Perdida no Escuro escrita por Jess-k


Capítulo 1
O começo de uma linda mentira




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/53467/chapter/1

Eu acordei feliz, supostamente ao menos...Esse era um dia fabuloso, minha velha amiga Cinthia que havia se mudado para outra cidade na região Sul veio para Santos nessas férias, ela me ligou para combinarmos de ir ao shopping ver um filme e hoje era o grande dia, fazia tanto tempo que eu não a via que esperava me surpreender com sua aparência atual.

 Não era exatamente um dia ensolarado, estava nublado, eu atravessei a rua rapidamente e cheguei na praça movimentada aonde se localizava o shopping, pessoas andavam rápido para todos os lados, entre ela apenas um chafariz, que deixava o ambiente que nos rodeava úmido, um local agradável para se ficar em dias calorentos mas hoje não era o caso.

 O relógio marcava 14:29, eu tinha chegado com um minuto de antecedência como de costume, sempre sou muito pontual quando marco de sair com alguém, uma atitude que inconvenientemente não se tornou recíproca para a maioria dos meu amigos. Surgiu então uma voz que me chamou das escadas da entrada do shopping, era Cinthia, seu físico havia se conservado do mesmo jeito desde que ela se mudou mas, seus cabelos já não eram mais castanhos com mechas loiras...Estavam vermelhos num tom alaranjado com certo ar indiscreto, porém, não muito chamativo. A pele dela estava clara como nunca, magrela e simpática, seu rosto fez aquele sorriso do qual não via por dois longos anos, lindo, radiante, Cinthia vestia uma camisa de seda longa, fazendo parecer um vestido, com um short curto (muito curto mesmo), entretanto, nada vulgar, a roupa só acrescentava a beleza dela, tenho que ser sincera, ela estava muito mais bonita agora.

 - Oi, Jessica. Nossa, que saudade, faz tanto tempo... – Ela estava aparentemente animada mas a voz não mostrava isso, era calma e relativamente baixa, encontrei todos os detalhes esquecidos na memória, o jeito dela era assim, mas, várias coisas ficaram guardadas, minhas lembranças voltaram numa enxurrada de recordações parciais, a sensação era ótima e eu estava feliz em poder vê-la tão perto novamente.

 - É, como você está diferente, gostei do cabelo. – Eu não sabia bem o que dizer, existia tanta coisa que eu queria falar para ela mais não lembrava de nada, deu branco na hora, eu só focava meu olhar no dela, jurando que aquilo era um sonho dos que eu não queria acordar nunca.

  No período de férias o shopping ficava cheio de gente o dia inteiro, nesse não podia ser diferente, enquanto caminhávamos até a escada-rolante, Cinthia me contava como as coisas em Blumenau eram diferentes, ela disse que lá os meninos ficavam xavecando as garotas por todos os lados e que ela já chegou a jogar o sorvete na cara de um por ter ficado brava dele a perseguir.

 Quando chegamos ao segundo piso, não sabíamos o que fazer direito, passamos pela loja de roupas e olhamos durante alguns minutos até concluirmos que era melhor ver um filme, o melhor que tinha em cartaz era Crepúsculo, então, compramos os ingressos e ficamos dando voltas pelas lojas até chegar a hora do filme. Ao meu ver, Crepúsculo era um filme de terror, com vampiros, só podia ser... Foi um engano, Cinthia me alertou, e eu me desapontei, afinal, eu sempre fui fã de carteirinha de massacres e caras assustadas nos filmes de terror.

 Mesmo pensando que o filme seria um lixo, eu fiquei ansiosa já no balcão da lanchonete. Eu comprei um refrigerante e a Cinthia comprou pipoca salgada e refrigerante, nos dirigimos a sala e sentamos nas poltronas localizadas no centro daquela sala enorme, o ambiente estava mórbido, principalmente por causa da musiquinha clássica que o cinema dispunha para entediar o público. De repente, interrompe a música para dizer: “Essa é a rádio Cinemark”

 - Essa rádio cinemark é péssima. Eles deviam ter vergonha de colocar isso para a gente ouvir!– O senso de humor era outro ponto fortíssimo da Cinthia, isso era algo que tínhamos em comum, alias, era impossível ignorar o ambiente daquela sala, as pessoas sentadas nos outros lugares estavam tão entediadas quanto a gente, aquilo estava mais pra um enterro do que a apresentação de um filme.

- Eles ganhariam muito mais sintonizando numa rádio de rock, mas não...Resolvem nos torturar com essa música clássica. Parece até que só tem velho nessa sala. – Não sou preconceituosa, mas, sejamos sinceros, acho que quase ninguém gosta de música clássica nesse mundo...

 - Verdade, mas acho que o filme vai ser legal.– Rimos muito antes mesmo de começar, nada poderia estragar aquele dia, ao lado da minha velha amiga até as coisas mais toscas podiam ser artifícios para nos divertirmos.

 - É mesmo? – Respondi incrédula sem tantas expectativas.

 - Meu irmão viu... – Ela encheu a mão de pipoca e colocou na boca para terminar de falar. – Ele disse que é muito bom. – Eu juro que tentei não rir, entretanto, gargalhei alto e ela ficou me olhando sem compreender o que se passava.

 - Vou reproduzir o que você acabou de fazer... – Peguei algumas pipocas, não tanto quanto ela e enfiei na boca imitando a última frase, dessa vez, nós rimos juntas, duas bobonas em crise de riso no escuro da sala (quase ninguém notou, só todo mundo).

 Aleluia, a sala entrou em completa escuridão por cerca de alguns segundos e a tela foi iluminada com alguns trailers de filmes que entrariam brevemente em cartaz, não demorou muito até o filme começar...

 Bella e Edward, que casal lindo, confesso que para um filme de romance misturando vampiros e momentos dramáticos a história foi super bacana, mas é obvio que não escapou dos nossos comentários satirizando-os.

(Quando Edward beijou Bella pela primeira vez, as meninas sentadas a nossa direita ficaram histéricas como se isso fosse lá grande coisa)

- Alguém joga um sapato nelas para elas pararem com essa frescura? – Eu disse brincando e em voz baixa, elas estavam em maior número e eu não pretendia sair da sala de maca.

-  Elas devem ser fãs...Que comportamento ridículo, parece que nunca viram um beijo na vida! – Em matéria de zoação, o céu era o limite, tive que segurar o riso para não incomodar aos “vizinhos”.

(A parte mais engraçada, quando a família Cullen foi jogar beisebol e a Esme colocou o boné, preciso comentar o que ela tava parecendo?)

 - A Esme parece uma pedreira com esse boné – A Cinthia murmurou e eu tapei a boca pra não rir tão alto quando vi o tufo embolado dentro do boné, coitada...

No momento em que James encurralou Bella na sala de espelhos ela saca o “mortífero spray de pimenta” e espirra nos olhos dele)

 - Como se fosse adiantar alguma coisa...- Nessa hora, James sai correndo atrás dela e a joga no chão brutalmente entre os estilhaços de vidro e morde o pulso dela – Bem feito!Pra aprender a arranjar uma solução decente. – Se bem que ela não tinha outra escolha...Mas e daí?O importante é rir, teve horas em que o meu maxilar começou a doer de tanto que nós rimos das partes mais patéticas.

 Tirando as partes de risos, o resto do filme foi serio, eu adorei, superou as minhas expectativas e me deixou até estranha, é isso que acontece quando você fica quase duas horas sentada numa sala escura curtindo os efeitos sonoros e o frio do ar condicionado.

 No fim, Cinthia voltou para casa com os pais dela e eu segui o meu caminho, porém, eu me sentia diferente, fiquei quieta e pensativa, imaginando coisas além do que eu achava que era capaz, eu tinha a sensação estranha que alguma coisa tinha mudado a partir daí, mas o quê? 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perdida no Escuro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.