Hate that i love you escrita por Thay Oliveira


Capítulo 20
Ali e Nino


Notas iniciais do capítulo

Oie, gente! Voltei rápido dessa vez:))



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 Ela tinha perdido a noção de quanto tempo ficou sentada no meio fio sob a chuva fria daquela manhã. Estava atônita até mesmo para levantar e se abrigar. Seus pensamentos passeavam sem rumo pelos acontecimentos. Iam e voltavam na mesma frequência. Ela só não queria pensar em nada, queria não sentir nada do que estava sentindo no momento. 

Quinn sentiu braços lhe puxando para cima. Se deixou levantar, mesmo sem saber quem era. Escutou uma voz madura feminina sussurrar “ vamos entrar”. Então ela seguiu a dona da voz. Chegando no elevador, ela pôde ver seu reflexo no espelho. Seu rosto estava bastante vermelho por conta do choro, olhos e boca inchados, sua roupa encharcada, mas nada disso lhe chamava a atenção. Na maçã esquerda de seu rosto havia a marca dos dedos de Rachel. Ela levou a mão ao local e apertou os olhos, voltando a chorar.

  — Vamos colocar gelo e isso vai sair rapidinho. 

Quinn olhou para o espelho espantada e viu sua vizinha. Por um momento, achou que estivesse sozinha. Ela nada respondeu, apenas deixou que a senhora lhe guiasse. 

— Não repare na bagunça, minha querida. Aproveitei o feriado para não fazer nada e descansar.

O apartamento não parecia desarrumado. Pelo contrário, era de uma arrumação mais rigorosa do que Quinn costumava fazer em seu apartamento. Era bonito também. Notava- se que a senhora tinha zelo por tudo naquele local.

— Vai, querida. — A senhora disse, entregando uma muda de roupa e uma toalha para Quinn. — O banheiro é logo ali. 

Já dentro do box, deixou que a água morna caísse por seu corpo. Chorou mais que achava que conseguia chorar. A dor queimava no seu peito e sua percepção sobre as coisas iam se perdendo de pouco em pouco. Anestesiada pelos acontecimentos, não soube dizer como voltou até a sala. Mas ali estava ela sentada no sofá de um apartamento que não era o seu.

   — Coma um pouco.

  As mãos de Quinn seguraram a bandeja que lhe era estendida a sua frente. 

 — Estou sem fome.

  Sua voz saiu tão fraca que a senhora franziu o cenho na tentativa de entender Quinn.

 — Tome ao menos o chá. Está quentinho e vai te ajudar a não ficar resfriada.

   Quinn levou a caneca até sua boca e bebericou um pouco do líquido. Estava quente como a senhora havia dito, doce também. Muito diferente da sua manhã.

   Minutos se passaram com as duas em silêncio. Quinn olhava fixamente para uma escultura de ferro de duas pessoas que movimentava se em seu eixo, fazendo os corpos se juntarem mais e mais a cada instante até se beijarem.

  — Eu lembro de ter ficado assim quando à vi pela primeira vez. Ela me intrigou de uma forma que eu passei uma tarde inteira a olhando. Um brasileiro, que estava de férias na Grécia, como eu, se aproximou de mim e me contou a história dessa escultura. Uma história bonita de amor que tinha como empecilho religião e culturas distintas, infelizmente não teve um final feliz. — A senhora respirou fundo e deu dois tapinhas em sua própria perna, antes de continuar. — Você é bem diferente daquela garota. Não precisa uma velha como eu te dizer isso, você sabe. Sabe também que é bem provável que sejam essas diferenças que as tornem tão atraídas uma pela outra. Envolvidas de uma forma que me deixa admirada pela intensidade do amor de vocês.

 As lágrimas de Quinn caíram violentas quando a senhora terminou de falar. Ela tentava se manter firme, não queria mais chorar, não queria mais sofrer por algo que não teve culpa de ter acontecido. Sentiu a senhora abraça-la e permitiu-se ser acalentada por alguém que fazia o papel de mãe naquele momento. Um papel que nunca fora preenchido por ninguém em sua vida.

   — E-ela n-não — Quinn gaguejava por conta da emoção — n-não entendeu nada.

   — Shii, não precisa falar.

   A senhora não saiu do lado de Quinn até ela se acalmar. Quinn aproveitou para ficar naqueles braços que se tornaram uma fortaleza para ela. Nunca achou que uma desconhecida pudesse ser tão familiar e amorosa. Se entregar ao sono e ao cansaço emocional não foi uma tarefa tão difícil rodeada pelos braços da senhora. Dormiu agarrada na esperança que quando acordasse tudo aquilo que vivera não passaria de um pesadelo.

 

— Volte sempre que precisar de um ombro amigo. É velho, mas ainda funciona. 

Quinn, que estava na porta do apartamento da senhora, rodeo o corpo frágil da senhora em um abraço.

  — Acho que eu vou voltar com frequência.

  A senhora sorriu e afirmou.

  — Sempre que precisar, minha querida. Sempre que precisar.

  Quinn deu um meio sorriso a senhora e seguiu pelo corredor. Estava na metade do corredor quando ouviu seu nome. Ela parou e viu que a senhora vinha atrás dela.

   — Não permita que ninguém encoste a mão em você se não for para lhe fazer um afago. Não importa o motivo que levou aquela moça a fazer o que fez, não justifica a agressão. — Quinn assentiu para senhora, baixando a cabeça. A mais velha a levantou e esperou o olhar de Quinn encontrar o seu para continuar. — Não é porque a história da escultura acabou em tragédia que a sua precise terminar assim. Tenha coragem e converse com essa moça quando as coisas se acalmarem. Você é uma mulher linda e forte, eu sei que é. — Deu dois tapinhas nos dois ombros de Quinn. — Agora vá! Não escute mais nenhum concelho dessa velha chata.

  A loira sussurrou um obrigada por tudo e seguiu para o seu apartamento.

 Ela sabia que quando abrisse a porta de seu apartamento teria que lidar com o estopim de tudo aquilo. Por um momento, pensou em voltar para o apartamento da senhora e fingir que nada daquilo acontecera. Entretanto, seguindo o concelho da mesma, ela abriu a porta e encontrou a força que sempre encontraram quando tudo estava ruim.

 

[...]

 

 — Obrigada.

 — Pelo o quê? — Santana quis saber.

 Elas estavam no apartamento delas, sentadas na bancada da cozinha vendo Finn e Brittany assistirem TV.

 — Por estar sendo compreensiva quando, na verdade, não precisava estar sendo.

 Havia se passado 15 dias que Finn tinha chegado. Eles conversaram e Finn havia lhe dito que cursaria administração na NYU e pediu se podia ficar por alguns dias até ajeitar toda documentação do dormitório da faculdade. Ela disse que sim, é claro, mesmo temendo que isso pudesse abalar sua amizade com Santana.

 — Eu não gosto dele. Não mesmo! Mas eu gosto de você e sabe que é isso que importa no final das contas. Mas sim, espero que ele saia o quanto antes.

 — Eu estaria sendo hipócrita se dissesse que não quero que ele vá. O vê é como ver o passado e isso me traz lembranças de tempos não tão bons.

 Santana segurou a mão da garota por um breve momento, dizendo, da forma dela, que ela estava ali para o que Quinn precisasse.

 — Ele disse como anda as documentações da universidade?

 Quinn soltou o ar, antes de responder:

 — Ele disse que essa semana já estaria no dormitório.

 Quinn esboçou um sorriso quando viu Santana levantar as mãos para o alto e sussurrar um amém.

 Santana se remexeu no banco, bebeu um gole de coca cola e num tom mais baixo do que estava falando anteriormente, disse:

 — Eu sei que você está mantendo essa pose de forte e que nada te abala, mas.. quero saber como você estar, de verdade.

 Quinn se incomodou um pouco com o que Santana falara. Ela imitou a latina, bebendo um gole de coca cola antes de dizer:

 — Não estou nos meus melhores dias, por assim dizer. Me recuso a ficar do jeito que eu fiquei da outra vez. Eu não quero e não posso me permitir ir pro fundo do poço de novo.

 — Só quero que saiba que não precisa se manter durona sempre. Ficar triste não é anormal, é mais normal do que se pensa. Então, se você se sentir mal e quiser só chorar por um dia ou dois, não tem problema. Vou estar aqui com a minha beleza e uma pizza gigante para tentar te alegrar.

 A loira tocou o ombro de Santana com o seu.

 — Obrigada, imigrante. — Ela olhou para Santana. A latina parecia querer fazer um pergunta. — Faça. Apenas pergunte o que quer saber.

 Santana virou o banco para que ficasse de frente para Quinn.

 — Quando vai procurá-la?

 Ela já sabia o que a latina iria perguntar, porém não deixou de se sentir afetada com a pergunta.

 — Eu não sei. Estou tentando reunir coragem para encontrá-la e falar o que eu quero falar.

 — Não simpatizo com ela, e a odeio por ter te dado o tapa, mas no lugar dela acho que estaria cega de raiva tanto como ela ficou. Ela te ama, Quinn. E ver a namorada dela beijar outra pessoa logo depois dela ter tido a primeira vez com a namorada não é algo nada fácil de lidar.

 Um longo minuto se passou com Quinn absorvendo o que Santana falou. Ela sabia disso. Sabia do lado dela também. Lado esse que Rachel ignorou e estava ignorando até o momento. Ela estava acabada com toda a situação, mas nada chegava perto da decepção que sentia por Rachel não acreditar nela.

 Quinn levantou do banco no qual estava, abraçou levemente Santana, se despediu de todos e foi para o seu quarto. Ela só queria dormir uma noite tranquila e esquecer por uma noite tudo o que havia acontecido.

 O prédio imponente fazia Quinn parecer um formiga. Ela estava mais de meia hora olhando o arranha céu à sua frente. O sol estava se pondo e a cada minuto ficava mais frio do lado de fora. Colocou suas mãos dentro dos bolsos do casaco e rumou para dentro do gigante.

 Incrivelmente, conseguira pegar o elevador vazio. Seu dedo foi até o botão com dígito 96. Ela o apertou e fechou os olhos, esperando o andar chegar. E ele chegou mais rápido do que ela esperava. Achava que estava preparada para o que ia fazer, mas não tinha certeza.

 Estava se amaldiçoando por se sentir nervosa. Ela perdeu a conta das vezes que sentiu o famoso frio na barriga. Levou seu dedo a campainha uma, duas, três vezes, porém não teve coragem de tocar.

 — Vamos, Quinn! É só uma conversa, não precisa ficar nervosa assim. — Dizia a si mesma.

 Ela fechou os olhos e começou a treinar o que falaria para Rachel.

 — Sei que você está com raiva de mim, eu sei que está.. — Deixou sua cabeça encostar na porta. — É bem provável que você não queira falar comigo, mas a gente sabe que probabilidade não funciona muito com a gente. Droga! O que eu estou falando?! Rach, eu preciso te dizer..

 — Eu te disse pra nunca mais me chamar assim.

 Quinn virou assustada e viu Rachel acompanhada de Kurt.

 — Acho melhor eu ir tomar um café lá embaixo. Ou será que é melhor eu ficar? Vocês não vão brigar, né? — O garoto perguntou aflito.

 — Ninguém vai brigar aqui, Kurt. Não tenho nada para conversar com ela. Saia do meu prédio agora.

 Em nenhum momento Rachel olhou nos olhos de Quinn. Ela não conseguiu. Tinha medo de olhar para eles e sucumbir ao desejo de estar com a garota. A verdade é que ela queria escutar o Quinn tinha pra dizer. Entretanto, Rachel não conseguia esquecer o que vira, não conseguia deixar de sentir raiva de Quinn.

 — Eu sairei depois de conversar com você.

 Rachel respirou fundo, fechou os olhos e disse:

 — Eu não vou conversar com você, acho que deixei bem claro isso na última vez que nos vimos.

 — Olha pra mim!

 O tom mais alto que o de costume de Quinn assustou Kurt e Rachel.

 — Okay.. vocês precisam conversar e eu preciso sair daqui o mais rápido possível.

 Kurt mal olhou para trás e praticamente correu até o elevador.

 — Não acredito que você vai me deixar, Kurt! Que belo amigo.

 — Desculpa, Barbra, mas vocês têm que se resolver e minha presença aqui não vai adiantar em nada. — O elevador abriu e Kurt não demorou muito pra entrar. Antes da porta se fechar, ele inclinou a cabeça para fora, recomendando: — Não briguem!

 A porta do elevador se fechou deixando as duas sozinhas no corredor.

 — Que ótimo!

Rachel olhava para os pés, estava evitando ao máximo olhar para Quinn.

 — Olha para mim. — Quinn pediu, dessa vez, num tom mais baixo.

 — Vai embora.— Rachel pediu baixo.

 — Depois de conversar com você, irei.

 — Isso não pode estar acontecendo.— ela deslizou pela parede até sentar no chão do corredor. — Você entra na minha vida, faz eu me apaixonar por você e depois me trai e eu ainda tenho que te ouvir? Isso realmente não pode estar acontecendo.

 Escutar aquilo de Rachel doeu. Ela não havia a traído e ver que a morena tinha aquilo como verdade machucou mais ainda.

 Ela andou até onde Rachel estava e deslizou igualmente a morena, ficando de frente para a mesma.

— Eu juro que não vou me estender. Porém eu preciso que olhe nos meus olhos.

Ela demorou alguns longos segundos até olhar para Quinn e quando o fez, mergulhou na imensidão dos olhos avelãs. Lembrou da primeira vez que os viu, na faculdade, tão intensos, tão ingênuos.. Estava com vontade de fugir, porque tinha medo do que Quinn ía falar, medo de como aquilo ia terminar.

 — Antes de falar sobre o que aconteceu aquele dia, eu preciso te contar um pouco mais sobre mim, mais especificamente contar sobre o meu passado. Você deve se perguntar o porquê do fato de eu ser assim, você sabe, retraída. A minha vida inteira me disseram o que eu tinha que fazer, como fazer. Me podaram de uma forma que você não entenderia, mas como poderia? Você nasceu aqui, no centro do mundo. Eu? Eu nasci e vivi boa parte da minha vida num lugar conservador e preconceituoso. Não podia fazer coisas simples como estudar e tirar boas notas porque para uma mulher que nasce em Lima não pega bem ser inteligente. Sair numa sexta-feira à noite? É uma afronta aos bons costumes locais. Então, eu fiz algo que talvez nenhuma mulher da minha família fizera, enfrentei. Estudei mais do que o normal e consegui uma bolsa integral em Columbia por mérito. Meus pais, você pode imaginar, não ficaram nada contentes. Tiveram uma brilhante ideia de me arranjar um noivo. Na mesma noite, peguei o trem para NY. Prometi para mim mesma que esqueceria todo meu passado e faria o que eu quisesse fazer do meu futuro.

 Rachel viu Quinn fechar os olhos e respirar fundo. Ela sabia que a loira estava se segurando para não chorar. Refreou a vontade de segurar a mão dela e esperou que ela continuasse.

 — Aí você apareceu — sorriu balançando a cabeça. — colocando minha vida de cabeça para baixo. Mexeu com todos os meus sentidos e com as minhas crenças. Me apaixonei tão perdidamente, Rach.. Eu te amo de uma forma que nunca achei que poderia amar alguém. Me entreguei para você sem medo. E você me teve tão intimamente que palavras não poderiam explicar.

 Lágrimas escorriam pelo rosto de ambas. Olhavam- se de forma intensa e a cada segundo parecia uma eternidade naquela troca.

 Quinn rompeu o contato por um momento e voltou o olhar para os olhos castanhos chocolates.

 — Eu acordei naquele dia te procurando, mas você não estava ao meu lado. A campainha tocava incessantemente. Eu pensei que era você que estava querendo fazer uma surpresa. Todavia.. você sabe, não era você, era o Finn. Ele me beijou de uma forma que eu não conseguia sair do aperto dele. Eu lutei, mas não consegui. Não consegui..

 Quinn chorava abertamente. Levantou- se e esperou Rachel fazer o mesmo.

 — Eu entendo seu lado, Rach, não deve ter sido nada fácil ver o que você viu. Mas posso te garantir que escutar da pessoa que se ama que ela te odeia não é nada fácil também. — Quinn lutava contra as lágrimas para conseguir falar. — Eu nunca menti para você, Rach. Nunca te trai.

 — Quinn, eu não..

 — Eu sei.

 Rachel tentava raciocinar com clareza os fatos. Havia Quinn dizendo o que tinha acontecido, porém tinha lembranças do beijo rondando sua cabeça. Ela não sabia se era certo ou não acreditar em Quinn. Era queria, mas não conseguia lutar contra a incerteza.

 Quinn andou até o elevador sem olhar para trás. Sabia que tinha feito o certo de ter ido até Rachel e contado a verdade. Se a morena não conseguia acreditar nela, ela não forçaria um confiança.

 Algo havia mudado entre as duas e ambas sentiam isso. Nada poderia ser feito no momento. Elas estavam confiando no  tempo, apostando suas últimas fichas no incerto; Ficara a cargo dele dizer se o que as juntavam era maior do que as separavam.

 

 

 







   


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Notas finais do capítulo

Curiosidade 1- existe realmente essa escultura. Se pesquisarem Ali e Nino no Youtube, vai aparecer um vídeo da escultura. Lindo por sinal!
Curiosidade 2- Ela foi inspirada num romance ( muito, mais muito bom) chamado Ali e Nino. Recomendo a leitura.
Curiosidade 3- Mentira, não tem curiosidade 3, só queria saber o que acharam do capítulo e o que tão achando da história.
Desculpa os erros!
Até o próximo :)))



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