Give Me Love escrita por Liah Violet


Capítulo 2
Reecontros, brigas e estupidez


Notas iniciais do capítulo

Perdão pelo titulo horrível... vou pensar em algo mais... Interessante?
apreciem sem moderação.



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Pov's Miguel

Era madrugada quando tive o sonho pela terceira vez.

Eu estava em uma praia deserta em Fernando de Noronha fitando a água cristalina à minha frente. Quando o vento frio me tocou todos os pelos de meus braços se arrepiaram. Eu sabia que estava sonhando, sabia o que viria, não parecia haver mudanças. O vento se tornou mais frio e as águas se tornaram agitadas e o céu escuro, as nuvens assumindo um tom acinzentado. Esperei pelas primeiras gotas de chuva, mas nada aconteceu. Ao invés disso ouvi o som de sua rizada preencher toda a praia. Procurei pelo som, por sua voz.

"Você está indo na direção errada sua mala" - a ouvi dizer rindo. Continuei procurando, desta vez na direção oposta.

"Ainda está frio" - ouvi mais uma gargalhada. Ela estava se divertindo.

Suspirei e voltei a caminhar pela praia, vasculhando cada canto com os olhos.

"Você precisa de uma bússola?" - ouvi sua voz perguntar. Como ela era debochada!

— Por que você está se escondendo de mim? - gritei já irritado.

“Não estou me escondendo. Você que está procurando no lugar errado."

— Me diga onde você está? - ordenei. Claro que ela riu de mim.

"Você sabe" - ela disse sussurrando. Que grande resposta garota!

Suspirei e parei de procurar. Sentei na areia e olhei para o mar ainda agitado. Estava tão frio que chegava a ser doloroso.

— Apareça! - falei baixinho frustrado - Sinto sua falta.

"Está ficando mais quente" - ela disse ainda sussurrando, uma risada silenciosa seguiu-se.

Levantei os olhos.

— Onde? Por favor, responda.

Óbvio que ela queria aquilo. Ela queria me ver implorar.

"Mais quente" - ela gargalhou satisfeita. Entrei em seu joguinho.

— Por favor! Preciso que apareça.

"Quase" - ela disse ainda sorrindo, me instigando a continuar. Ela queria me ver humilhado por ela. Mas nem pensar!

O vento agora parecia carregar minúsculas partículas de gelo, me golpeando e arranhando.

"Isso não é humilhante Miguel. É o que você quer não é?" - disse me desafiando.

— Por favor! - repeti - Preciso de você.

O vento tornou-se mais quente, as nuvens escuras sumiram, o mar voltou a ficar transparente e brilhante por culpa do sol. E lá estava ela, caminhando descalça em minha direção, perto de um monte de pedras lisas acinzentadas enormes. Como era possível eu não a ter notado ali?

Ela sorria, usava um vestido branco simples, o cabelo negro caía em uma cascata de cachos macios até o meio das costas, quase chegando até a cintura. A pele translúcida estava corada e os olhos azuis escuro brilhavam de empolgação. Ela parecia mais feliz do que jamais havia visto. E mais bonita que qualquer coisa que meus olhos já haviam se focado. Todo o arquipélago parecia sem importância, como se sua beleza tivesse sido apagada. Esqueci onde estava, meus sonhos, meus medos, meu nome, meu ser, tudo. Quer dizer, tudo não. Um nome ainda me restava, alguém.

Samira.

Depois do sonho esquisito, não consegui mais dormir. Fiquei de olho fixo no teto tentando não pensar em toda aquela maluquice. Não entendia porque me sentia assim no sonho. Samira sempre havia sido apenas Samira. Nada mais do que minha melhor amiga bobona.

Então por que as vezes eu pensava tanto nela?

Toda essa complicação começou no último mês quando viajei com minha mãe. A verdade é que nós nunca havíamos passado mais que poucos dias sem nos ver. Veja bem, nossas mães haviam se conhecido na faculdade e se tornaram melhores amigas desde então. Elas se casaram e engravidaram praticamente na mesma época, com uma diferença de três meses. Nada me tira da cabeça que foi combinado.

Eu cheguei primeiro, logo depois Samira. Nossas mães gostavam de ficar juntas e isso nos incluía no pacote.

Passávamos a maior parte de nosso tempo juntos desde sempre. Ela era parte do meu dia. E então minha mãe e eu viajamos para o Brasil no último mês, eu queria levar Sami, mas ela foi achar de querer bater o carro de seu pai - numa tentativa estúpida de aprender a dirigir sozinha - na mesma semana de nossa partida. O resultado? Ela ficou de castigo por duas semanas e eu sem companhia. Claro, eu ainda tinha minha mãe e ela era simplesmente incrível, só que mãe é mãe. Além do mais ficou a maior parte de seu tempo na piscina do hotel e fazendo compras, programas que não faziam nada meu estilo. Nos primeiros dias fiquei empolgado, natureza era a minha palavra favorita, mas depois da segunda semana comecei a ficar entediado. Que graça tinha explorar sozinho? Eu teria ficado mais que satisfeito com meu pai, mas ele cancelou sua participação na viagem dois dias antes. Trabalho como sempre.

Depois do tédio passei para o segundo estágio. Raiva. Fiquei irritado com Samira por ter estragado tudo, pensava em cada segundo de nosso reencontro quando eu finalmente poderia descarregar toda a minha irritação. Pensava em meu discurso, fazia melhoras, acrescentava palavras duras e fazia de tudo para que quando chegasse a hora ela não começasse a rir da minha cara, o que me deixaria desconcertado. E aí comecei a pensar em coisas sem sentido, sem importância alguma. Como a curva que seus lábios faziam quando ela sorria, o brilho em seus olhos quando ela pensava em uma travessura, a forma como dançava meio descoordenada quando estava empolgada com uma musica nova, o jeito como revirava os olhos o tempo todo quando eu dizia algo que ela achava estúpido ou sua risada capaz de contagiar até o mais mal humorado. Pensamentos sem sentido nenhum e sem nenhum controle. Eu tentava me distrair dela, mas a cada dia ficava mais complicado. O único momento em que ela estava fora de minha cabeça era durante o sono. Quando perdi até isso dá pra imaginar o quanto foi esquisito? Foi sinistro! Acontecia com frequência demais. Os sonhos passaram a ser companhia constante todas as noites.

Fiquei me tranquilizando durante todos os dias, tentando me distrair ao máximo. Provavelmente era só uma pegadinha de meu cérebro ou talvez Samira havia me lançado algum tipo de simpatia do mal para me atormentar - eu não duvidava nada da segunda opção.

Pensei que as coisas iam melhorar quando voltasse e me surpreendi com o fato de ansiar nossa partida. Tudo naquele lugar era lindo, surpreendente e ao mesmo tempo misterioso, era de se imaginar que um garoto como eu fosse querer explorar e aproveitar cada centímetro, certo? Era o normal, não? Então por que eu queria tanto voltar pra casa? Quando foi que minha vida ficou tão maluca e confusa?

Quando finalmente partimos não esperei vê-la de imediato. Na verdade eu nem queria isso. Tinha medo de me sentir como no sonho. Mas quando a vi batendo a cabeça na grade de proteção de sua varanda, não foi exatamente assim que me senti. Fiquei feliz e tudo mais, só que não foi como no sonho. Mas eu ainda sentia medo.

Ouvi saltos altos ecoando pelo corredor.

— Miguel está na hora de... - minha mãe me olhou surpresa por alguns segundos - Você já está pronto?

Dei um sorriso e me aproximei dela. Nem havia percebido que estava fitando a varanda do quarto de Samira.

— Parece que estou - brinquei.

Ela sorriu e beijou minha testa.

— Venha - ela segurou meu pulso e me puxou para fora do quarto. - Vamos tomar café juntos.

— Papai está aí? - perguntei só por perguntar, já sabia a resposta.

Mamãe suspirou enquanto descíamos as escadas. Estava linda como sempre. Usava um vestido rosa claro simples que lhe caía com perfeição. O cabelo na mesma tonalidade do meu estava bem escovado preso em um coque frouxo, a maquiagem leve destacava suas feições simples, mas ainda assim belas, a postura impecável digna da realeza. Era isso que ela era. Uma rainha.

— Seu pai já foi trabalhar, querido - ela disse desgostosa enquanto nos sentávamos à mesa.

— Ainda não são nem sete.

— Ele teve uma emergência - ela deu de ombros.

Concentrei-me na mesa de café e tentei não pensar em meu pai invisível. Enchi meu prato com ovos mechidos, bacon e panquecas, e um copo com suco de laranja.

— Você acordou com fome - minha mãe disse enquanto mordiscava uma maçã.

Dei de ombros e continuei comendo. Minha mãe abriu o jornal e voltou sua atenção a ele durante um bom tempo.

— Como foi seu passeio ontem com Sami? - mamãe perguntou enquanto eu atacava um pedaço de torta de limão.

— Nada de mais. Fomos a uma sorveteria.

— Eu vi vocês ontem à noite - ela soltou um risinho.

Senti minhas bochechas esquentarem.

— O que você viu exatamente? - perguntei tentando não parecer envergonhado.

Ela sorriu novamente e deixou o jornal de lado.

— Bem, não vi muita coisa. Não tudo que gostaria.

— E o que gostaria de ver? - indaguei.

— Você sabe que gosto muito da Sam, meu amor. Ela é quase uma filha pra mim.

— Sei. Mas aonde você quer chegar?

Minha mãe me olhou séria.

— Você é o melhor filho que eu poderia pedir, o melhor amigo que alguém poderia ter. Samira tem sorte por ter você.

— Não estou entendendo.

— Conheço você meu amor. Você entende sim.

Minha torta de limão não parecia mais tão apetitosa assim. Afastei o prato e olhei para o relógio antigo na parede oposta.

Minha mãe me avaliava em silêncio. Me levantei, estiquei o corpo e me aproximei dela, lhe dei um beijo no rosto e sussurrei em seu ouvido.

— Nos vemos mais tarde o.k?

— Vou esperar ansiosa - ela sorriu, os olhos verdes ternos. - Boa aula.

Retribuí seu sorriso e peguei as chaves do carro já me dirigindo em direção à garagem. Dei partida e saí devagar, parando em frente à casa de Samira. Saí do carro e encostei-me à porta, o céu estava lindo sem nuvens, o sol brilhava e a brisa do outono me fazia esquecer todas as incertezas que eu tinha. Fechei os olhos e deixei os raios do sol aquecerem meu rosto.

— Aproveitando pra tomar uma dose de vitamina D? - ouvi uma voz brincalhona perguntar.

Abri os olhos lentamente e sorri. Samira me encarava com olhos incrivelmente azuis. Os cachos negros estavam presos em um rabo de cavalo deixando a mostra os traços bem feitos e delicados. A pele parecia reluzir a luz do sol, as bochechas rosadas naturalmente. Usava uma blusa leve verde, saia jeans e sapatos de salto baixo, mesmo assim, eu me perguntava como ela conseguia se mover com tanta discrição. Ela estava mais bonita que o dia.

— O dia está lindo, não? - perguntou sorrindo.

— Muito - dei de ombros. - Você não está atrasada.

Ela revirou os olhos.

— Por que tanta surpresa? - ela perguntou fazendo cara de inocente.

— Você sempre se atrasa.

— Bom, parece que seu "sempre" acaba de ter uma alteração. Está decepcionado?

— Um pouco. Na verdade estou me perguntando quem é você e o que fez com minha amiga.

— Você é um bobalhão. Faço um esforço para te fazer uma surpresa e você me retribui assim? Estou indignada.

Abri a porta do lado do carona do carro e fiz uma leve mesura.

— Perdão Srta. Parker - disse sério. - Não foi a intenção ofender.

Ela suspirou, se inclinou em direção ao banco e jogou a mochila no banco de trás, depois se sentou e cruzou as pernas. Fechei a porta e me direcionei ao lado do motorista. Liguei o carro enquanto ela colocava o cinto. Ficamos em silêncio durante o pequeno percurso que eu fazia para nos tirar do condomínio. Samira pegou o CD de sua banda favorita - que ela havia me dado de presente - e colocou baixinho. A música animada e leve reverberando pelo carro, a fazendo mexer o corpo no banco espontaneamente. Deixei uma risada escapar sem querer.

— Qual é a graça? - Samira perguntou franzindo o cenho.

— Nada - respondi, voltando a atenção para a estrada.

Passamos pela avenida principal, o trânsito estava tranquilo como o clima entre nós. As últimas notas da música terminavam, passando para uma mais lenta, doce. Samira parou de tentar dançar no espaço mínimo e começou a cantarolar baixinho. Eu já tinha a ouvido cantar milhões de vezes, mas sempre me surpreendia com o som maravilhoso que era sua voz.

Chegamos a enorme construção moderna que era a Wisdom High School, um conjunto de três prédios gigantescos rodeados por um campus exuberante. Estacionei na garagem ao ar livre e seguimos em direção ao primeiro prédio. Samira sorria e cumprimentava a todos que passavam por nós com um aceno de cabeça, parecia de ótimo humor, o que era uma novidade pra mim em plena segunda feira. Subimos as escadas de dois em dois degraus e nos deparamos com a recepção simples, mas bem decorada e iluminada. Me inclinei em direção a Susan que parecia se divertir muitíssimo jogando paciência no monitor atrás do balcão.

— Bom dia, Susan - cumprimentei sorrindo.

— Olá querido - Susan desviou sua atenção do monitor e me encarou um pouco constrangida para logo após me dá seu velho sorriso de boas vindas. - O que deseja?

—Nosso horário do semestre - disse indicando com a cabeça na direção de Sam que estava sentada no sofá revirando seu celular.

— Oh! Só um instante, querido - ela disse ajeitando os óculos no nariz enquanto se debruçava sobre o teclado do computador. Em alguns segundos ela imprimiu duas folhas e abriu uma gaveta de onde tirou duas chaves e algumas apostilas. Pôs tudo em cima do balcão e sorriu novamente acentuando as várias sardas espelhadas pelo rosto. Retribuí seu sorriso, peguei as coisas e adentrei mais profundamente no prédio com Samira caminhando ao meu lado. Caminhamos pelo corredor até acharmos nossos armários. Entreguei-lhe suas apostilas uma a uma enquanto ela as organizava dentro do pequeno compartimento.

Quando ela terminou comecei a organizar as minhas. Sami voltou novamente sua atenção ao celular e colocou os fones de ouvido.

O resto do dia passou tranquilamente. Eu e Sami tínhamos a maioria das aulas juntos como em todos os outros anos. Sempre estudamos juntos.

A Sra. Parkinson não teve nenhuma piedade. Passou um trabalho de biologia sobre algas marinhas logo pra semana seguinte. Claro, que Sami grudou em mim no mesmo instante, gritando para toda a turma que eu era seu parceiro. Típico.

Ela reclamou do trabalho durante todo o nosso percurso na hora do almoço, parecia ter um novo estoque de xingamentos para professores que ela não ia com a cara - quase todos.

Compramos nosso almoço e escolhemos uma mesa mais reservada nos fundos do refeitório. Amber e Megan, amigas de Sam, sentaram-se conosco logo seguidas de Jake. Eles pareciam muitos interessados em minha viagem ao Brasil, fazendo um interrogatório completo.

— E as praias? - Megan perguntou, os olhos escuros brilhando de expectativa. Ela era louca por praias.

— São lindas. A água é tão transparente que dá para ver as pedras e corais a distância - falei animado.

— Você nadou com os golfinhos? - Amber quis saber.

— Nadei - respondi tentando conter a empolgação. Sami não pareceu tão admirada com a experiência. Parecia até que ficou um pouco incomodada. Não queria parecer pretensioso.

— E como foi?

— Incrível. Único - sorri me lembrando da sensação. A água morna naturalmente se enroscando em minha pele.

As meninas sorriram e começaram a tagarelar sobre como em um dia elas iam me imitar.

— Você ainda não falou sobre o que eu mais quero saber, cara - Jake falou entre mordidas em sua pizza.

— O que seria? - perguntei curioso.

Jake sorriu sonhador e tomou um longo gole de sua coca.

— As mulheres, cara. Você ainda não falou delas - ele disse ainda sonhador.

— Ah! Elas são muito bonitas - Dei de ombros, mas por algum motivo não consegui evitar olhar na direção de Samira. Ela olhava fixamente para seu prato, as bochechas coradas. Não entendi aquela reação.

— Bonitas? Só isso? - Jake perguntou franzindo as sobrancelhas. - Mais detalhes, cara. Aposto que você viu um monte delas de biquíni.

Eu realmente tinha visto muitas delas de biquíni. Elas eram de fato muito bonitas.

— Acho o tamanho dos biquínis um pouco exagerado - Megan comentou enquanto tomava seu suco de caixinha.

Jake a ignorou por completo e me olhou com expectativa.

— Como eu disse antes elas são muito bonitas - respondi ainda com olhos em Samira.

Jake me avaliou por alguns segundos. Notei que seus olhos iam de Sami a mim, e um sorriso sarcástico que eu conhecia muito bem se formou em seus lábios.

— Tudo bem então. Mas, me diga pelo menos, com quantas você ficou.

Senti minhas bochechas pegarem fogo. O vermelho das de Sam também se intensificou.

— Nenhuma - menti. Por algum motivo não consegui falar a verdade. A mentira simplesmente escapuliu pela minha boca.

Jake me encarou e suas sobrancelhas se elevaram. Ele me conhecia, deve ter pegado minha mentira no ato.

— Mesmo? - pressionou. - Nenhuma?

Ele mal conseguia conter o riso. Samira levantou os olhos e olhou pra mim.

Eu tinha mesmo ficado com uma menina, mas foi só uma vez e eu nem sei porque tinha feito aquilo. Ela era legal, mas eu não gostava dela. Tinha sido algo insignificante. Indiferente.

— Mesmo - confirmei minha mentira.

Eu geralmente era um péssimo mentiroso. Qualquer um era melhor que eu nisso. Jake engoliu o riso e deu de ombros, Sami me olhou por mais alguns segundos e fez o mesmo. Eu não tinha enganado nenhum dos dois.

Voltamos a comer e conversar normalmente. Amber e Megan continuavam a fazer perguntas infindáveis sobre as paisagens brasileiras, enquanto Jake soltava comentários sem noção a cada segundo. Samira esteve distante o tempo todo, olhando fixamente para o nada, como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

O restante das aulas passou rapidamente e nos direcionamos para nosso último martírio do dia. Educação Física.

— Agora que estamos a sós. Você pode, por favor, ser sincero? - Jake perguntou enquanto eu calçava meus tênis.

— O que quer saber? - perguntei já adivinhando a resposta.

— Quantas?

Suspirei.

— Uma - não menti dessa vez. - E só uma vez.

— Só isso? - ele disse descrente.

Assenti.

— Por que? Soube que as brasileiras amam gringos.

Sorri com seu comentário.

— Não estava com cabeça - fui sincero novamente.

Jake sorriu e assentiu, parecendo compreender.

— Você vai finalmente investir nela?

— O que? - perguntei confuso - Nela quem?

Jake rolou os olhos.

— Samira? Esse nome te lembra de alguém? - perguntou brincalhão.

— Você tá de brincadeira? Que bobagem é essa? Samira é minha amiga.

— Bom, se você gosta dela acho que já está na hora de mudar isso.

Respirei fundo e não respondi. Estava começando a me cansar de tantos o tempo todo querendo me dizer o que eu estava sentindo. Como eles já podiam ter tanta certeza? Será que não tinham mais o que fazer além de gastar todos os segundos ociosos de suas vidas especulando sobre meus sentimentos? Que merda!

Saímos do vestiário em silêncio e nos direcionamos a quadra esportiva. Jake ainda mantinha seu ar de às do romance. Minha irritação parecia fervilhar dentro de mim.

O treinador Clark parecia animado enquanto nos reunia em um círculo. Megan, Amber e Sami se aproximaram de nós, vestindo shorts e camisetas. Sami mantinha o cabelo preso no mesmo rabo de cavalo e sorria animada com a possibilidade de um jogo de queimado, enquanto Amber lutava com os cabelos de Megan tentando com afinco transformar os fios escuros rebeldes em uma trança. Tentei não rir da cena.

O sr. Clark parecia ter dificuldades em organizar todos os alunos que insistiam em não lhe dá ouvidos. Dessa cena não consegui evitar rir, com Sami e Jake me acompanhando. A risada de sinos dela parecia como quando cantava e deixava meu estômago recheado de cubos de gelo. Estúpida! Aquela reação era estúpida!

Mas o som parou de repente e senti Sami ficar tensa ao meu lado, resmungando tão baixo que não consegui entender. Olhei na direção em que ela olhava de cara fechada e entendi imediatamente.

Lana Summers se aproximava com um sorriso de nós. O cabelo louro estava solto ao contrário do das outras. A maquiagem perfeita ressaltava seus olhos âmbar e os shorts curtos deixavam suas pernas longas e delineadas expostas. Ela me lembrava minha mãe quando caminhava, mas também uma atriz que eu costumava assistir quando era criança. Graciosa, mas implacável.

Lana sorriu mais abertamente ao se aproximar de mim e me beijar o rosto. O contato me surpreendeu e por muito pouco não me afastei. Eu a conhecia por muitos anos e as vezes chegávamos a conversar, era sempre gentil e divertida comigo. O ódio mútuo que Sam e ela mantinham era uma completa incógnita pra mim.

— Olá Miguel - Lana diz ao se afastar de mim. - Esperei você vir falar comigo, mas... Está me evitando?

— É claro que não, Lana. - Pra que eu a evitaria? Claro, as vezes ela me deixava constrangido, mas não era motivo para lhe ignorar. - É que você está sempre cercada de tanta gente.

Ela sorriu com o comentário. Era verdade. Lana era o típico estereótipo do que chamam de popular. E parecia se deleitar ao máximo com isso.

Seus olhos vagaram por meus amigos, parecendo só nesse momento notá-los. Ela fez um leve cumprimento com a cabeça. Jake sorriu debochado de volta, Amber e Megan deram de ombros e Sami - como o esperado - torceu a boca, nem mesmo se dando ao trabalho de disfarçar.

— Oi Lana! - o tom sarcástico era óbvio. - Como foi seu verão? Aposto que inesquecível!

— Não tanto quanto gostaria, Samira. - Lana suspirou dramaticamente e depois completou olhando particularmente pra mim - Faltou algo.

Por algum motivo não me senti confortável com aquela situação. Desviei os olhos.

— Que pena! - Sami exclamou colocando as mãos no rosto como se não pudesse se conter.

Lana a fuzilou com os olhos. Samira estaria ferrada se ela tivesse os olhos do Ciclope. Ela parecia prestes a responder quando o professor gritou chamando nossa atenção, finalmente obtendo sucesso com os outros alunos. As amigas de Lana acenaram de longe para ela com sorrisinhos nos rostos pintados exageradamente. Lana olhou para elas e depois pra mim.

— Você ficaria no meu time hoje? - pediu com os olhos âmbar enormes.

— Mas é claro que não - disparou Samira. - Ele já tem time.

Lana a encarou por alguns segundos e Sami sustentou seu olhar, até que por fim olhou pra mim.

— Miguel? - perguntou docemente.

Olhei para ela, seus olhos pedintes pareciam se derramar dentro de mim, e então olhei para a cara vermelha de raiva de Sami.

— Desculpe Lana, talvez outro dia... - disse.

Lana fez um muxoxo e então deu de ombros. Aproximou-se novamente de mim e jogou os braços ao redor do meu pescoço e grudou seu corpo ao meu. Afastei-me um pouco, mas retribuí seu abraço.

— Vou cobrar - sussurrou em meu ouvido sorrindo. Sua voz fez cócegas no meu pescoço. Ela percebeu e pareceu satisfeita com isso. E se afastou.

— Tchau, Lana - disse Samira me puxando para mais perto de si. - Suas puxa-saco estão esperando.

A loura fuzilou-a com os olhos e deu alguns passos pra trás ainda nos olhando.

— Tchau, foi um prazer revê-los - disse balançando a ponta dos dedos como uma boneca de desenho animado.

— O prazer foi todo nosso, Lana - Sam disse toda cheia de ironia.

Lana se virou e continuou a caminhar.

— É... - Lana disse se virando para nós outra vez. - Samira?

— Sim? - Samira disse docemente.

— Acho que você deve maneirar um pouco no sorvete. Notei que você deu uma engordadinha - ela disse dando uma piscadela de olho.

Vi Sami corar intensamente de ódio e depois respirar fundo.

— E eu acho que você devia cuidar um pouco mais da sua vida - retribuiu tranquilamente. - Essa invejinha está ficando ultrapassada.

Lana deu de ombros e voltou rapidamente para suas amigas.

A aula de educação física passou voando. Como Sami previu jogamos queimado. Nunca a vi jogar com tanta vontade. Parecia mais uma máquina de destruição. Mas Lana não ficou abaixo. Nosso jogo parecia se enquadrar mais em um confronto das duas. Por fim, nosso tempo acabou e o jogo terminou empatado.

No caminho pra casa Sami resmungou o tempo todo, ainda furiosa com o resultado. Eu me sentia morto, como se cada músculo de meu corpo implorasse por minha cama, não me lembrava da última vez que tinha me esforçado tanto pra ganhar queimado. É isso que se acontece quando se tem uma capitã de time irritada. Sami só fica pior quando está de TPM.

— Ainda não consigo acreditar nisso - disse pela milésima vez naquele tarde, quando estacionei em frente à sua casa. - Vou esmagar aquela baratinha da próxima vez que a ver.

— Deixa isso pra lá, Sami. É só um jogo - eu disse enquanto saímos do BMW.

— Jogo?! Aquela loura psicopata vai pensar que se iguala a mim.

— Você não pode está falando sério.

Ela bufou esfregando as têmporas.

— De que lado você está?

— De nenhum, Sami - disse deixando minha voz o mais suave possível. - Só não consigo entender a razão de tudo isso.

— Como não consegue entender? - ela perguntou, mas estava claro que não queria mesmo uma resposta. - Aquela louca parece dedicar a vidinha insignificante dela em me atormentar.

Continuei quieto.

— Você não lembra que ela quase me matou no semestre passado quando colocou essência de baunilha no meu suco? Você sabe que sou alérgica a baunilha!

— Não temos certeza se foi ela - eu disse ainda mantendo a voz suave.

— É claro que foi ela. E justo no dia da foto. Eu fiquei ridícula, toda vermelha e enxada.

— Se foi ela realmente, você vingou. A dança do macaco tem mais de cem mil visualizações no YouTube.

Isso pareceu a deixar mais calma, ela sorriu de canto relembrando. Aquilo foi cruel. Samira colocou pó de mico na roupa da garota justo no dia da nossa final de basquete. Lana é a chefe das líderes de torcida e inventou uma coreografia totalmente nova e excêntrica naquele dia.

— Você sabe que foi maldade colocar o vídeo no YouTube - disse a repreendendo.

— Eu estava apenas me defendendo - ela se justificou cruzando os braços.

— Que nem quando você trocou o shampoo dela por tinta azul?

— Isso foi porque ela pegou minhas roupas depois da educação física e eu tive que sair do vestiário só de toalha. Pode imaginar o quanto isso foi constrangedor?

— E quando você fez cair àquela meleca encima dela no dia do baile de inverno? - continuei.

— Só fiz aquilo porque ela deu um jeito de me fazer inalar gás hélio segundos antes do musical de primavera. Algumas pessoas ainda riem de mim por causa daquela voz de ratinha!

— E quando... Ah! Chega! - disse já cansado. Não adiantava tentar ficar relembrando daquele ciclo sem sentido. Sami tinha desculpa pra tudo.

— Não conseguiu encontrar uma forma de defender sua amiguinha? - sua voz se encheu de nojo na última palavra.

— Ela não é minha amiga - disse desviando os olhos. - E a questão não é essa.

— Então me diz qual é então - ordenou com aquele seu tom autoritário extremamente revoltante.

— A questão é que você gosta dessa loucura toda. Você não se cansa desses joguinhos de criança! - minha voz perdeu totalmente a suavidade. Eu já estava ficando de saco cheio.

Samira me encarou com os olhos arregalados.

— A culpa é dela! - ela insistiu gritando. - Ela começou isso tudo! Você se lembra de como começou.

— Sim, eu me lembro. Ela riscou aquele maldito desenho daquela fada que você ficou fazendo por horas no jardim de infância e você puxou as tranças dela pra revidar! - Eu já estava gritando também, perdendo completamente meu controle.

— Você queria que eu tivesse feito o quê? - disse balançando os braços e cuspindo as palavras.

— Que tivesse deixado pra lá, Sami. Que esquecesse - disse baixando o tom. Sam não podia me deixar daquele jeito. Eu não era assim.

Ela me olhou como se não conseguisse acreditar no que eu havia dito.

— Eu não sou como você! - ela gritou novamente.

Esfreguei as têmporas e a olhei nos olhos.

— E como eu sou? - perguntei com a voz a controlada.

Samira olhou bem fundo nos meus olhos e disse pausadamente:

—Frouxo! Você. É. Um. Frouxo.

Fiquei a olhando por alguns segundos. Eu poderia lhe dizer muitas coisas duras. Podia lhe dizer que era uma infantil. Uma tola. Uma grossa idiota. Mas não disse nada, apenas me desencostei do carro e andei em direção ao meu gramado, lhe dando as costas.

— Olá, querido - minha mãe disse sorridente depois que entrei em casa - Como foi seu primeiro dia de aula?

— Depois, mãe - eu disse já subindo as escadas.

Fechei a porta do meu quarto logo depois que entrei mesmo sabendo que não era necessário. A coisa mais maravilhosa em minha mãe era que ela sabia dá espaço. Sabia o significado de privacidade. Que certos limites não devem ser ultrapassados.

Me joguei na cama sem tirar os tênis e respirei fundo tentando não pensar naquela garota. Não conseguia acreditar que tinha sentido falta dela.

Idiota! Eu era um idiota como ela.


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Notas finais do capítulo

E aí... Mereço que você dê uma apariçãozinha?
Bjinhos.



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