A canção da Lua Vermelha escrita por Samuel Lua Vermelha


Capítulo 9
Segredo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Neste capítulo você encontrará menos falatório e mais ação, além de uma reviravolta inesperada. Espero que goste e boa leitura!

Música sugerida: HIM - Wicked Game



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/535661/chapter/9

Vento no rosto. Descabelada, Fátima tinha a impressão de estar caindo numa armadilha. A Mercedes Negra viajava a sessenta quilômetros por hora. O estofado do banco traseiro era vermelho e confortável, no entanto o clima dentro daquele carro estava opressivo, sufocante.

Ao lado de Fátima, Harley permanecia quieta. A garota loura não dirigia, não precisava, o Sr. Mateo era pago para isso. E enquanto ele conduzia o suntuoso veículo, Harley relaxava. O silêncio imperou, tornando o trajeto monótono. Fátima já não aguentava mais se manter calada daquele jeito, então buscou um assunto.

– Onde exatamente estamos indo?

– Aguarde e verá – Harley retrucou – Não falta muito agora.

Fátima se tornou impaciente, começou a achar a situação ridícula. Sr. Mateo, o motorista, guiara a Mercedes Negra pela avenida principal até o centro de South Highvile, depois começou a dar voltas pelas ruas aparentemente sem definir um rumo exato. Já era a terceira vez que passavam em frente à mesma padaria. “Eles me tomam por idiota”, pensou a mãe de Victor. Pretendia contestar aquela atitude estranha do motorista, mas antes de dizer qualquer coisa, Mateo se manifestou.

– Despistamos eles, senhorita Harley – disse o motorista.

– Ótimo. – Foi a resposta – Agora siga imediatamente para o galpão.

A breve conversa entre a jovem loura e seu velho empregado intrigou Fátima. Quem foi despistado? O que aquilo significava? Estavam sendo seguidos? Por quê? Atreveu-se a questionar.

– Acalme-se, Fátima, você entenderá tudo depois de ver o que temos a te mostrar. – Harley tinha uma expressão séria. Havia um segredo a ser revelado, aquilo tudo não parecia brincadeira. Fátima esperou.

Algumas quadras a diante, a Mercedes Negra parou em frente a um grande galpão abandonado. O Sr. Mateo desceu do carro, abriu o alto portão gradeado e voltou para estacionar dentro do lugar.

Minutos depois, já dentro daquilo que mais parecia um velho depósito, Fátima contemplava a precariedade do ambiente: o teto era alto o bastante para abrigar um avião caça, as paredes eram de aço enferrujado, algumas caixas de papelão se amontoavam no fundo. Havia também um caminhão poeirento bem no centro do galpão, mas Harley não estava preocupada com ele. A jovem caminhou em direção a um dos cantos do lugar, e Fátima ia logo atrás.

– Então é isso? – disse – Este depósito velho?

– Não. Suas respostas estão no subsolo.

Metros a frente Fátima notou uma escada que provavelmente levava a um andar subterrâneo. A mulher se sentia prestes a adentrar uma masmorra hostil. No entanto, no momento em que Harley estava para descer os degraus, um ruído agudo invadiu os ouvidos de ambas. Harley tirou o celular da bolsa e atendeu.

– Alô. – Ficou por um tempo em silêncio e depois praguejou – Mas que merda! – desligou o aparelho bruscamente, voltou-se a Fátima e ordenou – Venha! Para o subsolo agora!

A expectativa era de que corressem e se trancassem lá embaixo, mas não houve tempo. Os vidros das janelas do galpão explodiram, estilhaçando-se em pedaços que cintilaram à luz do sol. Através da janela um grupo de nove pessoas entrou, todas vestidas como soldados fortemente armados.

Ao ver as metralhadoras, Fátima deixou escapar um suspiro de medo, levando uma mão à boca. Aqueles homens não pareciam fazer parte da polícia ou do exército; eram soldados, mas seus uniformes vermelhos não remetiam a nenhum tipo de autoridade militar que Fátima conhecesse. Antes que a mãe de Victor pudesse tomar qualquer decisão, os homens apontaram as armas e um deles berrou uma ordem.

– Mãos pra cima! Fiquem paradas!

Desesperada, Fátima seguiu a orientação do soldado; já Harley fez exatamente o contrário. A loura correu o quanto pôde em direção à passagem para o subsolo, descendo as escadas. Os soldados não deixaram passar aquela petulância, não disseram mais coisa alguma, não eram piedosos.

As metralhadoras apontaram para a fuga de Harley e foram disparadas cruelmente. Várias balas trespassaram o corpo da garota, que caiu desacordada ao chão. “Está morta?” Fátima pensou, sem acreditar na cena que acabava de presenciar. Um fio de lágrima escorreu por sua face.

Dois soldados tornaram a mirar em Fátima enquanto outros quatro avançaram às escadas para conferir a situação de Harley. “Oh, meu Deus! O que esses malditos assassinos querem?!” A mãe tinha intuição afiada, não demorou a entender que aqueles homens estavam atrás justamente da mesma coisa que Harley queria lhe mostrar.

Não conseguiu aprofundar a divagação devido o par de metralhadoras apontadas para seu próprio peito, usurpando toda sua atenção. Não era momento para pensar, não era momento para chorar. “Ainda não!”.

Os dois soldados que a ameaçavam tinham aparência estranha demais. O mais alto possuía uma cicatriz grotesca na face esquerda, como se uma lâmina poderosa tivesse dilacerado a bochecha. O outro, mais baixo, estava equipado com máscara de gás que ocultava o rosto por completo, impossibilitando seu reconhecimento.

– Vocês pretendem me tornar refém? – balbuciou Fátima, inquieta perante a situação delicada.

– Cale-se, mulher! – rebateu o mascarado de forma rude – Você não faz parte disso, então se mantenha quieta e nada te acontecerá. – Aquelas palavras não chegaram a soar reconfortantes, mas até certo ponto eram aliviadoras.

Os outros soldados vasculhavam o grande galpão em busca de algo que Fátima nem imaginava o que poderia ser. Ela percebeu quando os homens arrombaram a sólida porta corta-fogo que dava acesso ao piso subterrâneo. “O segredo está para ser revelado”, ela pensou. Mas neste exato momento uma coisa inusitada aconteceu.

Um papel. Um pequeno papel caiu do teto, rodopiando graciosamente pelo ar até pousar aos pés do soldado da cicatriz. Fátima tentou identificar o que era aquilo, mas estava longe demais. Um segundo papel caiu. E um terceiro. Uma chuva de pequenos retângulos. Centenas.

– Cartas de baralho! – Exclamou Fátima.

– Droga! – bradou o soldado mascarado – Ela está aqui! – Todos olharam para o teto do galpão, tentando encontrar de onde vinham as cartas. Fátima levou alguns segundos até distinguir lá em cima, sobre uma viga de metal, a sombria figura de um ser misterioso.

– É a Rainha!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostou do capítulo? Então comente! Não gostou? Comente também! =D
Opine, sugira, critique... suas palavras são muitíssimo importantes para a evolução da história.

Contato comigo: www.facebook.com/samuel.r.andrade

Muito obrigado e até a próxima!