apontando um conjunto de cadeiras e então virando-se para o mesmo Guardião de antes. –Já podem mantar a próxima testemunha entrar agora.

Naquele momento por alguma razão antes mesmo da porta voltar a abrir eu já tinha uma ideia de quem poderia ser a próxima testemunha a falar. Era obvio até demais. Quer dizer, quem era praticamente a sombra da Rose?

Lissa entrou pela porta com os olhos inchados de tanto chorar, Hans apontou a cadeira para que ela pudesse se sentar, ela olhou a sala a sua volta e dar de cara com os pais de sua melhor amiga pareceu lhe preocupar muito e então ela alisou a enorme barriga e sentou no lugar indicado.

– Princesa Vasilissa Dragomir, vou ser direto com você porque estamos realmente sem tempo para enrolação. Preciso saber quais motivos a jovem Rose teria para fugir e porque envolveu o mentor dela nisso. Imagino que saiba a resposta uma vez que a senhorita e a fugitiva eram tão íntimas. –Disse Hans com o olhar sério e postura rígida.

– Rose não me disse nada, aliás não é como se ela tivesse tido essa chance. Desde que vocês a prenderam que não a vejo e antes que questione o meu laço com ela, saiba que o mesmo só funciona por uma via. Rose tem acesso a minha mente, mas eu não tenho acesso a dela. E quanto ao Guardião Belikov... –Lissa hesitou, abaixou a cabeça parecendo pensar a respeito e então quando voltou a encarar Hans vi a decisão se formar nos olhos dela. –Eles tinham um envolvimento muito além de aluna-professor e isso o impulsionou a ajudá-la.

Não culpei nem por um segundo Lissa por entregar meu maior segredo naquele momento e justamente quando Abe e Janine estavam bem ao lado dela ouvindo cada palavra que era dita. Quer dizer, parando para uma breve analise parecia claro que de qualquer forma essa poderia ser a única forma de conseguirmos proteger o nome e a liberdade de Rose por mais algum tempo valioso – isso seria estivesse seguindo realmente muito útil se a Alquimista Sidney Sage a investigação sozinha sobre a existência do segundo herdeiro Dragomir, o que eu tinha certeza que ela estava fazendo.

– Espera um instante Princesa, o que você quer dizer quando fala “envolvimento muito além de aluna-professor”? – Questionou Janina vindo para o lado de Lissa com a expressão séria e um tanto furiosa. – Está dizendo que eles estavam apaixonados? Rose é aluna dele!

Lissa encarou Janine com cuidado e então deu de ombros mostrando que aquele tipo de reação já era algo totalmente esperado.

– Acredito que quanto a isso não somos ninguém para julgar dessa forma, afinal idade e posição profissional ou social não é nada para os que estão verdadeiramente apaixonados, que é o caso da Rose e do Senhor Belikov. –Disse Lissa com a voz calma.

Outro assistente da corte que eu não conhecia tomou frente e começou a dar passos por toda a sala e então por fim esticou os braços na ponta da mesa e encarou Lissa de forma claramente intimidadora.

– Isso está ficando cada vez mais interessante. Está querendo que a gente engula essa história de que em algumas semanas foi desenvolvido um amor inquebrável entre aluna e mentor? –Começou ele a encarando profundamente, ou de um jeito que se Rose visse renderia uma grande confusão, ele com o nariz quebrado e ela cumprindo detenção provavelmente comigo. - Princesa nós temos provas concretas que a sua amiga matou a sua Majestade, entende o quanto isso é grave? A coisa mais insignificante aqui é um relacionamento adolescente que eu nem estou acreditando que exista.

Meu sangue ferveu dentro de minhas veias, uma raiva sem tamanho me atingiu e quando dei por mim eu já estava dentro da sala postado ao lado de Lissa.

– Olha o que temos aqui... Tem algo a declarar caro Belikov? –Perguntou o Guardião me encarando com um pequeno sorriso provocador.

– Continue bancando o babaca na minha presença por mais tempo e juro que arrebento você antes que possa perceber e se acusar Rose novamente ou pressionar a Princesa que aliás está gravida caso seu grau de inteligência não tenha notado. E se quiser informações sobre a minha aluna e namorada pergunte direto para mim. –Falei o encarando nos olhos deixando passar para além de mim todo o ódio que eu estava sentindo.

O silencio que se formou foi impressionante, e então Hans veio até mim e segurou o meu braço com cuidado.

– Certo, ao que parece o Senhor Belikov tem todas as informações que precisamos saber. Nesse caso a Princesa e os mais da acusada podem se retirar juntamente ao Guardião Felix, eu assumo daqui. –Disse Hans encarando somente a mim ao proferir todas as ordens.

– Caso não se importe eu e Abe gostaríamos de ouvir o que o Senhor Belikov tem a dize a respeito de Rose. –Disse Janine com a voz estranhamente calma.

– Lamento, mas creio que isso não seja uma boa ideia. –Disse Hans sério.

– Caso tenha esquecido desse detalhe importante, é da minha filha que estamos falando aqui. Então vou pedir que pense de novo. –Disse Abe com a voz um pouco mais tensa do que a de Janine, porém também de forma calma.

Encarei a Guardiã Janine por meio segundo e então percebi que se ela já estava sabendo da parte mais grave o restante não aumentaria meus problemas.

– Hans, por mim tudo bem se eles ficarem. Sério. –Falei com a voz um pouco mais controlada agora.

– Pois bem, que assim seja então. –Cedeu Hans apontando a cadeira a frente dele. –Vamos dar continuidade a sessão de depoimentos. Preciso que conte tudo o que sabe a respeito de sua aluna, isso incluindo o envolvimento amoroso de vocês.

Eu não estava muito feliz por ter sido exposto dessa forma, mas tinha certeza de que se a situação fosse inversa, Rose teria feito exatamente a mesma coisa se sentisse que tal ação iria me proteger e garantir a possibilidade de que isso me tornasse inocente. Bem, pelo menos era o que eu estava esperando conseguir para ela naquele momento.