Give Me Love escrita por Liah Violet


Capítulo 14
Confissão, confusão, surpresa


Notas iniciais do capítulo

Olhem só quem não morreu?! A cara de pau aqui! Renascida apenas para postar mais um capítulo enoooooorme. Capítulo esse que me deu um trabalho dos infernos - um ano para ser concluído, dá pra acreditar?
Enfim, se alguém ainda estiver por aí, desejo uma ótima leitura.



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Pov's Miguel

 

— MIGUEL?!

Levanto a cabeça sobressaltado.

— Mas que merda, Jake! Por que está gritando?

— Porque você não está prestando atenção em mim!

Ouvi risinhos da mesa ao lado. Estávamos em nosso horário de almoço.

— Estou prestando atenção agora, então pare de fazer essa cena. Meu Deus como você é dramático.

— Meu Deus como você é um péssimo amigo - ouço-o resmungar de volta.

Os risinhos das garotas ao lado só aumentam.

— Que casalzinho mais fofo, meninas - uma lourinha de uns quatorze anos cochicha no ouvido de uma morena de mesma idade.

— Será mesmo? - a outra rebate sorrindo maliciosamente. - O de cabelo louro avermelhado é Miguel Jonhson. Ele não namora a Parker do clube de teatro?

Será que elas pensam mesmo que não estamos ouvindo?

Vejo pelo canto do olho que a lourinha balança a cabeça.

— Não. São apenas amigos. O namorado deve ser o Sulivan mesmo.

Suspiro alto. É, a culpa é toda de Jake e seus comentários esquisitos.

Jake muda de posição em sua cadeira de modo a poder encarar as meninas de forma mais aberta.

— Será que as mocinhas não poderiam futricar mais baixo? - reclama - Estou pedindo uns conselhos muito héteros ao meu amigo machão aqui, já que não somos namorados e eu estou querendo comer a prima dele.

As garotas ficaram rubras da cabeça aos pés e eu quase engasguei com meu suco.

— Como é que é? - pergunto fuzilando Jake com olhos. - Que porra é essa? Não estou com saco para suas piadinhas, Jake então é melhor dizer que acaba de ser posuído por um demonio e não lembra o que falou.

Jake apenas arqueou uma sobrancelha e mordeu sua fruta.

— Claro que não fui possuído por Satanás - diz calmamente como se não tivesse medo de perder os testículos. - Eu realmente quero comer sua prima.

— Mais uma palavra e eu arrebento sua cara- ameaço olhando-o nos olhos.

Jake soltou sua fruta na bandeja.

— Só depois do casamento, cara. Só vou ter a honra de fazer amor de uma forma bem melosa e leve depois que eu desposar sua adorável, linda, donzela e gostosa de uma forma nada erótica, priminha.

Reviro os olhos.

— Você é um sacana maldito, Sulivan - despejo. - Um dia ainda vou me cansar de suas brincadeirinhas de mau gosto.

— Você nunca vai se cansar de mim, Mimi e quer saber por quê? - ele mesmo responde. - Porque somos como Batman e Robin, Aladin e o Gênio, Mickey e Pluto e o meu favorito, Shrek e o Burro. Melhores amigos para sempre!

Mordo o canto dos lábios para conter o sorriso. Ainda não estou pronto para perdoá-lo depois da forma como se referiu a Melinda. Ela pode ser irritante e intromentida a maior parte do tempo, mas merece respeito.

— Me desculpe, o.k.? Agora será que dá para me ajudar?

Volto a comer minha torta de framboesa.

— o que você quer?

— Você não ouviu nada do que eu disse antes, né?

— Fala logo o que você quer.

— Eu já disse. Estou realmente interessado em Melinda.

O olho de cara feia.

— Já disse para parar com essa brincadeira. Não tem graça.

— Não estou brincando. É sério. O que eu faço para conquistá-la?

— Não vou ajudar você a magoar minha prima. Pode tirar seu cavalinho da chuva. Ela não é igual a nenhuma dessas garotas de balada com quem você se diverte.

— Miguel, não é nada disso tá?

— Então o que é?

— Não sei tá? Apenas não consigo parar de pensar nela desde ontém.

Tomo mais um gole de suco.

— Sério?

Ele assente.

— Isso é patético. Ela só atendeu a porta.

Jake me lançou um olhar mortal.

— Isso não é verdade.

— Ah, não?

— Não. Ela disse oi também.

Arquiei uma sobrancelha.

— Retiro o que disse. Você é mais que patetico.

Jake suspirou e passou as mãos pelos cabelos pretos.

— Será que dá para me levar a sério?

— Não! - sou sincero.

Ele bufa.

— Deixa pra lá. Não preciso da sua ajuda mesmo.

Eu estava prestes a dá de ombros e deixar que ele simplesmente desistisse sozinho, mas minha consciência sempre burra e boazinha não permite. Afinal de contas ele tem sido muito paciente e até me dá uns conselhos que na maioria das vezes não servem para nada, mas são de coração, eu acho.

— Tudo bem. - Isso não vai prestar. - Vou ajudar você, mas precisa prometer que caso isso funcione você vai tentar não ser o completo idiota que você sempre é.

— Nossa, você sabe realmente como levantar a moral de alguém.

— Cala a boca antes que eu desista.

— Só me diz do que ela gosta.

E foi o que eu fiz. A verdade é que eu não sabia muita coisa de fato sobre Melinda, ela era minha única prima e só de uns anos para cá que ela vem me enchendo mais o saco. Minha tia Rachel sempre viajou muito e arrastava Melinda - quando ela não estava largada em algum colégio interno caríssimo - em suas aventuras. Agora que ela pode dizer o que quer parou com a vida de nômade. Então a maior parte do tempo está em Washington em uma mansão altamente extravagante cercada de empregados e patricinhas fúteis que ela não considera de fato amigas, mas que são ótimas paparicadoras. Talvez seja por isso que ela e Sami não são amigas. Samira é sempre tão simplória sem se importar com o que vão achar dela, fazendo sempre o que a faz feliz estando sempre perto de quem a faz bem.

Um frio incomodo invade meu estomago como me lembrando que isso não é mais realidade, pelo menos não no momento quando tudo que ela quer é agradar a todos que vão a essa maldita festa. O que está acontecendo com a minha Sami?

Balanço a cabeça. Eu não devia está pensando nela. Devia guardar tudo isso pra quando tivessemos tempo de verdade para conversar. Mas é claro que acabo relembrando nossa ultima conversa.

Ando pelo corredor da escola olhando para todos os lados. Megan me disse que ela estaria na biblioteca mas mesmo assim me certifico de não deixá-la passar despercebido. Tenho certeza que ela percebeu minha distração nas aulas de hoje e aproveitou para fugir de mim. Ela está fazendo isso desde ontém. Tentei falar com ela quando minha mãe e Melinda se distanciaram para ver o resto da decoração à beira da piscina e eu aproveitei para puxá-la para meu quarto, mas no instante em que Jake chegou ela deu um jeito de escapar. Hoje quando cheguei para buscá-la como de costume, seu pai disse que ela já tinha saído com Amber e durante as aulas sentou o mais distante possível e não olhou em minha direção uma única vez. Isso é tão ridiculo. Se tem alguem que deve está chateado esse alguem sou eu. Por que ela não poderia fazer mais sentido?

Entro na biblioteca e começo a vasculhá-la com os olhos. Sami está sentada em uma mesa sozinha lendo um livro de capa cinza cujo o título não consigo ler. Me aproximo sorrateiramente para que ela não tenha chance de fuga.

— Podemos conversar agora ou você vai continuar brincando de pique-esconde? - digo ao me sentar de frente para ela.

Samira pula na cadeira. Seus olhos se arregalam.

— Co-como me achou?

Dou de ombros.

— Megan.

Ela franze as sobrancelhas.

— Mas...

— Eu a subornei. Uma caixa de doces por dia durante uma semana.

— Bom saber que nossa amizade tem um preço - murmura para si mesma.

Ela suspira e se encolhe minimamente na cadeira.

— Tudo bem. Pode falar. - Sua voz soa diferente.

— Não estou aqui para brigar com você - explico.

— Mas é claro que não. Você vai dizer o que veio dizer como um cavalheiro. - Definitivamente aquele não é seu habitual. Sua voz melancolica é o que me alerta.

— O que você acha que vou dizer?

Ela apenas meneia a cabeça.

— Vamos logo acabar com isso, o.k.? - dispara sem me olhar nos olhos. - Prometo não fazer uma cena.

— O que você está pensando, Sami? - insisto.

Ela suspira e encara o tampo da mesa.

— Está tudo bem, o.k.? - ela diz, mas tão baixo que não tenho certeza se queria que eu ouvisse ou se estava falando a si mesma. - Não era pra ser. Eu meio que lá no fundo sabia disso.

E aí a ficha cai.

— Você acha que vim terminar com você. - Não é uma pergunta. Ficou óbvio depois de suas últimas palavras.

Ela sorri sem humor e levanta os olhos, para depois de instantes voltar a desviá-los.

Como ela pode ter chegado a essa conclusão? Pensei que já estivesse claro como vidro o fato de eu simplesmente ser incapaz de me afastar dela.

Balanço a cabeça e passo os dedos por meus cabelos. Como ela pode pensar uma cooisa dessas?

— Está tudo bem. - Ela puxa o ar com força. Sua voz é trêmula e frágil. - Não é como se isso tivesse ido longe o suficiente para nos machucar.

Olho para baixo. Ainda não consigo entender. Vejo suas mãos tremendo.

— Por favor diga alguma coisa - ela suplica. - Ainda somos amigos?

Levanto os olhos e a vejo com o maxilar trancado. Estico a mão até alcançar a sua.

— Não vim dizer nada disso. Você está enganada - digo suavemente.

Sam olha para nossas mãos juntas e depois levanta o rosto confusa.

— Não? - Ela parece incredula. - Mas ontém...

— Ontém eu estava com raiva. Me desculpe por ter gritado.

Ela apenas assente.

— Mas o fato de eu ter me exaltado e está arrependido por isso, não significa que esqueci o que você fez.

— Eu não pensei que fosse causar problemas. Não sabia que ia deixar você preocupado.

— Preocupação não é a palavra certa para definir o que eu senti quando subi e não encontrei você onde estava. Você não faz ideia do quanto eu fiquei... As coisas que passaram por minha cabeça. Eu pensei que você... - Fecho os olhos e balanço a cabeça tentando afastar as lembranças com receio de que aquele pânico insuportável volte.

Sinto uma leve pressão em minha mão e depois um polegar fazendo movimentos circulares nas costas desta.

— Ei, eu estou bem. Não aconteceu nada. Já passou.

Guardo suas palavras e tento me convencer de sua veracidade.

Quando por fim abro os olhos vejo Samira me encarando com o cenho franzido, preocupada.

— Você está bem?

Assinto.Ela se levanta e se senta ao meu lado. Não solta minha mão e com o outro braço envolve meus ombros.

Mais uma coisa ainda me incomoda.

— Você disse que não era pra ser - digo me virando para que possa olhar em seus olhos. - Por que você acha isso? Por que acha que não devemos ficar juntos? Por que não daria certo? É por isso que ainda não aceitou ser minha namorada?

Sami morde o labio inferior. Seus olhos ficam tristes.

— São muitas perguntas - ela observa.

— Apenas responda.

— Miguel, eu só...

Ouvimos o som alto e estridente anunciando que devemos nos encaminhar para a próxima aula. Quase esqueço que ainda estou em um dia comum na escola e que provavelmente não vou mais ter a sorte de uma aula vaga pelo resto do dia.

Samira se levanta e me olha com uma expressão culpada.

— Vamos? - Ela estende a mão.

Levanto e roço os lábios nos dela. É um beijo muito rápido e sem grandes proporções porque embora estéjamos em um local mais reservado e a biblioteca esteja quase vazia não podemos nos arriscar demais, mas de qualquer forma me sinto um pouco melhor quando nos afastamos.

— Vamos conversar melhor depois - dito.

Ela se contenta em suspirar e concordar com a cabeça.

— QUE SACO, MIMI! DE NOVO, NÃO.

Pisco algumas vezes, atordoado.

— Qual é o problema? - pergunto.

— Você está com a cabeça aonde?

— Desculpe. O que mais você quer saber sobre Melinda?

— Deixa pra lá. Depois voltamos a falar disso.

Dou de ombros.

— Qual o problema? - volta a perguntar.

— O quê?

— Quero saber o que está te impedindo de agir como uma pessoa normal.

Sorrio sem humor.

Jake apenas me encara com um olhar interrogativo como se esperando uma resposta.

— Samira - respondo por fim. - Nós nos desentemos ontém e as coisas ainda não voltaram ao normal.

Ele assente.

— Por que será que isso não me surpreende?

Fico calado.

— A propósito você está pessimo. Está com cara de quem passou a noite em claro.

Suspiro. Ele está certo. Minha aparência não podia está pior. Não consegui fechar os olhos noite passada. Não há nada que me deixe pior que brigar com ela.

— Você tem certeza disso? - Jake me olha sério. Mais sério do que já presencie em qualquer ocasião anterior.

— Certeza do quê?

— Samira.

Bufo.

— Que pergunta é essa?

— Isso é sério, Miguel. Você ja se olhou no espelho hoje?

— São apenas olheiras - sussurro.

— Não estou me referindo às olheiras. É essa sua expressão que me preocupa.

— Se continuar falando desse jeito vou acreditar que realmente se importa comigo - debocho.

Jake revira os olhos.

— É claro que me importo com você seu lesado. Você é meu irmão.

— Está tudo bem.

Ele balança levemente a cabeça.

— Eu não sei. Vocês são muito diferentes.

— E isso nunca atrapalhou de fato nossa relação. Discutíamos, mas sempre nos reconcíliamos.

Minhas palavras não parecem surtir efeito. Jake continua me olhando e balançando a cabeça. - Qual é, Jake? - disparo. - Você mesmo disse que eu deveria tentar. Me jogar, lembra?

— Eu sei o que eu disse. E pensei que funcionaria de outra forma, que as coisas seriam mais fácies para você e para ela.

— Você apostou que ela me daria um fora - lembro-o numa tentativa de deixar a conversa mais leve.

— Você precisa saber a hora de parar, Miguel - ele me fala seriamente.

— Você não está me dizendo isso. É uma das suas brincadeiras em forma de sugestão, não é?

Mas ele não volta atrás.

— Vocês nem mesmo namoram e as coisas já estão complicadas dessa forma. Ela nem mesmo está aqui.

— Você não sabe o motivo. Ela me mandou uma mensagem dizendo que iria sair mais cedo da escola para poder organizar os últimos preparativos para amanhã - retruco.

É sua vez de sorrir amarelo.

— Francamente, Miguel eu não sou o idiota que não consegue ver além do seu próprio nariz que você pensa que eu sou. Acha que eu não vi você todo murcho correndo atrás dela? Eu vi você chegando sozinho hoje com cara de maracujá azedo e soube no momento em que ela mal cumprimentou você que tinha algo de errado.

— Eu não vou desistir - É a única coisa que tenho a dizer.

Jake assente uma vez e respira fundo.

— Espero que o treinamento esteja surtindo efeito então porque você vai continuar se magoando.

— Não pedi sua opinião - disparo e lhe dou as costas.

O sinal já soou a alguns minutos e sei que deveria me encaminhar a minha próxima aula. Mas não consigo, não depois de minha discursão com Jake. Estou furioso com sua falta de fé em mim, por sua desconfiança.

— Eu consigo fazer com que dê certo. Eu consigo - sussurro para mim mesmo e me encaminho para a garagem. Que se foda a aula de inglês.

Tiro as chaves do bolso e entro no carro. Tudo que preciso agora é ficar sozinho em um lugar onde ninguém possa me fazer perguntas, onde eu possa simplesmente explodir.

Coloco a chave na ignição. Minhas mãos tremem convulsivamente.

Respiro fundo algumas vezes e encosto a cabeça no volante.

— Merda, merda, merda, merda!

Retiro a chave da ignição e saio do carro. Uma ideia mais urgente acaba de me aparecer como tábula de salvação.

Assim que saio do estacionamento da escola me direciono a quadra de basquete. Felizmente não está na hora da educação física e fico livre para me esgueirar por tras da arquibancada até encontrar a pequena porta que me levará ao Jardim de Vênus de Lana. Tateio as beiradas da porta e encontro uma chave minuscula que ela deixou lá naquele dia para quando e se eu quisesse voltar. Confesso que isso não estava nos meus planos até minutos atrás, mas preciso mesmo de um lugar para ficar sozinho e embora eu esteja puto com minha vida reconheço que não estou em condições de dirigir.

Abro a porta e me curvo para passar. Lembro que na primeira vez em que entrei aqui fiquei impressionado com a beleza do local e o cheiro impressionante das flores, mas agora tudo que consigo fazer é me jogar no banquinho de cimento entre duas grandes roseiras.

Não quero pensar em nada do que Jake falou. Minha consciência diz que não devo odiá-lo tanto quando estou odiando agora porque no fundo ele só quer que eu fique bem assim como também quero que ele fique. Só que não consigo, não agora.

Passo os dedos pelos cabelos, bagunçando-os. Também não quero pensar em Samira. Não quando estou com raiva por toda a sua indecisão e insegurança tola.

Então resolvo me martirizar por minha fraqueza.

Não sei por quanto tempo fico sentado, me xingando e imaginando tudo que eu deveria ter feito diferente. Talvez eu devesse sair e ir para casa, as aulas provavelmente já devem ter acabado, mas não consigo me levantar. Minha cara deve está ainda pior que antes por conta do estresse e não quero minha mãe me direcionando aquela cara de preocupação.

Suspiro e obrigo o ar a preencher cada compartimento mínimo de meus pulmões.

Estou pronto para começar mais uma sessão de xingamentos quando escuto o som de algo se partindo e o movimento de passos.

Olho na direção do som e encontro Lana me olhando com uma expressão culpada.

— Eu já estou saindo - murmura e volta a se virar em direção à porta.

Me levanto e a sigo.

— Não, você fica. Eu saio.

Ela me olha como se eu tivesse dito alguma asneira.

— Você chegou primeiro. Você fica.

Balanço a cabeça.

— Não, esse lugar é seu.

— Eu disse que você poderia voltar sempre que quisesse. Deixei até uma chave - ela discute.

— Mesmo assim. Você sempre vem quando quer ficar sozinha não é? Então, eu saio.

— Você é muito mandão, sabia? - ela pergunta colocando as mãos na cintura.

Assinto concordando.

— O que acha de fazermos um acordo? - ela diz ao dá um passo em minha direção. - Você fica sozinho naquele banco e eu fico sozinha nesse bem daqui, pode ser?

Penso sobre o assunto. Não estou afim de conversar com Lana sobre meus problemas e não estou certo de que ela de fato não vai insistir para eu me abrir e essa baboseira toda de amigo dando uma de psicologo.

Ela continua me olhando, esperando minha resposta. Suas mãos ainda repousam na cintura e só assim consigo notar que ela está vestindo o uniforme verde e preto das líderes de torcidas que basicamente é uma mini saia, uma blusa minuscula - que em minha opinião não merece ser chamada de blusa - que não chega a cobrir sua barriga e uma jaqueta que nem sempre é usada pela maioria das meninas, mas que Lana está fazendo a dádiva de vestir agora.

— Você não deveria está treinando junto com as outras líderes de torcida? - pergunto.

— Ah, não. O treino terminou já faz uns dez minutos.

O treino das meninas começava um pouco depois do término do treino do time de basquete da escola e rendia mais ou menos uma hora e meia, o que significa que vou ter que dá algumas explicações quando chegar em casa.

— Pensei que tivesse se sentido mal e ido para casa mais cedo quando não o vi na educação física - Lana comenta. - Você está aqui a quanto tempo?

Apenas balanço os ombros.

— Deve ser um problemão - sussurra.

Fico mudo.

— Tudo bem, não vou perguntar nada - ela diz se sentando no banco de frente ao que eu estava sentado anteriormente.

Reflito por um tempo. Eu poderia muito bem dá o fora e sair por aí ou talvez voltar para casa ou quem sabe não fazer nada como estava fazendo ainda a pouco. Acabo por voltar pra meu velho banco.

— Por que foi dessa vez? - pergunto a uma Lana que fita seus tênis com uma concentração exagerada acompanhada de uma cara amuada que se torna confusa assim que ouve minhas palavras.

— O que você... ? - Ela franze as sobrancelhas.

— Você brigou com sua mãe por que dessa vez? - explico.

Lana me olha por alguns segundos como se pensando se me conta ou não. Da primeira vez em que conversamos de verdade, ela confessou que tinha alguns problemas com sua família, com excessão de Carlie. Discutia frequentemente com seu padrasto e pelo que havia me dito sua mãe era meio alheia a tudo que tinha relação à ela. Ela tinha magóa e era carente, quem diria isso da garota poderosa, sempre animada que desfilava pelos corredores da escola como uma atriz de cinema em Hollywood.

Talvez seja por isso que eu simpatize com ela. Eu entendo como é não se dá bem com alguém da familia, já que minha relação com meu pai não poderia ser mais surpérflua e era bom ver de perto que eu não era o único. Não que eu gostasse do fato de Lana não ter uma boa relação com sua mãe e seu padrasto, não era isso de maneira alguma, apenas é que eu cresci com uma família perfeita morando ao lado e isso tudo sempre pareceu tão fácil, que teria sido dificil eu não ter crescido achando que o problema era comigo. Entendam, eu sou louco por Samira e todos os outros Parker, mas a forma como o pai dela, mesmo sendo um cirurgião bem sucedido e sócio de um grande hospital, sempre arranja alguma forma de encontrar um jeito de ficar com a família, enquanto o meu praticamente mora na empresa, é como um tapa forte na cara.

— Eu não briguei com minha mãe. Não dessa vez - Lana suspira ainda com os olhos vidrados no par de sapatos.

— Então quem foi? - pergunto. Lidar com os problemas dos outros sempre é mais fácil que lidar com os seus.

Ela se indireita no banco e responde a contragosto:

— Carlie.

Isso me surpreende.

— Pensei que tivessem um pacto a respeito disso.

Ela suspira.

— E temos. Só que ela achou que seria bom quebrá-lo para variar.

— Por que brigaram? - Eu sei. Estou sendo curioso e metido, mas não me leve a mal o.k.? Todos fazem qualquer coisa quando estão desesperados. E eu estou desesperado por essa mínima distração.

Lana faz uma careta antes de responder:

— Você.

Fico pasmo.

Eu fui o motivo da briga?!

Ela se limita a dá de ombros.

— Por quê? - Meus Deus isso não faz sentido!

E o que têm feito sentido na sua vida seu imbecil?

Lana morde os lábios e hesita.

— Não é nada, tá bom? - tenta me tranquilizar. - Irmãos brigam, não é como se nossa relação fosse terminar. Somos irmãs. Gêmeas.

— Você não respondeu à minha pergunta - observo.

Ela força um sorriso.

— E não vou. Você sabe coisas demais da minha vida, enquanto eu não sei nem a metade da sua. Já estou em desvantagem o suficiente nesse négocio.

— Mas você acaba de...

— Não vou falar mais nenhuma palavra, Miguel - ela me interrompe. - Se quer que eu conte os detalhes da briga vai ter que me contar o que está acontecendo pra te deixar com essa cara de zumbi do The Walking dead.

Isso é trapassa. Pura chantagem.

Não digo nada. Ela arqueia a sobrancelha dourada e bufa.

— Tudo bem, esquece. - Ela dobra a perna e se senta por cima desta, quase numa pose de meditação. - Estou feliz de ter encontrado você. Assim posso te entregar isso.

Lana pega alguma coisa no bolso da jaqueta e me estende.

— Feliz aniversário! - É uma pequena caixa prateada.

— Meu aniversário é amanhã. Amanhã você me dá isso.

Ela morde o canto interno da bochecha.

— Acho que provavelmente não vou ver você amanhã.

— Você não vai a festa? Pensei que gostasse dessas coisas.

Ela fica sem graça.

— Bem, eu meio que não... fui convidada.

Como eu sou lento. Claro que Samira nunca ia chamá-la para ir.

Sinto minhas bochechas esquentarem. Isso é constrangedor.

— Não tem problema, tá? - Ela força um sorriso. - Só me diz se gostou do seu presente.

Estendo a mão para a caixa somente para voltar a recuá-la.

— Amanhã você me dá na festa.

Ela pareceu confusa.

— Está me convidando?

— Estou. Afinal eu sou o aniversariante - digo com a voz azeda.

Lana voltou a guardar o presente em sua jaqueta e me lançou um olhar inquisitivo em seguida.

— Você não quer essa festa - ela afirma.

Dou de ombros.

— Se não quer, então por que tudo isso? - ela pergunta.

— Minha mãe acha que vou me divertir e Samira só reforça isso.

— Você não parece está se divertindo.

Fico calado. Está mesmo tão óbvio assim?

— Olha, se você não quer diga.

— É só uma festa.

Lana balança a cabeça, consternada.

— Você não está feliz - ela diz subitamente.

— Isso não tem nada a ver com a festa. Não dou a mínima para isso.

A loura morde o canto do lábio inferior. Seus olhos estão aflitos.

— Tem a ver com o quê então?

Engulo em seco.

— É complicado.

— Sou inteligente.

Suspiro. Quero voltar ao momento em que ela era o foco.

— Não estou afim de falar sobre isso, Lana. Espero que me entenda.

Ela assente, mas soa decepcionada.

— Eu tenho que ir, o.k.? - Me levanto do banco.

Lana sorri minimamente e balança a cabeça.

Me direciono até a porticula, mas sinto mãos se agarrerem ao meu braço. Quando me viro encrontro um par de olhos âmbar muito próximos ao meu rosto.

Lana toma impulso e beija minha bochecha.

— Espero que um dia você possa confiar em mim.

Suspiro e a puxo para um abraço. Seu cabelo tem cheiro de jasmim, seu corpo é quente e aconchegante. Ela desliza sua mão de meu braço até entrelaçar seus dedos nos meus e me aperta suavemente. Me afasto e a olho nos olhos.

— Não é nada com você. Já a considero uma amiga.

Ela sorri minimamente.

— Espero ver você amanhã - digo após soltar sua mão.

Ela assente.

— Leve Carlie também.

Lana faz uma careta.

— Duvido que vá querer ir. Ela é uma velha de oitenta anos presa no corpo de uma adolescente.

— Acho que você consegue convencê-la. Você é boa nisso.

Ela morde o canto da boca e sorri com malícia.

— Pensei mesmo que fosse boa com isso até conhecer você melhor.

— Por que diz isso?

— Porque você ainda não é meu namorado - solta simplismente.

Reviro os olhos, fazendo o pouco caso. Ela também sorri, embora seus olhos sejam firmes.

— Não sou o cara certo pra você, Lana.

— Você é o certo pra qualquer uma. - Ela suspira. - Acho que já deixei bem claro como me sinto, não é?

— Não é um bom momento, Lana - digo, sem jeito.

— Pois acho que é sim. Não quero que pense que estou o pressionando porque tenho bem claro na mente que você não me pertence. Mas acho que se as coisas não estão claras pra você ainda, preciso mudar essa situação.

— Lana,...

— Eu gosto de você, Miguel. Sei que você pensa que é apenas capricho meu, e pode ser que no começo realmente fosse, mas agora... - Ela ruboriza - não vou negar que penso em você praticamente vinte e quatro horas por dia. Estou me trasformando em uma maníaca obcecada e a culpa é sua. E o pior de tudo é que não me importo nem um pouco dos meus pensamentos serem seus. O que não suporto mais nenhum segundo é essa distância.

E ela me beija. Seus lábios se movimentam sobre os meus com cautela, com insegurança, o que não é próprio dela. Seu corpo se aconchega ao meu e ela torce os dedos nos meus cabelos. Aos poucos seus lábios se tornam mais urgentes, passando do terno ao intenso em segundos. Quando ela desce as mãos de meu cabelo e para em meu peito, percebo que as coisas já foram mais que longe demais.

— Desculpa, Lana, mas não dá - digo e me afasto para abotoar o primeiro botão da camisa.

— Eu sei que você gosta de mim também, Miguel. Não sou boba a ponto de pensar que está apaixonado por mim, mas sei que sente algo. Se você me deixar posso fazer você feliz, sei disso.

Suspiro.

Como foi que uma conversa sobre nossos problemas ocultos se transformou em uma espécie de declaração?

Nunca me senti tão imbecil e tão culpado ao mesmo tempo. Eu deveria ter deixado as coisas claras a mais tempo.

Me aproximo dela novamente e seguro suas mãos.

—Eu gosto de você, Lana. Mas não seremos mais do que amigos.

— Por causa dela? - ela diz com uma voz magoada.

— Não, por minha causa. Sinto muito se isso a magoa.

Lana pisca algumas vezes, trinca o maxilar e desvia os olhos dos meus. Um gesto que já vi Samira fazendo todas as vezes em que não quer chorar na frente de ninguém. Do tipo não-estou-nem-aí-mas-por-dentro-não-é-bem-assim.

Engulo em seco, desconfortável ainda mais. É terrivel me sentir tão incapaz e incopetente.

— Acho melhor eu ir.

Ela continua sem me olhar. Ótimo! Duas amizades perdidas num dia só.

Deixo Lana em paz para pensar sozinha e ando tranquilamente até o estacionamento. Não me sinto nem um pouco melhor que antes, talvez agora eu me sinta até pior, o que é uma grande merda.

Meu BMWchama ainda mais atenção entre os pouquissimos carros no estacionamento, tão solitário quanto o dono. Já passa das sete da noite então obviamente meu celular está recheado de ligações e mensagens da minha mãe. Como não me sinto pronto para voltar pra casa, mando uma mensagem inventando uma desculpa.

Dirijo meio sem rumo por horas, até perceber que meu tanque está quase vázio. Considero passar em um posto de gasolina pra abastecer, mas desisto assim que vejo que são praticamente dez horas e já estou bem distante de casa. A menos que eu queira virar a noite dirigindo, já está na hora de voltar.

Dou meia volta. Chego em casa por volta das onze. Minha mãe não está com uma expressão das mais felizes.

— Você demorou – ela diz com a voz sonolenta.

Deixo as chaves do carro em cima da mesa de centro.

— Eu disse para não me esperar.

Ela suspira, cansada.

— Vou dormir. Boa noite. Da próxima vez avise antes, quando você sair da escola e não depois que eu quase tive um ataque. Estava prestes a chamar a polícia.

— Desculpe. Não vai mais acontecer. Bons sonhos.

Ela me beija na bochecha e sobe as escadas. Vou para a cozinha. Cato os ingredientes para um sanduíche na geladeira. Tem gosto de areia, mas empurro goela abaixo com a ajuda de um copo de leite.

Subo as escadas com a esperança de está cansado o suficiente para conseguir dormir pelo menos algumas horas. Quando ligo o abajur tenho uma surpresa. A luz não basta para iluminar o quarto inteiro, mas dá claramente para ver Samira sentada na beira da minha cama.

— O que faz aqui, Sami?

Ela sorri sem jeito.

— Eu estava esperando você.

— Está meio tarde não acha?

Suas bochechas ficam vermelhas.

— Eu pensei que você fosse chegar mais cedo. Mas você não chegou, eu só continuei esperando.

— Minha mãe deixou você me esperar no quarto até agora? - Isso não faz muito sentido.

— Não. Não entrei pela porta da frente.

Isso não me surpreende. Faz muito mais sentido.

— Por que você nunca me escuta? - pergunto me aproximando.

Ela cruza as pernas e inspira.

— Não sei. Nunca fiz isso direito. Talvez esteja no meu DNA. Você é o bom com hipóteses aqui – ela diz e indica o espaço ao seu lado na cama com a mão.

Me sento.

— Isso tudo foi pressa pra conversar?

— Bem, em uma coisa você já está certo, já adiei isso por tempo suficiente.

Bufo.

— Mas que suficiente. Você já está me enrolando há quase um mês.

Sam revira os olhos.

— Não exagere.

— Não estou exagerando. Vai fazer um mês daqui a dois dias.

Ela arqueou uma sobrancelha. Uma ruguinha se formando em sua testa.

— Você está contando?

— Não faça disso uma grande coisa.

Sua expressão continua a mesma.

— Sério?

Dou de ombros.

— Alguém aqui tem que se ligar nessas coisas.

Ela dá sua risada de sinos de vento.

— Tudo bem, vamos lá – ela diz e puxa algo do bolso dos shorts.

É uma caixinha de veludo azul escuro.

— O que é isso?

— Seu presente de aniversário.

— Pensei que você fosse finalmente me dá minha resposta. Além do mais meu aniversário amanhã.

— Tecnicamente você oficialmente tem desessete anos. - E aponta para o relógio que mantenho na estante de livros.

É meia-noite e alguns minutos. Samira pega minha mão e deposita a caixinha na palma.

— Preciso mesmo abrir agora?

Ela me fuzila com os olhos.

— Estou tentando fazer uma surpresa, abra antes que eu vá embora – ameaça.

Por alguns segundos penso em não abrir presente nenhum só para ver se ela iria mesmo embora, mas a ansiedade frenética em seus olhos me faz desistir.

Quando retiro a tampa da caixa encontro um cordão prateado. O pingente é simples e retangular, com uma corrente mediana, bonito e nada estravagante. Pego o cordão e passo o dedo pela letras minusculas em relevo, onde leio Não podia ser diferente.

— Abra – ela diz suavemente.

Não entendo de imediato o que ela diz com a abra, só depois de alguns segundos encarando o cordão é que percebo que existe um fecho pequenino na lateral. Com cuidado abro o medalhão. Dentro dele há uma foto minuscula nossa, de um pouco antes do verão, eu a abraçava por trás e beijava sua bochecha, o sorriso dela era enorme, dava para ver o quanto estávamos felizes. Na outra face do medalhão em letras alegantes estava escrito Basta você está no meu dia para que ele seja perfeito, a felicidade só é possível ao seu lado.

Olho para Sami. A duvida começando a tingir meu rosto.

Isso é...

— Sua resposta – ela confirma com as bochechas ruborizadas.

Continuo a olhar para ela. Perplexo.

— Isso é sério? - não resisto em perguntar.

— Você acha mesmo que eu me daria o trabalho se não fosse?

Não respondo. Apenas permito que uma risada nervosa escape por minha garganta.

— Você não vai dizer nada? - Samira pergunta. - Essa não foi a reação que eu estava esperando.

— Sinto muito. Nem eu estou me entendendo. É só que... Isso não parece... real.

— Você precisa de uma prova?

— Você vai me beliscar?

— Não é nisso que eu estava pensando.

E então me beijou. E dessa vez foi diferente. Diferente de todas as outras vezes, diferente porque dessa vez eu sabia que não havia apenas atração naquele momento, diferente porque agora ambos sabiamos o que queríamos e principalmente, diferente porque dessa vez eu tinha certeza que aquele sentimento abrasador não queimava apenas dentro de mim.


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Notas finais do capítulo

E então? Deu pra compensar a demora mais que absurda ou ainda querem que eu exploda?
Lembrando que esse capitulo deu um trabalho de outro mundo. Por alguma razão inexplicável, eu simplesmente impaquei nesse capitulo. Desde o inicio achei que tava uma bosta muito fedida e que não dava pra postar do jeito que estava. Só que eu também não conseguia melhorá-lo, parecia que minha conexão com o Miguel havia desaparecido por completo, foi muito bizarro. Só que um ano novo está começando e eu decidi que não podia simplesmente desistir e BAM! invoquei o Miguel com tudo e consegui terminar ainda agora. Claro que esse não é o melhor capitulo que eu já escrevi, mas o que importa é que também não é o pior.
Agora já chega de falar né? Espero que ninguem desista da fic tá? Porque agora serei mais responsavel, tenho que criar vergonha na cara, já tenho 20 anos!
Bem, se quiserem comentar, comentem! E por favor se quiserem favoritar, favoritem mesmo, isso ajuda muito na divulgação e me deixa nas nuvens.
Feliz ano novo atrasado! Que esse ano seja cheio de alegrias e fortes emoções pra todos vocês, meus linduxos!
Beijinhos



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