Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 13
Capítulo 13: POV Charles Regen




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Pude ver todas as selecionadas entrando no Grande Salão. Estava escondido atrás da parede na esquina do corredor e elas não podiam me ver. Eu mesmo não consegui enxergar nenhum detalhe importante que fosse me ajudar. Mas foi o suficiente para me deixar ainda mais nervoso.
Assim que as portas se fecharam, andei até lá e esperei do lado de fora. Podia ouví-las conversando e Silvia explicando que eu logo estaria ali. O barulho que faziam estava me deixando louco. Elas deviam estar falando de mim, do que esperavam de mim. Desabotoei e abotoei de volta meu blazer mil vezes, ajeitei minha camisa, puxei as mangas para frente, depois achei que estava muito à mostra. Soltei e voltei a apertar minha gravata umas vinte vezes, indo até a janela para checar se tinha ficado melhor. Mas nunca parecia o bastante.
Estava tentando arrumar meu cabelo quando as portas se abriram e Silvia chamou pelo meu nome.
Depois da primeira entrevista, tudo ficou mais fácil. Me acostumei com as perguntas sobre o que elas faziam e tentava encontrar uma coisa que tínhamos em comum. E quando começava a sentir que a conversa estava ficando esquisita, sempre decidia terminar por ali. Só tinha conhecido umas três que não pareciam nem um pouco comigo e que eu nunca queria ver de novo na minha vida.
Mas as outras eram bem agradáveis, algumas até demais. A que mais tinha chamado a minha atenção no meio de todas as outras era uma bailarina. Ela tinha um jeito sobre ela que era encantador. O jeito que ela se sentava, como olhava para mim. Era até meio formal, mas não de um jeito estudado. Era como se a elegância corresse pelas suas veias e ela não conseguia evitar de ser assim. Sentada à minha frente, pude imaginá-la como rainha. Apesar de a minha mãe nunca ter acreditado que ela mesma chegaria a esse ponto, apesar de ela sempre contar que era a menos provável, eu não podia evitar de procurar esse tipo de qualidade nas selecionadas.
Metade dessa competição era bem isso mesmo, procurar uma rainha para Illeá.
Já a outra metade era achar alguém para mim. A primeira menina com quem conversei me deu a maior confiança que eu poderia pedir. Ela me olhava de um jeito tão incrível, eu não poderia querer mais. Fez tudo ficar mais simples dali pra frente.
As gêmeas eram completamente diferentes uma da outra. A Victoria era um pouco menos inocente, mais desafiadora. Confesso que isso me atraiu. Ela seria mais um desafio, alguém que não aceitaria qualquer coisa que eu falasse e sim que tentaria conseguir o que ela quisesse. A única dúvida que me ficou era se ela gostaria de mim mais do que da coroa.
Já a outra, Vanessa, era mais cativante. Consegui esquecer pelos poucos minutos que passei com ela que eu era príncipe e que ela estava em uma competição para me conquistar. Nós gostávamos dos mesmos livros e nossa conversa era de dois amigos e não duas pessoas em posições bem esquisitas. Quando Silvia me olhou com cara de preocupação, percebi que tinha passado muito tempo só na sua entrevista. Se não fosse por isso, acho que teria continuado conversando com ela o resto do dia.
Tive a chance de conhecer meninas de profissões completamente diferentes. Sim, muitas trabalhavam com música (depois de minha mãe, nunca poderia questionar essa escolha). Mas também conheci filhas de donos de restaurantes, de hotéis, até uma filha do dono de uma loja de jóias. Seria difícil conseguir impressionar essa, Nina. Ela já usava peças que ela mesma tinha desenhado e que não se comparavam com as que eu tinha separado para elas.
Foi muito legal ver meninas tão talentosas! Tinha uma, Melody, que prometeu pintar um quadro para mim. Por mim, ela pintaria hoje. Queria poder ter uma lembrança de cada uma que tinha vindo para cá por mim. Que tinha deixado sua vida para trás pela chance de me conhecer.
Toda aquela ideia de Sebastian de que elas já me queriam, que eu já as tinha conquistado, foi começando a se estabelecer na minha cabeça. Era a mais pura verdade. Elas me olhavam com tanta admiração, que eu nunca poderia duvidar disso. Eu só não queria nem pensar em ter que escolher. Seria muito difícil.
E ficou ainda mais díficil quando estava quase chegando ao final. Estava me despedindo de uma pianista chamada Jenny, quando a próxima selecionada se aproximou de mim.
E eu teria reconhecido aqueles olhos em qualquer lugar do mundo.
"Alteza," ela disse, fazendo sua reverência.
Não me importei com minha educação, dei um passo em sua direção, tentando enxergar o nome escrito no seu button.
"Espera, você não faz parte da seleção," eu disse, lendo um nome diferente.
"Algum problema, Alteza?" Silvia perguntou chegando até nós.
"Não," Scarlet se virou para ela. "Só precisamos conversar um pouco."
Ela andou até o sofá e se sentou. Silvia me olhou de um jeito que só podia significar que qualquer coisa, ela estava ali. Fui Até Scarlet e sentei na sua frente.
"Vá em frente," disse, um pouco duro demais. "Explique-se."
Ela engoliu a seco e mirou seus olhos em mim.
"Meu nome não é Scarlet, é Gabrielle," ela disse. "Eu não sou uma criada. Eu fui confundida quando era para estar passando pela minha transformação," ela jogou os cabelos cobres para trás, trazendo minha atenção à curva de seu ombro.
"E você não pôde perder a oportunidade de ir até o meu quarto," completei, ainda me sentindo confuso.
"Não sabia que eu teria que ir ao seu quarto," ela disse, seus olhos suplicando por perdão. "Eu juro, eu achei que eu fosse...Está bem, eu não sabia direito o que aconteceria."
"O que faz uma pessoa levar isso em diante?"
"Bom," ela olhou para as outras meninas, seus dedos se entrelaçando entre si no seu colo, "eu gosto de ter experiências novas," admitiu. "Eu sou escritora e acredito de verdade que conhecer o lado de pessoas diferentes, o jeito que elas vivem, isso me ajuda, entende?" Concordei com a cabeça só para ela não parar de falar. "Eu gosto de entender as pessoas, de saber o que elas pensam. Acho que isso me ajuda a entendê-las, sabe? A ver o que move elas."
"Entendo," falei, pensando naquilo. "E seu sotaque ainda está ai, então imagino que seja mesmo filha de franceses."
Ela concordou com a cabeça. "Sim, me chamo Gabrielle DeChamps," ela disse, me dando um sorriso meio triste. "Eu entenderia se você me eliminasse agora, de verdade," ela levou as duas mãos ao peito. "Mas eu te juro que minhas intenções eram boas! E se você me deixar ficar, prometo provar que mereço estar aqui."
Ela me olhava com tanta expectativa nos olhos que eu não poderia nunca lhe dizer não. Mas não tive pressa, me deixei observá-la sentada à minha frente. Seu cabelo solto pelos ombros a deixavam muito diferente do que eu tinha visto no dia antes. Scarlet era tímida e podia facilmente passar despercebida a quem não a olhasse nos olhos. Mas Gabrielle não. Não tinha como não olhar para ela, sua pele oliva brilhava nas curvas de seus ombros, nas maçãs do seu rosto. Mas seus olhos tinham a mesma bondade, a mesma humildade de Scarlet.
"Você terá que me provar que fiz a escolha certa," falei, vendo seus olhos iluminarem com a notícia.
"Você não vai ser arrepender," ela disse, se levantando e jogando o braços em volta de mim.
Fiquei sem jeito, não sabia bem o que fazer e o perfume de jasmin que emanava de sua pele não me ajudou a me concentrar. Não a tirei de mim, e nem gostaria que tivesse se afastado, mas não a abracei de volta. Quando ela percebeu que tinha ido longe demais, se distanciou.
"Desculpa, Alteza. Não comecei bem, né? Mas prometo que de agora em diante vou ser impecável," ela olhava para baixo, envergonhada, mas tinha um sorriso no rosto.
"Está bem," eu disse, ainda desconcertado pelo seu abraço.
Ela andava para longe de mim quando eu percebi que seu cheiro tinha ficado na minha camisa.


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