...(Lucas POV)...

— O que aconteceu com ele? — Meu irmão pergunta referindo-se ao moreno atirado no chão desmaiado.

— Não temos tempo pra isso. — Digo pegando o garoto no colo. — Temos que leva-lo pra casa.

— Ok. — Lupin diz saltando nos carros do antigo ferro velho. — Vamos.

Ao chegar a casa. Pulamos pela janela e coloco o garoto lentamente na cama. Ele está suando frio e seu corpo está muito quente. Lupin olha espantado para o menino enquanto o mesmo revira-se de um lado pro outro na cama.

— O que está acontecendo com ele? — Lupin sussurra com medo de que a mãe de Nash ou Denner pudesse nos ouvir.

— Ele tentou utilizar os quatro elementos de uma só vez.

— Idaí? A lenda diz que Shat tinha domínio supremo sobre todas as cartas.

— Exatamente. Shat tinha o domíno, Nash não. Ele é apenas um iniciante em magia, um mero aprendiz.

— Mas isso deveria acontecer? O menino parece que está morrendo.

— Eu sei.

— E o que faremos?

— Eu não sei. — Respondo em tom arrogante. — Lupin, eu estou tão assustado quanto você. Então se não agirmos com maturidade pelo menos...

— O mantra. — Ele diz como se aquilo fosse óbvio. E era.

— Ah?

— O mantra que usamos para curar o povo da nossa tribo.

— Mas eles são felídeos, o Nash não é um mestiço como nós. Pode dar errado.

— Pior do que está não fica. — Lupin diz se assentando de frente para a cama do menino.

Faço o mesmo do outro lado da cama.

— Pronto?

— Vamos.

Concentro minhas energias e logo focalizo no corpo de Nathan atirado na cama. Aos poucos minhas mãos entram em contato com a ardência de seu corpo. Lupin faz o mesmo do outro lado.

— Om Namah Shivaya! — Dizemos em uníssono repetido e inúmeras vezes até sentir o corpo tremulo parar de se mexer.

O menino vai se acalmando e o suor que antes escorria, agora paira no corpo.

— Funcionou? — Lupin pergunta levantando-se do chão, meio zonzo.

— Acho que sim. — Digo tocando na cabeceira da cama.

Alguém bate na porta freneticamente.

— Metamorphose! — Eu e Lupin dizemos nos transformando em gatinhos.

Denner abre e entra no quarto. Ele toca no irmão e logo começa a sacudí-lo.

— ACORDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! — Ele grita cantarolando fazendo Nash acordar em um impulso.

O menor fita o rosto do irmão e logo grita: — EU ESTAVA DORMINDO SEU IDIOTA! SERÁ QUE EU NÃO POSSO TER UM PINGO DE PRIVACIDADE NESSA CASAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA?

— Eu bati na porta!

— Eu estava com dormindo, queria que eu respondesse mesmo assim?

— Não me interessa.

Nash agarra um travesseiro e brutalmente atira no seu irmão. — Qual é o seu problema, hein?

— Nada! — Ele diz pegando o travesseiro devolvendo para Nash. — Eu só vim pra avisar que a tia Ruth tá lá em baixo.

— A tia... — O menino diz estampando um sorriso no rosto. — Ruth.

— É. Troca de roupa e desce logo que a mãe já fez o café.

— Ok. — ele responde animado.

...(Nash POV)...

Assim que Denner sai do quarto, Lupin e Lucas se transformam em híbridos, meio humano e meio gato, sentando no chão me fitando.

— Ah... O que foi? — pergunto rasgando o silêncio.

— Não se lembra do que aconteceu no treinamento?

— Não muito... Só... Sei lá. — Respondo confuso.

— Nash... Você ficou descontrolado. — Lupin responde. — Usou os quatro elementos da carta para tentar nos atingir.

— Mas essas não eram as regras do treinamento? — Pergunto mais confuso do que já estou.

— Sim, no entanto você quase nos matou usando a magia.

— Eu... eu...

— Nash... Você não me disse muito bem como conseguiu selar a carta “o mago”. – Lucas pergunta fitando meus olhos.

— E o que isso tem haver agora? Eu cumpri minha primeira missão não foi? — Digo irritado.

— Apenas responda. Como você selou o mago dentro da carta?

— Eu joguei o cálice dentro de um buraco e quando ele foi pular dentro para tentar pegar, o cálice acabou quebrando e eu aproveitei a deixa e selei o amuleto.

— VOCÊ FEZ O QUE? – Ele berra.

— Eu selei o amuleto.

— VOCÊ QUEBROU O CÁLICE? — Lucas gritava enquanto seu irmão coloca as mãos protegendo seus ouvidos dos berros.

— Eu não sabia que iria quebrar, mas o que isso tem haver, ele já não está preso?

— Está, mas quando você usa a magia do amuleto acaba libertando-o para que o mesmo possa ceder suas habilidades.

— O que isso quer dizer?

— Que no treinamento quando você ficou com raiva por Lupin roubar a bola, você acabou cedendo seu corpo ao mago que o usou para tentar nos matar.

— Ele me possuiu?

— Literalmente.

— AAAAAAAAAIIIIN. — Grunhi em desespero. — Isso quer dizer que sempre que eu usar a carta...

— Não. Quando você quebrou o cálice, deixou o mago em estado de raiva e desespero. Geralmente as cartas são seladas pelas sete cores da sua aura e a aura de magia da carta. Quando você selou a carta no estado de raiva, automaticamente você fez um acordo para que sempre que se usasse a carta “O mago” em estado de raiva, ele te possuirá e usará os poderes para assim lhe satisfazer.

— Mas... Mas... Se me satisfizer... Isso vai ser bom né?

— Não quando não se tem o domínio do próprio corpo, ou quando está em treinamento. Graças a isso teremos que treinar seus sentimentos antes que isso volte a acontecer.

— Ta, mas... — Fico estático e sinto um arrepio percorrer o meu corpo. Um vento gélido bate contra a minha pele me fazendo tremer rapidamente.

— O que foi Nathan? — Lucas pergunta.

— Eu não sei. — Digo — Não é a primeira vez que sinto essa sensação.

— Sensação de que?

— Acho que é um pressentimento.

— Ah?

— O mesmo que senti quando estava no quarto e o mago atacou com o vento.

— Você acha que...

— Eu não sei. Mas se alguma outra carta se revelar, eu estarei preparado.

— É. — Lupin diz confiante. — É assim que se fala.

— NASH, SEU TERRÍVEL. PARA DE GRITAR SOZINHO E DESCE QUE SUA TIA RUTH QUER TE VER. — Minha mãe grita na sala.

Lupin e Lucas soltam um leve sorriso.

— To indo mãe. — Respondo saindo do quarto deixando os garotos sozinhos.

Desço as escadas apressadamente e ao chegar ao último degrau me deparo com Denner, Tia Ruth, mamãe e uma garotinha estranha de cabelos claros e tiara de flores na cabeça. A menina logo sorri a me ver.

— Tia Ruth. — Digo abraçando a mulher.

— Oh, Nathanael. — Ela diz. — Como você cresceu.

— Nem tanto. — Denner suspira.

Dou um grande pontapé no garoto que logo solta um grito abafado.

Minha tia gargalha. — Vocês dois como sempre.

— Bem, como sabem, estou grávida. — Ela diz colocando a mão na barriga. — É realmente um milagre não é?

— Sim. — Respondo. — E quem é essa? — pergunto apontando para a menininha assentada no sofá.

— NATHANAEL. — minha mãe me repreende pela falta de educação.

— Tubo bem, tudo bem. — Minha tia diz sorrindo. — Essa é a Clarinha. Eu a adotei no orfanato de meninas aqui da cidade.

— Ela é nossa nova prima? — Pergunto.

— Sim. E irmã mais velha do meu futuro bebê.

Sorri. Afinal, agora tenho uma prima.

— Clarinha, quer ir ao parquinho comigo? — pergunto pegando um planfeto do circo que estaria na cidade hoje à noite.

A menina balança a cabeça em sinal de positivo. — EBAAAA! — Digo fazendo a garota sorrir. — Agora o Denner terá que nos levar né, mãe? — pergunto.

Denner solta um longo suspiro ao ouvir minha mãe dizer que sim.

— Ponto pra nós, prima. — Digo fazendo a garotinha corar. — Você tem que idade? — Pergunto me assentando ao seu lado.

Ela mostra sete dedos de sua mão.

— A Clarinha não fala, Nash. — Tia Ruth diz.

— Ah... — Digo — Entendi agora. — Digo envergonhado.

Clara sorri.

— Vem, quero te apresentar meus gatinhos. — Digo puxando a garota escada a cima, deixando Denner, mamãe e Ruth sozinhos na sala.

— EU PENSAVA QUE VOCÊ TINHA SE LIVRADO DELES. — Minha mãe berra na sala.

— Me livrarei essa semana. — Minto sorrindo. Clara também sorri com os escândalos da minha mãe.

Abro a porta do meu quarto e peço para que Clara entre.

A menina entra envergonhada.

Fecho a porta e chamo os gatinhos assoviando de uma forma estranha. Lupin e Lucas se aproximam, agora que reparei que eles são completamente diferentes na forma de felinos. Um é branco e o outro preto.

— O preto e mais velho é o Lucas e o gatinho filhote menor é o Lupin. — Digo apontando para os gatinhos.

Clara fita os animais por um instante e logo corre para agarrá-los, mas ao se aproximar uma grande luz emerge pelo corpo peludo de ambos, fazendo-os se transformarem em humanos, ou melhor, um humano com rabo e orelhas de gato.

— Aí, que... Droga! — Solto por fim, ao ver os garotos espantados.

Clarinha sorri.