Os passarinhos cantavam em coral com o início de um novo dia. O céu estava limpo e azul, mas ainda era possível sentir a atmosfera úmida e o cheiro da chuva que partira, deixando apenas as suas águas por todo canto. O dia parecia como outra qualquer, exceto para a Rukia, que sentia as coisas ao redor mais belas e maravilhosas.

  -Bom dia, Nii-sama. –o Byakuya, como de costume, já lhe esperava na sala, com a mesa pronta para a refeição matinal.

   -Bom dia. –ela olhou-o por um breve segundo, este parecia indiferente, o de sempre. Estava nervosa, mas observando nada de incomum com o seu irmão prosseguiu:

    -Err, desculpe, Nii-sama, mas preciso fazer um relatório que tenho de entregar ao meu capitão... Se não se importar, irei comer no meu quarto.

   -Faça como quiser... –respondeu antes de levar o Gohan a sua boca. Com a aprovação, a garota pegou a bandeja e preparou-a, discretamente, pegando um pouco a mais de comida. Terminando, levantou-se cuidadosamente, e quando ia sair para o corredor, ele falou:

   -Fale para o Ichigo Kurosaki vir depois a minha sala. –as palavras ditas fizeram a shinigami gelar-se na hora, e ficou imobilizada por um tempo. Quase derrubou a comida, porém, nem isso pôde fazer de tamanho nervosismo. Começou a suar frio, a cabeça estava branca e só conseguiu dizer, sem mexer um músculo, ou seja, sem virar-se para ele:

      -S- sim!

       -E... Mais uma coisa: tem marcas vermelhas no seu pescoço... –aquilo espetou-lhe bem ao fundo e seu coração batia sem ritmo, de tamanha aceleração que estava.

   -S-s-s-s- sim!!- num rápido impulso, saiu correndo em direção ao seu quarto:

     -I- Ichigo! –o garoto ainda dormia tranquilamente, e a cena era extremamente terna e magnífica: banhado pelos raios da manhã, sonhava profundamente, debaixo do cobertor que cobria dos pés até a cintura, fazendo assim, exibir o seu corpo másculo e belo. No instante que o olhou, Rukia esqueceu totalmente do problema, e como hipnose, abandonou a bandeja no canto. Aproximou-se, e agachando, começou a acariciar os cabelos alaranjados do rapaz, admirando aquele rosto tão doce. Mas depois, voltou a si e desesperadamente, tentou acordá-lo, falando em voz baixa:

     -Ichigo! Ichigo! Acorda, Ichigo! Acorda!

      -Hmmm... Que foi? –ainda sonolento, pegou o braço da Rukia, puxando-a para si.

    -T- tolo! Não é hora para essas coisas!! –corada, afastou-se dele e continuou. –Temos um sério problema!

      -Hmmm... –ainda não despertava.

     -M-meu irmão sabe que você está aqui... –ao ouvir isso, o morango despertou-se rapidamente, erguendo-se e ficando sentado:

    -O QUÊ?

     -... e quer falar contigo...

   -Hã?! –encararam-se atônitos. -... E- e agora?

    -... Em todo caso se vista, trouxe a comida. Não se deve fazê-lo esperar

    E assim foi feito, sem se falarem muito, pensando apenas no que poderia acontecer. Dirigiram-se para a sala e antes de entrar, Ichigo sentiu a Rukia segurar fortemente a sua roupa por trás.

   -Ichigo... –ela estava extremamente nervosa e temia com as possíveis conseqüências, e ele sentiu isso nos olhos da baixinha.

    -Está tudo bem, Rukia. Nada vai nos separar. –o olhar do garoto parecia confiante, e isso diminuiu a insegurança dela; antes de entrar, Ichigo pousou a mão sobre a cabeça da shinigami, acariciou seus cabelos e por fim beijou-a levemente.

    Depois de vê-lo entrar e as portas se fecharem atrás das costas dele, Rukia agachou-se e abraçou os joelhos. Enquanto isso, o coração do morango batia freneticamente e suava frio:

     -L- licença. –Byakuya estava de costas para ele, escrevendo algo na mesa e permaneceu assim:

    -Sente-se. –o shinigami substituto andou os olhos pela cômoda e sentou-se no chão. O silêncio apenas piorava a situação, e ele simplesmente olhava o chão, e avistou uma xícara de chá a sua frente. Supôs que era para si, mas temera tomá-la.

    -Ichigo Kurosaki... –falou finalmente colocando o pincel, que estava na sua mão, à mesa.  Neste instante, que Byakuya se pôs em sua direção, Ichigo gelou. Repetia-se na sua cabeça para se acalmar; já o enfrentara antes, não havia motivos para temer; havia decidido que lutaria para ter a Rukia ao seu lado.

   Porém avistou o Senbonzakura ao lado do capitão. Começou a suar mais frio, estava indefeso, deixara o Zangetsu no quarto. Fugir com shunpo? Jamais, Ichigo não foge, e se fugisse, Byakuya o alcançaria rapidamente.

   -Vou direto ao ponto. O que veio fazer aqui? –era hora de tomar coragem e respondeu:

   -Vim buscar a Rukia.

   -Esta não é a primeira vez... Creio que esteja ciente que aqui é onde ela deve ficar. É contra   as regras permanecer por longo período no mundo real.

     -Eu não ligo para essas drogas de regras! Se é isso que eu quero, vou até o fim!

      -E o que você quer?

     -... É ter ela do meu lado.

     -Como amigos?

    -... É muito mais do que isso...

   -Tolice; você, apesar de tudo é humano; e ela, uma shinigami. Nada disso dará certo. Haverá enormes barreiras e problemas. A probabilidade de não serem felizes é grande, a ingenuidade não evitará isso.

    -Há, besteira! Isso é o de menos! O mais importante é estarmos juntos!

    -Não será fácil... Será capaz de enfrentar tudo e a todos?

   -Ô! Tô mais que determinado, sou capaz de tudo se a Rukia estiver ao meu lado! –ao ouvir isso, a garota que ainda permanecia atrás da porta, emocionou-se e seus olhos umedeceram. Byakuya, então, sem que o Ichigo tenha reparado, sorriu satisfeito levemente e levantou-se, assustando o garoto.

    -Um homem de verdade deve cumprir suas palavras. Jamais se esqueça disso. –e dirigiu-se para a porta e abriu-a.

    Rukia, sem-jeito, levantou-se rapidamente:

    -N- nii-sama! Me desculpe, eu... –mas sentiu novamente uma mão pousar sobre a sua cabeça. O olhar de seu irmão estava extremamente terna. Depois, ele virou-se e andou dizendo apenas:

    -Preparem as suas coisas. Irei ordenar para que abram o portão para vocês voltarem. –os olhos da Rukia brilharam e apenas conseguiu abaixar a cabeça para agradecê-lo. Ao se levantar, viu o morango ao seu lado. Se encararam, felizes com o que estava acontecendo.

   -Vamos para a casa. –estendeu ele a mão para a pequena.

  -Vamos.

  O futuro é algo incerto e imprevisível, não se sabe que amanhã virá. Porém, uma coisa os dois sabiam; a partir daquele momento nada poderia separá-los, e iriam continuar a seguir em frente lado a lado...

~Extra~

  -Yoruichi-saaan!!! Você acha que deu tudo certo??

  -Não se preocupe, o Byakuya-bou é bem calculista. Pelo contrário, acho que saiu melhor do que imaginou.

  -Hahaha! Tinha que ter visto a cara de cachorrinho abandonado do Kurosaki-san! Imagina se ele e a Kuchiki-san souberem que foi tudo planejado?

   -Ele ainda é um pivete... Nem conseguia se dar conta de seus sentimentos e teve de ser ajudado... Mas o Byakuya-bou também é um coração de manteiga, hein? Fez tudo isso para juntar os dois e ver se o Ichigo merecia a Rukia...