Coisas Fragéis escrita por blue devil


Capítulo 1
Fragmentos de Espelho.


Notas iniciais do capítulo

Ouvi umas musiquinhas bem desnecessárias enquanto escrevia isso aqui. Se eu to com medo? Nãããão... ALGUÉM DORME COMIGO HOJE ;-;
Fatos engraçados: Sereias usam espelhos. Sereias atraíam soldados para matá-los. Agora acho que vai ficar fácil entender a musiquinha que eu fiz -q



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"Greg, o que você está fazendo?"

Ouvi uma voz atrás da câmera enquanto olhava atentamente para o vídeo que começava. Na tela podia-se ver uma criança de cabeça raspada e grandes olhos azuis, branca como leite. Essa criança sentava-se na frente de alguns cadernos espalhados pelo chão e, olhando para as folhas, pude identificar desenhos mal feitos; nada diferente do comum infantil.

"Estou anotando, mamãe." O menino respondeu.

"Ah sim, como a Doutora Maria disse." A mulher tinha um tom caloroso, demonstrando o grande sentimento de afeto e carinho que sentia pelo filho doente enquanto falava. "E o que aconteceu hoje de tão interessante para que esse desenho leve tanto tempo para ser feito?"

"Eu já terminei o desenho." O menino fez careta, como se aquilo que dizia fosse a coisa mais óbvia do mundo. Eu sorri antes de sentir outro soco no estômago e franzir o cenho novamente.Esse provavelmente foi um dos últimos sorrisos. Um lado terrível da minha consciência gritou, causando-me dor de cabeça.

Os efeitos da minha escolha de assistir aquele vídeo estavam sendo piores do que eu imaginei.

"Mostra para mim?" A mãe pediu.

"Promete não brigar comigo?"

"Por que eu brigaria com você, querido?" A mãe riu. "Você não fez nada de errado, não é?"

O menino chamado Greg balançou a cabeça negativamente. Pude ver a mão da mãe esticando-se, entrando no campo de visão da câmera, pedindo o desenho do filho. Ainda hesitante ele pegou o caderno e colocou na sua palma. Na folha, podia-se ver uma criatura melhor desenhada do que todas as outras nos cadernos que vi espalhados pelo chão, mas ainda era difícil identificar o desenho cem por cento.

"Filho, o que é isso?"

"Uma... Sereia, mamãe."

"E por que desenhou uma sereia na sua anotação do dia?"

"Por que eu... Brinquei com uma..."

Eles ficaram em silêncio por, no máximo, vinte segundos. A mãe não deveria saber o que fazer ao ouvir isso do filho que já tinha problemas de saúde o suficiente. Agir como se ele fosse uma criança "normal" ou chamar outro médico? Eu podia ouvir as perguntas dentro da cabeça dela.

"E como foi?" Ela murmurou ainda incerta. Suspirei.

"Ela fugiu de mim." Greg desviou os olhos, envergonhado. "No lago." Ele não parecia pronto para dizer mais nada. Agora foi a vez da mãe dele suspirar.

"Greg, chega de anotações por hoje."

"Mas..."

"Não querido, não se preocupe. Também não vá mais ao lago por esses dias. A mamãe precisa ver algumas coisas antes, tudo bem?"

Greg fez bico como qualquer criança chateada faria. Olhou para a mãe com grandes olhos de filhotinho suplicante, porém não havia discussão. Ela não voltou atrás e, depois de mais alguns segundos de conversa, desligou a câmera. O vídeo ficou negro até outra filmagem começar, dessa vez a câmera parecia estar encostada em algum lugar e dali conseguia pegar todo o ângulo de um quarto dos sonhos para toda criança. Cheio de bichinhos de pelúcia, paredes azuis, brinquedos variados e decorações vivazes.

"O que você quer para o jantar?" Uma garota estava sentada no chão forrado de carpete também azul. Ela estava perto da câmera, com cabelos castanhos cheios e cacheados, tinha um rosto pequeno pouco anguloso. Como o de uma fuinha.

Greg estava na sua frente.

"O que você quer fazer, mana?" Ele rebateu. A garota olhou feio para ele.

"Por mim você ficava sem comer, freak."

Greg abaixou o rosto, visivelmente atingido pelo comentário da irmã. Ela soltou um tsk e olhou para a câmera por um longo tempo antes de resmungar:

"Eu fico tão desconfortável com essa coisa me gravando o tempo todo."

"Desculpa mana..." Respondeu Greg num muxoxo, o culpado da família ter que gravar toda a rotina.

"Urgh, para de pedir 'desculpa'. Quer compensar por toda essa palhaçada?" Greg assentiu. A garota sorriu. "Então faça parar."

"Como?"

"Eu sei lá. O problema é seu, 'te vira. Mas como você é um freak, talvez coisas como: Quebrar um espelho e ganhar sete anos de azar, passar por um gato negro e ser amaldiçoado por uma bruxa, olhar para um monstro e ganhar uma cicatriz seja o ideal para que os médicos não encham mais o nosso saco."

"Por que tudo isso...?" Ele murmurou intimidado pelas palavras da irmã. Ela sorriu mais.

"Descubra sozinho, moleque."

O vídeo tornou-se preto novamente. Entendi que assim seriam os cortes de uma gravação para outra. Algumas eram do mesmo dia e outras se passavam uma semana ou até mesmo um mês depois. Meu amigo de trabalho havia comprimido as partes mais importantes – estas que eu vejo agora - para que eu fizesse a minha matéria, isso antes de sumir e não dar mais notícia. Mesmo sentindo-me incomodado com esse vídeo, meus motivos já não são mais profissionais e sim emocionais. Preciso saber qual é o fim dessa história, se ela o possui.

Afinal, jornalistas são feitos de histórias macabras, não?

Começou a próxima filmagem. O vídeo mostrava um lago cristalino iluminado pelo Sol e à grama verde ao redor dele. Era o lugar perfeito para se brincar ou passear. Pelo pouco que entendo posso presumir que a câmera está posicionada no chão, exatamente na direção onde uma figura de costas encarava o lago: Greg. Ele estava olhando para o lago fixamente, a cabeça raspada brilhava junto com a blusa branca.

Engoli a seco. A tensão corria pelo meu corpo.

Ouvi vozes baixas e indecifráveis a primeiro contato. Depois de algumas tentativas, consegui separar a voz de Greg com a voz de outra coisa. Não parecia muito... Humano. Só neste momento pude perceber como o lago estava agitado, e o vento não aparentava estar forte na gravação.

Captei poucas palavras como:"Do espelho... Coisas... Pode...". Após isso vi um objeto submergir, porém era muito curto e escuro para ser identificado. Logo que apareceu submergiu novamente. Pausei o vídeo e repassei essa parte várias vezes, demorando um bocado para entender a tal imagem: Era como uma barbatana dorsal de tubarão, porém sete vezes menor e mais afiada, como um espinho.

Outro corte. Agora a família jantava junto: Greg, a mãe que descobri ter cabelos e olhos castanhos e a irmã. Eles sentavam à mesa com um forte clima de melancolia. O único barulho que poderia ser ouvido era o dos talheres.

"Mãe?" A menina chamou após beber um gole da coca. A mulher olhou para ela, encorajando-a falar. "O Greg foi ao lago hoje."

Eu senti raiva dela por ser tão malvada com o irmão doente. Céus, tudo bem, ele estava mexendo com algo que não iria acabar bem - pois se acabasse, eu não estaria aqui vendo essa gravação.

Porém ninguém tinha como saber disso. Qual era o problema de deixar o garoto imaginar um pouco? Talvez aquela barbatana fosse de algum tipo raro ou incomum de peixe. Apenas por que ele tem essa e outra doença, quer dizer que ele é louco também?

Acho que, mesmo com ele sendo louco, eu não posso culpá-lo com uma figura dessa o torturando sempre que pode. É por esse tipo de comportamento que eu e a minha família não temos mais contato. Não é por ter laços de sangue com alguém que você deva amá-lo.

"Como?" A mãe não quis acreditar. Foi como se uma sombra passasse pelo rosto da garota. Sua expressão tornou-se carregada, causando-me um leve arrepio. Será que ela agia por ódio e não por estupidez comum da adolescência?

"Ele. Foi. No. Lago."

"Greg?" A mãe olhou surpresa para o filho. Ele provavelmente não a desobedecia. O garoto estava mais surpreso ainda, sem conseguir dizer nada.

"O que há com você?! Ele foi ao lago! Estava falando sozinho! Você pode ver nas gravações depois. Ele é tão burro que..."

"Diana!"

"O quê?!"

"Não xingue o seu irmão, o que há com você?" A mãe rebateu.

"Ele!" Ela apontou um dedo acusador para Greg. "Ele é o que há comigo. Ele é doido, mamãe. Eu não quero ficar perto desse garoto nunca mais!"

Então ela saiu correndo. Típico. Adolescentes fazem algo errado e a primeira reação que eles têm é fugir disso e da punição. Mas eu não posso negar que essa garota, a tal de Diana, seja diferente. É normal um irmão mais velho implicar com o mais novo, principalmente se o mais novo tem vários problemas e muda a rotina da família. Porém, o sentimento dela parece ser mais profundo.

O olhar sombrio que ela tinha demonstrava que ela odiava o irmão dela. Não odiava o que ele causava.

Na próxima mudança de cenário, a câmera deveria estar numa mesinha baixa na frente da cama de Greg. Sua mãe entra no quarto com o rosto úmido e vermelho, cansada e arrasada - tanto emocionalmente quanto fisicamente.

Ela senta na beirada da cama, cobre o filho e beija a sua testa. A iluminação do quarto é pouca, porém a câmera é boa o bastante para que eu veja bem quem é Greg e quem é a sua genitora. Ela começa a cantar:

"Do espelhinho...

Ao primeiro soldadinho...

Essas coisas frágeis que não se pode tocar...

Podem ir e vir, como você costuma contar...

Mas eu não vou perder...

Até te achar, do espelhinho...

Ao soldadinho...

Do soldadinho até o espelhinho."

Um Click soou na minha mente ao entender o que acontecia. Greg havia cantado isso para qualquer coisa que estivesse no lago. Seria uma música de família? E por que diabos o "amigo imaginário" dele pediria essa letra? É infantil, não faz muito sentido... Não para uma criança, pelo menos.

A mãe limpou o rosto e acariciou o rosto dele, os dedos pálidos e longos escorregando sem pressa pela a sua pele. Ela parecia querer gravar a sensação.

"Vai ficar tudo bem, ouviu? Durma tranquilo. Amanhã será melhor."

A câmera tem modo noturno. Numa imagem azulada, eu noto que todas as luzes estão apagadas e que Greg dorme tranquilamente. Seu peito sobe e desce num ótimo ritmo para uma criança doente, e ele se afunda em seus sonhos.

A porta abre-se vagarosamente. Diria que estava sendo empurrada pelo vento se não fosse o fato que o vento não empurra devagar. O absoluto silêncio reina e do outro lado da entrada do quarto, não há nada e nem ninguém. Enquanto o tempo continua passando e nada acontece, posso acreditar que qualquer outra pessoa ficaria tão alterada como estou agora. É como aqueles momentos de silêncio no escuro em filmes de terror, que são colocados propositalmente para te preparar para um grande susto.

Porém o susto não vem, pois esse vídeo é real. No lugar dele, eu vejo uma porta se abrir em outra parte do corredor ainda no campo de visão da câmera. De lá sai um vulto escuro que caminha silenciosamente e lentamente até a porta do quarto de Greg. Prendo a respiração. O vulto para, encarando diretamente Greg. Estou atordoado, mas luto contra os meus nervos para entender o que acontece: Não é nenhum ser sobrenatural, apenas Diana. Os cabelos cheios parecem negros e caem muito próximos do rosto, combinando tanto com o pijama que a transforma num vulto escuro.

Mas ela não parece amigável. Encara o irmão como se fosse um monstro salivando ao estudar a vítima, maluco para que a hora de se saciar chegue. Ela continua parada por um bom tempo e, para a minha infelicidade, sua linha de visão também para na câmera. É como se ela me encarasse, olhando no fundo da minha alma, tentando entender quem seria o idiota de ver um vídeo que todos evitam. Estou desconcertado, tentando arrumar a minha respiração.

Existe outro corte antes de descobrirmos se ela voltou para a cama ou não. Na próxima cena Greg entra correndo no quarto cheio de vida e animação. Tira as roupas que lhe incomodam, abre as gavetas da escrivaninha - onde a câmera repousa - e espalha cadernos, folhas e lápis por todos os cantos. Ele está se preparando para fazer as anotações do dia, antes que se esqueça do que aconteceu.

Ele para de repente ao olhar seu próprio reflexo no grande espelho que há na porta do seu guarda-roupa. Greg aproxima-se desse espelho e se encara, até um gato preto aparecer ao seu pé de repente. No reflexo. O gato não tem rosto: Olhos, focinho, nada... Ele tem o formato de um rosto e está vivo, porém não possui feições.

Greg não se surpreende ou se assusta como eu. Ele se abaixa e seu reflexo faz carinho no gato. Greg deita no chão, seu reflexo faz o mesmo, até que o reflexo desparece e só o gato negro está ali. Eu já não consigo respirar. Sei bem que esse vídeo não foi editado, o que acontece aqui é... Real. Greg rola no chão e o gato faz o mesmo, parecendo divertido com a brincadeira enquanto balança o rabo.

O garoto continua brincando com o gato de várias formas até que algo começa a socar o armário por dentro. Os socos são fortes e repetem-se várias vezes, como se algo de dentro quisesse sair. O espelho racha em algumas partes, sem desmontar, e Greg afasta-se. Uma mão cinzenta aparece na parte rachada do vidro, esticando-se para atravessar o vidro.

Greg grita e temos outro corte.

Greg e a mãe estão no sofá, ela está com um semblante sério e preocupado, olhando-o tanto que deixa o garoto desconfortável. Greg está diferente. Seus olhos parecem tristes, sem vida, como os olhos de um adulto que encarou muitos problemas. A pele dele está mais clara e os cabelos negros que cresciam aos poucos em sua cabeça desapareceram.

Ele esfrega o braço repetida vezes.

"Gregório, por que não conta para mim o que está de errado?"

O menino não responde.

"Você precisa falar com alguém. Por que não quer fazer as anotações? Ou falar com a Doutora Maria? Greg sabe bem que... Pode se esquecer de tudo. Por isso a terapia é importante."

Ele balança a cabeça negativamente. A mãe bufa e leva os dedos às têmporas, massageando-as. Engulo a seco. As imagens da irmã olhando-o de noite como um monstro, a porta do armário batendo como jaula de cadeia com prisioneiros revoltados voltam para mim como um flash.

Não posso tentar juntar as peças, não quando vejo as ilusões que só Greg poderia ver. Ainda assim não consigo vê-lo como um demônio. Ele é uma criança e não um louco. Mas com os poucos minutos assistidos aqui, já repensei em toda a minha vida. Então não sei de mais nada.

"Não é nada, mamãe." Murmurou num fio de voz. Parecia ser o melhor que conseguia formar.

"Greg! Por favor, fale comigo! Se não falar..."

"Mamãe, eu quero dormir." Ele começou a chorar. "Por favor, cante para eu dormir."

Posso assegurar que fiquei tão atônito quanto à mãe dele que perdeu as forças para interrogá-lo após a clemência. Então, sem escolha, ela cantou e o protegeu até que ele dormisse.

Na próxima filmagem eles estão na cozinha e não na sala de jantar. E as coisas estão trágicas, porém a família parece bem. A mãe conversa com a filha da forma mais empolgada que consegue enquanto a garota parece normal, bem diferente do monstro da última noite. Greg está na mesa, mais silencioso e encolhido que nas outras filmagens, desenhando uma massa cinzenta no papel.

Pausei e dei zoom. Agora seu traço estava entendível: Era uma... Sereia? Mais parecia um tritão. A parte de cima era a de um homem genérico, sem rosto, cabelo ou músculos no peito. Sua calda era longa, como a de um golfinho, pintada de cinza assim como todo o resto dele. Havia espinhos por toda a extensão, como o que eu havia visto no lago...

Esta cena não se estendeu muito. Simplesmente era a família na cozinha rindo e conversando sobre bobeiras, tentando ser a mais normal possível. Mas o desenho perturbou-me infinitamente. Na próxima cena, a imagem voltava a ficar azulada e Greg dormia em sua cama.

O vídeo dizia que essa cena acontecia após um mês da cena da cozinha.

A porta já estava aberta. Diana entrava no quarto sem parecer um vulto negro. Eu podia identificar perfeitamente a expressão sombria que ela tinha no rosto enquanto se aproximava, deixando-me inquieto. O que iria fazer?

Quando estava na frente da cama, tirou uma mão das costas e nela havia uma faca. Grossa e longa. Ela pretendia matá-lo. Senti o impulso de cobrir os olhos ou gritar ou bater em algo, mas não me mexi. De repente notei que não havia me mexido naturalmente desde que o vídeo havia começado, como se eu estivesse paralisado.

O desespero subiu pela a minha garganta, mas tudo que eu podia fazer era assistir a garota levantar a faca na direção do irmão, olhos escuros de mais para serem lidos. Olhos de ódio. Ela parecia irradiar ódio, pois tanto sentimento não caberia em um corpo tão pequeno.

Então a garota foi jogada para trás. Um grito soou no vídeo, fazendo meu coração falhar por um momento. Eu estava uma pilha de nervos, com várias sensações colidindo enquanto o cenário escuro continuava a desenrolar-se.

Aquela porta do armário começou a bater novamente, com mais e mais força, fazendo a mesma quebrar. Antes disso notei por um vislumbre que o espelho rachado não estava mais ali. A câmera tremeu e caiu no chão, num ângulo onde eu não podia ver mais nada além do carpete e o que passava sobre ele: Uma massa cinzenta e pesada, cheia de espinhos e escamas rudes, com ferimentos e machucados. Reconheci todas aquelas "barbatanas" de tubarão na pele ressecada e maltratada de golfinho.

Ouvi mais gritos, uns inumanos e outros de mulheres humanas. A massa continuava tampar a minha visão, enquanto todos os meus pelos encontravam-se em pé e meu coração corria mais que uma maratona. Queria fugir, porém não conseguia. Ouvi barulhos de carne. Característicos de mais para serem ignorados, ainda por cima por um jornalista experiente de guerra e casos de assassinatos como sempre fui.

Então a massa cinzenta moveu-se no caminho contrário, com muita dificuldade, pois era evidente que era pesada. Vi o deslumbre de um tronco de algo semelhante ao de um humano, também cinza. Lembrou-me do desenho na hora. A calda desapareceu e, finalmente, consegui desviar a visão. Não quis ver o trágico vermelho que se espalhou por todos os cantos na tela. A irmã, que quis matar, foi morta e a mãe, que nunca duvidou do filho, também.

Alguém pegou a câmera, então não demorou muito para que eu visse o rosto de Greg. Sombrio e assustador. Ainda era ele, porém o garoto não estava afetado pela carnificina que se espalhara no seu quarto. Ele segurava a câmera como se um fosse um brinquedo que não conhecia, aproximando cada vez mais o rosto para entendê-lo melhor.

Então a pele dele escureceu, os olhos arrebentaram até se tornar vãos negros, as orelhas cresceram de forma dolorosa e o nariz foi para trás, perdendo o destaque num rosto redondo e cinzento, com presas iguais a de um tubarão mostrando-se quando ele abria a boca.

Ele avançou e o vídeo ficou escuro.

Não demorei nem um segundo para saber que não estava sozinho. Muito menos que estava morto, como a garota, a mãe e o meu amigo. Todos escolhidos pelo vídeo e o monstro nele.

As sereias não são criaturas lindas como as pessoas costumavam achar. Elas te iludem e te levam para o fundo do mar, como diz a lenda.

No caso, essa só queria sair da água. E o menininho que ela achou era perfeito para isso. Porém, a sereia sentiu-se insatisfeita e destruiu a família dele, para depois tomar o seu lugar. Assim ela continua seguindo, atraindo pessoas e roubando seus postos, para nunca mais voltar para água.


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Notas finais do capítulo

Okaaay, okay HUASHASUHAUViagem, por que minhas histórias de terror são sempre assim. Explicações básicas: Usei as lendas das sereias, criaturas que se vocês pesquisarem não são tão bonitas assim se fossem reais no nosso mundo, onde vocês sabem que elas cantavam e criavam ilusões para arrastar homens para o fundo do mar. Usei a lenda do gato preto, que diziam ser bruxas disfarçadas, e a lenda do espelho quebrado, que dizem que você ganha sete anos de azar. E a velha lenda do vídeo amaldiçoado, que dizem que se você assistir vai trazer o monstro pra sua vida - O Chamado, cof cof. Ah, e pra quem não entendeu a fala da Diana ali no começo, que é a fala que está na sinopse, ela praticamente mandou ele virar um louco de vez e ir pro hospício xD.