Alice ainda estava na janela fazendo sinal para que eu pegasse o telefone. A verdade é que eu tremia, não conseguia mexer nem sequer um músculo. Depois de alguns minutos tentando digerir a noticia, acreditei que Alice poderia ter visto alguém parecido, não poderia ser AQUELE Edward Cullen.

Peguei o telefone e coloquei no ouvido outra vez.

-Bella, você está bem? –na verdade nem eu sabia se estava.

-não pode ser ele Alice. –eu falei baixo, quase um sussurro. Como se o assunto fosse proibido.

-custei a acreditar também Bella, mas é ele. A não ser que Tânia tenha outro primo muito parecido com ele. –um alivio tomou conta de mim.

-é isso Alice. Pode ser outra pessoa muito parecida. O irmão dele por exemplo. –falei sorrindo e Alice suspirou.

-pelo que eu me lembro Emmett e Edward eram bem diferentes. Mas, deixe me ver... –ela fingiu pensar por um segundo. –cabelos castanhos avermelhados, olhos castanhos ou verdes (nunca entendi aquela cor de olhos, Bellinha), hm... Cabelos revoltos e... Já disse que ele está forte e muito bonito? –minha boca caiu. Sim, era Edward Cullen.

-ele está bonito? –a pergunta saiu sem querer, quase como se ela tivesse tomado conta de minha boca.

-muito... E estava brigando com Tânia. Acho que certas coisas não mudam. –assenti a olhando, sem fechar a boca.

-eles sempre brigavam. Na verdade Tânia ainda o odeia. –dei de ombros.

-Bella, estamos fugindo do que realmente interessa. Por que Tânia não contou a você que ele estava aqui? –tentei vasculhar minha cabeça para achar alguma informação para defender minha amiga, mas nada encontrei. –ela contou?

-não. –admiti por fim.

-Bella, apesar de saber que isso te faria ficar... Do jeito que você está, digo... Desesperada, eu ainda contaria a verdade a você. Não importa se ela estava tentando te proteger ou não. –suspirei.

-ela... Não é como nós Alice. –minhas mãos ainda tremiam. Com certeza eu não esperava que o fantasma voltasse agora.

-tudo bem, mas tente falar com ela. Não deixe isso passar. –eu sabia que era um conselho certo. Não importa o erro, tente conversar.

-estou indo tomar café da manha na padaria, gostaria de vir? –ela sorriu mudando de assunto e outra vez quase deixei o telefone cair.

-piro? Não saio daqui até o fim de semana acabar. Quer dizer... Ele vai embora quando acabar o fim de semana, não vai? –Alice deu de ombros na dúvida.

-o que eu vou dizer... Eu não sabia que ele tinha voltado aqui depois de tanto tempo, mas é natural que venha ver os tios e primos... Acho que ele vai embora no domingo, as aulas dele devem começar na segunda também, como as nossas! –assenti.

-eu sobrevivo até domingo então. –ela riu um pouco.

-tudo bem, vou trazer alguma coisa para você comer de qualquer jeito. –assenti violentamente.

-obrigada. –e então coloquei o telefone no gancho, vendo Alice sair de seu quarto.

Deitei na cama novamente e olhei para o teto, tentando fazer com que as batidas do meu coração voltassem ao normal. Eu não podia acreditar. Não conseguia imaginar... Era como se fosse apenas mais uma brincadeira comigo.

Tinha acontecido há muito tempo e nós nunca mais tínhamos nos falado. Desde que ele foi morar em Forks e nunca mais voltou eu fiz questão de apagar qualquer coisa que tivesse ficado. Qualquer sinal de amizade que algum dia existiu. Na verdade já não existia amizade quando ele foi embora. Nunca entendi o que aconteceu de verdade, ou o motivo por ele ter feito tudo aquilo comigo, mas o que importava de verdade agora é que ele estava de volta e eu não me permitiria me perder novamente em suas mentiras.

Mas nem se a terra estiver acabando eu saio de casa esse fim de semana, eu me prometi rolando outra vez e encarando a parede ao meu lado. Não importava se eu tivesse que fazer as compras do mercado ou ir a casa de Alice buscar uma xícara de farrinha. Eu não sairia.

Desci rapidamente as escadas. Ainda era cedo e eu não costumava acordar tão cedo nos sábados, principalmente por que eu tinha que trabalhar... DROGA! Trabalhar... Terei que ligar para Claire e dizer que estava doente. Não importa que fosse uma mentira, valeria à pena se eu não precisasse sair de casa e correr o risco de encontrar com ele.

Porem uma coisa estava me incomodando. O que Alice dissera era verdade. Não importava quanto machucada eu ficaria o importante é a verdade. Mas obviamente Tânia não pensava dessa forma. E o que Alice quis dizer com “o resto do bando”? Quer dizer que todos sabiam que ele estaria na cidade e não me disseram? Nem que fosse para eu me trancar em casa?

Oh minha nossa, o que estava acontecendo comigo? O que estava acontecendo com todos?

[Alice]

Eu mataria aquela lambisgóia de uma figa se ela estava pensando em magoar minha melhor amiga. Tudo bem, eu poderia entender o motivo de “proteção” se fosse realmente aquilo que ela estava pensando, mas eu ainda não perdoava. E isso não era apenas porque eu não gostava dela, mas sim por que ela era... Uma... ARGH! Não existem palavras para descrever aquela pessoa (se é que ela pode ser chamada assim).

Com esse pensamento eu continuei caminhando até a padaria, onde eu pretendia tomar um suco de laranja natural e comer um sanduíche de atum... Sabe como é, calorias não são legais.

Entrei na padaria como sempre e logo fui para a minha mesa de sempre (é claro que eu sempre tinha a companhia de Bella, mas ela estava impossibilitada dessa vez por causa de uma amiga fura olho... Bem básico), onde eu tinha a visão para todo o local. Logo a garçonete veio me atender.

-bom dia Alice, onde está Bella? –Lu perguntou.

-ela não vem hoje está... Estava com sono. –respondi com um sorriso.

-tudo bem, já sabe o que vai pedir?

-si... –e então minha boca caiu, quando eu olhei para o outro lado da padaria, uma mesa em que apenas uma pessoa sentava.

Automaticamente roubei o cardápio que Lu segurava e coloquei na frente do meu rosto. Não podia acreditar no azar que eu tinha, logo agora que eu nem tinha tomado meu café da manha?

-Lu, suspende o pedido. –falei sussurrando. –mas eu preciso de dez pães de queijo para levar.

-tudo bem Alice, vai querer agora? –ela falou alto.

-SHHHH!! Para ontem! –eu falei e olhei novamente para o menino de cabelos acobreados.

Ela saiu e eu logo peguei minha bolsa (rosa de plumas é claro... É o ápice da moda), procurando o celular. Dessa vez eu tiraria uma foto para mostrar como Edward estava bonito para Bella. Mas assim que eu levantei a cabeça para procurá-lo para tirar a foto, percebi que a mesa estava vazia. Como ele tinha conseguido isso?

Continuei procurando com os olhos timidamente, não queria levantar suspeitas sobre o meu paradeiro. MENTIRA DESLAVADA! Eu já estava com o cardápio sacudindo de um lado para o outro, tentando avistar o menino, até que...

-você não é Alice Brandon? –aquela voz rouca tocou como um sino e era bem diferente da que eu me lembrava. Virei sorrindo e congelei, mas já era tarde de mais por que meu dedo ainda estava no botão do celular e então assim que o olhei o celular fez o maldito barulho de “FLASH”, que antes eu achava tão glamoroso.

-NÃO! –berrei imediatamente.

-ah... Parece muito com ela. –Edward insistiu.

-é... Eu sou... É... Lúcia é isso, meu nome é Lúcia... Irmã gêmea de Alice. –sorri cínica.

-não sabia que Alice tinha uma irmã gêmea. Achei que ela fosse filha única. –engoli seco.

-ela... Não fala muito de mim. –sorri desesperada.

-hm... Eu sou Edward... –ela piscou como quem espera por uma reação.

-não tenho idéia de quem é você, por sinal nunca vi mais gordo e de cabelo ensebado. –Lu me entregou o pacote de pães de queijo.

-aqui está Alice. –engoli seco e ele ergueu uma sobrancelha.

-ah... Sabe se Bella... –engoli seco e levantei.

-não sei de quem você está falando. Você precisa de um médico sabia? Parece um louco! LU COLOCA NA CONTA DAS GAROTAS BRANDON! –e sai correndo porta a fora.

AH MINHA NOSSA, E AGORA? ME MATO OU DEIXO QUE BELLA FAÇA ISSO?

[Bella]

Não conseguia mais dormir. Desisti e voltei para o computador, Tânia estava conectada. Depois de respirar três vezes, tomei coragem e fui falar com ela. Não poderia deixar as coisas da forma que estavam.

Bella: Oi Tânia. (:

Tânia Htinha: Oi Bella.

Bella: como está?

Ela demorou para responder e para dizer a verdade estava começando a surtar.

Tânia Htinha: bem.

Ótimo!

Bella: o que fez ontem?

Agora era a hora da verdade.

Tânia Htinha: Nada, depois que saí do “Ville’s” eu fui para casa e dormi até agora.

Ela não tinha a intenção de me contar a verdade então. E mais uma vez, Alice tinha razão.

Bella: ah, é claro.

Tânia Htinha: Bella eu vou... Voltar a dormi. Até, beijo.

Bella: Beijo.

Logo após ela terminar a conversa, Alice invade o quarto, segurando um pacote de papel pardo, vermelha, com uma mão no peito e respirando com dificuldade.

-Bella... –ela começou a falar.

-você tinha razão Alice, ela não ia me contar. –ela suspirou e veio para o meu lado.

-Bella, ainda não aprendeu? Eu sempre tenho razão, se bem que... Pela primeira vez eu não estou feliz por isso. –ela deu de ombros. –o que aconteceu?

Mostrei a ela a conversa e ela apenas assentiu para si mesma, perdida em seus próprios pensamentos. Novamente a olhei e percebi que o papel pardo estava guardando pães de queijo e sorri pegando um.

-por que trouxe tantos? –perguntei a tirando de seus pensamentos.

-é para mim também, venha até aqui. –ela me arrastou até a cama e me fez sentar.

-não ia comer lá? –ela engoliu seco.

-Bella, Edward estava na padaria. –minha boca caiu.

-como é? –ela assentiu.

-por favor, diga que ele não te viu. –ela revirou os olhos.

-é... Hm... Viu, mas não se preocupe. Eu menti dizendo que era minha irmã gêmea. –ela sorriu se sentindo esperta.

-Alice, ele sabe que você não tem uma irmã gêmea. –com uma careta, ela olhou para baixo.

-é... Ele disse isso também. –me joguei para trás, novamente fitando o teto.

-tudo bem... Ele não deve se lembrar de mim de qualquer jeito. –ouvi quando minha prima limpou a garganta.

-sinto estragar sua doce ilusão, mas... Ele ia perguntar de você se eu não tivesse saído correndo como uma louca. –levantei rapidamente, a tempo de vê-la dando de ombros.

-ele ia perguntar de mim? –ela assentiu. –e você saiu correndo?

-o que você queria que eu fizesse? Tem noção que eu falei que meu nome era Lúcia? Se eu ficasse lá por mais dois segundos eu já estaria respondendo por Antonio! –ri um pouco.

-tudo bem , está perdoada.

Voltei a olhar para o teto. O que eu iria fazer agora meu deus?

-Bella? –a olhei. –o que vai fazer a respeito de Tânia?

-não sei, pretendo conversar com ela... Somos amigas há muito tempo de qualquer forma, não pode acabar assim. –ela sorriu tristonha.

-sei que vai dar um jeito nisso, mas se precisar de alguém para meter a mão na cara dela... Eu sou candidata, certo? –ri outra vez.

-é claro que é.

O resto do fim de semana foi quase normal. Eu não saí de casa como o previsto. Inventei uma virose extremamente contagiosa e Claire me dispensou no mesmo instante, temendo por seus clientes imagino. Alice vinha ficar comigo o dia inteiro e à noite passávamos horas no telefone ou trocando bilhetes pelo varal.

Finalmente segunda-feira chegou e eu estava mais animada. Finalmente não tinha mais o medo de sair e dar de cara com Edward Falso Cullen por aí. Coloquei a roupa que Alice tinha escolhido no dia anterior, dizendo que: “Ano novo, vida nova”... Ela só tinha se esquecido que estávamos em agosto. Feita a promessa de não ficar longe de minha prima por sequer um segundo fomos para o colégio, sendo recebidas por alguns olhares curiosos por causa da roupa de Alice (saia, Blusa frente única rosa, sandálias de salto-alto e os cabelos espetados).

-falará com Tânia no intervalo, certo? –Alice me encorajou.

-não pode ser no ano que vem? Eu to bem assim. –ela bufou.

-É claro que não, se for para bater nela que seja hoje. –Alice respondeu com um sorriso e eu ri alto

Porem minha gargalhada foi interrompida por um sorriso perfeito, por olhos castanhos esverdeados tão profundos, cabelos cor de bronze que me davam pesadelos até hoje. Congelei onde estava e continuei olhando para seus olhos. Ele tinha me visto, pois ele também me encarava.

-o que foi Bella? –Alice ao meu lado perguntou, ainda com um sorriso.

Comecei a fingir que estava passando mal, me curvando e escondendo meu rosto.

-Alice... –eu chamei desesperada.

-o que fo... Ah meu deus do céu... Fudeu! –ela falou. Quando Alice está em pânico ela fala exatamente o que está pensando, então acho que puderam ter uma boa idéia de seus pensamentos no momento.

-eu vou fingir que estou passando mal, me leva para a enfermaria. –sussurrei.

-piro, eu não agüento nem te arrastar! –respirei fundo e, ainda sussurrando:

-então passa mal que eu te arrasto...

-AH, MINHA NOSSA SENHORA. A BELLA ESTÁ PASSANDO MAL, DÊEM LICENÇA PELO AMOR DE DEUS. –bati a mão na testa.

-já falei que você é a pior atriz que eu já vi?

-reclama depois, e anda agora. –e ela começou a me empurrar para o lado, e ela nem imaginava que a enfermaria era do lado oposto... AI ALICE!

-precisam de ajuda?-era a voz que eu me lembrava, disfarçada por uma pequena camada de rouquidão.

-NÃO! –eu gritei e logo me arrependi, voltando a me curvar e correr.

[Edward]

Era estranho estar de volta aquele colégio depois de tanto tempo e tantas coisas aconteceram. Desde que meu pai foi transferido vínhamos aqui apenas para visitar minha tia. Não que eu gostasse, por que a cada dia que passe Tânia estava mais insuportável.

Emmett estava ao meu lado, mais animado do que nunca pelo “novo” colégio. Olhei tudo em volta e percebi que pouca coisa realmente mudou desde nossa partida. Até mesmo os alunos eram os mesmos.

-Cara, isso é demais. –Emmett falou socando o ar, como se fosse um jogador de boxe. –olha quantas gatas tem aqui.

-claro Emmett, claro. –falei revirando os olhos. Mas o pior é que ele tinha razão.

E foi então que olhei para o lado, reparando pela primeira vez nos rostos já conhecidos. Sorri torto para a “falsa” Alice que ria de alguma coisa. Ela não mudara, ainda falava o que vinha a cabeça. E então eu olhei para o lado, só então percebendo quem estava ao seu lado.

Eram os mesmos olhos cor de chocolate, a pele clara e os cabelos castanhos até o meio das costas. É ela, eu disse a mim mesmo. É a Bella. Percebi que ela também me encarava, parada, congelada, como uma estátua.

Meu primeiro reflexo foi sorrir e dar um passo a frente, sim eu queria falar com ela. Porem o que vi em seus olhos mudou. Não era mais apenas surpresa e descrença, agora tinha ressentimento escondido. Ela se curvou e sussurrou alguma coisa para Alice que só então percebeu minha presença.

-o que fo... Ah meu deus do céu... Fudeu! –ela falou alto de mais e sinceramente precisei segurar a risada.

E então uma conversa quase silenciosa se desencadeou entre as duas. Bella obviamente fingia alguma coisa, ela sempre foi uma péssima mentirosa, e Alice tentava ajudar, mas a cada nova palavra proferida mais a mentira era desmascarada.

De qualquer forma o jeito que Bella se segurava estava mesmo parecendo que estava passando mal. Será que ela estava tão magoada comigo que passava mal só de olhar em minha cara? Dei um passo a frente e sorri novamente.

-o que foi Edward? –Emmett sussurrou e eu apontei com a cabeça.

-é Bella. –ele revirou os olhos e jogou as mãos para o alto.

-DE NOVO NÃO SENHOR, JÁ BASTA TUDO O QUE EU AGUENTEI ATÉ AGORA! -O fuzilei com os olhos. Do que diabos ele estava falando?

-SHIU!

Andei para frente novamente.

-precisam de ajuda?-ofereci com meu melhor sorriso.

-NÃO! –Bella gritou e eu dei um passo a trás, assustado com a reação dela.

E então elas correram para o lado oposto da enfermaria. Olhei para Emmett que ainda encarava a cena com um sorriso no rosto.

-acho que sua popularidade está baixa meu irmão. –ele falou rindo.

-cala a boca Emmett, CALA A BOCA! –gritei chateado.

-DUDUZINHO ESTÁ COM A MORAL BAIXA, DUDUZINHO ESTÁ COM A MORAL BAIXA...

-CALA A BOCA EMMETT OU EU JURO QUE VOCÊ NUNCA MAIS VAI TER FILHOS. –ele engoliu seco e calou a maldita boca.

Se ela não quer me ver é por que ainda está chateada e se está chateada, precisa de um pedido de desculpas... O que melhor do que fazer isso quando ela está sozinha com sua melhor amiga?