Perdida no Escuro escrita por Jess-k


Capítulo 7
Velhas Recordações




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A tarde daquele dia que começara ensolarada escureceu de repente...Às dezesseis horas o tempo fechou e o céu anunciou a chegada de uma verdadeira tempestade com vários relâmpagos, vindo brevemente uma ventania e logo mais a chuva de granizo. Foi quando eu me deitei no sofá encolhida com frio pensando em estar num lugar diferente perto de quem eu estava sentindo falta para me proteger e me aquecer do frio cortante daquele momento.

Derry me esperava na mesma sala aonde eu estudava, sendo que ela estava completamente vazia e silenciosa (o que nunca é de costume). Ele olhava atentamente lá fora, estava de pé ao lado da janela com as mãos no bolso e o seu velho casaco preto, seu interesse pela tempestade era incomum, porém, eu já suspeitava que aquelas pequenas pedrinhas de gelo iriam chamar-lhe atenção. Ele estava bem mas eu, tremia de frio, apesar que ele estava vestido adequadamente enquanto meus braços estavam nus a cobrir o resto do meu corpo e as minhas pernas tremiam junto com os meus dentes a trincar...Eu mau sentia meus dedos e os meus pés.

O vento que invadira a sala e entrara pelas janelas subira meu corpo de cima a baixo, sorte que Derry notou a minha quietude e tremedeira e as fechou rápido, eu quase cheguei ao ponto de congelar diante dele.

Outro relâmpago surpreendeu-nos com seu ruído estrondoso e causou um blecaute e ficamos alguns míseros segundos na mais plena escuridão, não que alguém tivesse ficado assustado, mas as coisas realmente estavam saindo de controle hoje.

- Minha nossa!Essa tempestade veio com força total, eu nem imaginava que seria tão devastadora assim...- Lá vinha Derry caminhando completamente fascinado pelos fatos inusitados que aconteciam repentinamente em Santos. Ainda senti uma leve preocupação dele quanto ao frio que eu sentia, ele tirou o casaco e me cobriu com ele, separou duas cadeiras lado a lado e nós nos sentamos – Não se preocupe, suponho que a tempestade vai acabar logo por causa da força com que ela se iniciou...É, foi uma oportunidade única de ver o gelo novamente.

Derry colocou seu braço direito em meu ombro para tentar me proporcionar um pouco mais de conforto, me senti até aliviada por não estar chateado em notar meu silêncio hoje, parecia que minha voz estava perdida em algum lugar da minha garganta e que  minha cordas vocais tivessem sido cortadas,e eu não tinha forças para lutar contra a minha vontade indesejável de manter a boca fechada, só observava os movimentos graciosos das mãos de Derry passando de meu ombro ao meu braço muito devagar e dele inspirado a tornar aquele momento agradável com sua legítima simpatia relembrando algumas recordações do lugar aonde vivia

- Sabe, eu estou acostumado com o frio, na Inglaterra é muito comum nevar. A imagem é fabulosa: toda a cidade fica coberta de neve, as aulas são canceladas enquanto isso e as crianças ficam brincando nas ruas. Confesso que sinto falta daquele clima gélido, é impossível esquecer nossas raízes... Mas não me arrependo de ter deixado minha casa, as coisas mudam e o mundo gira rápido demais para se parar e pensar nisso, eu só sei que estou aqui com você agora e estou feliz.

Eu notei que ele ficou sério depois de começar a falar de si e do que sentia falta, ele estava se abrindo um pouco comigo, esse era um bom sinal, indicava confiança, mais um indício que a nossa relação estava se tornando cada vez mais firme.

Os olhos de Derry se perderam pela sala, ele ficou longe, perdido, tanto que a mão que estava em meu ombro se deslocou contra seu peito, como se uma dor o atingisse do fundo da alma. Deitei minha cabeça sobre o ombro dele e fechei os olhos.

O vazio daquela sala causava um silêncio que se quebrava somente pelo som da chuva atingindo o piso de concreto afora pelas extremidades da escola, tudo aquilo me enfatizava a adormecer...Não demorou muito para assim ocorrer, o último movimento de Derry antes dos meus olhos se fecharem completamente foi uma leve carícia em minha nuca acompanhada de um sussurro dito carinhosamente:

- Durma bem.

Eu acordei na sala da minha casa e a esse tempo a tempestade já havia passado, o céu encobriu-se de um azul marinho sombrio, a escuridão que me cercava anunciava que a noite chegara despercebidamente enquanto eu dormia. Meu corpo estava dormente e minhas mãos se encontravam tremendamente frias, senti a falta do atrito das mãos de Derry em meu ombro, tentei adormecer novamente, contudo, foi uma tentativa em vão. Levantei do sofá devagar e caminhei até a janela para observar o movimento dos carros na rua e acabei voltando a lembrar dos olhos ofuscados e perdidos de Derry, quando a saudade bateu forte em seu peito e a dor o cobriu de tristeza por dentro.

  "Às vezes, deixamos partes de nós para trás, podemos enterrar a saudade mas o sentimento verdadeiro não se apaga, sua chama reacende a todo momento e fere nossa alma como um fascínora cruel e impiedoso que nos tormenta todas as noites”


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