Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 59
Capítulo 59: POV Melissa McQueen




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Eu tinha passado os últimos dias me escondendo na biblioteca, salvo pela vez em que eu fui com Charles praticar arco e flecha. E hoje não tinha sido diferente. Fazia quatro dias desde a festa de Sebastian, quatro dias em que Theo estava no castelo.
Ele não se tocava que eu não queria falar com ele. Ele não achava que eu tinha falado sério. Mas eu tinha. Eu não queria nem vê-lo na minha frente.
Depois de praticamente empurrá-lo para longe de mim sábado, ele tinha entendido pelo menos que não estava chegando a lugar nenhum com aquilo. Ao invés de ficar vindo falar comigo mil vezes, pedindo para eu considerá-lo, ele começou a simplesmente aparecer sem querer onde eu estava. Principalmente na biblioteca.
E já era o terceiro dia seguido em que ele ficava lá, a algumas mesas de mim, fingindo estar ali só para ler seu livro. Eu não queria ter que reclamar que ele estava me seguindo (mesmo tendo certeza de que era isso mesmo que estava acontecendo). Afinal, a biblioteca era livre para qualquer um entrar e sair (apesar de que quase nenhuma selecionada além de mim ia ali). Mas eu estava chegando ao meu limite. Eu não precisava dele ali, me lembrando de todos os anos em que ele foi meu melhor amigo. Eu nãoo conseguia pensar em outra coisa, mal conseguia me concentrar no meu próprio livro. Já tinha até desistido de terminar de ler "Crime e Castigo". Ler na minha própria língua estava difícil demais já, imagina ter que acompanhar uma frase em russo!
Estava me escondendo atrás de um qualquer que eu tinha achado na primeira prateleira que vi, quando o ouvi respirando alto. Agarrei o livro com minhas duas mãos bem forte, tentando me controlar. Ele não precisava tentar chamar a minha atenção. Eu já estava bem ciente de que ele estava ali. Eu já não estava conseguindo me concentrar em nada.
Ele tossiu forçado e eu não me controlei. Soltei o livro na mesa e o fechei com força, fazendo-o pular de susto. Aí me levantei e marchei até onde ele estava sentado.
"Você tem noção de que nós estamos dentro da maior casa do país inteiro?" Falei, quase gritando.
Ainda bem que quase ninguém ia lá.
"Você tem ideia de quantos metros quadrados tem nesse castelo?" Continuei, e meu deu ainda mais raiva quando percebi que ele estava até se divertindo com a minha reação. "Por que você precisa aparecer em todo lugar que eu vou?"
Ele deu de ombros, calmo demais para o meu gosto. "É sem querer," mentiu na minha cara.
Balancei a cabeça e olhei para os lados, tentando me distrair da batida forte do meu coração que eu podia sentir até na minha cabeça. Mas ele parecia tão desinteressado, estava fingindo muito bem que não se importava com nada daquilo. E não, eu não estava no humor de aguentar aquilo.
Empurrei seus pés que estava apoiados na mesa na frente dele até que eles caíram no chão.
"Pega esse livro seu e vai ler no jardim, no telhado, sério, vai ler no inferno, só sai da minha frente!" Gritei, depois me virei e marchei de volta para onde o meu livro estava.
Peguei-o e continuei andando até chegar na prateleira de onde o tinha tirado.
"Você pode falar o que você quiser, Mel, mas nada vai me fazer desistir de você," o ouvi falando atrás de mim.
Tive que me segurar na prateleira e respirar umas mil vezes para não ir pra cima dele.
"Ei," ele disse, se aproximando de mim. Eu me virei para olhá-lo, apesar de que todos meus neurônios gritavam para eu não incentivar seu comportamento. "Não teve um dia em que eu não pensei em você."
Senti meu coração parar de bater por um segundo com aquelas palavras, mas lutei contra aquele sentimento. Levantei o rosto um pouco, só o suficiente para ele não achar que já tinha vencido.
"Por que não me falou nada? Por que não se despediu direito?" Perguntei, sentindo minha voz à beira de fraquejar.
Ele balançou a cabeça de leve. "Eu não podia. Não enquanto tudo com meu pai se acertava. A Alemanha está em guerra civil, Mel. Estamos tentando controlar tudo e não deixar sair na mídia internacional, mas está difícil."
"Como assim, guerra civil?" Perguntei.
Antes de responder, ele esfregou a cara, provavelmente já cansado de ter que pensar naquilo.
"Metade da população está revoltada por termos devolvido o território de Parforce. Nós estamos com um problema de rebeldes muito pior do que o de vocês."
"Nós quase não temos mais problemas de rebeldes," eu disse, mas ele não parecia estar ouvindo.
Ainda estava perdido no próprio pensamento.
"Meu pai está fazendo de tudo para conseguir manter tudo calmo, mas não está fácil. Eles queriam que eu entrasse no poder, porque me vêem como um futuro mesmo para o país, enquanto meu pai já está velho. Mas eu nem sei se eu concordo com eles. Eu não queria entrar em guerra com Parforce, não depois de toda a nossa história. Mas tão pouco queria deixar o meu país brigando consigo mesmo."
Ele respirou fundo, e eu esqueci tudo que tinha contra ele.
"Nunca imaginei você nessa posição," eu admiti e ele concordou de leve com a cabeça. "Lembro de quando seu maior sonho era dar aula de computação para crianças Cinco aqui em Illeá."
"É, eu não esperava isso também," ele disse, se virando para apoiar as costas na prateleira. Eu fiz o mesmo ao seu lado. "Pra te falar a verdade, eu estava esperando o momento em que fosse cair a ficha, sabe?" Perguntou, virando o rosto para me olhar. "Mas nunca veio. Tudo era meio assustador no começo e agora é tão normal. Não passei pela parte em que eu entrava em pânico e corria para longe."
Pensei naquilo por um instante. Talvez ele não soubesse, mas eu não achava tão inacreditável assim ele não ter entrado em pânico. Ele era a pessoa mais segura que eu conhecia, a mais centrada. E mesmo assim, ele me entendia. Ele era carinhoso e inteligente, forte e determinado. Se eu fosse alemã, acho que também lutaria para colocá-lo no poder.
"Eu não tenho mais muita escolha sobre a minha vida," ele continuou e eu ouvi. "Mas uma coisa eu não vou ceder," ele disse, se colocando na minha frente e me encarando sério. "Mel, eu não consigo ver a minha vida com mais ninguém. Eu preciso de você comigo."
Suas mãos encontraram a minha cintura e por um segundo eu esqueci de onde estava e do que estava acontecendo. Por que a minha vida tinha que ser tão irônica a ponto de eu conseguir tudo que sempre quis, logo quando eu já tinha aprendido a viver sem e escolhido um caminho tão diferente?
"Não, Theo," falei, desviando do seu toque. "Eu fiz as minhas escolhas e você fez as suas. Você tem que continuar com a sua vida," seu olhar ficou perdido no chão onde eu tinha estado poucos segundos atrás. "Tudo que eu posso lhe oferecer é a minha amizade, e eu espero que você a aceite," continuei. "Mas você vai ter que aprender a viver sem mim. Você tem que pensar no seu país agora. Que, eu tenho quase certeza de que não quer uma menina de Illeá casada com o futuro rei."
Seus olhos se levantaram até encontrar os meus e eu lhe sorri, triste. Tive que lutar com as minhas próprias pernas que se recusavam a mexer, mas acabei andando para longe dele.
Assim que passei pelas portas da biblioteca, eu parei. Me virei e comecei a andar de volta para onde ele estava. Mas acabei parando de novo. Eu não podia simplesmente voltar. Eu não podia fazer o que estava pensando em fazer. Eu tinha que esquecer aquilo. Eu estava ficando louca e precisava me manter sã. Eu me virei algumas outras vezes, ainda completamente confusa se eu deveria seguir meu coração ou honrar minha palavra, até que me agachei. Abracei meus joelhos, tentando me acalmar. Qualquer uma conseguiria agir na fraqueza. Mas eu precisava ser forte. Era quem eu era, quem eu mais queria ser. Eu precisava ser racional. Eu não podia arriscar uma coisa daquelas.
Seus passos vindo em direção às portas me fizeram levantar correndo e sair dali antes que a minha escolha perdesse toda a importância quando seus olhos caíssem sobre mim.


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Notas finais do capítulo

Pequeno cameo na história! Parforce é o país onde acontece a história do livro que estou escrevendo (inventado), ele fica entre a Alemanha e a Polônia, no norte da Europa, com a costa pro mar.



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