Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 91
Capítulo 91: POV Nina Marshall


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Believing" do Nashville. Também indico "Last Kiss" da Taylor Swift.



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"Rebeldes," Sebastian disse, com um ódio na sua voz que eu nunca tinha ouvido antes.
Eu fiquei quieta, enquanto ele respirava alto e forte. Tinha medo de o incomodar, de falar alguma coisa que só o fosse deixar ainda mais nervoso. Eu precisava consolá-lo, eu queria ajudar.
Depois de um tempo em um silêncio interminável, eu ouvi quando ele buscou alguma coisa no ar, encontrando uma corrente que ele puxou. E então uma luz fraca iluminou nosso esconderijo.
Não era grande. Na verdade, era bem pequeno, bem menor do que o meu banheiro no castelo. Tinha um banco de madeira largo, mas completamente duro, em um canto. Logo atrás de mim, algumas estantes de metal se estendiam por toda a parede. E sem suas prateleiras, kits de emergência, comida, garrafas de água, tudo pronto para alguns dias de sobrevivência confinados naqueles quatro metros quadrados.
Eu sabia que tudo aquilo deveria me acalmar, eram coisas boas, coisas que poderiam me manter viva por um bom tempo. Mas só a ideia de que alguém tinha planejado aquilo, pensando que nós teríamos que ficar ali sem conseguir sair, já era o suficiente para me assustar.
"Eu preciso sair daqui," falei, me virando para Sebastian.
Ele estava apoiado com as duas mãos na porta, com a cabeça baixa.
"Sebastian, eu quero sair daqui," repeti e ele levantou o rosto, só o suficiente para olhar para mim.
"Como assim?" Perguntou.
"Eu não quero ficar presa aqui, eu quero sair," falei, tentando esconder o medo que aquilo estava me dando. "Tem como você abrir a porta, por favor?"
Ele riu. Ele olhou de volta para a parte onde ficava a porta e riu. Depois deixou seus braços caírem e se virou de vez para mim.
A expressão em seu rosto me assustou. "Não tem como eu abrir a porta," ele disse, sério.
Mas eu balancei a cabeça, achando que ele só estava brincando comigo.
"Abre logo," falei, querendo ainda mais sair depois de ouvir que eu não podia.
Meus pés, em compensação, deram um passo atrás, conforme Sebastian dava um em minha direção.
"Você não está entendendo," ele falou. Seus olhos pareciam se dividir entre desespero e euforia. "Não tem como eu abrir a porta. Isso daqui é um quarto do pânico ao contrário, ele só se abre por fora!"
"Mas aí qualquer um pode entrar! E nós vamos ficar presos aqui até eles nos encontrarem!" Eu não queria que a minha voz tivesse saído tão histérica, mas ele parecia entender e, ao mesmo tempo, não se juntava a mim no pânico.
"Acha que eu não sei disso," ele falou, olhando para o chão.
"Não, a gente tem que sair daqui," eu passei por ele e fui até onde eu sabia que ficava a porta.
Eu empurrei a parede o mais forte que pude, tentei puxá-la, dei os socos o mais forte que eu conseguia. Sem sucesso. Então eu a empurrei com o ombro, pegando galeio no metro que tinha de espaço ali. Mas nada. Ela não se mexia. E eu nem sabia direito onde ela começava, onde ela acabava. Ela fazia parte da parede, estava escondida, bem na minha frente.
Só esperando que alguém do lado de fora a abrisse.
"E se ninguém vier nos buscar?" Eu perguntei, meu medo mudando completamente de foco. "E se e a gente tiver que ficar aqui por muito tempo?"
Minha voz já estava fraquejando e eu senti minhas pernas amolecerem quando eu cambaleei para trás.
Sebastian se levantou do banco onde tinha se sentado e foi me segurar. Mas a estante já tinha me impedido de cair, e eu bati minhas costas com tudo em uma de suas prateleiras.
"AI!" Eu soltei, logo que ele colocou um braço em volta de mim, para tentar impedir o que já tinha acontecido.
"Machucou?" Ele perguntou, preocupado, enquanto passava uma mão nas minhas costas, para tentar passar a dor.
"Claro, né!" Falei, desviando do seu toque.
Mas um segundo depois que eu me afastei dele, eu quis voltar para perto dele. Sorte que meu medo me lembrou do que me incomodava tanto.
"Eu estou presa em um quarto do pânico que só se abre de fora, enquanto sabe-se lá o que está acontecendo lá fora," eu falei, bem alto, apontando para a parede onde ficava a porta. "E eu nem sei quando vou poder sair daqui, se vou poder sair. O mundo inteiro desaba lá fora e eu tenho que ficar aqui, esperando meu destino se desenrolar."
Eu agachei com a testa na parede, depois de tentar empurrá-la uma última vez.
Nós ficamos em silêncio por poucos segundos, até eu começar a ouvir Sebastian tentando abafar uma risada.
Quando eu me virei para olhá-lo, já brava, ele não aguentou e riu, alto e divertido. Eu me sentei no chão aonde mesmo eu estava e cruzei os braços na minha frente, esperando que ele parasse de ser tão idiota.
"Desculpa, desculpa," ele disse, ainda tentando se recuperar de tanta risada. "Sério, desculpa. Mas você é muito dramática!"
Eu abri a boca para protestar, mas ele me cortou antes mesmo que uma palavra saísse. Ele levantou uma mão no ar, como se me pedisse para esperar que ele se explicasse. Depois ele desceu do banco até o chão e escorreu até estar de joelhos na minha frente.
"Não estou falando que isso é uma coisa ruim," ele disse, me mirando sério, deixando o seu rosto perto o suficiente de mim para eu não conseguir mais me importar com o que ele tinha falado. "Sério, é uma coisa boa, na verdade. Porque eu estava entrando em pânico e aí você deu a louca e eu percebi que podia ficar bem pior."
Eu balancei só a cabeça, deixando meus olhos caírem no meu colo. De repente, todas as coisas que eu tinha escrito na carta para ele estavam rodando na minha cabeça. E ele ali, tão perto de mim, só confirmava que eu estava certa.
Eu sentia uma força enorme me fazendo querer beijá-lo, ou ao menos tocá-lo. Mas eu lutei contra ela e resolvi fazer bem o contrário, só para ter certeza de que estaria livre da tentação.
Eu me levantei e o deixei para trás.
"O que tem para eu comer aqui?" Perguntei, indo até a estante de comida.
"Tem sopa," ele disse, sem sair do lugar.
"Argh, sopa não, deus me livre," falei, lendo alguns rótulos.
Milho, feijão enlatado, legumes, sopa de tomate, sopa de macarrão, sopa de feijão. Quem tinha escolhido as comidas do esconderijo tinha sérios problemas.
Acabei pegando uma garrafa de água mesmo e me sentei no banco de madeira de frente para ele.
E ele só me observava.
"Que foi?" Perguntei e ele deu de ombros.
"Nada," disse. "Só que você parece bem mais calma."
Eu respirei fundo, tentando não me fazer lembrar das razões que me tinham levado a entrar em pânico. Eu tinha certeza de que se ao menos pensasse nelas, todo meu medo voltaria a mim. E eu não precisava que as minhas pernas fraquejassem de novo, eu não precisa sentir meu coração acelerando pelo nervosismo da minha própria impotência em relação a rebeldes. Eu já estava nervosa o suficiente por pensar que eu tinha Sebastian ali, bem na minha frente, preso comigo. Só nós dois e quatro metros quadrados de segredos.
"Do que você está vestida?" Ele perguntou do nada, se apoiando na parede onde ficava uma pia minúscula e um espelho menor ainda. "Camponesa?"
Eu revirei os olhos com a sua burrice. Não era como se meu vestido fosse simples, ele era louco de achar que eu estava vestida de camponesa.
"Não," falei, "Elizabeth Bennet."
"Ah, a menina daquele seu livro," ele disse, sorrindo para mim.
"Achei que não fosse conhecê-la," eu falei, abrindo a minha garrafa de água e tomando um gole.
"Só porque eu não gosto de livros românticos, não significa que eu não tenha cultura o suficiente para conhecê-los," ele se defendeu. "Mas, me diz, porque ele é tão incrível?"
"Eu não vou te explicar, se você só vai ficar ai falando que ele é românticozinho demais para você," eu fiz uma vozinha um pouco aguda para tentar imitá-lo.
Ele riu de mim, e eu senti uma vontade de rir junto, mas não me deixei fazer mais do que sorrir irritada.
"Não, sério, me fala," ele disse e levantou as mãos no ar. "Juro que terei a mente aberta. Como é, ela gosta de um cara e ele não gosta dela?"
"Não, não é assim," falei, mas não me deixei levar pela voz na minha cabeça que já estava explicando a sinopse toda do livro para mim mesma.
"Então me explica, tem um casal, certo?" Ele perguntou e eu concordei com a cabeça, contrariada. "E ele gosta dela?" Eu fiz um gesto que estava entre concordar com a cabeça e dar de ombros. "Mas e ela gosta dele?"
"Não," eu falei do nada.
"Não?"
"Não, ela o odeia!" Eu soltei, um pouco animada por ele não ter adivinhado a história.
Mas aí que me ocorreu: era como eu e ele. Eu o odiava e ele tinha me beijado. E eu comecei a entender seus defeitos e me apaixonar por eles e por ele inteiro. E eu já estava no final, já tinha me entregado ao que eu sentia. Eu já o amava.
É, só que no final de Orgulho e Preconceito, Sr. Darcy queria se casar com a Elizabeth e não com uma princesa francesa qualquer.
"Por que ele a odeia?" Sebastian perguntou, sem saber toda a conclusão a qual eu tinha chegado na minha cabeça.
"Porque ele é orgulhoso," eu expliquei, só entendendo ainda mais o quanto a nossa história tinha a ver. "E arrogante. E metido. Ele está acima dela e casar com ele só a ajudaria. Mas ela não quer, porque ela o odeia, o despreza. E ela não vê nada de bom nele."
Sebastian ficou sério, concordando com a cabeça conforme eu falava, e eu me perguntei se ele também se reconhecia nas minhas palavras.
"Mas então a história acaba com os dois separados?" Ele perguntou.
"Acho melhor eu deixar você ler para saber como acaba," eu disse e tomei outro gole enorme da minha água.
Eu nem estava com sede, eu só não tinha coragem o suficiente para encará-lo depois de ter falado aqui. Que nem era grande coisa, de verdade. Mas eu não precisava falar nada para ficar nervosa. Sua presença era o suficiente.
"Não, sério, me conta," ele se levantou e veio se sentar do meu lado, não me ajudando em nada com o meu nervosismo. "Eles não ficam juntos?"
Eu queria mentir, de verdade. Com seus olhos nos meus, eu me perguntei se eu devia mentir e falar que não. Era como se eu falando que os dois ficavam juntos, eu estaria me declarando para ele. E depois daquela carta, eu tinha entendido porque essa era uma péssima ideia.
E Orgulho e Preconceito só me lembrou da maior razão para eu não o deixar quebrar meu coração como se fosse vidro. Eu estava abaixo dele. E ele não era só de uma casta melhor, ele era da família real. Eu nunca seria boa o suficiente para ele, principalmente quando Charles soubesse que eu o tinha traído. E depois daquela rejeição, eu não podia contar com Sebastian guardando o meu segredo.
Sem contar com isso, a simples ideia de o assistir tirando o meu chão era terrível demais. Eu não queria ver sua cara de convencido, não queria que ele me ouvisse e pensasse que ele tinha conseguido, mais uma vez, conquistar quem ele quisesse! Que ele era mesmo infalível. Eu não podia lhe dar esse gosto, só para ele pisar em mim depois.
"Ela realmente o odeia," eu falei, só para não deixar dúvidas de que eu o odiava também. "Mas ela começa a perceber uma certa bondade nele e ela começa a admirá-lo," eu não conseguia deixar de pensar que ainda assim era uma história como a nossa. "E ela vai se apaixonando e deixando de odiá-lo."
Levantei meus olhos para encontrar Sebastian sorrindo de orelha à orelha.
"E eles ficam juntos," ele disse, triunfante.
Eu dei de ombros. "Ficam."
Nós ficamos em silêncio por um tempo, e eu ficava mais nervosa a cada segundo, pensando no que ele poderia dizer depois daquilo.
"O que você acharia se eu me vestisse de Zeus?" Ele perguntou do nada, me fazendo querer rir de ter pensado que ele continuaria em um assunto que me incomodava tanto.
"Como assim, se vestir de Zeus?" Perguntei, deslizando no banco até que eu estivesse encostada na parede.
Eu nem precisei cruzar as pernas, conseguia as manter esticadas no banco sem que meus pés ficassem pendurados para fora.
"De fantasia," ele disse, se sentando do meu lado. Nossos ombros se encostaram e eu senti a eletricidade daquele toque correndo pelo meu corpo inteiro. "O que acharia se eu tivesse me vestido de Zeus ao invés de Drácula?"
"Acharia bastante apropriado," eu disse e ele sorriu.
Eu mirei a parede na nossa frente, como se não olhar para ele fosse me ajudar a esquecer de todas as coisas que eu queria fazer e não podia. E, principalmente, de todas que eu queria falar.
Mas, por sorte do destino, meus olhos encontraram os dele no espelho que ficava acima da pia.
"Você me acha arrogante?" Ele perguntou, um pouco casual demais para o que queria saber.
"Não," falei, sem pensar. "Um pouco, talvez. Não sei," tentei olhar para qualquer lugar, menos para ele.
Nós ficamos em silêncio de novo, ele digerindo a minha resposta, eu pensando em como eu poderia retirar o que disse.
Mas eu não queria falar sobre ele. Eu tinha certeza de que não era forte o suficiente para falar sobre ele. Então resolvi mudar de assunto.
"Quem são esses rebeldes?" Eu perguntei e ele suspirou.
"Não sei," confessou. "A última vez que nós tivemos um ataque de rebeldes eu tinha dez anos de idade. E, para te falar a verdade, eu não tenho a melhor das memórias. Mas eu me lembro de contarem que eles tinham acabado com os rebeldes do sul."
"Do sul?" Perguntei, brincando com a saia do meu vestido branco por entre meus dedos.
"É, quando meu pai era mais novo, existiam dois grupos rebeldes," ele explicou. "Os do norte e os do sul. Os do norte viraram nossos aliados quando ele tomou o poder. Já os do sul brigavam por brigar, na raiva mesmo. Me contaram que a maioria deles desistiu da luta quando meu pai começou a desfazer as castas. Mas alguns só queriam se rebelar."
"É, meu pai me contou disso uma vez, eu acho."
"O meu odeia falar sobre isso," ele disse e eu me virei devagar para olhá-lo enquanto ele me contava. "Ele teve que tomar as decisões mais difíceis da vida dele, segundo ele mesmo. Ele teve que liderar um exército atrás de seu próprio povo. Mas era o único jeito. E ele realmente acreditava que tinha dado certo. Por muito tempo, ninguém mais falou no assunto. Meu pai só nos lembrou disso uma vez depois que tudo acabou. Ele não parecia querer falar sobre isso, mas ainda assim era como se ele soubesse que precisava deixar isso claro, sabe?" Concordei com a cabeça de leve quando ele me olhou, buscando minha reação. "Só que todos os anos nós nos lembrávamos das medidas de segurança. Duas vezes por ano nós fazemos uma simulação. Mas o tempo foi passando e agora ninguém nem está muito disposto a passar por isso. Acho que todo mundo realmente acreditou que esse pesadelo tinha acabado."
"Eles atacavam muito quando você era pequeno?" Eu perguntei, minha voz baixa o suficiente para ele não achar que eu estava me intrometendo.
"Muito," ele disse, tão baixo quanto eu. "Meu pai dizia que era pior quando ele era jovem, mas eu não conseguia imaginar como isso seria possível! Eu não consigo te contar de quantas vezes eu tive que me esconder com alguma criada, me perguntando horas a fio se meu irmão estava vivo lá fora."
Eu senti uma vontade enorme de abraçá-lo, por eu não ter estado ali por ele quando ele estava passando por aquilo. Eu o imaginei pequeno, assustado, sentindo mais medo do que uma pessoa sente normalmente sua vida inteira.
"Obrigado por entrar em pânico," ele falou, levantando os olhos para mim, e eu não consegui evitar olhar para ele também. "Me ajudou a esquecer o meu próprio medo."
Eu só ia falar, "de nada," mas eu não pude perder a oportunidade de importuná-lo e tentar deixar a atmosfera um pouco mais leve.
"Espera, você acabou de admitir que você tem medo de alguma coisa?" Perguntei, me desencostando da parede para olhar para ele.
Ele sorriu, seus olhos quase se fechando.
"Tá com sono?" Perguntei e ele os abriu de novo.
"Não, estou bem," ele disse. "É só que esperar assim, sei lá."
Eu voltei a me encostar na parede. "É, eu entendo."
Nós ficamos em silêncio por mais um tempo, e quando eu o olhei de novo, ele estava mirando o chão fixamente.
"Está tudo bem," eu disse e ele olhou para mim, confuso. "Lá fora, está tudo bem."
Ele sorriu, desanimado. "Você não sabe disso."
"É, não sei, mas ficar pensando no que poderia acontecer não vai ajudar," eu apoiei minha cabeça na parede e percebi que nós estávamos bem perto um do outro. "Se alguma coisa acontecer, a gente vai descobrir mais cedo ou mais tarde. Não tem porque ficar sofrendo por isso agora."
Ele deu de ombros, meio contrariado, seus braços cruzados. E eu pude ver que ele ainda estava bem incomodado.
Eu queria tanto consolá-lo! Mas eu não sabia o que eu poderia fazer que não estaria passando dos limites. Eu não sabia o que eu poderia fazer sem que eu estivesse pulando de vez e de cabeça.
Mas a vontade de tocá-lo era grande demais e eu não me controlei. Eu levei minha mão ao seu rosto, afastando de leve seu cabelo, fazendo-lhe um carinho tão pequeno e simples, que eu jurava que ele não poderia usar aquilo contra mim.
Eu só o estava consolando, não era nada de mais. Aquilo não era prova de que eu me importava com ele.
E ele não lutou contra mim, ele me deixou tocá-lo como eu queria. Mas logo brincar com seu cabelo não era o suficiente, e meus dedos começaram a traçar seu rosto como um desenho, roçando sua pele de leve.
Eu me convenci por um segundo que aquilo era tudo que eu iria fazer. Ele não tinha falado nada, não tinha me contestado de nenhum jeito. Mas se eu fizesse o que queria, seria demais. Eu não poderia mais me defender.
O problema era que tocar sua pele não estava me deixando satisfeita também. Pelo contrário, quanto mais eu o tocava, mais eu queria chegar perto dele, mais a vontade de beijá-lo crescia dentro de mim. Meu rosto estava quente, enquanto ele se mantinha calmo, sem saber o que eu estava pensando.
E a vontade foi crescendo, tomando conta de mim. Eu já não podia parar de fazer-lhe carinho, mas tão pouco podia continuar sem que eu me perdesse com aquele toque. Eu precisava tanto sentir seus lábios nos meus, eu precisava tanto dele!
Eu já não estava aguentando por dentro, apesar de talvez parecer calma por fora. E então decidi que, se eu não podia beijar seus lábios, eu podia beijar seu rosto. Eu ainda era a amiga, simplesmente o consolando.
Então eu me inclinei para ele e beijei sua bochecha. Ele olhou diretamente para mim, um pouco confuso, mas logo baixou os olhos de novo, quando eu me inclinei para beijar-lhe do outro lado do rosto.
Pronto, eu pensei comigo mesma. Já deu para matar a vontade, já deu para me aguentar.
Mas não, não tinha dado. Nem de longe. Eu não queria tentar beijá-lo, só para ele se afastar de mim. A lembrança de quando eu o tinha rejeitado estava fresca demais na minha cabeça, ele também deveria lembrar dela como se tivesse acontecido ontem. Eu não podia arriscar aquela humilhação, principalmente quando eu estava presa com ele em um quarto minúsculo.
Só que simplesmente olhar para ele não era o suficiente. Ficar lhe fazendo carinho não era o suficiente. Eu precisava mais do que isso, mais do que só beijar seu rosto. Me inclinei de novo para ele e beijei sua testa. Depois, sem nem pensar direito, beijei seus olhos, que estavam bem cerrados. Um, depois o outro. Eu sentia seus lábios me atraindo como ímãs, mas fui firme, me deixando ter tudo, menos o que eu mais queria.
Beijei seu rosto de novo, dos dois lados, depois seu queixo, depois sua testa de novo. Enquanto eu agonizava dentro de mim, lutando para eu não ceder à vontade enorme que estava em meu peito, eu continuei beijando seu rosto, onde eu pudesse. Eu rezava na minha cabeça para eu ser forte, para eu conseguir ficar satisfeita com aquilo, já me esquecendo completamente de me perguntar se aquilo era esquisito ou não.
Mas eu não estava aguentando. Eu lutei com todas as minhas forças para tentar me manter longe, para conseguir evitar me arriscar daquele jeito. Mas era bem mais forte do que eu. E, enquanto uma mão minha procurava a dele, a outra segurou seu rosto. E eu me inclinei de novo para ele, dessa vez não lhe beijei no rosto. Dessa vez, meus lábios encontraram os seus antes que eu pudesse tentar me segurar mais uma vez.
Por um milésimo de segundo, eu me odiei por ter feito aquilo, já me arrependendo de ter arriscado tanto. Foi nesse milésimo de segundo que ele não reagiu. Mas depois eu o senti apertando minha mão de leve e me beijando de volta, levando sua outra mão ao meu rosto.
E eu só consegui respirar quando sua boca estava na minha. Mas a vontade de tê-lo comigo só cresceu e eu não conseguia saciá-la. Ele me beijou devagar, enquanto eu sentia toda a pele do meu corpo se arrepiar, antecipando aonde o seu toque chegaria.
Ele segurava meu rosto, firme e com cuidado, quando ele se afastou um pouco de mim. Ele estava tão ofegante quanto eu quando apoiou sua testa na minha. Eu abri meus olhos para lhe ver, mas os dele estavam fechados, suas mãos no meu cabelo, não me deixando sair dali. Era como se ele precisasse de um tempo para respirar, mas não quisesse me soltar.
E era assim que eu me sentia, me segurando em seus braços. Ele abriu os olhos e me mirou, e eu não sabia o que ele estava pensando. Eu só sabia que eu estava pensando o mesmo.
"Nina," ele disse baixinho e eu deixei a sua voz brincar com os meus ouvidos.
E me perguntei quantas vezes eu o tinha ouvido falando meu nome e como eu gostava daquele seu sussurro.
"Hmm?" Eu murmurei, de olhos fechados, sentindo sua mão na minha nuca me dar pequenos arrepios.
Mas o som que eu ouvi e me fez abrir os olhos não vinha dele. E sim de alguém batendo na parede, alto e forte.
"Alteza?" Uma voz seguiu o barulho oco e eu abri meus olhos para encontrar os de Sebastian. Ele me mirou, segurando aquele olhar por um segundo apenas, ignorando quem o chamava.
Mas quem quer que fosse bateu de novo na parede e ele acabou me soltando e indo até lá, contrariado.
"Thomas?" Ele gritou e a parede começou a abrir para dentro.
Sebastian deu um passo atrás, deixando que o guarda a abrisse, enquanto eu fiquei ali, sentada no banco, tentando recuperar o ar que me faltava e me perguntando se o calor que eu sentia saindo da minha pele era visível para alguém de fora.
O guarda entrou e deu uma olhada no esconderijo, encontrando os meus olhos, que eu rapidamente mirei no chão.
"Vocês estão bem?" Ele perguntou, dando espaço para a gente sair. Eu percebi com o canto do olho quando Sebastian se virou para mim, me esperando levantar.
"O que aconteceu?" Ele perguntou para o guarda, uma vez que nós já tínhamos saído.
"Não sabemos ao certo," o guarda admitiu. "Fomos atacados, mas não durou muito. Não sabemos se eles pegaram o que tinham vindo buscar ou o que aconteceu, só sabemos que eles foram embora."
Nós começamos a andar no corredor, em direção ao meu quarto, e eu senti quando a mão de Sebastian se colocou nas minhas costas. Era sutil, mas seu toque me desconsertou por um segundo. Depois, eu só me deixei apreciá-lo.
"Alguém se feriu?" Ele perguntou, totalmente inabalado por aquilo que estava deixando minhas pernas moles.
"Ainda não se sabe, mas acreditamos que não," o guarda explicou.
"Como, não sabem?" Eu perguntei, rapidamente me lembrando de todas as pessoas com quem eu me importava que ainda estavam no castelo.
"A maioria conseguiu chegar até o esconderijo," ele explicou. "Mas foi tão rápido e era tanta gente, que ainda não nos demos conta de todo mundo," ele parou de andar quando chegamos na escada. "Eu preciso ir, vossa Alteza a acompanha até seu quarto?" Ele perguntou a Sebastian, que concordou com a cabeça.
Ele não precisava, tinha guarda para todos os lados do corredor que parecia intacto. Mas eu fiquei grata de ele ter sugerido, como se tivesse lido meus pensamentos. Até que ele destruiu todas as minhas esperanças.
"Seu pai precisa que a vossa Alteza o encontre em seu escritório depois," ele informou antes de começar a descer as escadas.
Sebastian e eu andamos até a minha porta em silêncio, sua mão ainda nas minhas costas. Era como um grande elefante rosa no meio do recinto que ninguém queria comentar.
Mas quando nós chegamos no meu quarto, ele deixou seu braço cair para longe de mim. Eu abri a porta sem pensar e entrei, deixando-a aberta. Não porque eu pensava que ele poderia entrar e esquecer que seu pai queria falar com ele. Mas porque eu não conseguia desistir da esperança de que aquela noite não acabaria assim.
"Eu preciso ir," ele disse, apesar de que dava um passo em minha direção, entrando no meu quarto.
"É, eu ouvi," falei, percebendo que eu já estava de novo segurando minha respiração. "Você precisa ir ver se Charles está bem."
Ele engoliu em seco, mas um sorriso apareceu no seu rosto. Eu só perdi ainda mais o meu ar quando ele andou até mim, acabando com os últimos centímetros que tinha entre nós. Dessa vez, eu nem me questionei. Foi eu sentir suas mãos nos meus ombros, subindo ao meu rosto, que eu me coloquei nas pontas dos pés, tentando alcançar seus lábios, enquanto ele se inclinava para mim.
Nosso beijo foi breve demais, mas foi o suficiente para me deixar com frio na barriga pelo resto da noite. Ele se afastou de mim, passando seu dedo de leve no meu rosto, enquanto me segurava junto dele, com um braço na minha cintura. E eu encontrei em seus olhos todas as dúvidas que eu queria ter para o resto da vida. Toda a insegurança daquele sentimento me parecia tão deliciosa, tão necessária! Eu sorri, do jeito que conseguia, e respirei fundo, inalando seu cheiro, que eu nunca mais queria esquecer.
Ele se inclinou uma última vez para mim, me dando um beijo no rosto. E, sem dizer mais nada, ele me soltou devagar e saiu do meu quarto. Eu demorei alguns segundos para me recompor, mas uma vez que conseguia respirar de novo, fui até a porta, para lhe assitir andando para longe.
Eu me apoiei no batente, meu coração batendo no ritmo em que ele andava, descontraído. Ele estava para começar a subir as escadas, quando se virou para mim.
Mas ele não esperava me encontrar e sua surpresa se transformou em um sorriso enorme, que eu imitei. Ele hesitou, não querendo subir. Mas eventualmente me fez um aceno com a cabeça e continuou seu caminho.
Eu esperei que ele desaparecesse para entrar de volta no quarto, fechando a porta atrás de mim. E aí eu me joguei na cama, curtindo a energia que ele tinha deixado em mim. Levei meus dedos aos meus lábios, como se tentasse imitar o toque do seu beijo. Mas era inútil, nada que eu fizesse conseguiria matar aquela eletricidade em mim e nada me acalmaria. Eu tinha finalmente provado do que eu precisava para sobreviver. E eu nunca mais seria completa sem ele.


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