● Lis Fontaine ●

Eu finalmente estava livre daquele passado horrível, vivendo naquela cidade eu me sentia presa a ele. Por mais que o tempo passasse as pessoas gostavam de lembrá-lo, seja de propósito ou sem querer. Alguns evitavam comentar isso e fingir que esqueceram, demonstravam isso evitando qualquer tipo de contato comigo, e o resto falava mal e difamava.

Esses tipos de coisa sempre parecerem distantes, a impressão que dá é que nunca iremos ter contato com isso, afinal, na minha cidade o bullying é considerado algo de outra dimensão, e quando ocorreu comigo, todos entraram em estado de choque. Só espero que isso tenha servido de lição para alguns deles, espero que aprendam que nós estamos sujeitos a todos os tipos de coisa.

Meu opressor se safou dessa, mas sei que de alguma maneira ele está pagando por tudo o que me fez.

Era esse o meu pensamento enquanto eu arrumava minhas malas, e colocava minhas roupas no meu mais novo guarda-roupa. Ao terminar essa tarefa um pouco chata, minha tia me levou para dar uma volta de carro na nova cidade.

– Vamos queridinha! Você vai adorar a cidade, as pessoas aqui são muito mais bonitas e estilosas, pode ter certeza, você vai se adaptar muito rápido!

Eu já havia visitado minha tia algumas vezes, e eu sabia que a cidade em que ela morava tinha ares muito melhores do que Dreux.

Montamos no carro, e ela começou a falar. Era evidente a empolgação de minha tia, ela tem 21 anos, e mora quer dizer morava sozinha, é claro que estava feliz com minha ida para lá.

– Olha, vou dizer a você, aqui em Le Havre, opção é o que não falta! Há lojas e lojas de todas as coisas, e pontos turísticos, além da praia, e céus! Estou tão feliz com a sua vinda para cá!

Nessa situação eu sabia apenas sorrir.

– Parece que demorou tanto até o primeiro semestre terminar e você vir pra cá!

– Eu que o diga!

– Tem algum lugar específico que deseja visitar? Como você sabe, Le Havre é um ponto turístico de Paris.

– Eu só, gostaria de ver a fachada do meu colégio.

– AAAh sim, vamos lá então. Sabe querida, eu estudei nesse colégio por um tempinho, acho que vai gostar. A diretora não é muito simpática, mas o colégio é bem legal.

Ela retirou o carro da garagem e foi dirigindo enquanto explicava sobre a cidade e sua história. Eu não estava tão empolgada assim, já conhecia bastante coisa sobre o local, afinal eu não queria chegar na cidade sem saber me localizar. Decorei algumas ruas, apenas visitando a cidade pelo Google Maps.

– Tia, você sabe onde fica a loja de roupas Aigre-Doux?

– Hmm, não. Mas já ouvi falar, sabe, me parece que o dono da loja é quem confecciona as roupas.

– Sim, eu entrei na página da internet deles, e vi umas fotos. Podemos visitar a loja qualquer dia?

– Mas é claro meu doce! Agora, veja. Esse é o seu colégio.

Minha tia passou pela frente do colégio a 5 km por hora, deu pra reparar bem nele, amplo, janelas grandes, e ginásio em ótimo estado.

– Legal…

Eu estava nervosa, mesmo que muitas das vezes eu tenha mudado de escola, recomeçar sempre é difícil, cada um tem seu ritmo, e pegar o bonde andado não é nada fácil.

– Você não está empolgada?

– Eu diria nervosa…

– Ah sim, eu entendo, garota de cidade pequena, mudando para a cidade grande, conhecendo gente nova. Foi exatamente assim que me senti quando mudei para cá.

– Imagino…

Paramos em uma sorveteria e compramos milkshake, eu pedi de chocolate e minha tia de creme. A conversa se resumiu em: roupas, lugares legais, e dicas para eu me dar bem novo colégio. No fim, ela desviou a conversa para o assunto que eu mais temia: garotos.

– Se dar bem no colégio vai ser fácil, minha querida. Pode ter certeza.

– Espero que sim…

– Você tem cara de quem é popular entre os garotos, sabe?

– E-Eu?

– Sim. Olha, a titia vai te dizer uma coisa: os meninos dessa cidade são lindos!

– Tia eu não…

– Namorados? Você já teve?

– Não, eu nunca…

– Pois você vai arranjar um!

– Mas…

– Homem bonito nessa cidade é o que não falta!

– Tia, eu não me dou bem garotos, eles me evitam eu eu evito eles. Não acho que seja hora para pensar nessas coisas…

O sorriso desapareceu de sua face. Ela mexeu o canudo do milkshake e olhou para rua, depois para mim.

– Tudo por culpa daquele cretino?

– De certo modo. Sabe, eu sinto que nesse momento, ele está em uma situação muito ruim. Eu gostaria de ver ele sofrendo, e garanto que está.

– Tem razão, essas pessoas sempre recebem o que merecem, pode demorar, mas sempre vem em dobro.É tão bom ver que você superou tudo isso e agora vai recomeçar!

– Sim, essa é minha chance, prometo que vou aproveitar cada momento.

– Mas, sem um boy do seu lado não dá, né?

– Vou pensar sobre isso.