O Infinito de Joseph Weeks escrita por Vitor Matheus
Notas iniciais do capítulo
Só um pequeno aviso para não frustrar vocês: a história pode até parecer um pouco lenta no início, mas logo ela dá aquela guinada que nos impressiona.
Boa leitura!
Hoje até poderia ser mais um dia normal. Estava indo tomar meu café da manhã (nem tão) reforçado com meu amigo e algumas das crianças órfãs quando Alison disse que queria conversar seriamente comigo depois da refeição. E pela cara dela, imaginei duas coisas: ou eu tinha feito algo de errado e ela iria me repreender por cinco minutos antes de me dar um lanche no McDonald's outra vez… ou havia aparecido alguém com interesse em me adotar.
— Me chamou, Ali? — Entrei em sua sala, chamando-a pelo seu apelido peculiar. Todos os órfãos a chamam de Tia Alison, mas eu prefiro apenas Ali.
— Sim, chamei você. Sente-se, por favor. — Ela aparentava uma seriedade que poderia ser contagiante.
— Eita, já vi que tem coisa ruim no pedaço… — Ironizei, sentando-me numa das cadeiras em frente a sua escrivaninha.
— Pelo contrário, Joseph.
— Por favor, Ali, já disse para me chamar apenas de Joe. Joseph é tão… Estranho. Não quero ser comparado ao Joseph Morgan.
— Tudo bem, Joe. — Ela deu ênfase no nome. — Aconteceu uma coisa muito boa e eu quero compartilhá-la com você.
— Pode falar. Eu aguento o tranco. — Continuei pessimista.
— Apareceu alguém para adotar você, querido! — Ali estampou um sorriso logo depois.
— Ah, que joia. — Só então me toquei do que havia acabado de ouvir. — OI? COMO É QUE É? — Gritei.
— Fala mais alto que daqui eu não te escuto, Joe. — A morena até podia ser a “dona” do orfanato, mas tinha suas ironias na ponta da língua. — Surpreso?
— Espera um pouco. É alguém que veio adotar algum órfão ou alguém que veio, especificamente, me adotar? — Perguntei, querendo mais confirmações.
— Inicialmente esse alguém veio procurar um menino mais novo, mas depois que te descrevi para ele, o próprio resolveu conhecê-lo melhor.
— E ele sabe da minha idade? — Arrisquei. Não queria ter grandes expectativas quanto a isso.
— Sim, ele sabe. E mesmo assim quer te conhecer.
Levantei levemente a cabeça, como se estivesse analisando a notícia. Depois de alguns segundos em silêncio, optei por quebrar o gelo:
— Já marcaram um horário para me entrevistar?
— Não, o tal homem ainda não marcou.
— Ah, então é um homem? Não é um casal de homem e mulher? Ou um casal diferente?
— Joe, é complicado falar de sua história. Mas levando em consideração que ele quer conversar, especificamente, com você… — Ela ajeitou os óculos de leitura que usava no momento. Eram relativamente grandes, o bastante para fazer todo o rosto dela sumir. — É você quem escolhe o dia e a hora.
— Pode ser nunca?
— Não, engraçadinho. — Desacomodou-se da sua cadeira giratória, tirou os óculos e pôs os braços na mesa, me olhando com cara de quem quer me dar conselhos. Só o Darren faz esse tipo de expressão. — Querido, você precisa de um futuro melhor. Ninguém sabe o que pode acontecer se você recusar esse pedido e ficar aqui até os 18 anos. Weeks, eu queria muito poder te manter aqui, pois você é uma das maiores alegrias daqui. Mas é o seu futuro que está em jogo. Não quero te ver daqui a três anos envolvido na marginalidade.
— Eu não sei, Alison. — Pela primeira vez desde a época em que eu era um pivete de quatro anos, falei o nome real da coordenadora. — Uma parte de mim quer que eu siga a minha vida e construa um infinito merecido; mas outra parte não quer largar da minha rotina aqui no orfanato. Eu sei que sou uma parte importante daqui, mas preciso fazer algo com o meu destino.
— Quer sair e pensar sobre o assunto? — Sorri. Ali sempre era compreensível nesses assuntos.
— Acho que quero isso. Posso voltar à tarde para conversarmos?
— Claro, estarei aqui. Pode sair agora.
Levantei-me da cadeira, e antes de sair da sala, corri para dar um abraço nela.
— Obrigado por tudo o que tem feito por mim, Ali. Não sei o que seria de mim sem você.
— Seria um órfão que teria sido abandonado duas vezes: uma quando nasceu e outra quando eu não te acolhi na porta da minha casa.
— Ingrata. Vejo você mais tarde.
.::.
Saí dali, absorto com os meus pensamentos. Logo me lembrei do meu psicólogo particular (gratuito), e corri para o quarto de Darren. Abri a porta e depois bati duas vezes na mesma. Era um costume que nós dois tínhamos.
— Darren Thomas? — Falei.
— O próprio. Faça-me um favor, entre e feche logo essa porta. — Ele estava deitado, com o pulso da mão direita em sua testa.
— Calma aí, jovem. — Fechei a mesma, e depois me sentei num dos lados da cama. — Preciso falar com você. É sobre… adoção.
— Aconteceu alguma coisa? Alguém quer te adotar? — Rapidamente se ajeitou e levantou sua cabeça, junto com as costas e ficando na mesma posição que eu.
— Tecnicamente sim.
— Isso é muito bom, cara! — Abraçou-me de lado. — Você tem chances de ter um futuro melhor do que o meu, agora.
— Eu fiquei de dar a resposta nesta tarde. Não consegui assimilar tudo. — Deitei-me no lado direito da cama, enquanto o Thomas deitou-se no lado esquerdo. Parecíamos dois gays, mas éramos amigos acima de tudo. E amigos órfãos não precisam ter classe. — Se eu aceitar, posso sair daqui e ter uma vida melhor. Poderei ter uma educação de qualidade, um plano de saúde decente e uma segurança maior ao lado da minha possível nova “família”. Mas se eu recusar, provavelmente ficarei aqui até completar a maioridade e passarei mais tempo com você e a Ali; mas quando eu for liberto, estarei lançado à minha própria sorte, sabendo que posso morrer a qualquer segundo.
— É uma dura relatividade, meu caro. E ainda é a realidade. Sua situação é, de fato, bem difícil.
— Darren, será que dá para você largar sua linguagem de profissional por pelo menos cinco minutos? — Aquele linguajar já estava irritando, então mandei-o parar.
— Tá bem, desculpe. Mas é porque se eu não manter minha postura de psicólogo, esse momento onde nós dois estamos deitados na cama com os rostos quase de frente vai parecer muito gay.
— Então eu vou embora. — Levantei minha cabeça, mas ele a empurrou de volta para o travesseiro.
— Vai ficar aí e me contar o resto da situação.
— Não tem resto. O final eu farei quando decidir o que fazer.
— Joseph… — Olhei para ele com raiva. — Joe, Joseph, tanto faz, é a mesma coisa. — Arqueei as sobrancelhas, fazendo sinal para que ele continuasse. — Você tem que escolher o melhor para sua vida. Veja bem, ficar aqui e correr o risco disso não acontecer mais é uma ideia um tanto quanto arriscada, não?
— Mas deixar você e a Alison aqui também não é legal.
— Joe, eu vou ficar bem. A Ali vai ficar bem. Todos nós ficaremos bem se você estiver feliz também.
Limitei meus lábios a um breve sorriso. Mesmo não sendo o garoto mais inteligente do mundo, ele sabia o que dizer nessas horas.
— Agora eu sei o motivo de ter me tornado seu amigo desde que chegou aqui.
— Eu descobri isso quando fiz aquela brincadeira com a Ali e você me encobriu. Lerdo.
— Lerdo é você, inteligência rara. — Peguei o travesseiro e o atirei contra o rosto dele. O final disso já é de se imaginar.
No final das contas – ou dos pensamentos – eu acabaria aceitando a entrevista com o meu possível futuro pai.
.::.
— Tá, o que eu devo fazer? — Perguntei pela terceira vez a Ali, enquanto ela delirava em seus pensamentos o quão boa foi a minha resposta.
— Basta agir normalmente. Seja você mesmo; é o que geralmente agrada os prováveis futuros pais. — Ela finalmente voltara à realidade e respondeu o que eu havia perguntado.
— O problema é que o meu eu não é muito agradável de se conviver por mais de um minuto.
— Então… Seja você mesmo, mas na medida certa.
Levantei as sobrancelhas, indicando que eu não conseguiria passar por aquilo novamente sendo eu mesmo na medida certa. É um dos motivos pelos quais eu nunca fui adotado: eu era muito eu mesmo nas entrevistas, e devido à minha extravagância, os “pais” se assustavam um pouco (mentira. Um pouco é fichinha se comparado aos olhos arregalados de cada um no final das conversas.) e aí minha felicidade ficava pequena igual ao ex-chefe do Roberto Pêra em “Os Incríveis”.
— Vou ver o que posso fazer quanto a isso. — Respondi, com um sorriso bem falso na cara.
— Ótimo. Venha comigo, o seu provável futuro pai o espera. — Alison saiu de sua zona de conforto chamada cadeira e me acompanhou até a sala de entrevistas.
Esta sala nada mais é do que o jardim mais bem cuidado do orfanato. Entre quatro paredes as conversas ficavam bem tensas, então substituíram pelo ambiente a céu aberto, com direito a parquinho para diversão entre clientes e órfãos (pequenos), mesa levemente pequena decorada para as ocasiões com as crianças (pequenas) e tudo a que os menores de oito anos de idade tinham direito. A única coisa que deixava o lugar propício para uma entrevista envolvendo um órfão de 15 anos como eu era o gramado verde aliado à mesa grande – que, por sinal, foi desenvolvida especialmente para crianças grandes demais. Tipo eu.
Ao chegar no tal ambiente, Ali simplesmente chamou o cara pelo nome e me largou por lá. Imagino que ela esteja tentando se livrar de mim. Depois de tudo que passei por ela e para ela, aquela ingrata ainda me joga pelos cantos. Vou ter que usar um dos planos do Darren para ensiná-la uma lição sobre gratidão. Isso se a entrevista não der certo.
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Adoro comentários. Entenderam o que eu quis dizer?