Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 54
Capítulo 54: POV Nina Marshall




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"QUÊ?" Eu soltei sem conseguir me controlar.
"É, tô falando, ela me contou tudo," Valentine disse, balançando a cabeça animada. "Eu nem entendi direito porque, ela só foi soltando tudo em cima de mim."
Não, não podia ser. Ela estava confundindo, ela não podia estar falando o que eu pensava que estava falando.
"Você tem 14 anos! Ela sabe disso?" Gabrielle perguntou e sua irmã concordou com a cabeça. "O que essa menina estava pensando quando achou que era uma boa ideia te contar uma coisa assim?"
"Não sei," Lua disse, rindo. "Acho que ela não pensou que nós íamos contar para alguém."
Ou para mim, eu pensei.
"Ou foi bem o contrário," Abbie falou.
"Como assim?" Perguntei.
Ela deu de ombros. "Metade dos rumores sobre a minhavida sou eu que começo. Sabe, para tentar me manter nas notícias. Só estou falando, às vezes foi o jeito que ela viu te fazer isso chegar ao ouvido dele."
"Mas ele já sabe que isso aconteceu," Lua disse, parecendo bem confusa.
"Não estou falando que ela queria contar para ele," Abbie explicou.
"Mas que ela queria que ele soubesse que ela se importa," eu falei, ao mesmo tempo que pensava naquilo. Que ela se importava o suficiente para inventar uma história dessas?
"Sim!" Abbie concordou. "Bem isso."
"Mas como a gente tem certeza de que ela ta falando a verdade?" Perguntei.
Porque não podia ser verdade. Ele tinha ficado comigo. E era bem mesquinho da parte dela ficar inventando uma coisa dessas.
"É verdade, Nina," Beatriz falou do nada, me fazendo virar pra ela, assustada. "Eu vi os dois juntos. Eles não estavam se beijando, nem nada. Mas perguntaram onde tinha um quarto livre."
Senti o céu desabando em cima de mim. E depois eu senti que teria sido melhor se ele tivesse mesmo caído. Era melhor do que ter que encarar elas ali, enquanto eu sentia minhas bochechas esquentarem com a vergonha dele ter feito alguma coisa desse tipo nas minhas costas.
"Como assim você viu os dois juntos?" Meu tom de voz estava um pouco indignado demais. "E você nem me contou?"
Beatriz franziu a sobrancelha.
"Por que ela tinha que te contar?" Sophie perguntou, me estranhando.
Uh-oh, talvez eu estivesse me importando um pouco demais.
Dei de ombros, como se não fosse nada. "Eu gosto de fofoca," menti e sorri para ajudar a convencê-las. Mas o que eu estava sentindo estava longe de um sorriso. Sentia como se cada pedacinho da minha pele estivesse pegando fogo de vergonha, de tristeza.
Ele tinha me usado.
Abbie me olhou esquisito, não muito convencida, mas não falou nada. As outras concordaram comigo.
"Não acredito que ele ficou com ela e a largou assim," Gabrielle disse, pensativa, mas eu já não estava ouvindo direito. Ou pelo menos fingia que não.
"Ainda bem que nós não estamos aqui por ele, né," Sophie falou, rindo.
As outras concordaram, mas eu estava ficando enjoada com aquela conversa.
Naquele momento a rainha pediu desculpas e falou que precisava se retirar. Não pensei que fosse por nossa culpa, estávamos bem longe dela. Mas foi ótimo para mim, porque eu aproveitei e falei para as meninas que eu tinha que fazer uma coisa.
E essa coisa era sair correndo dali. Ir para o mais longe possível dali.
Tinha alguma coisa errada com aquela história. Não podia ser verdade, não daquele jeito. Eu não queria acreditar de jeito nenhum. Era como se aquilo tivesse sido um sonho, um pesadelo na verdade, e eu precisava ter visto para acreditar. A princesa devia estar aumentando alguma coisa, provavelmente estava criando o final daquela história. Batriz só tinha visto os dois juntos. Eles podiam ter se beijado, sei lá. Mas não era possível que eles tinham passado a noite juntos. Ele não faria isso comigo.
Como, comigo? Por que ele se importaria comigo? Por que ele pensaria em mim?
Mesmo que ele não se importasse, ele bem que poderia me respeitar o suficiente para não ficar com outra menina na mesma noite em que ele quase acabou com todas as minhas chances de continuar nessa competição.
Eu saí do castelo para o jardim e comecei a andar em direção à floresta. Eu ainda não tinha decidido o que ia fazer, nem sabia direito o que estava pensando. Mas a cada passo que eu dava, eu sentia que estava ficando mais longe de tudo aquilo.
Longe daquele castelo cheio de gente mentirosa que usava as pessoas. Não era justo ele mexer comigo desse jeito e simplesmente se esquecer de mim na primeira oportunidade que tinha!
Eu pensava que não tinha nem sonhado com a possibilidade dele gostar de mim. Então por que eu me sentia tão traída assim só de saber que ele esteve com outra menina? Como ele podia ter feito aquilo como se não fosse nada? Como se eu não fosse nada?
Eu não era nada. Para ele, eu não era nada. Eu era só mais uma que ele tinha conseguido colocar na sua lista. Não sei porque eu cheguei a pensar que tinha visto quem ele era de verdade no seu aniversário. Aquilo não era ele. Ele era aquele cara que eu conheci primeiro. O que tinha tanta certeza de que caras como o Sr. Darcy não existem.
Não acredito que me deixei pensar por um segundo que talvez toda a inconveniência daquele sentimento poderia ser bem o que faria dele tão perfeito. Não conseguia acreditar que eu realmente tinha caído naquilo. Caído no que ele tinha falado, caído naquele jeito dele.
Romântica ou não, eu juro que pensava que eu era melhor do que aquilo. Eu jurava que não acreditaria em uma coisa dessas, uma coisa que um cara fala só para conseguir ficar comigo. E logo alguém como ele.
Eu cheguei até a floresta já andando devagar, mas meu coração ainda continuava batendo que nem louco. Só de olhar para trás, eu já me sentia muito enjoada. Se não estivesse de estômago completamente vazio, eu podia jurar que eu estava para passar mal ali.
O castelo parecia tão longe que nem parecia de verdade. Fiquei olhando para ele pensando em como eu queria nunca ter vindo para cá. Como eu queria ter ficado em casa, na minha vida. Por que eu tinha que ter decidido participar dessa droga de Seleção? Por que eu tinha que pensar que seria uma boa ideia?
Comecei a andar de novo, mas paralelo ao castelo. Não queria entrar demais na floresta. Mesmo sabendo que não havia tido um ataque rebelde ali há muito tempo, não queri arriscar. Não sei quanto tempo se passou, mas eu andava devagar, sem me importar com mais nada.
Quando já estava há uma boa distância, comecei a ouvir um barulho estranho. Conforme fui andando, percebi o que era. Tive que descer alguns degraus até chegar em uma grande praça de concreto com alguns bancos, alguns degraus perdidos por ela uns corrimões perdido. E bem no meio dela estava ele. Ele.
Na hora, eu esqueci toda a raiva que tinha sentido dele e me sentei em um dos degraus, provavelmente sujando todo o meu vestido. Era como se eu estivesse completamente de fora, principalmente fora de alcance. E eu tinha todo o tempo do mundo para observá-lo
Ele não me percebeu de primeira. Continuou andando de skate, tentando subir alguns degraus do outro lado da tal praça. Ele tentou várias vezes, mas na maioria, não conseguia a tempo e acabava caindo, fazendo o skate sair rolando para longe dele. Eu mesma me preocupei no começo com ele se machucando, mas depois da décima vez, acabei acostumando com aquilo. E, na verdade, o fato dele continuar tentando me parecia bem legal da parte dele. Sem contar que ele estava bem graça caindo.
Ele ria de si mesmo, se levantava e tentava de novo. Por um segundo eu pensei que estava vendo o mesmo cara do dia anterior.
Mas tudo de bom que eu poderia estar pensando dele desapareceu quando ele se virou sem querer para mim e me percebeu ali. Notei quando seus ombros relaxaram por um segundo, mas depois voltaram a ficar rígidos. Ele se voltou ao seu skate e continuou andando por um tempo, como se não quisesse falar comigo.
E eu fiquei lá, pensando que era mesmo tudo verdade. Que aquilo era a prova de que ele não gostava de mim, que eu era mesmo só mais uma. Que ele estava mesmo com ela.
E eu sei que eu não deveria me importar. Fiquei falando para mim mesma que ele não me merecia. Que ele era um idiota e eu estava melhor sem ele. Eu não estava ali por ele, por que isso era tão difícil de entender? Por que era tão difícil de parar de me importar com ele?
Eu deveria ter me levantado. Eu deveria ter ido embora quando ele finalmente começou a andar até mim, skate no pé. Ele remava já desanimado, mas me mirava e eu rapidamente pensei no que ele poderia me dizer. Ou não dizer.
Na minha cabeça, mesmo sem eu querer, eu imaginei ele chegando até mim, colocando os braços em volta de mim e me puxando para ele. Ele colocaria sua mão na minha nuca de novo e não pararia até que seus lábios estivessem nos meus.
"Olá," ele disse, claramente incomodado.
Eu voltei a mim e tentei me lembrar de quem ele realmente era.
"Olá," falei, na mesma falta de animação que ele.
Ele pisou forte em um lado do skate, fazendo-o levantar e pegando-o com uma mão. Aí ele subiu até o degrau onde eu tava e se sentou. Ele parecia até meio acabado. Estava melhor do que no café da manhã, mas longe de ser aquele Sebastian de antes.
Eu fiquei esperando ele falar alguma coisa, mas nada. Ficou só olhando para a frente, pro seu skate, para o céu. Qualquer lugar, menos para mim. Enquanto isso, eu imaginei mil coisas que ele poderia dizer para me explicar que ele na verdade gostava de mim, mil jeitos que ele poderia me beijar e me fazer esquecer de tudo que eu tinha ouvido sobre ele e uma garota qualquer.
Mas eu bloqueava todos os pensamentos desse tipo quando eles começavam a me deixar ainda mais enjoada e nervosa.
Eu pensei em tentar falar sobre o clima, sobre qualquer outra coisa. Mas a verdade é que eu queria ver se ele me contaria do que tinha acontecido ontem. O problema é que só tinha um jeito de começar.
"Desculpa por ontem," falei, sem conseguir encará-lo.
Ele não falou nada de novo, o que me deu raiva. Mas tentei lutar contra isso.
"Você acabou se divertindo o resto da noite?" Perguntei.
"Claro," ele falou do nada, um pouco mais duro do que ele precisava ser. "Por que não?"
Dei de ombros. "Sei lá."
Ficamos em silêncio de novo. Estava começando a sentir muita raiva mesmo daquele jeito dele. Ainda mais que cada segundo que a gente passava sem falar nada, me deixava imaginando outras coisas que poderíamos fazer. E coisas que tínhamos feito. Lugares onde suas mãos estiveram.
Argh, por que ele não podia simplesmente me falar o que tava pensando? Por que não podia só me falar como estava se sentindo?
Mas aí eu percebi que eu estava fazendo o mesmo. Eu estava ali, querendo que ele me falasse o que estava pensando, ao mesmo tempo que eu não lhe contava nada do que se passava na minha cabeça. E eu nem conteio que eu tinha ouvido sobre ele mais cedo. Se eu queria honestidade, eu tinha que começar. Eu esfregava uma mão na outra, mas respirei fundo e me arrisquei.
"Ouvi falar de você com a princesa da França," falei e ele bufou, me fazendo virar para olhar para ele.
"E daí?" Perguntou, mostrando nos seus olhos quase a mesma raiva que eu estava sentindo.
"Só estou falando," disse. "Fico feliz que você achou alguém que gosta de você, sabe, ao invés de ficar correndo atrás das selecionadas."
Aquilo foi demais para ele. Ele se levantou, balançando a cabeça. Sim, eu me arrependi na hora de ter falado aqui. Mas já tinha falado e agora não tinha como voltar atrás.
"É, eu fico feliz também," ele disse, finalmente, se virando para mim e me encarando. "A gente sempre ficou junto, sabe?" Disse com um sorriso convencido na cara. "Se fosse para eu me casar com alguém, teria que ser com ela."
Senti de novo o céu caindo em cima de mim, mas daquela vez eu tive mais é raiva daquilo. Não ia simplesmente deixar ele pensar que aquilo me abalava.
"Por que então vocês não se casam?" Falei, me levantando e abrindo os braços o máximo que podia. "Se ela é tão incrível assim e o que vocês tem é tão importante e significativo, o que você tá esperando?"
Ele balançava a cabeça, inconformado. Até que parou, levantou o rosto só o suficiente para me fazer entender que ele era superior a mim e a tudo aquilo que eu estava falando.
"Boa ideia," disse, sua expressão serena. "Ótima ideia, na verdade."
Pegou seu skate e subiu os últimos degraus da escada, enquanto eu me virava para olhá-lo. Depois de uns três passos, ele se virou de volta para mim, mas sem parar de andar.
"O que eu estou esperando, né?" Perguntou, abrindo os braços e andando de costas.
Por um segundo pensei que ele fosse jogar o skate longe, mas ele se conteve, se virou e continuou seu caminho até o castelo.
Enquanto eu fiquei ali, esperniando de raiva dele ser tão idiota!


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