A Ann pode ser péssima em várias coisas, mas escolher restaurantes e hotéis não é uma delas. O restaurante foi maravilhoso! Eu precisava disso depois de tantas horas de voo. E o hotel então? Caramba, nunca estive em um lugar tão majestoso como aquele. Tudo bem que custou os olhos da cara, mas como todos os convidados teriam que se acomodar lá, os pais da Ann pagaram uma boa parte, ficou só razoavelmente caro para eu pagar.

Eu me joguei na cama enorme que tinha só para mim. O quarto era gigante, e tinha uma vista linda da torre Eiffel da varanda! Eu morri e fui para o céu. Ou melhor, para a França.

Suspirei, me deliciando daquele momento. Mas um barulho irritante e constante me desconcentrou do meu provável cochilo. E, sim, tive que levantar a cabeça, mesmo que de má vontade. Claro que alguém batia na porta, só para estragar meu momento. Mas percebi que não era a porta principal, e sim a porta conjugada. Incrivelmente, eu sorri. Com certeza era o Jayden. Então corri para abrir a porta.

— Jay! Quanto tempo — disse, ironicamente.

— Sim, faz anos, não é mesmo? — ele retribuiu o sarcasmo. — Por favor, não me diga que você estava dormindo.

Revirei os olhos.

— Não precisa se preocupar, você não me acordou...

— Não é isso, Cass — o loiro riu. — a Ann te disse que as outras madrinhas estavam esperando, lembra?

Grunhi baixinho, entrando no quarto dele e já me acomodando na cama, porque sou dessas, saio da minha e já vou me acomodando na cama dos outros. Ele sentou na grande poltrona bem ao meu lado.

— Você vai fazer o quê hoje? — perguntei, encarando meus joelhos. Estavam dobrados para cima, e eu os abria e fechava num ritmo de alguma música que estava na minha cabeça.

— Eu não sei, talvez visite a torre Eiffel — ele deu de ombros, com um sorriso brincalhão, porque sabia que eu queria muito ir com ele. — é uma boa opção.

Suspirei.

— Também quero ir — choraminguei o óbvio.

— Não, senhorita. Você é a madrinha principal e dama de honra! — ele disse, tentando imitar a voz da Ann. Mas como ele é muito másculo para isso, amém, soou mais como um garotinho — Não pode perder nenhuma escolha dos preparati...

— Ah, mas a Ann disse que já está quase tudo pronto. Só falta a despedida de... — Fiz uma pausa — Ai droga!

— O que foi?

— Hoje de noite tem a despedida de solteira para as mulheres. E despedida de solteiro para os caras. Você vai, não é?

— Claro, é a melhor parte do casamento.

— Que horrível.

— Mas é verdade! Bom, da cerimônia, só é legal a festa de recepção.

Revirei os olhos.

— Enfim, não vou poder passar a tarde com você, sinto muito. Tenho que preparar isso com as outras madrinhas. A Wendy e a Mary até que são legais, mas... — fechei a cara — As primas da Anna são umas vadias.

— A Ann tem primas? — ele perguntou, passando a mão pelos cachos loiros. O Jay é realmente um cabeça-de-vento, eu já cansei de repreendê-lo por isso, então só o tratava como se ele tivesse amnésia e explicava tudo com a maior paciência.

— Não lembra? Aniversário de 20 anos da Ann. A Vic ficou se jogando em cima de você, e aposto que o senhor estava adorando.

— Como você sabe disso?

— Eu presto atenção — dei de ombros, e sorrindo para ele — Mas você não presta nem na sua própria vida!

— Não... Quero dizer, a Vic, ela ficou se jogando em cima de mim do lado de fora da festa, e lá não tinha ninguém.

— Ah, eu acho que... Eu estava saindo e vi sem querer — eu respondi, corando.

Ele parecia estar se divertindo muito, até demais.

— Não foi no final da festa, Cass. Você simplesmente não podia estar saindo.

— Ah, mas que saco! Eu não posso, sei lá, sair para pegar um ar puro? Ou simplesmente estar te procurando por aí? — me sentei na cama, desconfortável, a conversa tinha ficado mais séria.

— Eis a questão — ele levantou uma sobrancelha, divertido — me procurando para quê, já que a senhorita estava com aquele seu namorado?

— Olha, você vá se catar! — levantei e peguei o celular na bolsa. — Vou ajudar a Ann, fique aí no seu raro momento de lembrar fatos da vida.

— Chamar de “fato” já confirma que você me queria, mesmo estando com um acompanhante, Cassie?

Fechei a cara para ele e fui para meu quarto. Tranquei a porta do meio. Eu realmente não queria falar sobre minhas “quedas repentinas” por aquele idiota. Espera, “quedas”? Ai, eu definitivamente precisava parar com isso.

***

— Cass? — Ouvi alguém me chamando do andar de cima do salão. Eu tinha certeza que os amigos do noivo iriam para algum bar ou um clube de strip-tease. Dei graças pelas meninas terem sido sensatas e alugado um lugar legal. Tudo bem que ia ter bebida para caramba, e elas contrataram alguns... caras. Mas veja bem, é melhor que um bar — CASSIE!

Olhei para cima, a doida da Jen estava me gritando das escadas.

— Que é? — perguntei, sem ânimo.

— Você não vai participar em nada? A Ann te pediu para ser madrinha por algum motivo, mas parece que você não está ajudando nem um pouco nesse casamento e...

— Jen, eu sou a melhor amiga dela. Ela sabe muito bem que eu sou péssima nisso, mas ela me colocou como madrinha porque é o posto que a melhor amiga deve cumprir — dei de ombros, vitoriosa.

— E VOCÊ NÃO ESTÁ CUMPRINDO. VENHA AQUI AGORA E ME AJUDE COM ISSO!

Bufei. Eu odeio a Jen.

Subi pisando firme. Mesmo que estivesse morrendo de pena dos meus saltos, tinha que jogar essa raiva para algum lugar, antes que eu começasse a distribuir tapas por aí. Ia ser tranquilizante, mas a Ann iria me matar.

— Do que precisam? — perguntei com um sorriso amarelo, tentando ser o mais simpática possível.

— Estou no telefone com os nossos strippers! — anunciou Wendy, sorridente como se estivesse falando com Chris Evans ou alguém do tipo — Fantasia de policiais, ursinhos ou os super-heróis?

— Super-heróis! — pulou Vic. — Aviso logo que o Flash é meu.

— Quero o Batman! — gritou Mary, que ajeitava as flores espalhadas pelo saguão. Íamos receber todas as mulheres convidadas acima de 21 anos, imagine a festa em que esses caras estão se metendo.

— Acho que a Ann que vai ter que escolher primeiro — eu disse, dando de ombros.

Todas pareceram um pouco desanimadas.

— É, você tem razão... — a Vic disse, revirando os olhos — vamos ligar para ela?

— Não, sua tonta, os strippers são surpresa! — Jen respondeu, cruzando os braços.

Nesse momento, meu celular vibrou no bolso. Peguei-o, e li “Ann ♥ chamando”.

— Gente, a Ann está me ligando — levei o dedo indicador aos lábios, fazendo sinal de silêncio. Para minha alegria, todas obedeceram. Eu deveria fazer isso mais vezes.

Atendi.

— Oi, Ann!

— Cassie. Vocês ainda estão aí? São seis e meia, a despedida começa nove, é melhor irem logo se arrumar. Quero todas vocês antes para ir recebendo os convidados, já que eu tenho que chegar depois.

— Certo, certo. Já vou falar com elas, beijo!

Então desliguei. E estremeci quando lembrei como eram as despedidas de solteiras. Eu realmente não queria ficar bêbada, e muito menos ver strippers dançando em cima de mim. Suspirei, era pela Ann.