Give Me Love escrita por Liah Violet


Capítulo 8
Ela conseguiu. É oficial, enlouqueci.


Notas iniciais do capítulo

Olá queridinhos!
Desculpem aí pela demora gigantesca, mas é que fiquei sem Internet e isso me atrapalhou muito para postar e tals, pelo menos consegui dá uma boa adiantada e vai ter pelo menos um capítulo por semana. Ebaaaa!
Agora chega de enrolar.
Boa leitura!



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Pov's Miguel

Saio do banheiro correndo e quase volto voando.

– Será que dá pra sair do meu quarto? - pergunto irritado. - Preciso trocar de roupa.

Melinda dá de ombros.

– Escolhi sua roupa. - E aponta o centro do quarto.

Um terno preto está cuidadosamente esticado sobre a cama.

– Não vou usar isso.

– Ah, Miguel! - ela choraminga. - Por favor. Não quero que pareça um maltrapilho.

– Não se preocupe com isso.

– Miguel, coloque o terno. Você vai ficar ainda mais gato. Talvez arranje até uma namorada.

– Melinda sai do meu quarto por favor. - falei impaciente. Estou me controlando para não pegá-la pelo braço e tirá-la a força.

Ela me mostrou a língua e saiu. Puxei o ar pela boca e peguei o terno, depois que o guardei, coloquei jeans, uma camisa branca de botões e jaqueta de couro. Desci as escadas aos tropeços e encontrei meus pais na sala com Melinda. Minha mãe estava um pouco mais modesta que a sobrinha, mas não menos bonita em seu vestido salmão.

– Você está lindo, querido. - Célia diz apertando minhas bochechas. Ela sabe que odeio isso.

– É, está mesmo. - Melinda concorda, embora pareça contrariada.

Meu pai está ao telefone como sempre. Parece muito distraído com alguma coisa, seus olhos negros parecem ainda mais distantes que de costume. Ele acena com a cabeça em minha direção. A comunicação funciona dessa maneira conosco. Bem legal, né?

Suspiro e quase instantaneamente a campainha toca. Minha mãe levanta a sobrancelha.

– Estamos esperando alguém?

Não sei porquê, mas todos olham pra mim. Reviro os olhos e abro a porta.

A garota a minha frente sorri. Usa um vestido de alças azul pérolado com decote levemente drapeado e mantém-se equilibrada sob saltos gigantescos. Parte do cabelo está preso, enquanto o restante cai em uma cascata de cachos brilhantes em suas costas. Sua maquiagem é leve, a não ser pelos lábios cheios ressaltados pelo batom vermelho cereja e os olhos brilham tanto que poderiam iluminar o lado oculto da lua. Sinto minha boca abrir pela segunda vez no dia. A garota que vejo é linda. A garota linda é Samira.

– Vai ficar parado aí babando ou vai sair da frente para que eu possa cumprimentar os outros? - sussurra para que só eu possa ouvir e coloca a mão na cintura marcada pelo vestido.

Fecho a boca e desvio os olhos.

– Só estou me perguntando o que diabos você faz aqui. - brinco tentando disfarçar.

– Vou a um restaurante francês pela primeira vez - diz simplesmente. - Agora saia da frente, antes que eu te tire eu mesma.

Saio da frente da porta antes que ela cumpra o que disse.

Minha mãe sorri e beija o rosto de Sami quando ela entra.

– Como você está linda, Sam. - Célia elogia fazendo com que Samira dê uma voltinha.

– Obrigada. Não queria fazer feio no restaurante.

Impressão minha ou ela acaba de se auto-convidar?

– Você vai conosco, Sami? - meu pai pergunta, agora sem o telefone, mas é para mim que ele olha. Ele odeia não saber das coisas com antecedência.

– Vou, tio. Miguel me convidou. - Claro que ela ia jogar a responsabilidade pra cima de mim. - Mas se tiver algum problema, eu...

– É claro que não tem problema nenhum, lindinha - meu pai cortou. - Você é sempre bem vinda.

Samira sorriu e beijou o rosto de meu pai, o marcando com batom. Ela era louca por ele e vice-versa.

– Também senti sua falta, princesa.

Sorri com a cena. Meu pai era uma manteiga derretida com ela. Acho que ele teria tentado ter uma filha se mamãe não tivesse tido tantos problemas durante a minha gestação.

– Não vamos ter problemas com as reservas, tio? - Melinda pergunta. Parece incomodada com alguma coisa.

– Não, ligo para o restaurante no caminho. - papai diz dando de ombros.

Melinda assente.

– Bonito vestido, Sam. - ela diz, mas seu tom parece mais de insulto que de elogio.

– Obrigada. - Se Sam percebeu seu tom diferente, não demonstra.

– Bom, é melhor irmos. - Meu pai pega as chaves do carro.

Meu pai vai dirigindo e minha mãe no banco do carona. Eu queria pegar meu carro e levar Sam comigo, ultimamente tenho preferido está só com ela nem que seja por poucas horas, mas acabo inibindo o pensamento, não quero que pensem besteiras. Acabo por dividir o banco de trás com Melinda e Samira, uma em cada lado. O Mercedes é grande o suficiente para que todos estejam confortáveis.

Melinda passa boa parte do tempo calada e meus pais conversam animadamente sobre algo que não sei.

– Quando você decidiu que queria ir junto? Pensei que não gostasse dessas coisinhas. - Sussurro para Sam e pego um pedaço do tecido da barra de seu vestido.

– Eu sempre quis comer comida francesa. Acho que já te disse isso. - Ela puxa o vestido de volta.

– A única coisa que você já me disse é que não gostava de comida cheia de fru-fru.

– Resolvi aperfeiçoar meu paladar. Posso apreciar ova de peixe, sapo e lesma como qualquer patricinha. - Algo em sua voz me desperta.

– O que aconteceu?

– Como assim?

– De onde veio essa vontade de mudar? - pergunto sério.

– Você fala como se eu fosse começar a malhar, colocar silicone e ficar loira. - ela debocha. - Vou apenas comer lesma.

– Mas e quanto ao vestido? - insisto.

– É um presente da mamãe. Está no meu closet a séculos. Resolvi começar a usar o que tem lá ou doar, sabe? Aquele negocio de cuidar do planeta e tal.

Sorrio de canto. Samira não é o tipo de pessoa que se preocupa com o bem estar do planeta.

– Vou dizer isso a Amber. - ameaço sorrindo.

Samira me olha assustada.

– Nem ouse. Ela vai me obrigar a catar latinhas na praia, tomar banho frio e virar vegetariana.

– Você é muito dramática.

– Você conhece a Amber. Não invente.

– Tudo bem. - dei de ombros. - Gostei do bronzeado.

Samira me olhou de canto. Suas bochechas ficaram imediatamente ruborizadas.

– Não enche! - sussurrou.

Meu rosto se alargou em um sorriso.

– Por que está sorrindo? - Sami perguntou erguendo uma sobrancelha.

– Porque sim.

Ela revira os olhos e volta a atenção para a avenida fazendo bico. É linda até fazendo beicinho.

QUE MERDA! Tenho que parar de pensar nela desse jeito. Ela é bonita? É, mas isso não significa nada. Não me dá o direito de me sentir atraído por ela.

Imagino sua cara de raiva se soubesse o que tenho pensado. Talvez ficaria com ódio, talvez não falaria nunca mais comigo. Não posso permitir isso. Não dá nem pra imaginar minha vida sem sua presença. Não é algo que eu conheça ou queira conhecer.

Não demora muito para chegarmos ao restaurante. Eu já estive lá um bocado de vezes. É um lugar imenso dourado e branco, repleto de lustres gigantes e também dourados. É bonito, mais um pouco pomposo demais para o meu gosto.

Logo que entramos, o gerente nos coloca em uma mesa de frente para o mar. Eu preferiria uma das mesas ao ar livre, mas a noite não é uma das mais quentes. Enquanto caminhamos pelo salão em direção a mesa vejo Samira abrir levemente a boca de surpresa.

– Tudo é dourado? - ela sussurra tocando uma das flores tingidas em um dos enormes vasos dispostos pelos cantos.

– A maior parte sim. - respondo.

– Por quê?

– Não faço ideia. Talvez porque remete ao ouro.

– Um pouco cliché - ela debocha.

Chegamos onde nossa mesa se encontra. Um canto mais reservado de frente para uma imensa janela de vidro que vai do chão ao teto. A visão da lua refletida nas águas escuras é deslumbrante. Vejo o alarde de Sami quando o garçom insiste em puxar sua cadeira e me diverto com sua cara de frustração.

O garçom cuidadosamente distribuiu os cardápios e se retirou com uma elegância incontestável.

– Não consigo entender o que está escrito aqui. - Samira sussurrou quase encostando os lábios em minha orelha. A aproximação brusca de seu hálito fez os pelos da nuca se arrepiarem e agradeci mentalmente por meu rosto está encoberto pelo cardápio, tenho certeza que meus olhos reviraram nas órbitas e quase certeza que Sam percebeu. Tento recuperar o fôlego e peder o rubor no rosto.

– Escolha qualquer coisa. Já comi tudo que está aí e tudo é realmente muito bom. - Tento dá de ombros.

– E se eu escolher algo que seja feito de algo nojento? - ela murmura dessa vez tendo o cuidado de não se aproximar tanto. Agora está óbvio que ela percebeu.

Tento fazer o rubor desaparecer novamente.

– Pensei que veio para comer ova de peixe e lesma.

Sam estremeceu.

– Acho que mudei de ideia em relação a isso.

Não consigo conter uma risada.

– O que é tão engraçado? - Melinda pergunta. Ela está de testa franzida quando abaixo o cardápio.

– Samira - dou de ombros.

Sam me fuzila com os olhos. Melinda ainda espera uma resposta completa, meus pais parecem ter curiosidade também.

– Só estou me lembrando das tentativas inúteis da Sam tentando nadar melhor que eu hoje. - minto.

– Não foram tão ruins assim. - ela diz naturalmente.

– Tem razão. Foram péssimas. - digo rindo.

Samira olha para mim de um jeito diferente. Seus olhos estão nos meus.

– Eu gostei. - diz dando um sorriso tímido. - Foi muito divertido.

Assinto com a cabeça porque sei que está sendo sincera e o fato de ter gostado do passeio me enche de orgulho.

– Você está certa. - concordo. Não quero afastar meus olhos de seu rosto de forma alguma, mas sei que é necessário.

E então o garçom chega com uma travessa pequena de caviar e um cesto de torradas.

– Estão prontos para pedir? - o garçom pergunta.

Meu pai nos olha e minha mãe começa a recitar seu pedido.

– Ainda não sei o que pedir. - Sami sussurra com os olhos concentrados no cardápio.

– Pedi qualquer coisa.

– Não sei se quero qualquer coisa.

– Pensa rápido. - sussurro sorrindo.

– Por que?

– Porque é sua vez.

– Hã?

O garçom olhava para Sam com expectativa a espera de seu pedido. Sam engoliu em seco.

– Vou querer... - ela olha para o cardápio novamente.

– Por que não pede escargot Sami? - Melinda sugere com ar inocente.

– Não sei se vou querer les... escargoul. - Sam diz insegura.

Melinda dá uma risadinha.

– Escargot, Samira. - ela corrige. - Você não vai se arrepender.

Samira olha em minha direção em busca de ajuda. Balanço a cabeça minimamente. Algo sobre Scargout e Samira na mesma equação não me agrada.

– Muito bem. - Sam suspira. - Vou querer isso aqui. - E aponta para o terceiro item do cardápio. Não foi uma escolha tão ruim. Salmão Poché.

Melinda dá de ombros contrariada. Sam parece não dá a mínima.

Escolho o de sempre - Blanquette de Vitela - e vejo o garçom se retirar novamente. Melinda pega uma torrada da cesta, coloca um pouco de caviar e mastiga como se não houvesse nada melhor. Samira parece ter náuseas.

– E então, vocês ainda não falaram nada sobre a escola. - minha mãe começa.

– O de sempre, mamãe. - Dou de ombros.

– Nada de mais. - Sami reforça.

– Fico feliz que pelo menos não apareceu mais sangrando. - Célia diz fazendo piada.

Meu pai faz uma careta e Sam empalidece.

– Como assim sangrando? - meu pai pergunta, unindo as sobrancelhas negras.

– Seu filho é um desastrado, Diego. - Minha mãe ri. - Caiu durante a aula de educação física na semana.

– Como foi isso? - A pergunta agora é direcionada a mim. Samira aperta minha mão embaixo da mesa.

– Eu escorreguei tentando rebater no jogo de tênis. - digo com simplicidade.

Meu pai examina meu rosto. Meu nariz está bem menos vermelho. Nem parece que quase foi esmagado por uma bola de tênis.

– Você precisa tomar mais cuidado. - ele diz, mas não sinto preocupação em sua voz. Ele parece frio demais.

Assinto. Minha mãe não percebe minha tensão.

– Você precisa cuidar melhor do meu filho, Sam. - ela continua brincando.

Samira engole em seco. Seu rosto fica mais roxo que o caviar na cesta.

– Vou cuidar. - ela diz com a voz fraca.

Minha mãe ri, ela e Susanna tem o mesmo costume.

– E você, Melinda? - pergunto para mudar o rumo da conversa.

Samira me direciona um pequeno sorriso de agradecimento, enquanto Melinda desata a falar de sua vida em Washington.

– Como assim Rachel está viajando? - minha mãe surta.

– Ela foi a algum tipo de resort na Austrália. - Melinda dá de ombros.

– E deixou você sozinha? - Célia parecia a beira de um ataque de nervos.

– Não, tia. Fiquei com Leila. - Leila é a governanta.

– Meu Deus! Ela sabe que está aqui? - Seus olhos pareciam em pânico.

– Deixei uma mensagem na caixa postal. - Melinda parece não se importar. Continua se empanturrando de caviar.

– Não acredito na irresponsabilidade da sua mãe. Vou ligar para Rachel assim que chegarmos.

– Boa sorte. - Melinda sorri. - Da última vez que me mandou um email ela disse que o celular não funcionava bem no hotel. Acho que fica em algum lugar mais isolado.

– Vou falar com ela nem que tenha que passar a noite inteira ligando.

– Ela vai voltar daqui a quinze dias, tia.

– Rachel precisa entender que não é mais uma adolescente. Ela tem uma filha.

Melinda suspirou e em seguida deu de ombros.

Minha mãe e tia Rachel são gêmeas idênticas, mas a semelhança para por aí. Elas são como água e vinho. Se minha mãe é a rainha, tia Rachel é a boba da corte. Não existe outra melhor forma de descrevê-la. Temos um caso concreto do que gosto de chamar de "Síndrome de Peter Pan". Tia Rachel ainda vive como se tivesse quinze anos. Porém trata-se de uma adolescente com um conta bancária obesa, o que a torna ainda mais descontrolada. Passa a maior parte do tempo viajando o mundo, comprando coisas imprestáveis e arranjando relacionamentos que sabe que não vão durar. E no meio disso tudo, encontra-se Melinda. Claro, tem o óbvio, por que ela não vai morar com o pai se a mãe é tão destrambelhada? É a pergunta. Mas, Melinda não pode fazer isso porque está entre as muitas pessoas que não tem pai. Não tipo, perdeu o pai, porém não tem pai mesmo. Ela odeia o fato de ser apenas mais um de seus robes inusitados. O.k, vou explicar. Num belo dia Rachel achou que estava na hora de ter um bebê, simples assim. Como não queria um homem permanente em sua vida recorreu à uma ensciminação e voilá, Melinda. A única coisa que falta para ela é entender que sua filha não precisa somente de uma mansão, vários empregados, roupas caras, dinheiro e mais um monte de coisas insignificantes. Ela precisa mesmo de uma mãe.

– Não vou conseguir colocar isso na boca. - Sam diz me tirando de meus devaneios.

Ela olha atentamente para seu prato. O peixe tem uma aparência excelente. Não entendo sua reluta.

– Não é ruim. Nem um pouco. Pelo menos experimente. - encorajo.

Todos em nossa mesa já começaram a comer, eu inclusive espeto um cogumelo em meu prato. Samira suspira de um jeito dramático e coloca um pedaço minúsculo de peixe na boca. Observo sua expressão.

– E então? - pergunto impaciente.

– Dá para comer - diz após engolir.

O jantar é tranquilo. Melinda se intope de escargot e Samira capricha nos doces da sobremesa. Depois que saímos do restaurante seguro Sami pelo braço e anuncio.

– Não vamos agora para casa. - digo aos meus pais antes de chegarmos ao local onde se encontram os carros.

– Como? - Meu pai parece confuso.

– Eu e Sami temos que ir a um lugar. - digo tranquilamente.

Sam permanece calada ao meu lado, mas me encara com um misto de curiosidade e confusão.

Meu pai olha para seu relógio.

– Você não está com o carro. Como vão voltar?

– Pego um táxi. - Dou de ombros. - Não vamos demorar.

– Não sei. Robert a deixou sobre nossa responsabilidade. - ele diz.

– Está tudo bem, querido. Eles não vão demorar. - minha mãe o tranquiliza.

Meu pai ergue uma sobrancelha.

– Não vamos demorar, pai. - repito.

Não sei se já o convenci.

– Vamos, Diego! - minha mãe pede acariciando seu braço sob o terno. - Eles vão ficar bem.

Meu pai suspira derrotado.

– Tudo bem. Mas você tem no máximo uma hora e meia garoto.

Assinto e puxo Samira na direção oposta.

– Ei, aonde vão? - Melinda corre apressada para nos alcançar.

É minha vez de suspirar.

– Vai para casa, Melinda. - digo sério.

– Me diz aonde vão. - insiste.

– É coisa nossa. Não faça meus pais esperarem. - Não quero parecer grosso, mas uma hora e meia passam rápido demais. Ela está me atrasando.

– Não posso ir? - ela perguntou com uma cara de cachorrinho.

Olho para ela e lhe dou um beijo rápido na testa.

– Nos vemos mais tarde. - digo e volto a caminhar com Sami.

Ouço os passos lentos de Melinda ao voltar para o carro e não consigo deixar de me sentir culpado. Sei que embora muitas vezes pareça fútil e mimada é apenas uma garota carente.

– E então? Aonde está me levando?

– Vou levar você para jantar. - digo e aceno para um táxi.

Sam me olha confusa. O táxi para a nossa frente.

– Pensei que havíamos jantando no restaurante. - ela é toda sarcasmo.

– Entra logo nesse carro. - digo abrindo a porta.

Sam finge contrariedade, obedece.

– Você é tão mandão! - resmunga.

– Estou tentando ser gentil. Pare de reclamar.

– Como sabe que estou faminta?

Digo para o taxista se dirigir ao centro e respondo.

– Você quase não tocou na comida.

– Não gostei muito daquele peixe. Molhado demais. - ela diz fazendo uma careta.

– Acho que você combina mais com hambúrguer e milkshake. - digo sorrindo.

Sam suspira.

– Você também acha que não sou sofisticada? - Sua voz soa melancólica.

Olho para seu rosto.

– Acho. - digo com sinceridade. - Mas isso não tem a menor importância.

Ela arqueia uma sobrancelha.

– Sou uma caipira?

Não consigo evitar uma gargalhada.

– Não. Você é apenas... Apenas, Samira.

Ela bufa.

– E o que diabos isso significa?

– Significa que você não precisa tentar ser o que não é. Você já é ótima sendo você mesma.

Sami fica da cor de um tomate. Ela é sempre uma boba quando se trata de demonstração de afeto.

– Obrigada.- O rubor ainda está presente em suas bochechas.

– É a verdade.

Sam desvia os olhos constrangida.

– Quem disse que você não era sofisticada? - falo após sairmos do táxi.

– O que?

– Você disse: "você também acha".

– Ah! Eu disse? - ela finge esquecimento.

– Sim. Você disse.

– Tem certeza?

– É claro que tenho.

– Talvez você tenha ouvido errado.

– Talvez você esteja me enrolando.

– Não lembro de ter dito isso.

Suspiro. Ela não vai confessar.

– Tudo bem, não quer falar, não fala.

Quando Samira não quer dizer algo é sempre melhor desistir. Ela não é muito fácil de convencer. Entramos no McDonald's e sentamos em uma mesa mais distante. Sam pede hambúrguer, batatas e Milkshake.

– Isso sim é comida de verdade! - ela exclama mordendo o hambúrguer e se sujando de mostarda. - Obrigada.

– Não há de quê. - Pego um guardanapo e com cuidado limpo o canto de sua boca. - Você é mesmo uma caipira. - brinco.

Samira me mostra o dedo do meio.

– Isso são modos? - provoco.

– Vá para o...

– Epa! - interrompo. - Estou te pagando um jantar.

– Vai ficar jogando na cara agora? - diz de boca cheia.

Reviro os olhos.

– Quero te fazer uma pergunta. - digo mudando de assunto.

– Manda! - ela diz e depois coloca o canudinho do milkshake na boca.

Não sei se é uma boa ideia fazer a pergunta que quero. Hesito.

– E aí? - ela diz impaciente.

Crio coragem.

– Hoje mais cedo você disse que o Sean não era pra você. - Começo. - Não entendi.

– O que você não entendeu? - ela parece mais confusa que eu.

Respiro fundo.

– O que você quis dizer.

Ela deixa o milkshake de lado.

– O Sean não é pra mim. Não faz o meu tipo.

– Fico feliz por isso. - digo. - O cara é um babaca!

– Eu sei. - Ela parece mais alerta que antes. Acho que ainda se lembra de meu ataque recente. - Era só isso?

Sam fareja meus segredos a distância. Ela sabe que algo mais me incomoda.

– É... Não. - confesso.

– O que você quer saber, então?

–Você falou que o Sean não é seu tipo. Bem, não vejo você com muitos caras por aí... - Droga, o que eu estou fazendo? Não é da minha conta.

– E?

Desvio os olhos.

– E nada. - SOU UM COVARDE!

– Você está me perguntando da minha vida amorosa? - Ela parece estupefata.

Errado! Eu "tentei" perguntar sobre sua vida amorosa.

– Por que quer saber sobre isso? Você sabe que nunca tive um namorado.

Não faço ideia do que responder. Nem mesmo eu sei a resposta. Mas acho que quando Sean demonstrou interesse por ela percebi que isso também poderia está acontecendo com ela. Ela é fechada demais, sei que jamais falaria comigo sobre qualquer paixonite. Só o fato de imaginá-la com alguém me deixa enjoado.

Resolvo inventar qualquer coisa.

– Só não quero que se envolva com qualquer um.

Ela bufa.

– Não estou interessada em ninguém, Miguel.

– Mesmo?

Seus olhos me focam por alguns segundos e ela fica levemente corada.

– Mesmo.

Assinto. Sua resposta não me parece das mais convincentes, mas resolvo deixar o assunto de lado. Não quero parecer ainda mais ridículo.

Samira termina de comer e rapidamente pegamos outro táxi. Ela parece exausta. Depois de apenas alguns minutos Sam se encosta em meu ombro e adormece. Verifico meu relógio e quando levanto os olhos vejo a taxista nos observando.

– Sua namorada é muito bonita, vocês ficam bem juntos. - ela diz com um ar meio sonhador. - Vamos deixá-la primeiro em casa?

– Moramos na mesma rua. - E dou o endereço.

A taxista não diz mais nada e passo os poucos minutos que restam imaginando com o que Samira poderia está sonhando.

Quando chegamos ao condomínio, pago o táxi e coloco Samira ainda adormecida no colo. Sua expressão é serena e ela quase não se mexe enquanto a carrego até a entrada de sua casa. Tia Susanna abre a porta assim que toco a campainha.

– Olá, Miguel! - ela diz e então dá espaço para que eu entre. - O que aconteceu com ela?

– Ela só está cansada. - Dou de ombros.

– Se divertiram na praia?

Apenas balanço a cabeça.

– Posso colocá-la na cama? - pergunto.

– Claro. Já está tarde.

Subo as escadas com o máximo de cuidado que consigo. É uma sorte a porta do quarto de Sam já está escancarada. Delicadamente a coloco na cama e retiro seus sapatos. Pego Chuck em seu esconderijo e o coloco em seus braços, ela nunca consegue dormir bem sem seu maldito ursinho de pelúcia. Ela parece ainda mais bonita sem toda aquela pose de garota mal criada.

Só agora percebo que não falei para a taxista que Sam não era minha namorada. O que ela acharia disso?

Respiro fundo e me viro para ir embora.

– Miguel!

Ouço Sami pronunciar meu nome e me volto imediatamente em sua direção. Mas ela continua com os olhos fechados, com a mesma expressão tranquila.

– Não demore. Volte logo! - ela diz dormindo.

Mesmo sabendo que ela está apenas sonhando sinto a necessidade de tranquilizá-la. Me sento ao seu lado na cama e me inclino levemente em sua direção. Afasto algumas mechas de cabelo de seu rosto. Não quero perder nenhum detalhe.

– Sempre voltarei para você. - digo e muito lentamente encosto os lábios em sua testa.

Quando volto para meu quarto demoro horas para conseguir pegar no sono. Agora sei porque não disse a verdade a taxista. A resposta sempre esteve na minha cara e agora percebo que nunca quis realmente enxergá-la. Bem, algumas coisas não dão para esconder eternamente. Finalmente sei que o que mais quero é que seja real. Quero que ela seja minha. E não estou me referindo a apenas amizade.


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Notas finais do capítulo

E aí? Miguel finalmente abriu os olhos e deixou de ser lesado. O próximo capítulo está imperdível. Surpresas os aguardam.
E então mereço que você deixe de ser tímido e me dê um oizinho? Isso é muito importante para que eu saiba se estão gostando ou não, porque afinal de contas, eu não tenho bola de cristal nem tarô e sei lá mais o quê, por isso vamos usar o método tradicional.
Bem, por hoje é só.
Beijinhos e até mais.



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