Give Me Love escrita por Liah Violet


Capítulo 10
Além de louco, virei idiota


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos, lindos, maravilhosos....
Mais um capítulo quentinho saindo, quer dizer quase isso.
Peço milhões de desculpas pela demora e pra compensar postarei dois capítulos seguidos.
Espero que gostem.



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Pov's Miguel

Samira está me evitando. A mensagem que li hoje de manhã comprova o que eu já sabia que ia acontecer. Soube no momento em que ela saiu praticamente correndo da minha casa e me deixou com cara de tacho.

Não vou dizer que me arrependo porque não me arrependo minimamente.

— Então finalmente resolveu me ouvir? - Jake sorri.

— No fim das contas descobri que você estava certo. Eu já tinha esperado tempo demais.

— Me diz quando é que estou errado, cara?

— Quer que eu seja sincero?

— Não precisa se incomodar, estou bem assim.

Faço uma careta.

— O que pensa em fazer agora? - Jake pergunta.

— Não vou desistir. Não até ter uma resposta definitiva.

— Isso, cara. Fica em cima mesmo. Acho que ela te deu carta branca ao final de tudo.

Contei a Jake sobre o beijo, não detalhadamente é claro, mas o suficiente para que ele pudesse me aconselhar.

— Não acho que vai ser tão fácil assim. Ela é reservada demais...

— Medrosa demais - me corrige.

— É, talvez seja medo do novo. Não sei, se for isso vou mostrar a ela que não precisa se preocupar.

— Você se preocupa no lugar dela. - E me lança um sorriso malicioso.

Reviro os olhos.

— Vamos. O sinal já tocou. Estamos atrasados.

Jake suspira.

— E o tormento vai começar.

Fecho meu armário e me dirijo a aula de história. Mesmo me sentindo aliviado, não deixo de me sentir tenso. Vou vê-la. Passei a noite toda pensando no que ela poderia me dizer, qual seria sua reação. Disquei mil vezes seu número e o apaguei mil vezes. Por mais ansioso que eu estivesse sabia que pressionar não ia fazer bem algum. Sei que ela precisa se tempo, eu provavelmente também precisaria se a situação fosse contrária.

Puxo o ar com força e entro na sala. Como o sr. Benson ainda não chegou a turma ainda está uma bagunça barulhenta. Procuro Sam com os olhos e a encontro absorta em seu livro de história, o que é um mau presságio. Nunca a vi estudar com tanto afinco. Me aproximo com cuidado pelo labirinto de mochilas espalhadas pelo chão e alunos debruçados sob a carteira de outros. Paro quando escuto um baque e risadinhas à minha esquerda. Viro-me na direção e vejo Carlie estatelada no chão. Seu rosto está corado e ela tateia o chão como se procurasse algo. Ando até ela e me ajoelho ao seu lado.

— Você se machucou? - pergunto.

— Meus óculos - ela sussurra ainda tateando o chão. Sorrio.

— Seriam estes? - Pego o óculos enormes perto de um mochila a sua esquerda.

Carlie levanta o rosto. Seus olhos são castanhos bem claros, quase um tom de mel. Muito bonitos.

— Obrigada - ela diz tímida e estende a mão.

Ignoro o pedido e coloco os óculos em seu rosto. Ela pisca algumas vezes e ruboriza.

— Não há de quê. - Levanto e estendo a mão para ela.

Carlie me olha insegura mas aceita a ajuda.

— Por que não troca os óculos por lentes? - pergunto depois que ela recolhe a mochila e os cadernos.

— Elas me irritam. - Dá de ombros.

Sorrio.

— Eu sei. Mas quebram um galho quando a questão é discrição. Eu por exemplo, só troco as minhas por óculos em casa.

Ela me olha surpresa.

— Você tem miopia?

— Um e meio em cada olho.

Ela ainda parece em dúvida.

— Vou pensar na possibilidade - diz empurrando os óculos.

— Você tem olhos lindos. Não devia escondê-los.

Carlie fica ainda mais vermelha.

— O-Obrigada. - Desvia os olhos.

— Você precisa tomar mais cuidado - aviso.

Ela apenas assente com a cabeça. Sua timidez me diverte imensamente. Olho na direção de Samira de relance e a percebo nos encarando.

— Nos falamos depois, Carlie.

Me dirijo ao meu habitual assento ao lado de Sam, ela concentra sua atenção novamente no livro assim que me sento.

— Bom dia! - digo deixando a voz o mais animada que consigo com toda a tensão. Parece ter funcionado.

— Oi - diz sem tirar os olhos do livro. Hoje é o dia oficial dos maus educados e ninguém me disse?

— Foi legal a carona de moto com Megan, hoje? - pergunto usando a desculpa que ela me deu via mensagem para não aceitar minha carona.

— Ahã. - Ela continua sem me olhar. - É bom mudar de vez em quando.

Sorrio.

— Bom saber - digo.

Samira ruboriza quando percebe o duplo sentido de minhas palavras.

— Você parece de bom humor hoje - comenta desviando o assunto.

— É, estou. Embora você esteja me evitando na maior cara dura.

— Não estou te evitando.

— Você não me dirigiu o olhar desde que eu cheguei. - Não diretamente pelo menos.

Samira suspira e me fuzila com os olhos.

— O que você quer de mim, Miguel?

— Você sabe o que quero - digo com um sorriso cínico nos lábios. - Acho que deixei isso bem claro ontem.

Ela bufa e volta a se focar no livro.

— Não é um bom momento.

— Quando é então? - pressiono.

— Quando eu estiver menos confusa.

Fico curioso.

— O que a deixa confusa?

Samira suspira.

— O professor chegou. Conversamos mais tarde.

Salva por uma aula insuportável sobre Renascimento. Pego ela no almoço ou na educação física, quando podemos ficar mais livres.

Por mais que eu tente me concentrar na aula, percebo que meus esforços são inúteis. Meu corpo e minha mente não deixam de notar em nenhum segundo sua presença. Minha vontade - mais que qualquer coisa - é está a sós com ela novamente. Sentir seus lábios foi a sensação mais gostosa já sentida. Trocaria todos os momentos fúteis com outras garotas por apenas mais um ao seu lado. Sentir seu corpo junto ao meu e vê-la estremecer a cada toque era a única coisa que eu queria agora. Preciso urgentemente de um banho gelado!

A tortura durou até a hora do almoço. A atmosfera não era das melhores. Precisei retesar o corpo inúmeras vezes para não beijá-la ali mesmo. Meus músculos estavam doloridos, foi um alívio quando finalmente fomos ao refeitório.

— Você vai me dizer porque está confusa agora? - pergunto enquanto Samira guarda a maioria dos livros no armário.

— Estou confusa por sua causa. - Por que tenho a impressão de que ela está me acusando? - A culpa é toda sua da minha cabeça está um turbilhão.

— Você acha que eu planejei isso? Acha que não foi difícil pra mim, que não fiquei confuso?

— Não sei. Tudo que sei é que você praticamente não exitou em complicar as coisas.

Ela fecha o armário com uma força exagerada.

— Está com raiva de mim? - pergunto estático.

Samira olha na direção oposta.

— Não. - Ela encara a parede. - Estou com raiva de mim.

O que ela quer dizer com isso.

— Eu não...

— Vamos comer, Miguel. Estou faminta. Você sabe que não fico de bom humor quando não estou devidamente alimentada.

Minha vontade é lhe dá umas boas palmadas. Será que ela não consegue entender o quanto é importante conversamos sobre o que aconteceu. Meu bom humor está indo para o quinto dos infernos!

Percebo que Megan, Jake e Amber estão tentando nos ajudar quando somem de vista assim que entramos no refeitório.

— Vou matar os três. - Sami resmunga enquanto enche sua bandeja de comida.

Reviro os olhos e começo a encher minha bandeja também. Escolho um lugar mais reservado e vejo Sami engolir em seco ao me seguir. O que ela pensa? Que vou atacá-la a qualquer momento?

— Por quanto tempo isso vai durar? - pergunto ao perceber que ela não vai falar comigo sem incentivo. Já estamos praticamente terminando de almoçar.

— Durar o que?

Olho em seus olhos.

— Por favor, Sami, ainda sou o mesmo Miguel de antes.

Samira desvia os olhos e estala a língua.

— Não faça essa cara de cachorrinho que caiu do carro de mudança.

— Só se você olhar para mim.

Ela bufa e faz o que pedi.

— Satisfeito? - pergunta arqueando uma sobrancelha.

Só vou está satisfeito quando tiver um estoque ilimitado de beijos seus.

— Quase. Podemos conversar agora ou tá difícil?

Sam revira os olhos. Adoro quando ela faz isso.

— Não tenho a resposta que você quer.

— Tudo bem. Sou paciente.

— Sério? - ela estala a língua novamente. Samira, Samira, você está pedindo.

— Sério.

— Quando isso começou?

— Isso o quê?

— Isso de "não quero mais ser seu amigo"?

— Não sei ao certo. Já faz algum tempo eu acho, só não queria admitir para mim mesmo.

— Quanto tempo em média?

— Desde os quinze, talvez.

Ela pega uma maçã e começa a mordiscá-la.

— Por que resolveu me contar agora?

Olho em seu olhos. Sam deixa a maçã escorregar até a bandeja.

— Porque, como já disse antes, não aguentava mais nenhum segundo de toda aquela repressão. Você não faz ideia do quanto estou aliviado.

— É por isso que você fala disso com tanta naturalidade?

— Quero você, Sami. - Sou sincero. - Não há nada que eu queira mais.

— Por que eu? - ela gagueja. - Por que arriscar tudo?

Penso por alguns segundos.

— Não escolhi isso, Sami. Simplesmente aconteceu. - Suspiro. - Não sei como isso vai terminar, mas quero muito que me dê uma chance. Uma chance para provar que posso ser tudo o que você precisa.

Samira engole em seco.

— Você não pode ficar me dizendo essas coisas.

— Por que não? - questiono. Ela não faz ideia do quanto isso me magoa.

— Porque não é certo, Miguel. Somos amigos. Você é meu melhor amigo. - E se levanta.

Vou atrás dela. Andamos pelo corredor principal que está vazio, com todos os alunos no refeitório ou no campus.

Seguro em seu braço.

— Espera. Você não pode fugir de mim para sempre.

— Não estou fugindo.

— Não vou pressionar você para me dá uma resposta o.k.? Posso esperar.

— E se... - Ela umedece os lábios. - Se a minha resposta for não?

Trinco o maxilar, a hipótese não é nada bem vinda.

— Se isso acontecer vou fazer tudo para que você esqueça. As coisas serão exatamente iguais, eu prometo.

Ela balança a cabeça.

— Tudo bem. Quando tiver uma resposta definitiva eu aviso.

Assinto e solto seu braço. Não faz o menor sentido mantê-la perto quando ela quer o contrário.

Samira assente e se vira para ir embora. Fico onde estou, vendo enquanto ela caminha lentamente. Está linda em um vestido rosa claro que cai muito bem em seu tom de pele, marca a cintura delicada e os quadris sinuosos. Tento não ficar arrasado quando vejo ela se aproximar do fim do corredor e dou um sorriso quando ela vira para me olhar. Quero que ela saiba que estou bem, mesmo quando isso não é totalmente verdade.

Vejo Sam respirar fundo e voltar quase correndo a meu encontro. Fico confuso.

— Odeio essa sua cara de cachorrinho abandonado. - E me abraça.

Samira tem um cheiro maravilhoso. Sua pele é macia como veludo e embora seja vários centímetros mais baixa nossos corpos se encaixam perfeitamente, completamente simétricos.

— O que vou fazer com você? - ela pergunta acariciando meus cabelos. Percebo que está na ponta dos pés.

—Tenho muitas ideias. Há uma infinidade de coisas que podemos fazer juntos - sussurro em seu ouvido.

Ela estremece em meus braços.

— Acho que está tendo uma ideia errada de mim, Johnson - sussurra de volta.

Sorrio em seu ouvido e deposito um beijo rápido no vão do seu pescoço.

— M-Miguel, o que acha que está fazendo? - ela gagueja e tenta se afastar, mas mantenho o braço firme em sua cintura.

Dou um passo que a obriga a encostar na parede. Os armários dos alunos são altos o suficiente para nos esconder das câmeras.

— Não estou fazendo nada. - Nada que você não queira, pelo menos.

Mordo o lábio inferior.

— Você disse que ia esperar. - Seus olhos não saem dos meus.

— Não vou beijar você - digo de volta.

Ela arqueia uma sobrancelha.

— Não? - Impressão minha ou acabo de ouvir decepção em sua voz?

— Não. - Em seguida aproximo meu rosto do seu. Ela prende a respiração. Sinto um sorriso malicioso se formar em meus lábios.

Muito lentamente encosto a boca em sua bochecha, desço para seu maxilar e volto até atingir o canto de sua boca. Repito o percurso três vezes e finalmente traço uma pequena trilha de beijos até sua orelha, mordo o lóbulo e ouço com um orgulho imenso um gemido baixinho. Desço os lábios até seu pescoço novamente e escuto sua respiração se acelerar. Ah, Samira, se eu não tivesse prometido esperar você ia ver o que ia te acontecer.

Estou seriamente pensando em rever minha promessa quando o sinal toca e me trás de volta a realidade. Me afasto a contra gosto e encontro Sami corada e arfando. Minha vontade é arrastá-la até meu carro no mesmo instante, mas me contenho.

— Temos aula de arte agora - ela diz arrumando o vestido.

Confirmo com a cabeça.

Percebo que ela ainda tem certa dificuldade para respirar e quando se desencosta da parede, para caminhar. Meu sorriso não poderia ser maior. O fato de afetá-ta dessa forma é gratificante e esperançoso.

As últimas aulas antes da educação física passam com rapidez, vejo que Samira tenta com afinco não me olhar nos olhos, e isso só me encoraja mais a fazê-lo. Sempre que acontece seu rosto assume um tom lindo de rosa e ela frequentemente morde os lábios.

— Você não deveria fazer isso. - aviso voltando a me concentrar em minha tela.

— Fazer o quê? - Samira pausa o pequeno pedaço de carvão no ar.

— Morder os lábios desse jeito.

— Por que não? - provoca.

— Está me desconcentrando - respondo rabiscando a tela com o carvão e desfocando a imagem com a ponta dos dedos. - Pensei que você tivesse me pedido um tempo.

— E pedi.

— Então pare com isso se não quiser que eu volte atrás e a agarre agora mesmo.

Samira deu um riso nervoso.

— Você não faria isso.

Coloquei o pedaço de carvão no bolso do avental e me virei para olhá-la.

— Vai querer me testar? - desafio sério.

Sam engole em seco e nega com a cabeça, logo em seguida volta a riscar sua tela com as mãos trêmulas. Me foco em meu quadro, meus traços cada vez mais rápidos e violentos, esse negócio de ter que ficar me segurando é péssimo.

O treinador Clark não demonstra está de bom humor hoje. Azar o dele. Talvez ainda não se recuperou totalmente da diarréia. Fica o tempo todo nos encarando e fazendo caretas.

Quando Sami volta do vestiário, meus olhos são todos dela. Samira de shorts caqui e camiseta branca é uma visão do paraíso. A cintura bem marcada, as pernas longas e atléticas, os quadris largos e o bronzeado leve recentemente adquirido a tornavam uma garota de parar o trânsito. O único problema é que eu não era o único a reparar em todos os seus atributos. A forma como aqueles imbecis a comiam com os olhos me deixava louco.

Jake assoviou ao meu lado. Olho de cara amarrada para ele.

— Olhar não tira pedaço, cara. - tentou se defender.

— Quer comprovar? - pergunto o encarando.

Jake finge se encolher.

— Não vou roubar sua gatinha, Mimi. Não precisa ficar nervoso. - brinca.

Samira sorri e caminha em minha direção. Parece que estamos tendo avanços.

— Acho que é minha deixa - Jake fala antes de se afastar.

Samira revira os olhos na direção dele.

— Por quanto tempo será que eles vão ficar dando uma de Cupido?

— Não faço ideia. - Dou de ombros. - Quem sabe quando você disser sim?

Ela estala a língua. Não me provoque, menina!

— Você contou para ele? - questiona.

— Você contou para Amber e Megan? - devolvo.

Ela ri.

— Acho que não fazemos questão de privacidade pelo visto.

— São amigos.

— Ouvi dizer que eles fizeram uma aposta.

Levanto uma sobrancelha.

— Aposta?

— É. - Ela ri novamente. - Parece que está em jogo quanto tempo vou levar para dá um fora em você. Jake acha que sou descolada demais para um careta como você.

— Jake apostou contra mim? - Por que será que isso não me surpreende?

— É o que tudo indica.

— E as meninas?

— Amber acha que vou me "entregar ao fogo da paixão a qualquer momento" - ela faz uma careta.

— Fogo da paixão?

— Palavras dela. - Ela suspira.

— E Megan?

— Megan acha que somos dois bobões lesados. - Ela fica vermelha. - Disse que não vai demorar muito para você se cansar dessa lengalenga e me dá uns amassos. - Sua voz fica mais baixa na última parte.

Sorrio.

— Sério?

— Serissímo!

Começo a rir e Samira me acompanha. Não demora muito para sermos alvos de olhares curiosos.

— Você fica linda quando sorri - digo a admirando.

— Você já vai começar? - Ela ruboriza.

— É apenas um elogio.

Ela revira os olhos.

— Sempre achei você linda - declaro e coloco um cacho de seu cabelo que escapou do rabo de cavalo atrás de sua orelha.

— Mesmo? - ela se faz de inocente.

Me aproximo de sua orelha.

— Mesmo. - sussurro em seu ouvido. Ela treme.

— Estamos em público - gagueja.

— Finja que estou te contando uma piada secreta - brinco ainda com os lábios praticamente encostados em sua orelha.

Ela começa a rir.

— Vai ser bem real quando eu te acertar bem naquele lugar.

Me afasto sorrindo. Sei que ela é capaz disso. Ainda quero ter filhos.

— Você não sabe mesmo brincar né? - Minha voz parece revoltada. Parece.

— Quem disse que eu não sei? - Ela sorri, mordendo os lábios.

Suspiro. Eu já disse que ela vai me enlouquecer algum dia?

— O que você acha que teremos para hoje? - ela pergunta mudando de assunto.

— Não sei. Talvez queimado.

— Por que?

— Olha para a cara do treinador.

Ela obedece e depois sorri, maliciosa.

— É. Você está certo.

— Quando é que não estou? - desafio, imitando Jake.

Ela me dá um soco no ombro.

— Convencido!

Assim que o treinador Clark consegue tomar posse de sua turma anuncia o que eu já sabia. Sami dá pulinhos de alegria. Montamos a equipe. E advinha contra quem nosso time vai jogar? Pois é, esse aí mesmo.

Lana nos encarava com um olhar assassino mesmo antes de começamos a partida. O que será que deu nela?

— Miguel? Você vai ficar aqui. Jake, você ali. Amber, lá no fundo. - Sami dava as ordens ainda mais autoritária e concentrada que de costume. Com certeza ela percebeu.

Assim que começamos percebo que Lana não está mesmo para brincadeira, seu alvo preferido é Sami, mas ela não hesita em tentar me dar boladas na cara. É, vai ser um longo jogo.

E de fato é. Meus músculos latejam e tenho cãibras quando finalmente o purgatório acaba. Vencemos. Lana não está numa maré muito boa ultimamente.

— Parabéns - digo a Sam a abraçando rapidamente em seguida. Ela jogou como uma jogadora profissional.

— Obrigada. Você até que não foi tão mal.

— Isso é um grande elogio, chefinha! - Bato continência.

Ela revira os olhos, mas por fim, sorri.

Pego o mesmo cacho de seu cabelo, que insiste em fugir de seu rabo de cavalo, e o enrolo em meu dedo. É macio e brilhante. Brinco com a mecha por alguns segundos e o coloco de novo atrás de sua orelha.

— Quer sair para jantar hoje? - pergunto a fitando nos olhos.

— Hoje?

Confirmo.

— Aonde?

Impressão minha ou ela está querendo me enrolar?

— Aonde você quiser. Vai aceitar ou não.

Ela coloca a mão no queixo e olha para o horizonte.

— Bem...

— Sami! - Lana a interrompe toda sorridente.

Sami faz uma careta.

— Oi, Lana - responde.

Lana sorri para ela e me dá um beijo no rosto.

— E aí, Miguel!

— Olá, Lana- respondo.

— Vim dizer parabéns pela vitória de hoje. - Ela é só sorrisos. O contrário de antes, quando estava tentando nos fazer de alvos.

— Sério? - Sam arqueia uma sobrancelha.

— Mas é claro - ela responde. - Sei que nunca fomos realmente amigas, Sam. Mas quero que saiba que da minha parte isso acaba agora. Estou cansada de toda essa bobagem de criança.

Samira bufa.

— Conta outra, Lana. Essa não colou.

Lana faz um muxuxo.

— Tudo bem. - ela suspira. - Acho que se fosse o contrário eu também não ia acreditar em você. De qualquer forma, o tempo vai mostrar a você que não tenho mais nenhum interesse em te prejudicar.

Samira olha para mim, se inclina e sussurra em meu ouvido.

— Você caiu nessa?

Dou de ombros.

— Ela parece sincera.

Sam se afasta e revira os olhos.

— É claro que parece.

Sorrio.

— Fico feliz que a iniciativa de acabar com essa briga boba partiu de você, Lana - parabenizo.

Lana dá um sorriso de canto.

— Isso já deu no que tinha que dá. Gosto muito mais do meu cabelo louro. - ela ri. - O azul não me favorece em nada.

Com essa até Sam solta uma risadinha. Lana aproveita.

— É então? - Lana estende a mão. - Podemos conviver civilizadamente?

Samira suspira, mas acaba por segurar sua mão. Lana abre um sorriso gigantesco e a puxa para um abraço.

Alguém me belisca?

— Já chega! - Samira diz a afastando. - Não somos amigas.

É a vez de Lana de revirar os olhos.

— Bem, já vou indo. Preciso mesmo de um banho. Nos vemos por aí.

E se afasta assim que me dá mais um beijo no rosto.

— Ela precisa mesmo ficar se jogando pra cima de você descaradamente? - pergunta ultrajada.

— Está com ciúme? - Dou uma piscadela.

Samira estala a língua.

— Se enxerga! - E anda em direção ao vestiário feminino.

Só quando acabo meu banho é que lembro que Sami não me deu minha resposta para o convite do jantar. Termino de me vestir e ando as pressas. Talvez ainda consiga a convencer de ir para casa comigo. Essa coisa de pegar carona com Megan é ridícula!

A gritaria começa a dois metros do estacionamento. Eu teria que nascer de novo para não reconhecer a voz que se sobressai. O que ela aprontou dessa vez?

— EU VOU MATAR VOCÊ, SUA BARATA CASCUDA! - Sam gritava a plenos pulmões. Megan demonstrava dificuldade para segurá-la.

— Eu já disse que não foi eu! - Lana também gritava, mas seu tom não podia se comparar com o da morena.

— MAS É CLARO QUE FOI VOCÊ! SEMPRE É VOCÊ!

Outros alunos já começavam a se aproximar.

— Dessa vez não. Você deve...

— Mas que inferno é esse? - pergunto.

— EU VOU ESMAGAR VOCÊ COM MEU PÉ SUA INÚTIL. - Sam continuava a se debater nos braços de Megan, Amber correu para ajudá-la.

— Você deve ter se encostado em algum lugar, eu não sei.

— VOU ARRANCAR TODO O SEU CABELO! FIO POR...

— CALEM A BOCA AS DUAS! - Já estou de saco cheio.

Samira piscou algumas vezes.

— O que acham que estão fazendo? - pergunto novamente.

Samira toma fôlego. Seu rosto está muito vermelho.

— Essa baratinha grudou chiclete no meu cabelo.

Lana balança a cabeça e se aproxima de mim.

— Não, Miguel. Eu não fiz nada. Ela deve ter encostado em alguma parede suja ou algo do tipo.

Olho para o cabelo de Sami. O motivo da briga está claro ali, enrolado em uma mecha grossa bem no centro de seus cabelos.

— Você fez isso? - pergunto a Lana.

— Não! - repete. - É claro que não. Eu juro que não fiz nada. Você precisa acreditar em mim.

Lana tem os olhos repletos de lágrimas e as bochechas rosadas.

— Falsa! Rata Mentirosa! Vou acabar com a sua raça.

Samira continuava a gritar insultos e a se debater. A cada segundo mais pessoas se aproximavam. Aquilo tinha que acabar logo.

— Samira não fui eu! O que preciso fazer para que você acredite em mim? - Lana diz se aproximando quase que automaticamente da outra.

Samira é rápida. Suas unhas são impiedosas. Puxo Lana para longe o mais rápido que consigo, mas não consigo evitar os vergões vermelhos que tomam conta de seu braço.

Um sorriso homicida se forma no rosto de Sam, mas acho que os arranhões ainda foram insuficientes, ela continua a tentar escapar de sua prisão.

Lágrimas grossas preenchem as bochechas de Lana.

— Não fui eu! - ela grita com a voz embargada.

Sam não parece se comover com suas lágrimas.

— Acha mesmo que sou burra a ponto de acreditar em você sua miserável?

Lana me olha impotente.

A multidão só aumenta. É apenas uma questão de tempo até o diretor chegar. Preciso tirar Sam daqui.

— Já chega, Sam. - digo me aproximando dela, mas tomando o cuidado de ficar em seu caminho até Lana.

— Sai da frente! Tenho que vingar meu cabelo!

Suspiro e seguro em seu braço. Megan a solta e eu tomo seu lugar.

— Vamos embora. - falo a rebocando até meu carro.

— Não. Vou partir a cara de uma barata cascuda agora! - anuncia e tenta se soltar.

Não tenho tempo, muito menos paciência para isso. Seguro em sua cintura e a coloco no ombro. Ela grita e distribui socos em minhas costas.

Ouço risadinhas e cochichos enquanto a carrego até meu carro. Não estou mesmo com saco hoje para gente que se diverte com a desgraça alheia.

— O espetáculo acabou - anuncio. - Vão embora.

Me viro e continuo caminhando.

— Me solta! - Samira grita enquanto arranha minhas costas. Não foi bem assim que eu imaginei isso. Era de outra forma que acontecia em meus sonhos.

— Calada!

— Calado você! - grita. - Eu tenho pernas, me coloca no chão agora.

— Para de reclamar antes que você caia. - Suspiro. - Megan diz pra sua amiga ficar quieta.

Megan sorri.

— Me deixa fora disso.

— Eu odeio você, Miguel!

— Sem drama, Sami - peço.

Alcançamos meu carro e eu a coloco no chão.

— Pode me explicar que droga foi aquela? - pergunto irritado.

Sami cruza os braços.

— Aquela vaca grudou chiclete no meu cabelo.

— Quando?

Sami fica calada por alguns segundos.

— Não sei ao certo, mas foi ela - responde por fim.

— Meu Deus, Sam! - Passo as mãos pelos cabelos. - Você não pode ficar acusando os outros do nada.

— Estamos falando de Lana Summers. É claro que foi ela!

— Você viu o estado da garota, Sami?

— Tudo teatro!

— Não acredito no que você fez.

— Eu fiz? - ela pergunta ultrajada. - Você já vai começar a defender ela?

— Não estou defendendo ninguém - justifico. - Não vou ficar passando a mão na sua cabeça quando estiver errada.

Sam arregala os olhos de surpresa.

— Ela é a vítima para você - sussurra desviando os olhos.

Não sei o que dizer.

— Vamos esquecer isso e ir para casa - digo tocando em seu ombro.

Ela se afasta.

— Você não acredita em mim. - Não é uma pergunta.

— Sam, pare com isso. Temos que dá um jeito no seu cabelo agora.

Sami não me olha nos olhos.

— Megan? - chama.

Megan se vira, estava prestes a subir na moto.

— O que foi? - grita.

— Me espere - Sami grita de volta. - Vou com você.

E me dá as costas. Então é assim?

— Sam? - A sigo e seguro em seu braço. - Por que isso?

— Me solta, Miguel - sussurra sem se virar.

— Sami por favor. Vem comigo - peço.

— Me solta - Ela continua imóvel.

— Sam, por favor? - repito chegando mais perto de seu ouvido.

Ela se vira e dá um passo atrás.

— Não!

Eu poderia segurá-la ou colocá-la novamente no ombro. Não seria difícil. Mas não consigo. Não com o que vejo. Eu preferia que ela gritasse comigo, me batesse, me xingasse até. Qualquer coisa, menos isso.

A garota a minha frente não é a minha Sami. Nem de longe é a garota risonha que adora tirar sarro da minha cara. A garota a minha frente tem uma expressão completamente diferente. Essa é pálida, seus olhos brilham por conta da lágrimas e o pior de tudo, os traços delicados, perfeitos, estão marcados como se eternamente em uma máscara de dor.

Estou estático. Sam se vira e corre em direção a Megan. Mal tenho tempo de assimilar o que aconteceu e elas partem na moto.

Merda! Sou um lesado. Burro. Idiota. Imbecil. Panaca. Estúpido. Miserável. Desprezível. Um desgraçado filho de uma...

— Miguel! Miguel! Miguel! - ouço alguém gritar e me sacudir.

Quando me viro vejo Lana me lançar olhares preocupados.

— O que foi, Lana? - minha voz soa meio morta.

Ela franze o cenho. Sua mão ainda está em meu braço.

— Você está com uma cara estranha. Está tudo bem?

Não. Não estou nada bem. Estou péssimo.

— Estou - respondo.

Ela continua a me avaliar.

— Você não mente muito bem, né? - Sorri.

— Não estou mentindo.

Ela me ignora e desce sua mão até entrelaçar seus dedos nos meus.

— Vamos! - diz - Vou te mostrar um lugar.

E começa a me puxar para longe do estacionamento.

— Lana, acho melhor eu ir para casa. A escola está ficando vazia e seus pais daqui a pouco começam a ligar para você.

Tento escapar, mas ela mantém seus dedos presos aos meus.

— Como se eles se importassem com alguma coisa. Não vai demorar, o.k? - ela sorri novamente.

— Lana...

— Não adianta reclamar. Você vai melhorar assim que chegarmos.

Mais uma mandando na minha vida. Era só que me faltava!

Caminhamos por alguns minutos até chegarmos a quadra de basquete. Está completamente vazia. Não deve ter treino hoje.

— É aqui? - pergunto. Minha voz parece muito mal humorada.

— Não. - Ela ri e me puxa até uma porta atrás da última arquibancada.

— O que é isso?

Ela puxa uma chave pequena do bolso da calça e abri a porta.

— Esse é meu pequeno paraíso particular. - E se curva para atravessar a minúscula porta.

A curiosidade me vence e eu a sigo.

— Que lugar é esse? - pergunto de boca aberta.

— É legal né? - Seus olhos brilham. - Eu o batizei de Jardim de Vênus.

O Jardim de Vênus era uma pequena área gramada repleta de flores. Orquídeas, trepadeiras, margaridas, rosas e um pouco mais preenchiam o espaço.

— Como você o encontrou?

Lana dá de ombros.

— Já tem uns anos. Eu vim para treinar sozinha no ginásio e encontrei Cristine, ela é uma das faxineiras, cantando nesse lugar. A porta estava aberta. Eu não estava muito bem naquele dia.

Sua expressão se modifica para algo sombrio com a lembrança.

— E? - incito para que ela se foque em outra coisa.

— Ela me deixou ficar. Esse lugar antigamente era como uma pracinha sabe? Aí com a construção do ginásio e tudo, acabaram esquecendo dele. Cristine o encontrou e depois eu. Plantamos a maioria das plantas aqui. Venho aqui sempre que preciso ficar sozinha. É uma espécie de refúgio dos problemas.

— Por que me trouxe aqui?

Ela me olha séria e prende meus olhos com os seus.

— Porque você parece está com problemas.

— Por que você se importa?

Lana remexe em uma roseira próxima.

— Porque... Você brigou com ela por minha causa.

— Não foi por sua causa. - Ela arqueia uma sobrancelha. - Sami é uma cabeça dura.

Lana ri.

— E eu não sei? - pergunta apontando para o braço machucado.

— Você devia limpar isso. Acho que ainda deve ter alguém na enfermaria. Vem! Eu te levo.

— Não precisa. É só um arranhão. Vou ficar bem. Trouxe você aqui porque você não estava bem. - Ela atropelava as palavras.

— Obrigada, Lana. De verdade.

— Disponha.

Sorri e se aproxima de mim.

— Você ainda parece triste. - Ela levanta a mão e acaricia meu rosto com cuidado. - Não gosto disso. Queria poder fazer alguma coisa.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam dos comentários aqui e no próximo.
beijinhos.



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