Lembranças de um paraíso imperfeito. escrita por Min Monteiro


Capítulo 3
Lembranças: Primavera parte 1.


Notas iniciais do capítulo

"Yes, you're lovely with your smile so warm and your cheeks so soft.
There is nothing for me but to love you and the way you look tonight..."



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“- Clara? Me ajuda a escolher uma foto aqui pra uma revista que eles estão me cobrando? – Marina me chamava do piso inferior do estúdio. – Nossa! Fizeram uma matéria longa comigo. Ai, ai, ai! Me entrevistaram... Mas tudo bem, por que a repórter era uma fofa! Um amor, super responsável. – Eu descia as escadas enquanto Marina continuava sua narrativa da entrevista de mais cedo. Super encantada. – Foi até engraçado, por que ela falou assim: Marina, cê pode mandar uma foto? Porque nenhum fotografo aqui da revista faz um trabalho tão bom quando o seu.

– E é verdade, né? – Afirmei ao chegar ao lado dela. Marina mexia engenhosamente em seu notebook exibindo as fotos na parede pelo projetor multimídia.

Exibiu uma foto na qual estava – linda – usando seu habitual batom – perigoso – vermelho e uma blusa branca. Estava sentada, tinha o cabelo caindo de um lado dos ombros e estava ereta, olhando para a câmera. Na imagem seguinte tinha a cabeça levemente inclinada, com o seu rosto em evidência. – Nossa, todas são lindas né? – Ela queria que eu escolhesse?

Automaticamente apareceram outras imagens. Umas revelando o seu perfil, posições diferentes e até fotos de um ensaio. – Não, essa... Aquela outra. Aquela outra lá. – Marina voltou uma imagem, na qual também gostou.

Por unanimidade, ganhou a foto que Marina está com um leve sorriso com os dois ombros cobertos pelo seu amontoado castanho.

Ao comtemplar a beleza daquelas fotos, ri sem graça. – Impressionante, né? Você mata a gente de inveja de tanta beleza. – Disse, caminhando até ficar de frente para Marina. Não pude evitar de elogiar a protagonista daquelas imagens.

– Ah, que isso... Você é muito mais bonita do que eu.

– Anh! Nem em sonho. Não é só beleza não. É tudo. Esse...Essa sedução que você exerce sobre as pessoas. Quem te conhece nunca mais esquece de você. – Se o meu coração tivesse braços, com certeza nessa hora teria me dado um soco no peito, pois foi como eu senti. Por um instante fiquei sem jeito. E sei que Marina também. – Comigo vai ser assim também.

Eu não sabia o que estava dizendo. Eu sentia que minha boca abria e fechava, que minha voz saia mas eu não comandava aquilo. Acho que... Parece que era a minha alma. Minha alma personificada, aquele desejo que eu venho sentindo falando por mim. Me movendo. Me encorajando. – Nunca mais vou te esquecer.

– Mas se é por isso, eu sinto a mesma coisa por você. – Aquelas palavras e aquele sorriso tomaram a minha atenção. Não tenho certeza mas, acho que Marina disse que me encontraria no meio de mil mulheres só pelo meu cheiro, meu tato.

– Posso te pedir uma coisa? – Continuou Marina. Tive medo. Minha respiração estava em algum lugar do meu corpo. Nos meus pulmões é que não estava! – Dança comigo?

– Como? – Marina estava completamente louca!

Tudo bem, não sou uma bailarina, mas também não tenho dois pés esquerdos.

– Dança comigo. – Ela repetiu. – Não. É sério. Eu tenho uma música aqui... Sabe música favorita da vida?

Segui o caminho dela até o lado, aonde se encontrava o aparelho de som e a vi apagar a luz enquanto me dizia que imaginava dançar aquela música comigo. Que nunca tivera a oportunidade, pois nunca estávamos sozinhas.

Agora estávamos.

Marina apertou o play e refez seu caminho, ficando de frente para mim.

Prometi não pisar no seu pé – ou pelo menos tentar – já que estava muito nervosa.

Someday, when I’m awfully low…’

Marina saiu do meu campo de visão e prostrou-se atrás de mim.

When the world is cold...’

Ao me virar, ela me estendeu a mão. Me convidando a dançar.

Hesitei por um instante, mas a combinação daquela música e a pureza do olhar de Marina logo me deram coragem.

I will feel a glow just thinking of you...’

Sua mão era quente e convidativa. Seu sorriso era tão... quase inocente.

And the way you look tonight...’

Marina me aproximou delicadamente, bailando suave ao ritmo da música. Senti seu nariz próximo da minha orelha e, não sei porque, não me afastei. Me guiava, me movia lento e preciso.

Tão cuidadosa.

Como se eu fosse o seu bem mais precioso. Me passava ternura pelo olhar e pelo toque.

Minha pele deliciava-se contra a pele dela.

Me virou mais uma vez, mas não me deixou virar por completo. Permiti, sem nenhuma restrição, que sentisse o meu cheiro.

Marina nunca foi tão delicada comigo como estava naquela hora. Cada vez que me olhava, acariciava meu rosto ou sentia meu cheiro.

Eu seguia o ritmo de Marina – na verdade, ela continuava a me guiar. E ainda bem que meus pés sincronizavam com a dança porque o meu cérebro estava frito. Não enxergava a casa ao meu redor, nem os móveis, nem a mim mesma.

Tudo o que eu via era o castanho.

Ela sorria para mim enquanto me conduzia. – Acho que apertava meus lábios pois, eu sentia que estavam doloridos.

O balanço daquele corpo rígido, alvo, me instigava. A música fluía pelo meu corpo junto ao perfume amadeirado dela.

Marina estava perto demais. Perigoso demais.

O constante roçar de seu nariz em meu rosto me fazia sentir pequenos choques aonde tocava.

Acho que suas mãos desciam e subiam pelas minhas costas – não sei. Estava entretida demais com o trajeto que sua boca fazia.

Umedeci meus lábios secos, sentindo minha nuca esquentar.

Não impedi nenhuma vez suas mãos curiosas que bailavam como a música sobre mim. Em momento algum me sentia violada ou ao menos incomodada.

Naquela hora, Marina me mostrava todo o seu carinho em uma porta aberta para o seu interior. Me mostrava todo o seu íntimo.

Não sei quando aconteceu mas, eu tinha os braços envoltos em seu pescoço e seus olhos cobriam toda a minha visão. De repente o mundo era castanho com cheiro de madeira e romã.

Aquela música embalava nossos corpos, definitivamente. Encaixava e guiava os nossos passos.

Talvez Marina tivesse consciência do mundo lá fora. Eu não.

Senti um gosto doce em meus lábios e não me assustei quando percebi que era ela.

Aonde fui tocada, formigava.

Estranho...

Será que um formigamento pode ter gosto?

Eu não estava entendendo mais nada. Era como se eu estivesse experimentando néctar. Como se eu tivesse em meus lábios algo macio. - Veludo?

Não sei bem – não lembro – quando paramos o beijo mas agora nos encarávamos. Marina tinha uma expressão serena. Como um anjo retratado em um quadro.

Eu sorri para ela quando...”

Encarei o teto escuro quando abri meus olhos. Por que eu acordei?

– Mãaaaaee! – Logo veio a resposta. Ivan me chamava e notei uma nota de choro em sua voz.


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Notas finais do capítulo

Musica do cap: https://www.youtube.com/watch?v=qjVpGtfD4Qg

Se conter erros, me perdoem. Tive um dia cheio... :)



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