Após a verdadeira festa que Isabelle dera na noite anterior depois de todos os convidados irem embora Clary não conseguia sair de sua cama. Seus machucados estavam um pouco doloridos ainda , mesmo com a iratze que Clary e Jonathan aplicaram um no outro. Todos estavam felizes mas isso não significava que eles baixariam a guarda. Tentariam sair dali sim. Tinham uma coletânea de motivos. O primeiro era para desvendar o mistério que ligava os Morgenstern à pedra que eles acharam. O segundo era que eles não queriam ficar ali , por mais receptivos que Izzy e seus irmãos fossem. E o terceiro , pelo menos na opinião dela, era porque não queria morar sob o mesmo teto que Tessa. Não é questão de clima pesado. Mas a cara dela a fazia pensar no 11 de outubro. E ela não queria pensar nessa data.

Levantou meio contrariada. Meio não : por inteiro. Tirou a roupa e entrou no banho . Permitiu-se soltar um longo suspiro . Talvez os problemas desaparecessem. Talvez não é certeza.

Saiu do banho e colocou o uniforme de treinamento. Nem em outra vida colocaria um vestido e um sapato daqueles outra vez. Ela estava meio avoada. Parecia meio entorpecida de sono. Caminhou devagar até o quarto de Jonathan.

– Estou entrando. - disse abrindo a porta. O irmão estava sentado em sua cama e estava segurando a pedra. Soltou um arquejo involuntariamente. Fechou a porta rapidamente. - Cara eu queria saber mais dessa pedra.

– Acho que eu acabei de descobrir um pouquinho mais sobre ela. - disse , sorrindo marotamente. Clary sentou na cama ao lado dele com o rosto tomado por uma curiosidade incontrolável.

– O quê?

– Só temos essa metade da pedra, certo? Temos que buscar a outra. Quando peguei ela hoje , ela brilhou. Está vendo? Parece que ela é movida pelos nossos dons.

– E o que isso esclarece? - perguntou impaciente.

– Tudo. Está vendo essa lasca? Ela caiu no momento em que toquei. Nada me tira da cabeça que quando sobrar apenas essa meia estrela alguma pista vai ser dada.

– Jonathan? Acha que a outra metade dessa pedra pode...

–. ..estar com os demônios? - Clary assentiu.- Não tenho dúvidas.

– Nós temos que sair daqui.

– Primeiro vamos tirar essa cobertura. Tente fazer algo.

Clary pegou a pedra na mão. O que ela poderia fazer? A pedra era segurada em sua mão esquerda. A sua direita ia em direção à pedra. Ela atravessou a pedra. Ódio. Várias lascas se partiram . Clary tentou deixar a mão ali mas estava queimando. Literalmente. Ela estava com a mão queimada.

– Pelo Anjo. Me dê a estela ali Clary. – pediu Jonathan, preocupado. Ela a alcançou para ele e o irmão desenhou o iratze . Ela aliviou-se instantaneamente.

– Ouvi uma palavra enquanto tinha a mão ali. Ódio.

– Não ouvi nada quando a minha lasca se quebrou.

– Será que tento novamente?

– Mesmo se tentasse não daria certo. É uma parte por vez a cada dom.

– Teremos que adaptá-los se quisermos usar todos. Vou buscar nosso café. Acho que não sairemos daqui tão cedo.

– Eu vou com você. Assim não damos motivo para desconfianças.

Eles levantaram e seguiram rumo à porta. Andaram até o salão onde se era realizadas as refeições. Qualquer vestígio de sono havia desaparecido do mapa para Clary. Aquilo acendeu uma chama em sua cabeça. Ela era obrigada a descobrir qualquer coisa. Todos já estavam na mesa. Jonathan disse para eles tomarem o café ali mesmo. Poderiam dar a volta em apenas duas ou três pessoas mas a família inteira não. Clary procurou um lugar para se sentar e ficou feliz ao constatar que havia um ao lado de Isabelle. Esta exibia uma cara horrível. Ela havia dito para não abusar nas bebidas. Jonathan sentou ao lado de Simon e a ruiva ao lado de Izzy. Enquanto se servia disse para a amiga aos sussurros :

– Nunca mais aceito nenhum convite seu para qualquer festa .

– Se você e Jonathan não forem acho que não sobra mais ninguém. - a morena disse.

– Mas falando sério, desculpe. Acho que eu e Jonathan traumatizamos todos os presentes.

– Os jornais tão falando bem de vocês. A maioria.

– O resto é o resto. Quem não deve estar gostando disso é o seu pai Iz.

– E não está. Não admite que estava errado.

– Tem gente que não consegue engolir o orgulho. - lamentou , tomando um último gole de café. -Acho que já vou indo. Estou sem fome.

– Até depois.

– Não esqueça de acordar. - sussurrou , levantando da cadeira. Já estava na ponta quando ouviu chamarem-na.

– O que você quer? - perguntou a Tessa. Todos se calaram.

– Quero conversar com você. Pode me acompanhar?

Clary deu de ombros e andou até ela. Contou até dez até elas chegarem a um canto afastado do jardim.

– Eu queria te dar uma coisa.- Tessa disse.

– Então dê.

– Era do seu pai. Da sua família mais precisamente.

– O que é? - lutou para manter a voz contida.

– É uma bússola. Ela indica onde todos os membros vivos da sua família estão .

– Por que está me dando isso só agora?

– Porque é agora que você e o seu irmão vão precisar.

– Obrigada.

Tessa olhou para Clary.

– Eu sinto muito. Vou acobertar vocês enquanto fogem. Hoje no jantar. Vão falar com Magnus. Ele os ajudará a abrir isso.

A ruiva assentiu meio confusa e totalmente alerta. As duas entraram de volta no palácio e Clary viu a cadeira do irmão vazia. Nem se deu ao trabalho de se despedir. Correu quando já estava fora da vista dos outros para o quarto de Jonathan.

– É hoje. Teremos de fugir hoje.

– O que aconteceu? O que ela disse? - a preocupação era notável na voz dele.

– Ela me deu isso.- disse, entregando a bússola ao irmão. - Era do papai. Ele mostra todas as pessoas vivas da nossa família.

– Não tem nada aqui.

– Teremos que ir falar com Magnus.

– Como ela descobriu?

– Isso não importa. Hoje no jantar. Agora vamos tentar abrir isso logo. Quando sairmos daqui seremos declarados fugitivos. Para eles nós estaremos nos aliando ao lado inimigo. Temos que ter essa estrela pronta.

Jonathan assentiu e os dois começaram a trabalhar. Eles não almoçaram e pouco antes das cinco horas da tarde eles já tinham a metade da estrela avulsa. A pedra que a circundava já não existia mais. Eles arrumaram as malas com a maior discrição possível. Saíram na hora em que todos estavam no salão. Pela janela mesmo. Tiveram que matar uns guardas, nada muito importante. Quando se viram livres ocorreu a Clary um pensamento. Tinham duas missões dali em diante. Descobrir o mistério e esquecer das amizades que haviam feito. Era capaz de lutarem cara a cara com eles. Mesmo assim ela não conseguiu tirar da cabeça que poderia falhar terrivelmente na sua segunda missão.