Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 120
Capítulo 120: POV Sophie Abramovitch




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"A convivência lá é pacífica, mas nós precisamos manter algumas tropas lá em caso de uma emergência," Gustave falava, enquanto nós andávamos de braços dados pelo castelo.
"Você diz, se algum dia a Rússia entrar em guerra com Illéa?" Perguntei.
"Não só," ele disse. "Essa é a menor das possibilidades, nós já conseguimos criar uma aliança bastante forte. As tropas lá são para o caso de uma eventualidade no resto da Europa."
"Entendo," falei, apesar de não me importar muito. Já fazia horas que ele falava e falava de sua viagem para a Rússia.
Não, mentira. Ele não falava de sua viagem, ele falava de como era ser um soldado, de como seu pai tinha contatos e era influente. Ele não tinha me falado nada sobre comidas e museus. Ele nem parecia saber que a capital da Rússia tinha um dos prédios mais bonitos do mundo. E toda vez que eu perguntava, ele conseguia fazer o assunto voltar ao exército.
Eu tinha que admitir que gostava de ficar do lado dele, falando sobre a vida. Ainda mais agora que eu sabia que eu podia apreciar essa sua atenção. Ele era galante e muito educado, sempre me puxando cadeiras e abrindo portas. Ele não economizava em elogios e eu me sentia como uma princesa.
Mas uma princesa bastante entediada. Eu nem sabia se ele realmente ouvia o que eu falava, ou se ele só usava a minha voz como uma confirmação para ele continuar falando de si mesmo. Mas não era nem de um jeito convencido, arrogante. Não era como se ele estivesse tentando se mostrar. Mas como se ele tivesse tentando se afirmar para ele mesmo. Era como se ele precisasse falar dele, então eu o deixava.
Mas o maior problema era outro ainda. O problema era que um dos seus assuntos preferidos era a ex-namorada. Não me leve a mal, eu não me importaria se ele me contasse algumas coisas, boas ou ruins. Mas ele exagerava. E quando ele começava a me comparar com ela, me incomodava. Ele nem sabia se eu era mesmo como ele falava, era quase um jeito de ter certeza de que eu não seria como ela. Quase como uma ameaça.
E eu só concordava com a cabeça, o deixava falar. Se ele precisava tanto assim, ele podia continuar. E eu ainda tinha uma esperança dentro de mim de que ele só fizesse isso porque precisasse. Não era por mal, ele só estava machucado e precisava que alguém o ouvisse. E, quem sabe depois de ele conseguir superá-la, ele não poderia ser o cara perfeito?
Por enquanto, eu aceitava todas as vezes em que ele me pedia para passear com ele pelo castelo. Ainda mais porque eu finalmente descobri que ele era mesmo a minha única opção. Gerad fazia questão também de exibir sua namorada modelo pelos corredores. E se antes eu achava que não tinha nenhuma chance com ele por ele ser irmão da rainha, agora eu realmente tinha perdido todas as esperanças. Ela não era só modelo, mas como das mais bonitas. E eles ficavam bem juntos, por mais que me doesse admitir. Eles ficavam perfeitos juntos. Dava até vontade de tirar foto e colocar na capa de alguma revista.
Era quinta-feira de manhã e eu já estava cansada de ouvir sobre como era incrível servir o seu próprio país. Me incomodava isso, porque ele falava como se guerra fosse inevitável. E não era. Mas eu não falava nada. Eu só ficava me perguntando quanto tempo mais eu teria que ficar ali, se eu poderia simplesmente ir para o meu quarto sem parecer que eu o estava rejeitando.
Nós estávamos passando pelo hall de entrada, quando Gustave mesmo parou de andar e se virou para mim.
"Eu sinto muito, mas nós teremos que continuar o nosso passeio outro dia," ele me disse e eu só pensei, Aleluia!
"Ah," logo por cima do ombro dele, eu avistei Gerad vindo com alguns guardas. "Por quê?" Eu perguntei, tentando fingir que aquilo me incomodava, talvez exagerando.
Gustave sorriu, satisfeito. "Eu fui convocado para acompanhar um prisioneiro," ele me explicou. "Nós o levaremos para o seu julgamento. E pelo que eu estou vendo, nós devemos sair dentro dos próximos cinco minutos." Ele olhava alguma coisa atrás de mim, mas voltou seus olhos para os meus. "Me acompanha até a porta?" Perguntou, já me oferecendo seu braço de novo.
Eu o aceitei rapidamente e me virei com ele, sabendo que Gerad devia estar quase nos alcançando na hora em que voltamos a andar.
"Você volta logo?" Eu perguntei para Gustave, só para tentar fazer Gerad ficar com ciúmes, mesmo sem saber se ele conseguia me ouvir.
"Volto," Gustave disse e eu pensei, Droga. Mas sorri para ele. Nós tínhamos chegado nas portas do castelo e eu saí com ele, mas ele parou logo depois. Ele me soltou e se virou para ficar na minha frente, descendo o primeiro dos três degraus ali só para ficar na mesma altura que meu rosto. "Eu volto amanhã cedo," ele disse.
"Bem a tempo para o casamento," eu falei, engolindo em seco.
"Não," ele balançou a cabeça. "O casamento só acontecerá no sábado agora."
"Está falando sério?"
Ele riu com a minha surpresa. "Sim," disse. "Mas eu volto amanhã a tempo do pedido de casamento."
"Que pedido de casamento?" Eu só estava ficando cada vez ainda mais confusa.
E ele se divertia com a minha ignorância. "Você vai descobrir tudo logo mais," ele disse, se inclinando para me dar um beijo no rosto.
Até aquele momento, nós nunca tínhamos tido nenhum tipo de contato físico assim além de andar de braços dados. E foi esquisito! Era como se ele tivesse presumido que nós tínhamos uma certa intimidade que nós não tínhamos. Como se ele achasse que estava no direito de me roubar um beijo no rosto, quando eu só queria empurrá-lo.
Mas Gerad estava logo ali. E eu não queria que ele soubesse que nem tudo estava bem entre Gustave e eu. Eu queria que ele sentisse pelo menos um pouco de ciúmes de mim como eu sentia dele.
Então eu me recuperei rapidamente do susto que veio com o beijo de Gustave só sorri para ele quando ele me disse que ficaria com saudades.
Ele ficaria com saudades. Eu aproveitaria as férias que tiraria dele. Um dia, mas mesmo assim. Talvez fosse realmente do que eu precisava. Um dia para respirar e vê-lo sobre novos olhos depois que voltasse.
Os outros guardas que estavam atrás de nós passaram por mim e se juntaram a ele no caminho até o carro que os esperavam. E eu só fiquei ali de pé, tentando ignorar o fato de que Gerad tinha dado alguns passo à frente se posicionado do meu lado só o suficiente para estar em meu campo de visão. Era quase como se eu sentisse uma energia física vindo dele, que me mantinha calculando a distância que tinha entre nós, mesmo que eu tivesse que prestar atenção em Gustave na minha frente.
Um outro carro, esse claramente levando o prisioneiro, saiu de uma garagem do castelo e se juntou ao dos guardas. E então eles começaram a seguir o caminho que levava para fora do castelo. E eu estava enloquecendo na minha cabeça de ansiedade para o momento em que ficaria só Gerad e eu. Não sabia se eu queria isso ou se estava procurando um lugar ou uma desculpa para fugir. Só sabia que antecipar o momento estava me deixando quase enjoada de nervosismo.
"Vejo que vocês estão se dando bem," Gerad disse, só para a minha alegria. Mesmo que ele ainda não estivesse com ciúmes, pelo menos ele tinha percebido!
"É," eu falei. "Gustave é um cara incrível," dentro da minha cabeça, uma voz gritava, "Não mesmo!", mas eu a ignorei.
"E você não se importa de estar ficando tão próxima dele durante a Seleção?" Tinha um tom de reprovação na voz de Gerad que só me fez virar para olhá-lo.
"Eu não estou mais na Seleção," eu disse. "Eu sou livre para ficar com quem eu quiser."
Sorri, orgulhosa, enquanto ele fazia cara de confuso.
"Achei que a rainha teria te contado," completei, me voltando a olhar para a frente e acenar. Até me senti um pouco idiota, eu não sabia se Gustave estava olhando para trás, mas eu fiz mais por Gerad mesmo.
"Não, Meri não me contou nada," ele disse.
"Meri?" Me virei de novo para ele. "Você chama a Rainha America de Meri?"
Ele deu de ombros, sem me olhar. "Então vocês estão juntos ou alguma coisa assim?" Ele perguntou depois de um tempo sem nenhum de nós dizer alguma coisa.
"O que você tem a ver com isso?" Os carros já haviam desaparecido na esquina e eu me virei para voltar para o castelo.
"Nada," Gerad disse, me seguindo. "Só por curiosidade."
"Bom, para matar a sua curiosidade," eu falei, "nós não estamos juntos. Pelo menos, ainda não."
"Eu teria cuidado se fosse você," ele disse logo que entramos no castelo.
Eu parei de novo de andar para olhá-lo. "Por que fala isso?"
POR CIÚMES!, eu pensei. Mas tentei acalmar meu coração que pulava de felicidade. Não seja tonta, Sophie.
"Gustave é complicado," ele disse, fazendo uma careta.
"Complicado como?"
"Meio grudento," ele parou para me observar reagir ao que dizia, mas eu fiz o melhor para não fazer expressão nenhuma. "Você gosta de caras grudentos?"
"Se por grudento, você quer dizer romântico," eu falei, "sim. Muito."
"Não, existe uma grande diferença entre ser romântico e grudento," ele bufou. "Tipo, eu sabia que o sonho da Caresa era poder comprar uma casa para a mãe dela na cidade onde ela nasceu, e eu a ajudei a fazer isso acontecer. Isso é ser romântico, na vida real. Gustave fica insuportável quando tem uma namorada."
Eu ainda estava tentando me recuperar do que ele tinha falado sobre a namorada. Eu não sabia se achava aquilo a coisa mais linda do mundo, ou se morria de inveja dela. E por que mesmo ele estava me falando aquilo? Ele queria me mostrar como ele era o tipo de cara de que eu gostava? Ou só queria me mostrar o quanto ele gostava da namorada?
"Ele não faz nada sem a namorada, ele não deixa ela fazer nada," Gerad continuou, voltando a andar. Eu fui atrás dele, só ouvindo. "Ele nem é romântico, às vezes eu acho que ele nem gosta de quem ele namora, ele só gosta de ter alguém preso a ele." Ele parou de falar e se virou para mim. "Entende?"
Eu entendia. Pelo que tinha ouvido do próprio Gustave, ele realmente esperava umas atitudes da ex-namorada que eu nem sabia se eram mesmo racionais. Mas eu não queria dar essa satisfação a Gerad.
"Não se preocupe," eu falei para ele. "Eu vou me certificar de que Gustave realmente gosta de mim antes de aceitar qualquer proposta da sua parte."
Na hora, eu vi o brilho nos olhos de Gerad desaparecer. Ele pareceu pensar em alguma coisa para falar, mas nós fomos interrompidos por Gabrielle, que corria afobada em nossa direção.
"Ele já foi?" Ela perguntou, olhando de mim para Gerad, depois de volta para mim. "Eles já o levaram?"
"Você está falando do prisoneiro?" Eu perguntei e ela concordou com a cabeça. "Já, acabaram de levar."
Ela entrou ainda mais em pânico com isso.
"Ai, meu deus! Não, eles não podem fazer isso!" Ela correu até a porta, mas os guardas de lá a impediram de sair. "Eu preciso de mais tempo! Eles não podem matá-lo!"
"Do que você tá falando?" Eu fui atrás dela com Gerad atrás de mim.
"Eles não vão matá-lo," ele disse. "Ele só foi a julgamento.'
"Não?" Gabbie se virou para ele com olhos suplicando para que aquilo seja verdade. "Mas e se as pessoas o condenarem?"
"Você não quer que condenem o seu sequestrador?" Ele perguntou, bastante confuso.
"Espera, o prisioneiro é o seu sequestrador?" Eu me intrometi. "Seu ex-namorado e sequestrador?"
Gabrielle não fez nem questão de me responder. "Não quero que o matem!" Ela insistiu para Gerad. "Eu preciso que eles entendam, eles podem fazer o que quiser, só não o matarem!"
Ela se virou de volta pra porta, tentando passar pelos guardas que a seguraram e a deixaram alguns passos mais longe.
"Ninguém vai matar ninguém," Gerad disse, já praticamente sorrindo. "Relaxa aí, que eles não vão nem pedir para o júri o condenar a pena de morte," ele se virou na direção contrária à Gabrielle e começou a andar, como se a conversa tivesse acabado, como se tudo já tivesse se resolvido.
Mas para ela nada ainda estava certo. Com os mesmos olhos suplicantes, ela correu até ele.
"Como você sabe disso?" Ela perguntou, se colocando na frente dele e o impedindo de andar. "Quem te falou isso?"
"Charles," Gerad respondeu, como se fosse óbvio.
Gabrielle pareceu hesitar em acreditar por um segundo. "Você tem certeza disso?"
Gerad conseguiu a proeza de revirar os olhos sem ter que fazê-lo. "Tenho," ele disse. "Absoluta. Eu estava lá, ele era de verdade. Juro que não estava alucinando. Ele mesmo me garantiu que a pena máxima para o seu sequestrador seria de uma vida na prisão." Ele esperou que ela falasse mais alguma coisa. Quando ela não falou, ele continuou. "Posso ir?"
"Pode," ela disse, sem mirá-lo. Mas assim que ele começou a andar, ela se virou de novo para ele. "Espera," ela pediu e ele o fez. "Ele parecia irritado com isso?"
"Como é?" Gerad perguntou, a olhando.
"Charles," ela disse. "Ele parecia irritado com isso? Ele parecia não querer que fosse assim?"
Gerad só ficou com cara de ainda mais perdido. "Desculpa, mas na hora eu não sabia que eu tinha que prestar atenção no tom e na expressão dele."
"Gerad, faz um esforço," eu falei, dando um passo à frente e me colocando do lado de Gabrielle.
Ele me olhou como se me visse pela primeira vez, a ponto de contestar meu jeito mandão. Mas não o fez, só suspirou e pensou um pouco.
"Ele não parecia irritado," disse. "Parecia satisfeito. O que eu imagino que seja mesmo como ele estava, ele me disse que era a decisão certa."
"A decisão certa," Gabrielle repetiu como se precisasse daquilo para entender.
"É," Gerad disse, já se incomodando com aquela conversa toda. Até que alguma coisa chamou sua atenção no final do corredor. Ele se virou logo depois para nós. "Agora eu preciso ir, minha namorada está me chamando. Mas caso vocês precisem de mais algum relatório sobre o estado de humor de Charles quando ele estiver escovando os dentes, é só mandar os papéis para o meu quarto. Com licença."
Eu torci meu nariz para a sua tentativa de ser engraçado e o observei começar a andar até Caresa. Mas eu não queria ver o que aconteceria quando eles se encontrassem, então resolvi me focar na Gabrielle.
"Você está bem?" Eu perguntei, mas ela balançou a cabeça.
"Não," ela disse. "Eu fui uma idiota. Eu preciso falar com o Charles!"
Eu nem consegui perguntar mais nada, ela saiu correndo tão afobada quanto tinha estado quando a encontrei. Ela saía em direção ao Grande Salão, onde Amélie organizava o seu chá-de-panela com todos os membros do castelo que ainda a suportavam, mas eu resolvi ir para o meu quarto.
Não sei quanto Gabrielle procurou por Charles, mas sei que ela não o achou. Assim que abri a porta para entrar no meu quarto, vi que ele me esperava. Ele estava de pé perto da varanda e parecia quase tão afobado quanto ele. Eu já ia avisá-lo que ela o procurava, quando Beatriz veio da varanda. Eu sabia que ela era a mais dedicada a ele e que ela não suportava Gabrielle. Eu só não sabia era porque os dois estavam ali.
"Ótimo, você está aí," ela disse, colocando as mãos na cintura, impaciente. "Agora será que dá para nós começarmos isso logo?"


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