Décimo Oitavo Capítulo - Os Caveleiros Lobos Famintos

Eiko estava sozinha na casa que havia sido emprestava para a Angel Tail passar a temporada de Jogos Mágicos. Pensava em tudo o que o mestre Makarov havia dito e pretendia ajudar com o que pudesse.

Decidida revirou seus pertences e ao achar uma peça de roupa nova se despiu e vestiu o novo visual. Uma calça verde água bufante que marcava bem sua cintura e seu tornozelo, um semi corpete da mesma cor com detalhes em azul marinho que deixava sua barriga inteira a mostra. Como sempre descalço.

Suspirou ao se lembrar que Azumi havia quebrado seu frasco d’água, porém não se deixou abalar e propôs a si mesma em comprar outro, ainda mais belo. Entrou no banheiro, onde havia passado toda uma noite agoniando de dor e tentou ignorar o fato de ainda ter marcas de seu próprio sangue no piso do local.

Ao encarar sua imagem no vidro trincado do banheiro amarrou os cabelos longos e cinzentos com os palitos de madeira e se sentiu renovada. Havia começado a mudar desde já e nada no mundo faria ela voltar a ser quem era.

Não voltaria a ser uma mercenária, pelo seu próprio bem.

Alisou a barriga onde havia a marca da sua guilda, um par de asas negras estampadas na sua pele não a deixava esquecer quem um dia realmente fora. De queixo erguido recolheu todos seus pertences e finalmente saiu da pousada.

No dia seguinte iria ser a grande final dos Jogos Mágicos. A passos lentos caminhou até o Bar Sun onde os integrantes da Fairy Tail normalmente ficavam e estranhamente se sentiu acolhida por aqueles que estavam por lá.

Mirajane a cumprimentou alegre e a guiou para conversar com Makarov. A cinzenta largou suas coisas em uma mesa vazia e acompanhou a albina. Eiko era um pouco mais baixa que Mira e muito mais nova que ela, mesmo que a outra aparentasse ter a sua idade.

Eiko imaginava como deveria ser estranho envelhecer sete anos, porém não vive-los por estar congelado. Havia acontecido com a grande maioria dali, incluindo até mesmo o mestre da guilda.

Makarov estava sentado sobre a bancada do bar de braços e pernas cruzadas. Esperava calmamente a chegada de Eiko no recinto e se alegrou ao ver Mira guia-la até ele.

– Olá Eiko – o velho disse sorrindo – Gostaria de lhe dar um trabalho...

A Fullbuster então cruzou os braços e prestou atenção no que o velho anão dizia, franzia o cenho uma outra ou outra tentando assimilar a fala do mestre com a realidade e ao final aceitou a proposta de Makarov.

Iria atrás do Barão Sukero após o final dos Grandes Jogos, até lá iria trabalhar para a Fairy Tail e ajudaria a resgatar Lucy Heartfilia. Com toda a certeza no coração da cinzenta aquele era o melhor trabalho que já havia recebido em toda sua vida.

– Ei-imouto-chan – Gray deixou escapar o apelido carinhoso próximo demais de seus amigos, que seguraram a risada, principalmente Natsu que já estaria chorando de rir se não estivesse tão tenso graças ao que aconteceu com Lucy.

– Gra-oniisan – Eiko se afastou de Makarov e aos tropeços abraçou o irmão mais velho afundando seu rosto no peito nu de Gray. Involuntariamente começou a chorar e todos ao redor se assustaram, não sabiam o que Makarov havia dito e pensaram que o mais velho havia dito algo ruim para a cinzenta.

– Ganhei o melhor trabalho de minha vida – ela sussurrou entre o choro. Gray estava assustado, não sabia como reagir ao choro da irmã mais nova. Na verdade nunca soube reagir ao choro de nenhuma garota, principalmente se fosse a sua irmã mais nova – Vou trabalhar para Makarov na missão de resgate – ela contou e Gray deixou um sorriso escapar de seus lábios. Era bom saber que Eiko havia realmente mudado.

– Não vai tirar essa marca estranha da barriga não? – Natsu perguntou e Gray enviou-lhe um olhar ameaçador pedindo para que o rosado cala-se a boca.

– Só irei retirar quando falar com o mandante da minha última missão. Irei mostra-lo que a Angel Tail não existe mais e que ele nunca vai conseguir ser um Dragon Slayer – ela respondeu rangendo os dentes. Natsu ficou surpreso pelo anuncio, não sabia que o homem que lhe queria morto desejava ser um Dragon Slayer.

– Ele queria comer sua pele para ter o poder de um dragão... Barão Sukero é obcecado por dragões – ela relatou. Não era apenas Natsu e Gray que prestavam atenção em Eiko naquele momento, inclusive os outros três Dragon Slayers e Erza.

– Mas por que o Natsu? – Gajeel se sentiu levemente insultado por não ter sido escolhido por um louco para ser morto.

– Barão Sukero contou uma história bizarra quando eu e... – Eiko engoliu em seco temerosa por continuar a frase – Os outros fomos esclarecer o pagamento e o que devíamos fazer. Disse que havia visto um dragão vermelho voar no céu quando era um pré-adolescente. Contou também que descobriu o nome do dragão e que aquele dragão havia deixado um filho humano no mundo... Natsu Dragneel – a Fullbuster encarou Natsu que se arrepiou com o olhar escuro da irmã do companheiro.

– Que maluco – Charlie comentou ao lado de Wendy. A maga mais nova estrava tremendo com a ideia de alguém querer comer sua carne para tentar roubar sua magia.

– Aye Sir – Happy concordou e Eiko deixou escapar um riso frouxo. Makarov interrompeu a conversa dos jovens começando a detalhar melhor os planos que tinha sobre o dia seguinte. Inicialmente não iria desfazer o grupo dos jogos, porém Natsu insistiu em querer resgatar Lucy.

Com atenção Eiko notou o quão unida era aquela guilda. Uma verdadeira família, uma família que Eiko teve algumas vezes, porém suas atitudes fizeram com que não tivesse mais.

Seus reais pais foram mortos por um monstro, Hannah e sua família adotiva fora desfeita quando a velha mulher faleceu naturalmente e sua guilda nunca fora uma família. As oportunidades de laços que Eiko tivera sempre foram desfeitos abruptamente, porém lá ela conseguia ver que poderia construir laços muito mais fortes que qualquer um em sua vida.

– Conto com vocês amanhã, crianças – Makarov disse olhando todos e por fim encarando Eiko com um sorriso encorajador.

~*~

A última prova iria se iniciar em poucos minutos. Ela não aconteceria na arena, mas sim na própria cidade, que havia sido esvaziada para o evento final. Todas as guildas restantes estavam já postas na arena em seus lugares na espera do momento certo.

Enquanto isso os outros magos e o público estavam ouvindo o locutor comemorar o último dia dos Grandes Jogos Mágicos. Cinco telas magicas estavam no centro do coliseu para que todo o público conseguisse ver o que acontecia com cada grupo.

– Você pensou bem, número seis – Mavis estava sentada no parapeito do observatório da Fairy Tail.

– No fim acabou que eu fiz tudo que eu pude fazer, número um – Makarov disse sentado ao lado da primeira mestra da guilda – Se nós esperássemos os Grandes Jogos eles poderiam liberar Lucy! Mas nós não podemos acreditar muito nisso... Então tem que ter um plano alternativo – Makarov respirou para continuar a falar – Com todos absorvidos pelo torneio, está é a chance perfeita!

– Vamos torcer pelo time normalmente – Mavis disse balançando seus pés infantilmente.

– Enquanto isso, por trás das cenas, um time separado vai ao resgate de Lucy.

– Uma guerra de dois frontes, né? – Mavis perguntou séria, observando a tela de lacrima em vermelho com o símbolo da guilda.

– Conto com vocês, moleques! – Makarov permitiu-se gritar em alto e bom tom esticando seu braço pequeno para cima.

Longe dali o outro time dito por Makarov corria em direção ao castelo real. Wendy, Happy, Charlie, Lily, Mira, Natsu e Eiko formavam o segundo time.

– Parece que a batalha final ira começar – Mira comentou com a respira descompassada. Estava logo atrás de Natsu e ao lado de Wendy.

– Isso! É a nossa chance – Natsu disse fechando os punhos.

Eiko não havia dito nada desde que começou a seguir as fadas pelas ruas da cidade. Não tinha o direito de opinar já que se tratava de uma amiga deles.

– Dadas as circunstancias está é a nossa melhor opção – Charlie disse voando na cabeça dos magos ao lado de Lily e Happy.

– Mas como iremos entrar no palácio sem sermos vistos? – Wendy questionou e Eiko sorriu por saber a resposta.

Ao chegarem na porta do castelo as mãos de Natsu, Eiko e Wendy estavam presas para trás sendo segurada por um homem de farda real. Os três magos estavam de cabeças baixas e prendiam a respiração. O homem que seguravam suas mãos disse aos seguranças do portal que eles eram intrusos e que era preciso coloca-los no calabouso.

Quando estavam longe o bastante o rosto do homem se transformou no de Mira que enviou uma piscadela aos companheiros.

– Eiko-san, foi brilhante – Wendy sussurrou sorridente.

Dentro do traje de militar os três exceeds estavam exprimidos e escondidos calados.

Graças ao poder magico de Mira e ao plano de Eiko eles finalmente estavam dentro do território real.

O calabouço era uma espécie de prisão subterrânea medieval. Ao voltar ao normal Mira deixou os gatos voarem e soltou as mãos dos outros três magos.

– Lucy! – Natsu sussurrou ao ver a loira atrás das grades. Ela dormia sobre uma cama aparentemente desconfortável, ao acordar e notar que os quatro magos estavam realmente ali se levantou aos berros em comemoração.

– Shii – o rosado disse tampando a boca da loira quando ela se aproximou das grades. O escândalo que a maga celestial fizera poderia chamar a atenção de mais guardas.

– Como chegaram aqui? – Yukino questionou se levantando do chão duro e encarando os gatos voadores.

– Não importa – Natsu disse observando o cadeado que prendia as garotas na cela – Se afastem.

Com pouca força fez as barras esquentarem e se dobrarem o suficiente para que as duas garotas conseguissem escapar da prisão.

– Obrigada pessoal – Lucy disse saindo com cuidado do lugar e abraçando Natsu carinhosamente. Yukino seguiu a loira saindo da cela e sorrindo para Wendy envergonhada.

– Trouxemos roupas para vocês – Eiko disse coçando a nuca e entregando a toalha branca para Mira que junto a Wendy fizeram uma espécie de cabana para as duas magas se trocarem.

– Agora tempos que pensar em um jeito de escapar – Charlie disse com as patas sobre a cintura.

– Se possível sem chamar a atenção de ninguém – Lily se pronunciou com os braços peludos cruzados.

– Espere um segundo – Lucy disse terminando de se vestir – Eles estão ainda com nossas chaves!

E de repente a terra começou a tremer. Um buraco fora aberto nos pés de todos, que caíram no escuro sem saber onde aquilo iria parar. Todos gritaram de medo e tentaram se proteger da possível queda que teriam.

– Ai – Lucy disse ao atingir o chão, porém havia caído sobre Natsu que gemia de dor.

– Que diabos é este lugar? – Eiko disse se levantando e alisando as próprias costas. Haviam caído em um ambiente rochoso e de pouca iluminação. Gelado, porém com pouco vento fazia Eiko se lembrar de algumas missões que tivera de se submeter a dormir em lugares parecidos.

– Bem vindos ao Hell Palace – uma voz feminina fez com que eles se assustassem – Vocês caíram bem na armadilha.

– Quem é você? – Natsu perguntou irritado.

– Olhem ao seu redor, está é a capital da morte. Hell Palace! – a voz continou a falar. Eles continuavam a não ver quem pronunciava. Eiko se permitiu olhar ao redor e notou vários ossos e crânios humanos espalhados pelo local.

Um portal de medra esculpida dava caminho a um corredor estreito igualmente mal iluminado e rochoso como o ambiente em que estavam.

– No entanto ninguém nunca saiu daqui – a mulher relatou irônica – Apodreçam ai em baixo, ladrões.

E finalmente Eiko conseguiu ver quem falava. A imagem de uma garota de cabelos verdes acompanhada de dois guardas refletia magicamente no teto do lugar. A princesa de Fiore.

– Quem diabos é você? – Natsu questionou e Eiko arregalou os olhos.

– Eu sou Hisui E. Fiore, a princesa do reino de Fiore – ela respondeu e Eiko engoliu em seco. Já havia visto a princesa algumas vezes em sua vida, porém nunca trabalhara diretamente com ela. Eiko sabia o quão sujo a vida nobre era e se arrepiava só de se lembrar de algumas missões que envolviam a realeza.

– Onde está a maldita saída desse lugar!? – Natsu gritava e pulava no lugar irritado com a princesa, que matinha a expressão séria. Ela simplesmente desconectou a conexão com os magos deixando-os completamente sozinhos.

– O que devemos fazer? – Wendy choramingou tremendo em seu lugar.

~*~

Eles deviam estar andando o que lhe pareciam horas, porém não havia passado tanto tempo assim. Natsu sentia seu estomago se comprimir a cada passo e em determinado momento simplesmente parou de andar por estar com tanta fome.

– Não estou vendo nada comestível – Mira comentou olhando ao redor. Naquele corredor só tinha pedras e ossos.

Happy e Charlie haviam voado mais a frente para tentarem encontrar algum buraco no teto ou uma saída mais à frente, porém voltaram desapontados dizendo que não haviam achado nada.

– Parece que não tem saída – Charlie disse ainda flutuando sobre as cabeças dos magos.

– Merda – Natsu resmungou se colocando de pé.

– Isso porquê caminhamos bastante, que lugar espaçoso! – Lucy disse colocando a mão na cintura.

– Eu ouvi falar - Yukino disse colocando a mão no rosto por vergonha – Que bem no centro do subsolo do castelo tem um labirinto.

– Sim – Eiko disse cruzando os braços e observando em sua volta – Um labirinto tão grande que pode ser comparado com dez vezes maior que a própria Crocus.

– Se eu soubesse disso teria feito um mapa em meu corpo – Lily brincou sério. Lucy parecia aterrorizada pelas informações das duas magas.

– Falando nisso, Natsu e o torneio? – a maga celestial questionou o parceiro preocupada.

– Troquei de lugar com a Juvia – ele deu de ombros.

– Que estranho – Yukino começou a falar se virando para encarar Mirajane – apesar de estarmos nessa situação eu fico tranquila de estar com eles.

– Deve ser porquê você está com os seus amigos – a albina disse sorridente. Eiko estava próxima o suficiente para ouvir a conversa das duas magas albinas, sentindo seu peito arder deixou um sorriso escapar.

– Amigos – ela sussurrou baixo segurando as próprias mãos.

Finalmente haviam voltado a andar. Em linha reta e desviando de rochas grande demais começaram a se entediar com a mesma paisagem arrepiante ao redor.

– Ei pessoal, ela não se parece com Lisanna? – Mira parou de andar e segurou Yukino pelos ombros. A maga celestial de cabelos brancos não sabia de quem se tratava, porém quando Mira explicou quem seria Lisanna sentiu seu peito doer. Sua irmã mais nova poderia estar por qualquer lugar e adoraria encontrá-la.

Um estalo de dedos ecoou pelo corredor de pedras e então tudo começou a tremer e algumas pedras que se grudavam ao teto caíram em direção a eles.

– Esse cheiro me lembra alguma coisa – o rosado disse em posição de ataque, dobrando uma das pernas. Eiko e os outros estavam atentos para caso algo mais perigoso acontecesse.

Happy e Charlie novamente voaram mais à frente para procurarem por alguma passagem e ao voltar chamaram o restante, pois finalmente haviam encontrado algo.

Não era um corredor como Eiko imaginava quando Charlie pediu para acompanha-la, estava mais para uma fenda estreita que dava passagem para outro lugar. Com as costas encostadas em um dos lados da fenda e o rosto perigosamente próximo do outro lado foram aos poucos andando até finalmente chegarem do outro lado.

Ao finalmente passarem todos Wendy alertou que havia alguém deitado mais a frente.

Se aproximaram com cautela para verem de quem se tratava e se surpreenderam. Arcadius estava machucado e inconsciente.

– Ei você está bem ? – Natsu se abaixou para cutucar o corpo imóvel do militar.

– Por que ele está aqui? – Happy disse cabisbaixo.

– Ele está tão ferido – Yukino cobria a boca com a mão chocada por ver o militar tão abatido.

Eiko então usando magia retirou apenas uma pequena bola de água, uma bolinha que brilhava um azul claro, e depositou-a sobre os lábios de Arcadius, que engoliu-a e finalmente acordou. Havia aprendido magia curativa com sua mentora Hannah, porém não usava com tanta frequência.

– Fujam... – o homem tossiu e virou o rosto com dificuldade para encarar Natsu.

Wendy já estava de joelhos começando a se preparar para curar os ferimentos mais graves de Arcadius. Porém o homem se negava a ter o atendimento dos magos ali, insistindo em que eles fugissem o mais rápido que conseguissem.

Uma risada desengonçada chamou a atenção de todos, se se viraram para encarar quem os observava.

Um homem gordo e muito grande com uma garrafa de vidro presa com os dentes estava a passos de distância dos magos e por sorte o soco que o grandalhão enviou apenas atingiu o chão.

Um buraco se formou no chão assustando a todos.

– Isso é ácido? – Lily disse arregalando os olhos felinos.

Outro homem então apareceu, esse tão desengonçado quanto o primeiro, parecia um pirata. Com uma bandeira em mãos fez com que água brotasse do chão e atingisse todos que estavam ali.

– Quem são eles? – Natsu disse rangendo os dentes.

Mais duas mulheres apareceram. Uma delas saiu de dentro de uma grande flor carnívora e a outra se materializou com papeis coloridos, o que Eiko achou ser um pouco estranho.

– Eu disse para saírem logo daqui – Arcadius disse deitado no chão.

– Você conhece eles, tio? – Natsu perguntou ao militar. Eiko achava melhor o rosado parar de tratar pessoas importantes como se fossem simples plebeus.

– Eles são uma unidade independente que auxilia o reino de Fiore das sombras. Eles são os mais fortes carrascos do reino – o mais velho disse cansado demais para explicar com muito detalhes.

– Os Caveleiros Lobos Famintos – Eiko disse franzindo o cenho. Sabia muito bem quem eram aquelas pessoas e sentia seu estomago formigar só de pensar. Eles eram fortes demais.

– Missão 1500, começar – um homem com duas grandes foiças nas costas e mascarado declarou encarando os magos.