Setevidas escrita por tony


Capítulo 14
Os enamorados




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Faz quatro meses desde que capturei a carta da força.

Estou no carro junto a Denner que por sinal, não está nada contente por estar me levando para a escola. Clarinha agora estuda na mesma escola que eu, só que em prédios diferentes. Clara está no primeiro ano do fundamental e eu estou no oitavo. Nos últimos meses, ela ficou enfurnada no meu quarto brincando com o Lupin enquanto eu estudava sobre magia com o Lucas. A tia Ruth conseguiu uma casa a duas ruas da minha e por isso Clarinha sempre vai pra minha casa na parte da tarde.

Lucas está impaciente desde último ataque. Ele diz que as cartas estão muito calmas.

Eu aprendi bastantes coisas nestas férias também. Lucas me fez decorar o livro de magia do mago Shat. Ele diz que o livro irá me ajudar nas batalhas, mas o livro fala mais sobre as tribos do que dos amuletos.

O livro conta o surgimento das tribos e a possível separação delas. Shat havia previsto tudo direitinho como está acontecendo agora. O livro também fala sobre o anteposto, a origem do Caos no planeta e sobre um estranho sacrifício, cujo Lucas não quis me explicar o que aquilo significava. Cada tribo pertence a uma nação. Existe a nação da água, do fogo, terra e ar. A carta do mago é que simboliza essas nações. Lucas disse que eu tive sorte por conseguir selar esta carta primeiro, ele diz que essa é a carta base para selar as restantes e por isso eu estou um passo à frente.

Ponto pra mim.

— Chegamos. — Denner diz nos expulsando do carro.

— Obrigado. — Digo.

Clarinha beija a bochecha dele e sai do carro atrás de mim.

A escola permanece a mesma coisa de sempre; Chata e Cheia. As aulas começaram semana passada, mas implorei para minha mãe me deixar ficar mais uma semana em casa. Agora não há como escapar. Vou para o prédio ao lado do meu com a Clarinha segurando minha mão. Prometi coloca-la dentro de sala antes de ir pra minha. Passo pelo corredor e vejo um menino com cabelos encaracolados olhando para a Clarinha. Será que eles se conhecem? — Me pergunto, mas continuo a andar. O menino nos segue e cutuca o meu braço com o dedo.

— Hey. — Ele diz.

— O que foi? — Falo. O garoto parece ter a mesma idade que Clara, mas seu rosto tem um formato angelical. Os cabelos e os olhos parecem de um anjo. Não consigo parar de reparar nisto.

— Gostaria de comprar uma maçã? — Ele diz me mostrando um cesto.

Coloco as mãos no bolso e percebo que estou sem dinheiro. Denner havia apostado comigo noite retrasada e por isso perdi toda minha mesada. Ele não teve dó, e gastou tudo com a namorada.

— Desculpe, mas não tenho dinheiro. — Digo fazendo o menino abaixar a cabeça.

— Tudo bem. — Ele diz.

Clara coloca a mão no bolso do uniforme e retira uma moeda de lá.

— Você quer uma maçã, Clarinha? — Pergunto. Ela assentiu com a cabeça. — Aqui menino, pode me vender uma de suas maçãs?

Ele sorri. — Claro.

Ele retira a maça mais avermelhada que há no cesto e entrega para Clarinha. Entrego a moeda para o menino que sorri.

— Você estuda aqui? — Pergunto.

— Sim. — Ele diz. — Toma. — Ele diz retirando uma maçã dourada do bolso e me entregando.

— Pra mim? — Pergunto.

— Sim. — Ele diz. — Sempre dou de presente pra uma pessoa especial. Diz à lenda que quando uma pessoa recebe uma maçã dourada, ela tem que entregar à pessoa que está com o seu coração. O verdadeiro amor.

— Você quer que eu entregue a maçã dourada pro meu verdadeiro amor? — Pergunto corando. — E se eu não tiver?

— Você vai encontrar logo, logo. — Ele diz dando tchau correndo com a cesta pelo corredor.

Fico estático por um instante até Clarinha puxar minha blusa, me fazendo sentir um arrepio estranho nas costas.

— Ah? — Digo retornando a realidade.

Ela aponta pro final do corredor.

Coloco-a na sala e volto para o meu prédio. Entro na sala alguns minutos atrasado, mas por sorte o professor ainda não tinha entrado. Sento em uma carteira perto da janela.

— Nathan? — Ouço a voz de alguém, um tanto familiar, me chamar. Me viro e dou de cara com Thomas.

— Thom? — Digo. — O que está fazendo aqui?

Thomas era meu antigo amigo, numa época bem distante quando eu me socializava com as pessoas. Ele mudou de escola, pois conseguiu uma bolsa em um dos melhores colégios da região. Depois que ele partiu me limitei às amizades e quase nunca falava com alguém da escola. E agora, ele está aqui, parado na minha frente. Seus cabelos loiros estão bem bagunçados e seus olhos verdes olham atentamente para os meus. Ele cresceu. Cresceu e muito. Antes, ele era magricela, Agora tem um corpo um tanto... Definido.

— Mudei de escola novamente. — Ele diz sorrindo. — Não aguentei a pressão dos riquinhos. — Ele diz revirando os olhos e se sentando ao meu lado.

— Bem-vindo de volta então. — Digo retirando minha mochila da mesa ao lado deixando espaço pra ele se assentar.

— Valeu.

— Você cresceu. — Digo por fim.

— Você também. — Ele diz — Gostei disso.

— Eu também. — Respondo.

E por mais que eu quisesse que nossa conversa tivesse continuado. Por mais que por todas as forças do universo eu queria parar de olha-lo durante as aulas. Por mais que eu quisesse que essa sensação estranha saísse de mim... Eu ao mesmo tempo quero senti-la. É bom e eu gosto disso. Não consegui prestar atenção em nada do que o professor de matemática explicava. Encontrar o x da questão não é nada complicado, comparado a encontrar o amor do coração.

Eu estou gostando do Thomas??!! — Penso desesperado.

O sinal toca.

— Sua próxima aula é de que? — Pergunto no final do segundo tempo de matemática.

— Educação Física. — Ele diz.

— Biologia. — Respondo.

— Nos vemos então.

— É claro que sim. — Respondo. Thomas sorri, eu também.

Na aula de biologia, me pego pensando em Thomas. Ele está super diferente e eu sinto que... Aiiin.— penso. O que será que está acontecendo comigo?

— A fotossíntese... — A professora grita chamando a atenção dos dorminhocos de plantão da sala. Eu apenas ignoro e me viro para a janela.

Olho para os galhos de uma árvore ao lado do pátio. Um gatinho passa por lá.

O gato transforma-se no Lucas e logo meu sorriso se desmancha.

— O que ele está fazendo aqui?! — Grito chamando a atenção de todos da escola.

Começo a corar e peço a professora para ir ao banheiro. Ela me libera e diz pra voltar logo, pois a aula já irá acabar. Concordo e desço as escadas correndo. Dou de cara com Lucas apenas de cueca e o rabo pairando no ar de um lado para o outro.

— O que você pensa que está fazendo.

— Uma carta acabou de ser revelada. — Ele diz.

— Eu não posso me transformar agora. — Digo.

— Essa carta é diferente. Ela está em forma humana e está por aqui na sua escola.

— Como você sabe disso? — Pergunto.

— A aura daqui está muito carregada. — Ele responde quase automaticamente, dá pra sentir isso há quilômetros daqui. — Olha. — Ele diz colocando as mãos nos meus olhos.

Fecho-os e quando abro novamente vejo a escola com cores diferentes flutuando no ar. Fecho novamente os olhos balançando a cabeça e volto a ver tudo normalmente de novo.

— Como...

— Não há tempo pra explicações. — Ele diz. — Precisamos achar o responsável disso tudo.

— Deixa que eu acho. — Digo impedindo o menino. — Você nesta forma irá chamar muita atenção, e na forma de gato não irá poder ficar aqui, pois a escola não permite animais.

— Você não vai conseguir sozinho.

— O que? — Digo — Eu selei a carta “O mago” sozinho caso você tenha esquecido.

— Foi questão de sorte Nash, se a carta tem tanto poder assim para descontrolar as auras ao redor...

— Está duvidando de mim? — Pergunto desviando o olhar.

— Não. É só que...

Lucas percebe que não estou mais prestando atenção nele. Ele me fita por um instante e diz: — Quem te fez ficar dessa forma?

— O que? — Pergunto.

— Assim distraído?

— Ah sim, meu amigo Thomas voltou de longe.

— Ótimo, seu amigo Thomas é um amuleto... Ou está incorporado por um.

— O que?! — Grito — Ta ficando louco?

— As auras estão em tons claros e coloridos... Isso significa amor, e se você está apaixonado por ele, isso significa que...

— Eu não estou gostando de Thomas.

— Então por que não aceita a hipótese dele ser uma carta?

— Ele não é uma carta. — Retruco.

— É sim, eu sinto isso. — Lucas diz olhando nos meus olhos. Desvio o olhar. — Você só não consegue ver isso porque...

— Por que o quê?

— Porque você tá gostando dele. — O menino diz.

Assusto-me com o seu argumento. Eu não estou gostando de Thomas. Pelo menos, não sei se é isso. Talvez esteja.

— Eu? — Digo na defensiva. A conversa já chegou ao ponto em que nenhum de nós sairá vencedor. — Gostando do Thomas?

— É, Você! — Ele diz secamente.

Quem ele pensa que é pra falar desta forma comigo? — E se eu estiver gostando mesmo dele?

— Seria... — Ele diz, mas parece refletir em suas palavras antes de verbalizar —...Legal.

— É... Legal.

— Não é legal, ele é uma carta.

— Ele não é. Se fosse, eu teria sentido isso, afinal eu sou o anteposto.

— E eu sou o seu guia. — Grita.

— Você deveria cuidar da minha vida mágica, e não amorosa. — Digo fazendo o menino resmungar apenas um “Você tem razão” e saltar para uma árvore e assim desaparecendo de vista.

— Hei, Nash! — Thomas diz se aproximando.

Há uma falha nos meus batimentos cardíacos. — Será que ele me viu conversando com Lucas?

— Éeer... Oi.

— O que está fazendo aqui na quadra? — Ele diz. Thomas está com a mochila nas costas. Provavelmente sua turma foi liberada mais cedo. Ele está com o cabelo bagunçado devido à sua última aula de educação física, seus olhos mantem-se fitados ao meu rosto enquanto conversamos. Suas bochechas (vermelhas por natureza) escondem pequenas sardas. Seus olhos verdes hipnotizam meu corpo.

Apenas respondo — É que... Eu precisava respirar um pouco.

— Dia difícil?

— Você não sabe o quanto. — Suspiro.

— Sei sim. — Ele diz serenamente. — Mas sabe como eu enfrento isso?

— Como? — Respondo voltando minha atenção pra ele.

— Dançando.

Sorri. — Dançando?

— É... Cara, você nunca ouviu a frase “Quem dança os males espanta?”.

Gargalhei. Ele sorriu por isso.

— Thomas. É quem canta os males espanta.

— Quem dança também ó... — Ele diz pegando o celular. O menino conecta o fone no celular e depois coloca um lado em minha orelha direita e coloca o outro em sua orelha. Ele aproxima nossos corpos em um abraço de uma mão só enquanto a outra ergue minhas mãos segurando-a no ar.

A música é lenta.

Eu não sei dançar. É o que eu quero dizer. O problema é que:

1 - Eu já estou dançando ao som da musica

2 - sendo guiado pelos passos de Thomas que

3 - aproximam mais nossos corpos me deixando

4 - ao seu lado, o que me faz esquecer:

(a) dos problemas e (b) dos meus deveres como anteposto, (c) das cartas, (d) das tribos, (e)de Shat, (f) dos seres mágicos e (g) do Lucas

5 - O problema só aumenta quando a boca de Thomas encosta na minha. Continuamos dançando no meio do pátio agarrados ao som da harmonia. Sinto que não consigo parar. Sinto como se meu mundo estivesse desmoronando e sendo montado tudo de novo, desta vez diferente. Ele aprofunda o beijo retirando suas mãos e posicionando-as em minha cintura.

Paramos de dançar, a música continuava e o beijo também. Não há pausas.

Quando sinto que estou perdendo o fôlego ele se afasta lentamente. Abro meus olhos e o vejo sorrindo:

— Eu não disse? — Ele diz naturalmente. — “Quem dança os males espanta”.

Sorri abraçando-o.

Ele retribui o abraço.

Ouço barulho de galhos se quebrando e assustado, olho rapidamente para a árvore mais próxima.

— Deve ter sido um pássaro. — Thomas diz.

“Deve ter sido Lucas nos espionando” — pensei por fim.

Thomas me trouxe até aqui em casa. Ele disse algo como: “Nos vemos amanhã” que mais se parecia com um “Estarei aguardando sua ligação”.

Lupin e Clara estão no chão brincando de piratas. O pequeno contou ontem à noite histórias aterrorizantes sobre bárbaros e piratas e sobre como sua geração tinha sobrevivido aos ataques dos indivíduos. Clara dormiu com a história. Lucas desmentiu a maioria das coisas que o garoto falara, mas ele ficou com aquilo na cabeça e agora brinca disso usando a pobre Clarinha como sua refém.

Penso em Thomas. Será que estou...Iludido! Lupin grita interrompendo meus pensamentos. Meus pais não estão em casa, por isso ele berra como nunca. “Está muito enganado se pensa que seus marujos irão invadir o meu navio”. Desvio minha atenção do garoto e volto a pensar, pois se talvez estivermos...“Nunca” O menino berra. Lupin e Clara usam um pequeno pedaço do cabo de vassoura (Quebrado no meio, metade pra cada um) para fingir serem espadas. Fingem lutar com piratas, talvez invisíveis, talvez visíveis em suas mentes. Decido ignorar a brincadeira. Será que Thomas irá me pedir em...“Lute contra” ... Será que ele gosta de mi...“Nunca deixaremos isso acontecer. Estou certo, Clara?” A garota concorda com a cabeça. ... Eu gosto muito del...“Nunca afirme com tanta certeza.”... Estou ansioso pra vê-lo amanhã. Acho que vou liga...“Nosso marujo precisa de espaço, Clara”

— JÁ CHEGA! — berro.

Ambos me olham assustado.

— Dá pra vocês brincarem na sala? — Digo.

Clara ameaça chorar, mas Lupin a retira do quarto antes, batendo a porta com força ao sair.

— Esse garoto precisa parar de comer espinafre. — Digo depois do barulho que a porta fez.

Deito na cama e pego da estante a maça dourada que o menininho-que-parece-um-anjo me deu.

— Dê para a pessoa que está com o seu coração. — Sussurro repetindo as palavras do garoto. — O verdadeiro amor.

Thomas. É ele que está com o meu coração. Eu estou apaixonado por ele, e tenho certeza... Que ele está apaixonado por mim.

Numa fração de segundo, minha gaveta se abre. Uma carta de Shat flutua e para diante de mim. É a carta “O mago”. Uma luz emerge e a carta transforma-se em um homem, desta vez sem capa alguma, seus cabelos são roxos e sua pele branca brilha. Seus olhos são de cores diferentes e em suas mãos, ele segura um cálice com quatro pedrinhas de cor diferente.

— “Espectro de luz que...”

— Espere, Nathan. — O menino diz em voz serena. — Eu estou aqui de forma pacífica.

— Ah..?

— Nós, amuletos de proteção, fomos criados para servir o seu criador. Há muitos anos, servimos nosso criador Shat, mas as coisas mudaram com o passar do tempo. — Ele diz — Fomos divididos pelos cantos do mundo e agora em liberdade, muitos amuletos sentem-se atordoados em estar livre. Tínhamos um propósito quando éramos liderados por Shat, agora, não temos motivo para existir. Por isso as cartas se revoltaram Nash.

— Está me pedindo para ser seu novo criador?

— Quando você sela um amuleto, a carta não passa a pertencer mais a Shat e sim a Nathanael. Você é o meu criador...

Outra luz emerge de dentro da gaveta.

— E o meu também. — Uma mulher de cabelos longos com um leão ao lado diz sorridente.

Sorri e fui abraça-la. O leão parece feliz.

— Força. — Digo sorridente.

— Sim.

— Eu gosto muito de vocês. Não sei como posso dizer isso, mas sinto como se estivesse mais seguros dentro da carta do que quando estavam fora.

— O mundo é cheio de maldade e impureza Nash. Fomos criados pelas cores das auras que existiam em Shat. Por isso, as maiorias das cartas são pacificas. — A mulher diz.

— Estão apenas atordoados. — O homem completa.

— Vieram-me dizer como posso ajuda-los... Estão fazendo isso tudo... Por mim?

Ambos sorriem. — Somos sua aura agora, Nathanael. — A mulher diz acariciando o leão.

— É nosso dever ajuda-lo.

— Obrigado. — Digo sorrindo. — Muito obrigado mesmo.

— Há desafios pela frente, que você deverá enfrentar sozinho. — A moça verbaliza. — Seu guia o acompanhará até o final de sua missão.

— Lucas... — sussurro.

— Você saberá o que escolher quando estiver com brilho nas mãos. — A mulher diz segurando o leão e dando a mão ao mago.

— Terá apenas que seguir o seu coração. — O mago diz.

— E abrir seus olhos.

Abrir... os meus olhos?

— Adeus! — Ambos dizem em uníssono.

— Espera, mas como eu... — Grito, mas percebo que eles já haviam se tornado carta de novo.

Meu celular toca. O visor mostra: Thomas.

Atendo rapidamente.

— Alo? — Digo

— Hei, pequeno dançarino. — Ele diz me fazendo corar.

— Oi, grande espantador de males. — Digo a primeira coisa que me vem à cabeça.

— Meu instinto quer perguntar pra você se quer sair hoje à noite?

— Isso é um convite?

— Não, é o que meu instinto diz.

— E o que você quer dizer?

— Te pego ás 6?

— Sete!

— Seis e dez.

— Seis e quarenta e cinco?

— Seis e vinte?

— Seis e trinta e nove?

— Seis e meia.

— Okay. — Digo.

(Ele sorri pelo outro lado da linha)

— Quero te perguntar uma coisa.

(Será que ele quer me pedir em namoro?)

— O que?

— Te digo hoje à noite.

— Não dá nem uma pista?

— Hum... (Pausa. Ele deve estar pensando no que dizer, sem dizer totalmente.) ... Não.

— Nem uma pistazinha?

— Deixe de ser ansioso pequeno.

— Ok. — Digo sorrindo.

— Eu tenho uma coisa pra te entregar. — Digo olhando para a maçã dourada.

— Esqueci meu caderno com você?

— Não bobo, é um presente.

— Pista?

— Não. — retruco.

— Hei.

— Estamos quites. — Digo.

— Te vejo as seis.

— Seis e meia. — Corrijo.

— Ah é.

— Tchau. — Digo.

— Tchau. — Ele diz.

(Pausa)

— Desliga. — Ele diz.

— Desliga você. — Falo.

— Não, desliga você. — Ele retruca.

— Não vou desligar depois de você!

— Eu também não vou, desliga vai.

— Desliga você.

— Pode desligar.

— Deixa que eu desligo. — Lucas diz pegando o celular da minha mão o jogando pela janela.

— O que você fez?! — Grito. Como e quando ele entrou aqui?

— O que ele pediu. Desliguei.

— Ele estava falando comigo.

— Não sabia que existia uma carta de Shat que dava habilidades para conversar com animais.

Por falar em cartas, lembro-me rapidamente da conversa com o mago e a força, eles ...PERA!!?!? ELE CHAMOU THOMAS DE ANIMAL?

— Você disse o que?

— Além de puxa-saco de Thomas é surdo?

Olho serenamente para o garoto híbrido. — Sai do meu quarto. Agora. — Digo calmo.

— Ok. — Ele diz me obedecendo sem hesitar.

“Quem ele pensa que é?”

Não demorou muito pra dar seis e meia. Thomas apertou a campainha no exato momento, ele é pontual. Abro a porta e o vejo segurando flores. “Ele não é fofo?”. Ele me entrega o buquê e logo dou um selinho rápido amassando as flores em nossos peitos.

— Quem é? — Denner diz descendo as escadas.

Escondo as flores atrás de mim.

— É o Thomas. — Digo meio assustado. — Thomas esse é meu irmão mais velho Denner. Denner esse é o Thomas.

Thomas sorri e acena. — Oi.

— Eae. — Denner olha pra mim e sorri. — Bonitas as flores. Até que soube escolher bem.

Coro. Não acredito que meu irmão disse isso.

— Valeu. — Thomas diz.

— Voltem às dez. — Denner diz.

Thomas sorri.

— Ei! — Repreendo o mais velho.

— E não façam nada que eu não faria.

— Aff. — Digo colocando as flores em um vaso ao lado da TV. — Vamos Thomas. — Digo.

Andamos pelas ruas de mãos dadas. Thomas não tinha vergonha de mim, e eu estou feliz disso e por estar ao seu lado. Parece que esse sentimento só cresce enquanto estou ao seu lado. Chego ao parque e nos sentamos em um banquinho de frente para o balanço.

— Preciso falar com você. — Thomas diz virando-se pra mim.

— O que foi?

— Eu acho que estou gostando de você.

Suspiro. — Eu também.

— Era isso que eu queria te falar. — Ele diz se aproximando. — Eu gosto de você e queria saber se você aceita ser meu...

— Aceito. — Digo interrompendo o garoto.

Ele se aproxima e termina com o espaço que havia entre nós. Beijamos no parque vazio e continuamos assim por um bom tempo até sentir que o corpo do garoto está em cima de mim. Estou por baixo e começo a sentir suas mãos dançando sobre minha cintura e entrando pra dentro de minha camisa. Sinto uma enorme sensação de prazer e calor ao mesmo tempo.

Hesito, mas afasto o garoto. Apesar da praça estar vazia, precisamos tomar cuidado, pois alguém pode chegar a qualquer momento.

Ele sorri.

— O que você queria me entregar? — Ele diz.

— Aé. — Digo me lembrando. Retiro a mação dourada do bolso. — Reza a lenda, que a pessoa que encontrar o amor verdadeiro, tem que entrar a maçã dourada para o amado.

Thomas abre um largo sorriso. — Está me dando a maçã? — Ele pergunta.

— Sim. — Estico a maçã para entrega-lo.

Quando Thomas se aproxima, sinto a maça voar para longe. Me viro para ver o que havia acontecido e vejo a maçã pregada com uma flecha na árvore atrás do banco. A maça explode um pó dourado. Assusto-me. O mesmo pó sai da boca de Thomas. Ele parece vomitar todo o pó pra fora. O menino desmaia ao meu lado.

— Na mosca! — Ouço alguém gritar comemorando. Olho e vejo Lucas segurando um arco, provavelmente feito de magia, e ao seu lado está Lupin e Clara.

— O que você fez?! — Grito desesperado.

— Ele está livre da magia agora Nash. — Lupin diz por fim.

Um garoto de cabelos encaracolados sai de trás da árvore.

— Você! — Digo me lembrando do menino. — O vendedor de maçãs.

Ele apenas concorda com a cabeça e fica estático no lugar. Seu rosto parece demonstrar tristeza.

Coloco o corpo de Thomas deitado no banco e me levanto.

“Espectro de luz que oscila entre o vermelho e violeta, atue na mais pura faixa de sete cores da minha aura e envolva o peregrino Nathanael de acordo com suas emoções. Halo!” — Digo me transformando em anteposto. Algo está diferente em mim agora. A auréola está com um brilho maior e minhas asas parecem ter ganhado forma e penas como asas de anjo de verdade. Não consigo parar de reparar também no meu brilho.

Lucas se aproxima. — Está pronto? — Ele diz secamente.

— Sim. — Respondo retirando minha auréola e mirando no pequeno garoto. — À sete chaves eu selo a sua aura.

Em vez do menino entrar na auréola, vários pó dourados entraram criando assim uma enorme bolha fazendo explodir me lançado pra longe.

Lupin se aproxima. — Você está bem? — Ele pergunta.

Me levanto com dificuldade, mas respondo. — Está sim. O que aconteceu? — Pergunto para Lucas que fita o menino com cara de anjo.

— Você só poderá selar a carta se cumprir com o desejo que há em seu coração.

— O que?! — Pergunto.

— Você terá que entregar a maça dourada para o seu verdadeiro amor. — Lucas diz se afastando. — Só assim poderá sela-la.

Olho estático para o corpo de Thomas no banco e depois fito o menino.

Aproximo-me. — É isso que você quer que eu faça? — Pergunto. O menino balança a cabeça em positivo criando outra maça dourada com o pó que sai de seu cabelo.

— Que tipo de carta você é? — Pergunto.

— Eu sou regente pela escolha do amado mais belo. E do amor sincero. — Ele responde. — Sou o responsável pelo amor.

Pego a maçã e ando em direção a Thomas. Quando estico minhas mãos, sinto uma rajada de flashes virem sobre a minha mente.

Era uma noite chuvosa. Não me recordo muito bem onde, nem quando. Só vejo duas pessoas se beijando em frente a um castelo em ruínas. Uma das pessoas... Sou eu. Estou beijando profundamente segurando o rosto de alguém que não consigo ver quem é. Ao nos afastarmos consigo ver seu rosto nitidamente com aquela carinha molhada de chuva. Eu estava beijando o Lucas.

— Eu prometi selar essas cartas. E eu vou cumprir, porque eu te amo e pelo futuro das tribos.— Disse confiante.

Ele me agarrou novamente e voltamos a nos beijar... Agarrados sentindo a chuva molhar nossos corpos.

— Nash?! — Lupin me chama retornado a realidade.

Olho para Thomas. Não sinto nada por ele. Será que eu sentia apenas uma atração por ele? Ou isso era efeito do pó dourado? Estranho. Olho para minha roupa e percebo que o pó dourado começa a sair do meu corpo também. O que será que está acontecendo. Será que era isso que me fazia gostar de Thomas? Se eu não gosto dele, de quem eu gosto?

— Entregue. — O menino de cabelos encaracolados diz. — O tempo está acabando.

Seguro a maça dourada e em um impulso jogo a maçã na direção contrária.

— Ei Lucas. — Chamo a atenção do garoto que se vira. — Agarra!

O garoto salta no ar e agarra a maçã que explode na sua mão o lançando pra longe.

Pego minha auréola e miro novamente no menino que sorri.

— À sete chaves, eu, Nathanael, selo a sua aura. — Grito, o menino rapidamente é sugado em aura dourada entrando na halo e sendo transformado em uma carta.

Os pós dourados que estavam sobre a grama do parque começam a desaparecer aos poucos. Pego a carta e viro-me para ver qual era.

Na fita diz: “Os enamorados”. Em cima, na imagem, um anjo está segurando uma maçã dourada e ele flutua com suas asas parecendo mirar em alguém com seu arco e flecha (esse alguém não aparece na carta). Seria ele o cupido?! Pergunto-me em pensamento, me viro e vejo Clarinha vindo ao meu encontro para me abraçar. Uma luz emerge sobre mim e eu volto a minha forma de humano, sem asas, brilho nem nada.

— Me desculpem. — Digo.

Clara e Lupin sorri me deixando a sós com Lucas.

— Por que você me deu a maçã? — Ele pergunta. Com essa, já selei três cartas.

— Eu me lembrei de uma coisa estranha. Parecia em outra...

— Vida?! — Ele pergunta fitando os meus olhos.

— Sim. — Respondo. — Nós éramos namorados não é? — Pergunto.

Lucas concorda.

— E o que vamos ser daqui pra frente? — Ele me pergunta.

— Podemos começar do zero. — Respondo.

— É. — Ele diz. — Pode ser.

Abraço-o. É estranho saber que tive algum vínculo com ele e não consigo me lembrar. Ele corresponde o abraço, e ficamos assim, até a lua começar a iluminar todo o parque.

A carta começa a brilhar, mas Lucas não percebe isso, ele está concentrado no abraço... O que me faz sorrir.


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Notas finais do capítulo

Oiii Gente :3
Demorei mais cheguei com mais um capítulo novinho de SETEVIDAS. Estamos caminhando para a metade da fic ^-^ Estou contente com o projeto. Para os que gostam do casal Nathan e Lucas, ainda haverá muitas surpresas nos próximos capítulos.
Qual será a próxima carta que o garoto irá selar?
E quanto as outras vidas de Nash, será que ele irá revelar o que aconteceu no seu passado?
Espero que estejam acompanhando.
#Bjus e não deixem de comentar :3



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