Molly abriu o cobertor ao lado da grande pedra polida.

-Olá, pai. - Ela acariciou a pedra. - Dois anos uh? Desculpe, o tempo anda meio corrido...

Algumas pessoas acham estranho, falar com mortos, falar com uma pedra, ou com um homem em um túmulo, ou somente seus ossos.

Mas ela não. Era sua rotina afinal de contas, retirar o pano branco, cumprimentar o morto. Afinal, era uma pessoa, ou fora.

Mas ela tinha a crença de algo depois da morte, se não, para que serviria tudo aquilo?

-Então, eu tenho novidades. Lembra quando eu te falei, dois anos atrás, sobre Sherlock Holmes? Eu falava bastante dele, na verdade... Estamos juntos! - Ela olhou para a grama ao lado do túmulo. -É, inacreditável né? Mas você sempre disse para eu acreditar no que eu não acredito, então, acho que eu nunca acreditei que eu poderia algum dia estar noiva de Sherlock. - Ela riu.

-Meena está grávida, de novo. Eu juro pai, sozinha, ela vai aumentar a taxa de natalidade de toda Europa. É o quarto bebê. Mas Derek está maravilhado, como sempre, seu restaurante está indo tão bem! Eles vão fazer uma expansão! - Molly suspirou. - Eu mal acredito que eles se odiavam na escola... Você lembra as brigas de Derek com Meena depois, quando entramos na faculdade? Sempre por causa das namoradas e namorados...

Molly pegou uma das rosas amarelas que comprou para seu pai, e alguns lírios e começou a entrelaçá-los.

-Eu e Sherlock estamos bem sabe? Depois que a sua visinha, que eu nunca lembro o nome, se mudou, Sherlock sugeriu que eu fosse morar lá, mas, você sabe... Eu não morei por muito tempo lá. - Molly corou. - Minhas coisas ficaram no antigo quarto de John e Toby passa mais tempo com Mrs Hudson do que comigo, mas não o culpo, não fico muito tempo em casa,... Ou fora do quarto. Desculpe! Sei que você não precisa dos detalhes sórdidos.

-Sinto sua falta, sabe? Eu não sei tocar violão como você sabia... Sherlock ficou surpreso quando eu falei sobre a banda. Acho que ele nunca imaginou que eu poderia, você sabe, participar desse tipo de coisa. - Ela secou uma lágrima que escorreu e sorriu. - Sinto sua falta, pai. Queria que você estivesse aqui para comemorar todas as minhas conquistas e me ajudar quando houvesse uma derrota.

Colocou a coroa de flores em cima de seu nome e se levantou.

-Mas estou feliz por ter visto boa parte delas, e confio em você para continuar as vendo, mesmo não estando presente fisicamente. - Ela dobrou o cobertor e enxugou as lágrimas. - Agora eu tenho que ir, pai. Feliz dia dos pais. Tenho que ir para casa arrumar um almoço com Mary, para John e para outro papai.

E assim, Molly Hooper acariciou sua grande barriga com um sorriso carinhoso e deu as costas ao cemitério.