A canção da Lua Vermelha escrita por Samuel Lua Vermelha


Capítulo 7
Caótica


Notas iniciais do capítulo

Olá! Segue mais um capítulo da narrativa. Peço desculpas por me demorar a postar, mas acontece que escrevo de semana, nos intervalos do trabalho. Conforme as ideias vão surgindo, a história vai tomando forma.

Música sugerida para este capítulo: Florence and the Machine - Heavy in your arms

Boa leitura!



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Um ano se passou desde que Victor desaparecera. Um ano se passou desde que A Canção da Lua Vermelha fora cantada. A ausência do rapaz gerou grandes consequências nas vidas das pessoas com quem convivia. Sem sua presença, a cobiçada empresa da família Cortázar passara ao poder de Harley Andrade, que assumira o cargo mais alto na diretoria. Agora a jovem loura de olhos verdes possuía influência suficiente para fazer ou desfazer o que quisesse dentro da corporativa.

Mas Harley não foi a única mulher a ser afetada pelo desaparecimento do rapaz. Fátima também mudou. A dedicada mãe perdera o estimado filho. Havia feito de tudo para encontra-lo, comunicara a polícia, espalhara cartazes com fotos, organizara movimentos de busca... chorara bastante. Com o tempo veio o fim das esperanças e, meses depois, o luto. A certeza de que tudo estava acabado. Solidão.

Sem Victor, Fátima não via mais sentido na vida. Transformara-se numa mulher amargurada, não sorria mais, perdera toda a fé na bondade humana. As crianças na rua, filhos dos vizinhos, apelidaram-na de bruxa, por causa das roupas negras em luto e a face fechada, introspectiva.

Após o desaparecimento do filho, Fátima ficara sem opção. Não tinha emprego, quem provia a casa era Victor com o salário recebido pela agência de publicidade. A mãe desiludida teria perdido tudo se não fosse a grande ajuda de Alan, um amigo de infância, e do Dr. Marcus, que desde então colaborava com quantias mensais em dinheiro.

Agora faltavam poucos dias para completar um ano desde o infortúnio começar. Um ano de solidão e apatia. E foi naquela manhã fria de outono que Fátima recebeu uma proposta inesperada, proposta que batia a sua porta. Quando a campainha insistiu várias vezes, a desanimada mãe estava em seu quarto. Demorou para decidir se atenderia ou não. Por fim, cansada daquele ruído estridente, foi de encontro à porta na sala. Ao abri-la, Fátima teve um baque descomunal. Uma visita caótica.

– Harley?! – Exclamou incrédula.

– Bom dia. – Respondeu a jovem loura, no auge de seus vinte e cinco anos, quase metade da idade da anfitriã. Fátima hesitou por alguns segundos e logo se manifestou cautelosamente.

– Bom dia. A que devo esta visita?

– Fátima, eu não disponho de muito tempo, então vou direto ao ponto. – Harley tinha um ar solene – Vim até sua casa pessoalmente para te fazer uma proposta. Posso entrar?

A mulher mais velha perscrutou a mais nova. Na aparência, não passava de uma menina. Praticamente inofensiva. Esta era a imagem que Harley apresentava quando queria persuadir. Os desavisados que a comprassem. Mas Fátima já tinha experiência no assunto. Sabia que Harley era uma víbora. Loba em pele de cordeiro. Ainda assim, a mãe de Victor ficou intrigada com a situação. Quis saber sobre o que a ardilosa menina falava. A curiosidade levou Fátima a se pôr em perigo, permitindo a entrada da inimiga em sua casa.

– Quer café? – A anfitriã tentou ser gentil.

– Não, obrigada. – Foi a resposta de Harley, já sentada no sofá da sala. Sentindo que a menina não havia mentido sobre a pressa, Fátima aconchegou-se na outra ponta do sofá de três lugares e passou a ouvir – Alan esteve comigo – Harley continuou – e me pediu para te contratar.

– Não, obrigada. – A rispidez na resposta de Fátima foi reveladora para a jovem astuta.

– Então quer dizer que você nem sabia?

– Não sabia e não pedi isso. – disse Fátima, já se levantando – E se o motivo de sua visita for só falar desse assunto, eu sugiro que vá embora, Harley. Nunca tive interesse em fazer parte da Corporação Cortázar.

– Eu sei de sua situação, Fátima. Você está desempregada, não consegue se sustentar sozinha já há um ano, depende das esmolas do Dr. Marcus. Agora eu te pergunto: você se sente bem vivendo assim? Não te incomoda saber que virou um peso em costas alheias? Até quando vai continuar nessa situação?

Fátima tornou a sentar no sofá. A menina em sua frente tocava na ferida. A pobre mulher sentiu-se mal, fragilizada pelas circunstâncias. – Vá embora, Harley. Eu não quero falar sobre isso.

– Sei que não – concordou Harley – Não quer, porque tem medo. Está desiludida por ter perdido o filho. Veste apenas luto há um ano, mas nem sequer tem certeza se Victor está realmente morto.

Naquele instante, toda a fadiga que Fátima sentia transformou-se em raiva. A mãe do rapaz desaparecido arfou, sua expressão converteu-se em puro ódio.

– Você é inacreditável, Harley! Vem até minha casa e zomba dos meus sentimentos por meu filho! Como você é baixa! Saia já daqui! Quero ficar sozinha! – Fátima planejava expulsar aquela maldita mulher, no entanto deteve-se por um instante. Era como se os verdes olhos de Harley estivessem escondendo algo.

– Não seja estúpida, Fátima. Eu não digo por mal. – A garota cruzou as pernas negligentemente, recostando-se no sofá – O fato é que não acharam o corpo até hoje, nem ao menos pistas sobre o paradeiro de Victor. Não quero te causar mais lágrimas, pelo contrário, quero que não perca a fé. Eu vim até aqui pessoalmente para fazer uma proposta: trabalhe para mim. Seja minha assessora e eu te ajudarei a encontrar seu filho.

Fátima não acreditava nas coisas que ouvia. Ao mesmo tempo incrédula e estarrecida, a dona da casa arfava ainda mais profundo, como se todo o luto de um ano caísse de uma vez sobre seus próprios ombros e pesasse de forma descomunal. Fechou os olhos, arqueou, esfregou o rosto num gesto irritadiço e, por fim, falou.

– Como?

– Tenho meus meios, Fátima.

– Diga-me como!

– Tudo bem, tudo bem... – Harley se levantou do sofá e caminhou em direção à porta – Já que deseja tanto saber, acompanhe-me.

– Aonde vamos? – Conforme a conversa se desenrolava, Fátima ficava cada vez mais intrigada com aquele ar de mistério da moça a sua frente – Isso não é mais um de seus truques, é?

– Vamos logo. – Retrucou Harley – Já disse que não tenho muito tempo.

Fátima hesitou, mas a curiosidade uniu-se à vontade de rever o filho e, por fim, a desesperada mãe a acompanhou pela porta, até o carro estacionado em frente da casa.


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Notas finais do capítulo

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Obrigado por acompanhar e até a próxima!