Rukia não queria acreditar no que sentira, mas ao mesmo tempo seu coração estava batendo a mil. Saiu correndo entre as hortênsias, até chegar aos fundos da mansão Kuchiki, onde várias cerejeiras floresciam lindamente, enfileiradas desordenadamente formando até algo semelhante a uma pequena floresta. Os ventos batiam entre elas, e as pétalas dançavam magnificamente. Debaixo desta chuva rosada, a shinigami andava em meio à escuridão intensa, guiada pelo Shakkahou, e avistou uma sombra a diante. Neste momento, as nuvens deram licença para a lua reaparecer, e as suas luzes azuladas atravessaram entre as flores e iluminaram levemente ao redor, mas o suficiente para ela ver a pessoa que estava a sua frente.

            - ... I-Ichigo... – ela falava baixo, queria ter certeza que o que via era real, e não apenas um delírio

            - Rukia... – ao finalmente se encontrarem, a vontade de ambos era se abraçarem, mas:

            - S-seu tolo! O que faz aqui na casa de meu irmão? – realmente ela queria correr na direção de Ichigo e abraçá-lo, mas a sanidade falava mais alto.

            - Tsc, que saco! Já vai logo gritando comigo... O que mais acha que vim fazer, a não ser para te buscar?

            - Mas falei para que não viesse me procurar! Para me esquecer! Por que você nunca me ouve?

            - Porque quando você abre a boca é para falar asneira?

            - Como assim? Você não sabe de nada!

            - Então me fala! Você foi embora sem dizer nada!

            - É mais complicado do que você imagina... – Ichigo magoou-se ao ouvir isso. Será que a garota não confiava nele? Será que acreditava que ele não era capaz de compreendê-la?

            - Qual é?! Por que você nunca conta as coisas para mim? – ele estava começando a perder a paciêcia

            - Ah é? Então, por que você se importa tanto assim comigo? – ela respondeu no mesmo tom que Ichigo usava.

            - ... Porque... eu... – as palavras não saíam. Ao olhar a expressão inquietante dele, Rukia virou-se de costas para o garoto.

            Os segundos se transformaram em horas, e nenhum dos dois ameaçava falar algo, ela permanecia de costas, e ele olhava o chão, tentando encontrar palavras, mas a garota quebrou o silêncio antes.

            - Ah, desculpe, é “obrigação” para você, né? Mas saiba que não precisa mais carregar esse “peso”, porque não vamos nos ver mais. – as lágrimas estavam quase transbordando de seus olhos e a voz saía tremula – Vá embora antes que meu irmão perceba a sua pressão e não ouse mais vir aqui... Adeus... – Rukia sem se virar, correu em disparada entre as pétalas da cerejeira.

            - Rukia! Rukia! – Ichigo gritou e foi atrás dela, alcançando-a no jardim, pegou em seu braço. – Ei, olha pra mim! Olha pra cá! – como ela não obedeceu, ele a puxou, fazendo-a virar. A shinigami derramava, uma atrás da outra, lágrimas que refletiam a luz das luminárias espalhadas pelo local.

            - Me solte! Me solte, Ichigo! – tentou puxar o braço, tão fino e delicado, mas como não dava resultado, começou a empurrar o morango, na tentativa de se soltar, porem nada adiantava. Enquanto isso, Ichigo suplicava-lhe:

            - Ei Rukia, Pára! Me ouve! Eu... – Mas ela continuava inquieta, se debatendo, então, sem conseguir mais vê-la chorar daquele jeito, ele puxou-a para si e abraçou-a fortemente, tão frágil e pequena entre seus braços.

            - ... I... chigo... – no mesmo instante, sentiu suas forças se esvaírem, e a shinigami permaneceu imóvel, sentido o abraço forte e delicado dele, até que ela sentiu uma gota de água cair no seu ombro, e em seguida uma gota lá, outra cá começaram a cair até formar uma chuva.

            Mesmos molhados, nenhum dos dois sentia frio, pelo contrário, estavam sentido um calor que jamais tiveram e que desejavam tanto, mas Rukia, como se voltasse a si, tentou resistir:

            - P-Por favor, Ichigo... Solte-me... Não faz isso comigo... – no entanto a voz saía fraca, já que ao mesmo tempo que queria permanecer ali, ela não queria que ele a chamasse, que ele a tocasse, que ele a abraçasse, se não assim, ela iria desejá-lo mais ainda, a ponto de não conseguir resistir-se, mas, continuando a envolvê-la, Ichigo aproximou a boca do ouvido da pequena:

            - Rukia... Foi mal... Não é obrigação, eu apenas... – aquilo não era seu forte, não conseguia transformar os sentimentos em palavras... Então, os dois se encararam. Com uma mão ainda envolvendo-a pela cintura, ergueu a outra e pôs no rosto da garota; enquanto contornava com o dedão os lábios dela, foi acariciando o pescoço, atrás da orelha, a nuca, até chegar aos cabelos úmidos, e entrelaçou-os entre os dedos.

            Sem desviar em momento algum o olhar ao do outro, a proximidade foi aumentando pouco a pouco, cujos segundos pareciam horas, as gotas de chuva percorriam cada vez mais rápido pelo rosto de ambos, contornando cada curva, Rukia agora sentia o hálito quente de Ichigo perto de sua boca, um lado sua mente lutava para sair dali, enquanto o outro ansiava pelo contato. Timidamente as mãos de Rukia foram ao cabelo alaranjado do morango, diminuindo, ainda mais, a distancia entre eles, agora foi a vez de Ichigo ficar inebriado com o hálito e o cheiro de Rukia, ele adorava o cheiro dela, seu calor, seu hálito quente, há quanto tempo que ele desejava esse contato? Desde quando o sentimento tinha evoluído? Nem ele sabia, quando deu por si, tudo já estava acontecendo. O dois continuavam se encarando, as roupas já estavam praticamente todas molhadas, coladas ao corpo devido a chuva.

            A garota já não queria mais resistir e entregou-se lentamente, fechando os olhos, e começar a sentir os lábios de Ichigo sendo prensado aos seus em uma carícia aconchegante e amorosa, fazendo com que os sentimentos de ambos fossem expressos por essa ação e não por palavras; ambos eram inexperientes no que faziam, mas como se fosse um instinto, Ichigo decidiu aprofundar o beijo, o que começou com apenas um leve roçar de lábios com muita ternura e amor, se tornou em um lindo beijo cheio de paixão, ele fez com que sua língua pedisse passagem para a boca de Rukia, que a entreabriu, um leve gemido foi abafado pelo contato das línguas de ambos, agora Rukia provava cada canto, e sentia o gosto do delicioso morango e vice-versa, as línguas travavam uma gostosa batalha, mas foram obrigados a se separar devido à falta de ar de ambos.

            Se encararam ofegantes, a chuva que caia não conseguia diminuir a alta temperatura dos dois, que estavam inexplicavelmente felizes, finalmente obtiveram aquilo que tanto desejavam, mas não era o bastante, queriam mais. Enquanto tomavam fôlego, Ichigo encostou a testa na da shinigami e o ato fez com que ele olhasse para baixo. A pele branca e suave que saia do quimono branco atraiu seus olhos e viu que a roupa que ela vestia estava transparente e muito colada, deixando marcar claramente cada curva de seu corpo e sua pele; os seios então, debaixo daquele tecido, apareciam belamente, delicados e formosos, o garoto nunca havia visto algo tão bonito e encantou-se.

            Admirou aquele ser magnífico por um instante até cair em si. Corou-se como um morango (mas ele é um Morango!), afastou-a de si e olhou o chão.

            - ... Que foi Ichigo? – ela o olhava com uma cara curiosa

            - ........... – não conseguia dizer nada, e sem querer, os olhos voltaram para Rukia, em foco, naquela direção.

Então ela seguiu o olhar dele, e percebeu a situação. Corou-se tanto quanto ele, soltou-se do abraço rapidamente e posicionou os braços de tal maneira que cobrisse o peito e virou-se de costas:

            - T-TOLO! O que você está olhando? – sua cara estava toda vermelha com a situação

            - Ah, i-idiota! Eu não tenho culpa! – ela não sabia onde enfiar a cara, estava extremamente sem-graça, colocou uma das mãos na cabeça e olhou para o lado.

Mas de repente, ela sentiu algo lhe cobrir as costas, era a parte de cima da roupa de shinigami do garoto. Ela então, virou o rosto e viu Ichigo cabisbaixo, vermelho até a orelha

            - Usa isso aí...

- M-Mas está molhado...

            - Melhor do que f-ficar com a roupa transparente!

            - O-Obrigada. – encolheu-se um pouco, segurando a roupa, aproximou as mãos ao rosto. A chuva não levava embora o cheiro do rapaz, que emanava pela roupa e não estava sentindo nem um pouco de frio. Discretamente, olhou para Ichigo. Aquele corpo másculo e forte, por onde as águas da chuva escorriam, contornando cada músculo bem definido; os braços potentes, pelos quais ela sempre sonhara estar envolvida, e no peitoral nu e bem malhado, na qual desejara estar mergulhada... E tudo aquilo, era apenas seu...

            - Melhor você entrar... – interrompeu o rapaz de seus pensamentos.

            - Hã? Ah, é verdade... Venha, você também deve se secar.

            Silenciosamente, entraram no quarto de Rukia diretamente pelo jardim. O coração de ambos batiam a mil, apesar de não ser a primeira vez que estavam a sós num quarto à noite.

            - Espere que irei pegar uma toalha para você.

            - Ah, valeu. – quando ela saiu do quarto, ainda com luzes apagadas, Ichigo sentou-se no chão, encostando-se na parede.

            Passou-lhe pela cabeça um monte de coisas: a discussão, a angústia que ele sentira durante a ausência de Rukia, a emoção de reencontrá-la, as suas lágrimas, o seu cheiro, o beijo intenso, o seu sabor, o corpo dela sob a roupa branca... Ao relembrar isso, corou-se de novo. O que devia fazer agora? O que tem de fazer? O que iria acontecer?

            - Toma. – a voz da pequena fizera-o voltar de seus pensamentos. Ela estava bem ao seu lado, em pé, ainda com o quimono branco pingando, a roupa do garoto por cima, estendendo a toalha para ele. Os dois se encararam.

            - Ah, valeu. – pegando, ele colocou a toalha sobre a cabeça e olhou discretamente para o lado e viu a garota com a toalha cobrindo as costas e os ombros sentar-se próxima de si. Permaneceram quietos, olhando a chuva que ainda caía lá fora.

            O som dela sempre desagradou Ichigo, já que nunca trazia boas lembranças; mas no momento, parecia até uma melodia serena... Depois de ter se encontrado com Rukia, o seu mundo mudara gradativamente, e ela dissipara a chuva que caía nele, como uma luz. E ele não queria mais perdê-la, jamais.

            Quando ia virar-se para ela, esta, levantou-se e disse:

            - Pode dormir aqui, eu irei para o quarto ao lado... – a shinigami agiu contra a sua vontade, no momento, mais do que nunca, queria ficar ali, mas estava com medo, insegura... Tudo aquilo com o qual sonhara tanto estava se realizando, mas temia que isso não passasse de uma mentira, a ao acordar descobrisse que não passou de um sonho... No entanto, quando abriu a porta sentiu aquele calor envolver-lhe novamente: Ichigo abraçava-lhe por trás.

            - Fica aqui.

            - T-Tolo! O que está dizendo?

            - Já te deixei escapar uma vez, agora não vou deixar mais.