Minha cabeça doía e latejava para caramba, parecia que eu tinha ficado de cabeça para baixo muito tempo, e depois girei em círculos até cansar. Como eu fui concordar em beber tanto? Eu sou muito fraca para isso.

Tentei mexer a cabeça, mas toda vez que o fazia, era como se estivesse sendo espancada diversas vezes. Meu pescoço doía também, mas isso não era por causa da ressaca, talvez porque eu estava deitada em um ângulo estranho, em cima de alguma coisa que com certeza não era uma cama. Virei para o lado e fiz um ruído baixo, de luto pelo meu bem-estar.

— Cass? Tá acordada?

Abri os olhos, ainda completamente acabada.

Jay me observava preocupado. Confesso que tive uma pequena vontade de rir, mas eu provavelmente desmaiaria ou sei lá. Eu também não estava raciocinando direito.

— Não vai vomitar de novo, né? — ele indagou.

Arregalei os olhos e me sentei de vez, mesmo com os protestos teimosos do meu cérebro.

— O que aconteceu? — perguntei, depois de perceber que estávamos deitados sob um monte de edredom e travesseiros na entrada do quarto dele, era quase como um pequeno hall. Eu estava completamente vestida, então a tensão aliviou um pouco. Sabe se lá o que eu poderia ter feito com alguém bonito como ele, bêbada como eu estava... Não. Para de pensar, Cass, só está piorando tudo.

— A Wendy era a única sóbria lá, conseguiu carona para todas vocês, ainda bem. Ela me ligou quando eu já estava vindo. Fui lá te buscar umas três da manhã.

— Mas porque eu estou no chão do seu quarto em plena madrugada? — perguntei, já me preparando para qualquer resposta dele, vai saber o que eu apronto depois de nove doses.

— Aqui é mais perto do banheiro, você estava vomitando muito — ele respondeu, também sentando no amontoado. — O que me lembra: você precisa comer alguma coisa.

— Ai meu Deus, Jay — pus ambas as mãos no rosto. — Eu fiz alguma coisa constrangedora?

— Ah, você falou algumas coisas estranhas e... — ele fez uma pausa, sorrindo torto. — É.

— O que eu disse? — perguntei, com o coração na garganta. Mesmo sabendo que ele podia estar falando isso só para me irritar, por que ele adora fazer isso?

— Nada demais, juro — mas a expressão dele dizia tudo.

Cruzei os braços e encarei-o, séria. Apesar de que, por dentro, eu estar me amaldiçoando dos pés a cabeça por ter enchido a cara.

— Certo, fique nesse seu joguinho bobo. Não ligo — revirei os olhos, tirando as cobertas de cima de mim.

Me levantei e fui em direção ao banheiro. Joguei uma água gelada na cara antes de escovar os dentes, eu ainda sentia o gosto ruim do álcool.

— Está tudo bem? — ele encostou-se ao batente da porta. Só de calça jeans.

— Aham — consenti, bebendo água. Eu não sabia o quanto estava rouca e com sede. Logo, tentei ao máximo me concentrar no copo. E não no corpo em minha frente. Copo, corpo, a diferença era só de um “R”, dane-se.

Ele me encarou intensamente, e depois revirou os olhos, passando uma mão no cabelo dourado. Jayden estava... nervoso?

— Olha, tudo bem, não fica chateada é que...

— O que foi, Jayden? — apoiei o resto da água na pia com força. Mas com um cuidado especial, o copo é do hotel, né?

— Meio que Richard ligou ontem quando estávamos no carro e...

— RICHARD? — interrompi novamente, totalmente surpresa.

— É. Você brigou feio com ele.

— EU ATENDI? VOCÊ ME DEIXOU ATENDER? — perguntei, indignada. Ele sabia que eu estava ignorando as ligações de Rick desde quando terminamos. E mesmo assim deixa a droga no celular na minha mão enquanto estou totalmente bêbada? — QUAL É O SEU PROBLEMA?

— Não fica chateada. Eu acho que ele desligou depois que percebeu que não queria discutir com você bêbada.

— ELE SABE QUE EU ESTAVA BÊBADA? ÓTIMO, AGORA ELE ACHA QUE ESTOU SUPER MAL POR TERMOS ACABADO! ELE DEVE ESTAR MUITO SATISFEITO — abri os braços, andando em círculos pelo pequeno espaço do banheiro, eu não queria passar pela porta, porque isso significava olhar para o corpo nada modesto de Jay. Como ele consegue parecer atraente mesmo eu estando irritada com ele?

— Foi mal — respondeu ele, meio cabisbaixo.

— Foi mal? FOI MAL? Nem uma desculpa direita eu recebo?

— A culpa não foi minha, Cassie!

— Foi sim, você supostamente tinha que cuidar de mim enquanto eu estivesse bêbada.

— Eu não queria me meter nos seus problemas. Você sempre se mostra sensível quando alguém fala desse cara, eu não queria que você ficasse chateada.

— Eu estava agindo inconscientemente. Além de não me lembrar de nada sobre ontem a noite. E você não queria que “eu ficasse chateada”? — fiz sinal de aspas no ar com os dedos.

— Certo, me desculpa por não querer que você se irrite. Sempre que você se irrita comigo eu me sinto horrível. Exatamente como agora. E já que você está bem melhor, pode voltar para seu maldito quarto, e não me chama mais — ele explodiu, me fazendo sinal em direção a porta.

— Já que você se sente tão horrível quando me irrita, porque faz isso o tempo todo?

— Eu não te irrito o tempo todo. Você que se irrita comigo o tempo todo — cruzou os braços na frente do peito. Afastei o olhar, de novo.

— Certo. Às vezes eu exagero um pouco — admiti, ainda muito abalada.

— Às vezes? Eu não posso nem fazer uma brincadeira, ou até mesmo respeitar sua privacidade com seu ex-namorado.

— PARA COM ISSO!

— Com isso o quê? Te irritar? Caramba, é pior do que eu pensava — Jayden reclamou, ainda encostado no batente, mas agora ele olhava qualquer lugar menos para mim.

— JAYDEN! VOCÊ QUE ESTÁ ME FAZENDO SENTIR HORRÍVEL. DEPOIS VEM RECLAMAR DE MIM?

— Me entende agora?

Minha vontade era de gritar com ele. Mas se eu aumentasse um pouco mais minha voz, os hóspedes provavelmente chamariam a polícia. Olhei para cima, tentando espantar as lágrimas que brotavam nos meus olhos, pisquei diversas vezes. Quando percebi que era em vão, eu já estava chorando, tive que desviar o olhar e me virar para trás. Ótimo, maravilhoso, por que eu tinha que ser tão sensível com qualquer coisa? Mas, droga, eu nunca tive uma discursão tão séria com ele.

Me sentei na borda da banheira, eu não queria mais o olhar, e também não queria que ele me visse chorando. Mas, de qualquer forma, era óbvio que ele tinha percebido, porque agora ninguém falava nada. Meu cabelo caía sob meu rosto, formando um véu entre nós.

Mas não demorou muito para eu perceber que ele havia sentado ao meu lado. Pôs uma mão delicadamente nas minhas costas.

— Desculpa — Jay falou, acariciando meu ombro.

Eu não podia simplesmente ser cabeça-dura e ficar zangada para sempre. Encostei minha cabeça em seu peito. Ele não disse nada, só passou as mãos no meu cabelo. Melhor assim, pelo menos não discutimos mais.

Depois de aproximadamente uns três minutos, me incomodei com o silêncio constrangedor. Não sabia o que era pior: Isso ou a maldita briga.

Olhei para cima, encarei-o com ele me encarando de volta. Ele estava lindo, mesmo com a luz pálida do banheiro acesa, mesmo com o cabelo todo bagunçado e totalmente desgrenhado. Para com isso, Cassie, você está pensando de novo... Ah, tive vontade de me mandar calar a boca. Sorri para ele, como se pedisse desculpas também, e perdoasse cada coisa que ele tivesse acabado de dizer. Acho que ele entendeu o recado, sorriu de volta. Um sorriso encantador, eu tinha que admitir.

Inclinei-me mais, meu rosto em direção do dele. Jayden percebeu o que eu estava prestes a fazer, mas só tornou o seu sorriso um pouco mais tímido, e seu olhar desceu involuntariamente para minha boca, nenhuma reação negativa. Você está fazendo isso mesmo? Aquela voz que eu não podia controlar não parava de repetir. Mas, sim, eu estou fazendo isso. Então colei meus lábios no dele. E eu sabia o que estava fazendo. Sim, eu tinha consciência que poderia me arrepender no dia seguinte. Mas agora, nos beijávamos tão intensamente que eu quase esquecia os meus pensamentos.

O ritmo era desesperado. Urgente. E eu estava nas nuvens. Não ligava para nada, para ninguém, nem para casamentos e ex-namorados. Muito menos para a dor que eu sentia momentos antes, da ressaca. Tudo ia se esvaindo aos poucos, com base em que o beijo aumentava mais de ritmo. E eu quase não percebi quando Jay me carregou para a cama, e nem me importava com isso. A minha consciência também tinha ido embora, talvez tenha desistido de me fazer voltar à realidade. Ali só era eu e Jayden, mais ninguém.

Enrosquei minhas pernas nas dele. Eu e Jay estávamos dando amassos apaixonados e eu não ligava! Minha nossa, isso estava a ponto de ir para outro nível e eu não queria impedir. Eu queria deixar rolar, o que estava acontecendo comigo?

Ele interrompeu o beijo. Eu não sabia se ele estava sorrindo de novo ou se não parou de sorrir momento algum. Achei meio fofo.

— Tem certeza que quer fazer isso, Cass? — ele perguntou, rouco. Meu Deus, estava realmente sexy. Não sei se era a voz tipo Calvin Harris na música “Summer” ou o fato de ele estar pedindo permissão. — Não vai se arrepender depois?

— Me arrepender? Porque eu faria isso? — perguntei, rapidamente. As palavras saíram da minha boca involuntariamente, e eu nem tinha processado o que estava falando. Mas percebi que era a verdade, eu tinha certeza do que queria, e nem tinha como eu negar isso.

— Não sei. Você vai ficar chateada comigo depois?

— Para com esse papo de chatear, idiota — eu rolei os olhos para ele, sem acreditar. Eu não ia deixar Jayden trazer de volta discussão nenhuma, e muito menos estragar esse momento. — é claro que eu tenho certeza!

Ele não respondeu, simplesmente tirou minha blusa e voltou a me beijar ritmicamente. Então eu soube que seria uma longa madrugada. Nem tive o bom senso de me preocupar em ter uma boa noite de sono, já que eu teria que exercer meu papel de madrinha no dia seguinte. Mas eu não queria dormir, e muito menos pensar nessas atividades idiotas. Eu só queria esse loiro que, vale ressaltar, beija muito bem.