Problemas escrita por Carol Bandeira


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Com a intenção de explicar e resolver o problema do nosso casal favorito, escrevo essa fic. E embora já tenha percebido algumas fics do mesmo genero, quero que saibam que não li nenhuma na intenção de não acabar me inspirando sem querer nelas.
Espero que gostem dessa one-shot, inspirada pela música "Problemas" de Ana Carolina
Boa leitura



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O meu amor conhece cada gesto seu
Palavras que o seu olhar só diz pro meu
Se pra você a guerra está perdida
Olha que eu mudo os meus sonhos
Pra ficar na sua vida!

Ele mandara um e-mail fazia uma semana, pedindo que ela reservasse um fim de semana para eles conversarem. Sara então pediu a seu chefe que a liberasse e agora não parava de olhar para o relógio da sala, esperando que o tempo voasse. A angústia da incerteza pairava sobre sua cabeça.

Muito ansiosa para ler um livro ou assistir a tevê, a perita andava pela casa a procura de algo para fazer. Parou em frente a um dos porta-retratos que guardavam as lembranças de como um dia fora feliz ao lado do marido. Pensou em recolher todas aquelas lembranças antes que Gil chegasse, mas seu coração não permitiria mais uma separação.

Palavra engraçada esta, separação. A verdade era que eles não estavam separados legalmente. Ela havia simplesmente parado de usar a aliança após a ligação de Gil, na qual ele falou aquela palavra que ela antes jurava que nunca ouviria daqueles lábios. De raiva ela não falara com ele desde aquele dia. Gil tentara algumas vezes entrar em contato, mas Sara não o permitiria mais seguir o caminho dos covardes. Porque era uma covardia tentar acabar qualquer relação por telefone, quem diria um casamento!

Por isso ela forçou a mão de Gil. Se ele quisesse entrar nos detalhes com ela teria que fazer isso cara a cara. Na realidade ela não esperava que ele aparecesse. Viveria muito bem o resto de sua vida nessa pretensa separação, cada um para o seu lado, mesmo ainda sendo a “senhora Grissom” para fins legais. Alguns poderiam dizer que era masoquismo da parte dela, mas Sara sentia que nada poderia machuca-la mais do que já estava. Afinal não dava para quebrar ainda mais um coração que já estava estilhaçado.

Ela até pensou em não atender a porta quando a campainha tocou alguns minutos mais tarde. Sara tinha certeza de que Gil viera a Vegas com a intenção de acabar de uma vez por todas com aquela situação. Até começara a juntar as coisas deles em caixas, mas parara no meio do caminho, dizendo que não facilitaria ainda mais as coisas para ele. Se ela se conhecesse melhor diria que ainda queria o marido. Ainda o amava muito.

Foi com grande pesar que ela se dirigiu até a porta e a abriu. Do outro lado encontrou com um Gil Grissom exatamente como ela lembrava da sua última conversa. Os cabelos totalmente brancos e o rosto marcado pelo tempo entregavam sua idade, mas a falta da barba e os lindos olhos azuis suavizavam sua expressão. Ele parecia bem, e Sara se ressentiu. Não que ela queria que ele fosse infeliz, mas Gil não parecia ter sofrido muito com esses últimos meses. Não como ela, que se julgava com uma cara de 10 anos mais velha e com os cabelos brancos aparecendo com uma rapidez maior que ela conseguia escondê-los. Pensou em pedir para Catherine o método que ela usava para não envelhecer assim. Pelo visto iria precisar, já que o marido iria lhe dar um pé na bunda. E era de volta ao mercado para Sara Sidle.

-Oi, Sara

Gil chamou a atenção da mulher, que parecia ter voado milhas de distância.

-Ah, Gil...perdão. Vamos, entre.

Sara abriu a porta e deixou Gil passar e andar até a sala, de onde ficou examinando cada canto do lugar. É claro que ele ficaria intrigado pela decoração. Apesar de ter pagado metade da casa ele nunca pusera os pés ali. Sara esperava que ele deixasse ao menos a casa para ela na separação.

-Adorei a decoração- ele disse depois de uns minutos, olhando para ela com um sorriso no rosto- Como sempre, seu gosto é impecável.

-Pois é, acho que errei de vocação- Sara brincou, os braços dobrados em volta de si mesma. Achou que se os mantivessem assim não corria riscos de tentar abraça-lo e ser repelida por ele.

O sorriso de Gil se desfez ao notar a postura defensiva de sua mulher. Tudo cortesia dele.

-Eu posso me sentar, Sara?- suas pernas estavam fracas.

-Claro...a casa é sua. Você quer algo para beber? Ainda tenho uma garrafa ou duas da sua cerveja favorita.

-Não, obrigado. Mas aceito um copo d’água, por favor.

Sara foi até a cozinha servir um copo para ela e o marido, continuando a falar.

-Como foi de viagem?

-Foi bem tranquilo. Já estava no país há uma semana. Trabalhando no Jeffersonian em Washington. Eles têm uma equipe incrível.

-Imagino- ela disse enquanto entregava o copo d’água a Gil. O homem bebeu rapidamente antes de responder.

-Eles só perdem para nossa antiga equipe.

-Pois é...éramos os melhores.

Sara se sentou no sofá ao lado de Gil. O homem a encarou como se quisesse acrescentar algo, mas depois se calou. Sara então continuou.

-Sua mãe já sabe que está aqui?

-Sim. Acabei de deixar minhas malas lá.

-E ela sabe o que você veio fazer?

Gil abaixou a cabeça e fez um sinal de negativo.

-Ela acha que fui visitar o laboratório. Se eu contasse que viria te ver ela criaria expectativas que...podem não corresponder a realidade.

Sara respirou fundo. Queria segurar as lágrimas. Então era isso. O que ela mais temia estava para se concretizar.

-Onde estão?

A voz de Sara saiu certa e sem fraquejar. Como ela bem queria.

-Onde estão o quê?-Gil não conseguira mascarar sua dor com aquela pergunta. Fora pego de surpresa.

-Os papéis, Gil. Os documentos do divórcio.

-Eles não existem- ele disse fraco.

Sara se levantou do sofá estando muito nervosa para ficar sentada.

-Então o que você veio fazer aqui?

-A gente precisa conversar.

-Sobre o divórcio.

Gil olhou para Sara muito sério.

-Querida...eu...

-Olha Gil...eu já entendi. Nós tentamos,não deu certo. Você quer pular fora. Tudo bem. Mas por favor, não me faça ser a pessoa a organizar tudo. Você quer, você vai pegar. Só me mande os papeis pelo correio, por favor.

Sara falou tudo isso rapidamente, examinando as unhas das mãos. Não pode ver então Gil se levantando e indo em sua direção. Pegou a mão que Sara examinava e fez com que a esposa olhasse em seu rosto.

-Por favor, olhe para mim enquanto fala. Eu estou aqui porque sei que não podemos prosseguir com nada sem estarmos frente a frente.

Com muito esforço Sara olhou para o marido. Satisfeito de que a mulher o obedecera, Gil continuou.

-Eu fui um covarde, tentando terminar tudo por telefone. Pensei que seria melhor assim para nós dois. Mas tive um tempo para pensar, para relembrar. Há alguns anos eu disse que não mais fugiria de você, de nossos sentimentos. E foi isso que eu novamente fiz.

Gil parou um momento para ver se Sara teria algo a dizer sobre isso. Como a mulher ficou calada ele prosseguiu.

-Eu pensei e percebi que não tinha o direito de terminar nosso casamento sem saber se era isso que você queria. Eu já fiz isso demais no passado e nunca estive certo. E se tem uma coisa que eu sei, é que preciso aprender com meus erros. Então...embora eu tenha medo de perguntar, preciso saber... se é isso mesmo que você quer? O divórcio?

O silêncio veio em resposta à pergunta de Gil. Não porque ela não sabia o que responder. Se ela não estivesse em choque ela diria em alto e bom som que nunca queria se separar dele. Mas Gilbert Grissom, seu companheiro, amigo, amante e marido lhe deixara surpresa. Nunca em um milhão de anos ela esperaria que era isso que ele viera a lhe dizer. Isso não combinava com o comportamento normal de seu marido. O homem que ela pensava conhecer como a palma de sua mão. Mas fora esse mesmo homem quem dissera a ela uma vez que nunca dizia conhecer ninguém.

-Sara?- Gil perguntou, gentilmente pegando no braço da mulher.

-Ah...eu...nunca quis o divórcio, Gil...mas você não me deu chances...não nos deu nenhuma chance...

-Acredito que nós paramos de tentar...

Os dois ficaram calados por um tempo. Não sabiam o que dizer exatamente. Onde foi que a união deles, outrora tão firme e apaixonada, foi se esvaindo? Era óbvio apontar onde começou. Mas nenhum dos dois tinha a coragem de fazê-lo. Até que Sara não mais aguentou.

-Olha, isso é ridículo!- sua explosão assustou Gil, fazendo com que o homem quase pulasse da cadeira-Mais uma vez nós estamos nos afundando por conta dessa falta de comunicação! Nós deveríamos ser cúmplices, Gil! Confiar um no outro! Por que tudo é tão difícil para nós?!

-Ninguém disse que seria simples.

Sara se recostou no sofá e fechou os olhos, tentando se acalmar. Gil chegou mais perto da esposa e lhe acariciou o rosto, depois descendo a mão até os ombros,para os braços até chegar nas delicadas mãos dela.

-Nós estávamos errados, não é? Em pensar que a distância não nos afetaria?

-Infelizmente, querida.

Mais uma vez um silêncio pesado. Sara acariciou a mão do marido e depois o olhou nos olhos.

-Você me culpa, não é?

-Eu não te culpo por querer viver, Sara, a vida que você precisa viver.

-Mas ressente o fato de eu ter querido voltar para Vegas.

-O que eu ressinto é não ter te dado motivos para ficar em Paris comigo- Gil apertou a mão de sua esposa e a levou até os seus lábios- Você sabe, esse era um dos motivos de eu ter pensado nisso...que seria melhor cada um viver a sua vida...se eu não te podia fazer feliz na cidade do amor, então eu não poderia fazê-lo nunca.

-Isso é extremamente estúpido, Gil. Ter você me faz feliz, sempre e em qualquer lugar.

-Então por que, Sara?-

E finalmente eles chegaram em algum lugar. O cerne do problema. Sara nunca ouvira a voz de Gil sair daquele jeito. Tão baixa, mas tão cheia de sentimentos. Ela queria responder, mas não sabia como. E Gil, que nunca fora dado a se expor muito, não conseguia mais se conter.

-Por que, quando finalmente nós estávamos juntos como um casal, perante Deus e o mundo, você resolveu ir embora do nosso lar? De nós?

-Gil... se você se sentia assim, porque não me disse nada antes?

-Porque...porque eu pensei que talvez...se eu te deixasse ir, você voltaria para mim- dessa vez era Gil quem estava com a cabeça baixa.

-Amor...eu...

-Se você o ama, deixe-o ir. Se ele não voltar, quer dizer que nunca foi seu. Ou algo assim.

Sara teve que segurar um riso, apesar de nada naquela frase fosse dito para ser engraçado. Mas esse era Gil, sempre uma citação para cada situação da sua vida.

-Eu voltei para você, Gil. Todas aquelas vezes.

-Mas sempre ia embora de novo. Eu não sou o bastante, nosso amor não pareceu o bastante para você?

-Você sabe que não é assim. Eu te amo, Gil. Quando eu fui embora da primeira vez eu disse isso. Eu sempre vou te amar. Eu sempre vou voltar pra você. Mas...eu gostaria que você....

-Gostaria o que, Sara. Por favor me diga!

-Eu não sei! Droga, Gil! Eu estava lá, com você, fazendo tudo o que as mulheres devem sonhar...vivendo em um conto de fadas...mas aí, como sempre a realidade chamou...você voltou a trabalhar e eu fiquei brincando de casa...em francês ainda por cima! E....eu só via a minha mãe... e eu sei que é ridículo, porque nada na nossa situação era remotamente parecido com o que ela viveu...mas só o fato de eu ficar em casa enquanto você saia. Eu já dependia de você sentimentalmente. Pensar que teria que depender de outras formas...eu fiquei nervosa e daí...

-Aí Ecklie ligou me procurando.

-Você já estava comprometido com a faculdade. E eu não tinha emprego...então vi uma saída...acho que eu fiquei com medo de...enlouquecer...E você achou ótimo!

-Sara...eu vi o que você estava passando e achei melhor,por bem, que voltasse a trabalhar. Não havia como conseguir algo remotamente inspirador para você ali...nao naquele instante. E eu pensei que era uma solução temporária...eu iria terminar o meu trabalho em Sobborne e depois...o mundo seria nosso novamente. Mas ai você voltava, feliz da vida com seu emprego...seus amigos. Eu fiquei com medo de tirar isso de você.Mas sabia que eu não poderia voltar.E você ainda me dizia para ir atrás de meus sonhos...do que me fazia feliz,

-Você parecia uma criança em uma loja de brinquedos, Gil; O mundo inteiro aos seus pés.

-Mas eu só queria você. Junto comigo

-Por que não me disse?

-Porque imaginei que isso, voltar a Vegas, faria parte de seu processo de cura. De amadurecimento. Você parecia feliz. A vontade em sua própria pele. E estava perto de sua mãe.Eu achei que voltaria para mim quando estivesse pronta.

-Eu só queria você...

Os dois trocaram olhares húmidos. Gil puxou Sara para mais perto e deitou sua cabeça no ombro dela. Juntos respiraram fundo e falaram em uníssono

-Eu achei que estava fazendo o que você queria!

Em uma situação menos tensa talvez eles teriam rido disso. Mas não era a hora. Acabando por constatar que mais uma vez eles estavam se machucando, fazendo o que imaginavam ser melhor para o outro.

Gil imaginava que Sara não quisesse viver com ele. Afinal, ele é quem havia a seguido até o fim do mundo e na primeira oportunidade ela o deixara para voltar para a cidade que ela jurara a fazia mal.Ao mesmo tempo, Sara pensava que Gil nunca a colocaria a frente de um trabalho, seja em um laboratório seja em escavações no Peru.

-Acho que voltamos para o mesmo lugar em que começamos- comentou Sara-Gil, nós precisamos parar de nos machucar assim! Meu Deus, será que é tão difícil você me dizer o que quer sem ter medo!

-Do mesmo jeito que é para você, ao que parece- o homem continuou a acariciar as costas dela- O mais sensato a fazer é entender os erros do passado para não repeti-los. Eu não quero mais errar com você, Sara. Eu quero uma vida com você em meus braços.

Sara acariciou o rosto de Gil e, olhando nos olhos dele, perguntou

-Se me prometer que nunca mais vai esconder os seus sentimentos sobre o que está acontecendo, e eu prometer o mesmo, acha que poderíamos voltar a viver como marido e mulher?

Gil deu um sorriso maior que o mundo, que se refletiu em seu olhar. Ele apertou ainda mais a mulher em seus braços, colou sua boca em seu ouvido e respondeu

-Eu nunca vou deixar de ser seu.

Os lábios foram descendo pelo maxilar de Sara até chegarem em seu queixo, onde deixou um beijo casto e subiu até encontrar os lábios mais doces que Gil já provara. Os lábios de sua mulher.

EPÍLOGO

A casa estava toda decorada com balões pérola e vermelho. A mesa de jantar fora empurrada para perto de uma parede, na qual foi pendurada uma faixa escrita “PARABÉNS, SARA”. A casa não estava cheia, somente alguns amigos próximos, mas a aniversariante não podia estar mais feliz. Depois do fiasco que foi seus 43, poder estar ao lado de seu marido e seus amigos era o que ela mais queria.

-Então-perguntou Greg- não está feliz que o maridão deu uma festa surpresa para você?

-É...eu bem disse que não havia necessidade, mas...ele tinha razão- ela deu um gole na taça de champanhe que estava em suas mãos- eu realmente precisava disso!

Seu olhar percorreu a sala a procura de seu marido, e o achou conversando com DB e Catherine. Gil havia voltado para Vegas e no momento estava escrevendo um livro em parceria com outros entomologistas e já tinha ideias para mais uns. Além disso, ainda prestava palestras ao redor dos EUA. Nunca por mais de uma semana, é claro.

A vida finalmente estava sob seu controle, e Sara Sidle finalmente sentia-se em casa.


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Notas finais do capítulo

VIDA LONGA A GSR!!!!!!!!!!!!!!