O Infinito de Joseph Weeks escrita por Vitor Matheus


Capítulo 2
Um Convite Para Joseph Weeks


Notas iniciais do capítulo

Só um pequeno aviso para não frustrar vocês: a história pode até parecer um pouco lenta no início, mas logo ela dá aquela guinada que nos impressiona.

Boa leitura!



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Hoje até poderia ser mais um dia normal. Estava indo tomar meu café da manhã (nem tão) reforçado com meu amigo e algumas das crianças órfãs quando Alison disse que queria conversar seriamente comigo depois da refeição. E pela cara dela, imaginei duas coisas: ou eu tinha feito algo de errado e ela iria me repreender por cinco minutos antes de me dar um lanche no McDonald's outra vez… ou havia aparecido alguém com interesse em me adotar.

— Me chamou, Ali? — Entrei em sua sala, chamando-a pelo seu apelido peculiar. Todos os órfãos a chamam de Tia Alison, mas eu prefiro apenas Ali.

— Sim, chamei você. Sente-se, por favor. — Ela aparentava uma seriedade que poderia ser contagiante.

— Eita, já vi que tem coisa ruim no pedaço… — Ironizei, sentando-me numa das cadeiras em frente a sua escrivaninha.

— Pelo contrário, Joseph.

— Por favor, Ali, já disse para me chamar apenas de Joe. Joseph é tão… Estranho. Não quero ser comparado ao Joseph Morgan.

— Tudo bem, Joe. — Ela deu ênfase no nome. — Aconteceu uma coisa muito boa e eu quero compartilhá-la com você.

— Pode falar. Eu aguento o tranco. — Continuei pessimista.

— Apareceu alguém para adotar você, querido! — Ali estampou um sorriso logo depois.

— Ah, que joia. — Só então me toquei do que havia acabado de ouvir. — OI? COMO É QUE É? — Gritei.

— Fala mais alto que daqui eu não te escuto, Joe. — A morena até podia ser a “dona” do orfanato, mas tinha suas ironias na ponta da língua. — Surpreso?

— Espera um pouco. É alguém que veio adotar algum órfão ou alguém que veio, especificamente, me adotar? — Perguntei, querendo mais confirmações.

— Inicialmente esse alguém veio procurar um menino mais novo, mas depois que te descrevi para ele, o próprio resolveu conhecê-lo melhor.

— E ele sabe da minha idade? — Arrisquei. Não queria ter grandes expectativas quanto a isso.

— Sim, ele sabe. E mesmo assim quer te conhecer.

Levantei levemente a cabeça, como se estivesse analisando a notícia. Depois de alguns segundos em silêncio, optei por quebrar o gelo:

— Já marcaram um horário para me entrevistar?

— Não, o tal homem ainda não marcou.

— Ah, então é um homem? Não é um casal de homem e mulher? Ou um casal diferente?

— Joe, é complicado falar de sua história. Mas levando em consideração que ele quer conversar, especificamente, com você… — Ela ajeitou os óculos de leitura que usava no momento. Eram relativamente grandes, o bastante para fazer todo o rosto dela sumir. — É você quem escolhe o dia e a hora.

— Pode ser nunca?

— Não, engraçadinho. — Desacomodou-se da sua cadeira giratória, tirou os óculos e pôs os braços na mesa, me olhando com cara de quem quer me dar conselhos. Só o Darren faz esse tipo de expressão. — Querido, você precisa de um futuro melhor. Ninguém sabe o que pode acontecer se você recusar esse pedido e ficar aqui até os 18 anos. Weeks, eu queria muito poder te manter aqui, pois você é uma das maiores alegrias daqui. Mas é o seu futuro que está em jogo. Não quero te ver daqui a três anos envolvido na marginalidade.

— Eu não sei, Alison. — Pela primeira vez desde a época em que eu era um pivete de quatro anos, falei o nome real da coordenadora. — Uma parte de mim quer que eu siga a minha vida e construa um infinito merecido; mas outra parte não quer largar da minha rotina aqui no orfanato. Eu sei que sou uma parte importante daqui, mas preciso fazer algo com o meu destino.

— Quer sair e pensar sobre o assunto? — Sorri. Ali sempre era compreensível nesses assuntos.

— Acho que quero isso. Posso voltar à tarde para conversarmos?

— Claro, estarei aqui. Pode sair agora.

Levantei-me da cadeira, e antes de sair da sala, corri para dar um abraço nela.

— Obrigado por tudo o que tem feito por mim, Ali. Não sei o que seria de mim sem você.

— Seria um órfão que teria sido abandonado duas vezes: uma quando nasceu e outra quando eu não te acolhi na porta da minha casa.

— Ingrata. Vejo você mais tarde.

.::.

Saí dali, absorto com os meus pensamentos. Logo me lembrei do meu psicólogo particular (gratuito), e corri para o quarto de Darren. Abri a porta e depois bati duas vezes na mesma. Era um costume que nós dois tínhamos.

— Darren Thomas? — Falei.

— O próprio. Faça-me um favor, entre e feche logo essa porta. — Ele estava deitado, com o pulso da mão direita em sua testa.

— Calma aí, jovem. — Fechei a mesma, e depois me sentei num dos lados da cama. — Preciso falar com você. É sobre… adoção.

— Aconteceu alguma coisa? Alguém quer te adotar? — Rapidamente se ajeitou e levantou sua cabeça, junto com as costas e ficando na mesma posição que eu.

— Tecnicamente sim.

— Isso é muito bom, cara! — Abraçou-me de lado. — Você tem chances de ter um futuro melhor do que o meu, agora.

— Eu fiquei de dar a resposta nesta tarde. Não consegui assimilar tudo. — Deitei-me no lado direito da cama, enquanto o Thomas deitou-se no lado esquerdo. Parecíamos dois gays, mas éramos amigos acima de tudo. E amigos órfãos não precisam ter classe. — Se eu aceitar, posso sair daqui e ter uma vida melhor. Poderei ter uma educação de qualidade, um plano de saúde decente e uma segurança maior ao lado da minha possível nova “família”. Mas se eu recusar, provavelmente ficarei aqui até completar a maioridade e passarei mais tempo com você e a Ali; mas quando eu for liberto, estarei lançado à minha própria sorte, sabendo que posso morrer a qualquer segundo.

— É uma dura relatividade, meu caro. E ainda é a realidade. Sua situação é, de fato, bem difícil.

— Darren, será que dá para você largar sua linguagem de profissional por pelo menos cinco minutos? — Aquele linguajar já estava irritando, então mandei-o parar.

— Tá bem, desculpe. Mas é porque se eu não manter minha postura de psicólogo, esse momento onde nós dois estamos deitados na cama com os rostos quase de frente vai parecer muito gay.

— Então eu vou embora. — Levantei minha cabeça, mas ele a empurrou de volta para o travesseiro.

— Vai ficar aí e me contar o resto da situação.

— Não tem resto. O final eu farei quando decidir o que fazer.

— Joseph… — Olhei para ele com raiva. — Joe, Joseph, tanto faz, é a mesma coisa. — Arqueei as sobrancelhas, fazendo sinal para que ele continuasse. — Você tem que escolher o melhor para sua vida. Veja bem, ficar aqui e correr o risco disso não acontecer mais é uma ideia um tanto quanto arriscada, não?

— Mas deixar você e a Alison aqui também não é legal.

— Joe, eu vou ficar bem. A Ali vai ficar bem. Todos nós ficaremos bem se você estiver feliz também.

Limitei meus lábios a um breve sorriso. Mesmo não sendo o garoto mais inteligente do mundo, ele sabia o que dizer nessas horas.

— Agora eu sei o motivo de ter me tornado seu amigo desde que chegou aqui.

— Eu descobri isso quando fiz aquela brincadeira com a Ali e você me encobriu. Lerdo.

— Lerdo é você, inteligência rara. — Peguei o travesseiro e o atirei contra o rosto dele. O final disso já é de se imaginar.

No final das contas – ou dos pensamentos – eu acabaria aceitando a entrevista com o meu possível futuro pai.


.::.

— Tá, o que eu devo fazer? — Perguntei pela terceira vez a Ali, enquanto ela delirava em seus pensamentos o quão boa foi a minha resposta.

— Basta agir normalmente. Seja você mesmo; é o que geralmente agrada os prováveis futuros pais. — Ela finalmente voltara à realidade e respondeu o que eu havia perguntado.

— O problema é que o meu eu não é muito agradável de se conviver por mais de um minuto.

— Então… Seja você mesmo, mas na medida certa.

Levantei as sobrancelhas, indicando que eu não conseguiria passar por aquilo novamente sendo eu mesmo na medida certa. É um dos motivos pelos quais eu nunca fui adotado: eu era muito eu mesmo nas entrevistas, e devido à minha extravagância, os “pais” se assustavam um pouco (mentira. Um pouco é fichinha se comparado aos olhos arregalados de cada um no final das conversas.) e aí minha felicidade ficava pequena igual ao ex-chefe do Roberto Pêra em “Os Incríveis”.

— Vou ver o que posso fazer quanto a isso. — Respondi, com um sorriso bem falso na cara.

— Ótimo. Venha comigo, o seu provável futuro pai o espera. — Alison saiu de sua zona de conforto chamada cadeira e me acompanhou até a sala de entrevistas.

Esta sala nada mais é do que o jardim mais bem cuidado do orfanato. Entre quatro paredes as conversas ficavam bem tensas, então substituíram pelo ambiente a céu aberto, com direito a parquinho para diversão entre clientes e órfãos (pequenos), mesa levemente pequena decorada para as ocasiões com as crianças (pequenas) e tudo a que os menores de oito anos de idade tinham direito. A única coisa que deixava o lugar propício para uma entrevista envolvendo um órfão de 15 anos como eu era o gramado verde aliado à mesa grande – que, por sinal, foi desenvolvida especialmente para crianças grandes demais. Tipo eu.

Ao chegar no tal ambiente, Ali simplesmente chamou o cara pelo nome e me largou por lá. Imagino que ela esteja tentando se livrar de mim. Depois de tudo que passei por ela e para ela, aquela ingrata ainda me joga pelos cantos. Vou ter que usar um dos planos do Darren para ensiná-la uma lição sobre gratidão. Isso se a entrevista não der certo.


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Notas finais do capítulo

Adoro comentários. Entenderam o que eu quis dizer?