18º Desafio Sherlolly escrita por MandyCillo


Capítulo 1
O Medo de Ficar Sozinho


Notas iniciais do capítulo

Olá girls!

Eu sei que ainda não terminei o desafio anterior, mas fiquei empolgada para escrever esse, afinal tenho que aproveitar quando estou inspirada.

Boa leitura!


Bia, minha Bia. Juntei o útil ao agradável.
Dedico essa fic a você. Espero que goste. ♥



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Seria mais um dia normal no St. Barts se não fosse pelo quinto dia seguido em que cheguei ao laboratório e Sherlock já estivesse lá. Não que fosse ruim, mas aquilo estava ficando estranho. Sherlock sempre foi um homem estranho, juntamente com suas atitudes, mas o problema é que dessa vez ele parecia triste. Estava sentado em um banco alto, em frente ao microscópio e não analisava nada. Seu olhar era fixo e perdido. O retirei de seu estado de transe ao cumprimentá-lo.

­-Bom dia, Sherlock! Mais uma vez você por aqui tão cedo?

–Eu dormi aqui.

–Dormiu aqui?! – Minha voz saiu um pouco mais alta do que eu esperava e tentei não parecer assustada com a informação.

–Sim.

–Ah, ok. – Girei em meus calcanhares e fui cuidar dos meus afazeres. Sherlock continuou sentado olhando pro nada.

A manhã se arrastou como nunca antes. Eu mergulhada em papéis e ele na mesma posição. Me levantei para ir buscar uns relatórios em outra sala, quando ouvi sua voz.

–Aonde você vai?

–Hã... o que?

–Estou perguntando onde você está indo.

–Ah...vou até a sala do Mike pegar alguns relatórios.

–Por quê?

Balancei a cabeça confusa, sem entender a pergunta. –Como assim “porque” Sherlock? Porque eu preciso terminar meu trabalho.

–Posso ir com você? – Ele se levantou e veio em minha direção.

–Ah, sim...claro. – Aquilo estava ficando estranho demais. Sherlock nunca havia se aproximado muito de mim e eu não podia negar que ele me fizesse companhia, mesmo que fosse para ir no andar de cima. Caminhamos lado a lado calados. Nós nunca conversávamos, não tínhamos assunto um com o outro. Basicamente era, quando ele precisava da minha ajuda, eu ajudava e ponto. Mas hoje alguma coisa me dizia que seria um dia diferente.

Enquanto eu pegava os relatórios com Mike, Sherlock ficou me esperando do lado de fora da sala. Ele estava com os braços cruzados em seu peito e ficava se balançando para frente e para trás. Reação típica de quem está muito impaciente.

–Porque demorou tanto? – Ele me perguntou assim que saí da sala.

–Não entendi sua pergunta Sherlock.

–Porque você demorou tanto para pegar alguns papéis? São só papéis Molly!

–Sherlock, você está bem?

–Estou ótimo! Podemos voltar para o laboratório, por favor?

Fizemos o caminho de volta e mais uma vez calados. Assim que entramos no laboratório, ele voltou para seu banco e para seu olhar parado. Eu fui tentar colocar meu trabalho em dia, mas a essa altura, eu não conseguia me concentrar em mais nada a não ser naquela figura estática na minha frente. Cada movimento que eu fazia na cadeira, ele saia do transe e me olhava. Aquilo estava me irritando. Não muito, eu sei, mas estava tudo muito estranho.

Umas duas horas depois me levantei da cadeira e novamente a mesma pergunta.

–Aonde você vai?

–Por quê?

–Porque eu quero saber.

–Sherlock, o que está acontecendo com você?

–Nada, só quero saber aonde você vai.

Revirei os olhos – Ao banheiro. Por quê? Você vai querer ir junto comigo também? – Não acreditei quando escutei a resposta.

–Algum problema nisso?

–Espera um pouco Sherlock...estou te dizendo que vou ao banheiro.

–Sim, eu escutei. E daí?

–E daí? Banheiro feminino. Você não pode ir comigo ao banheiro feminino.

–Porque não? Me diga onde está escrito que eu não posso ir com Molly Hooper ao banheiro feminino.

–Ok..ok... o que está acontecendo aqui? – Levantei as duas mãos em desespero.

–Não está acontecendo nada Molly. Você está indo ao banheiro e eu quero ir junto. Simples e fácil. – Ele me pegou por um dos braços e foi me conduzindo para fora do laboratório em direção ao banheiro.

–Está bem! Está bem! Me solte! Eu posso andar sozinha. Mas nem pense em entrar comigo no banheiro ouviu? – Apontei um dedo em direção ao seu rosto e seus olhos se arregalaram assustados.

–Ok. Eu consigo esperar do lado de fora.

–Bom mesmo.

Ao sair do banheiro o encontrei andando de um lado para o outro, com os mesmos braços cruzados junto ao peito e suando frio.

–Porque demorou tanto? – Ele veio em minha direção feito um gavião.

–Por Deus Sherlock! O que está acontecendo com você?

–Nada Molly! Podemos voltar para o laboratório, por favor? – E mais uma vez me pegou pelo braço, mas dessa vez com menos força. Não tentei me soltar dessa vez porque fiquei com medo de sua reação.

Voltei para meus papéis enquanto ele pegou uma cadeira e sentou-se mais perto de mim. –Posso me sentar aqui?

–Vai adiantar se eu disser não?

–Não.

–Então pode.

–Obrigado.

Ficamos assim o resto do dia, ele do meu lado parado e eu envolta em papéis. Quando me dei conta já eram 18:00h e meu expediente havia terminado. Comecei a arrumar minha mesa para ir embora e percebi que ele estava ficando impaciente de novo.

–Aonde você vai?

–São seis horas da tarde Sherlock, preciso ir embora.

–Por quê?

–Porque meu expediente terminou. Porque eu tenho uma casa e um gato faminto me esperando. Não posso dormir aqui. Por falar nisso, você disse que dormiu aqui essa noite. Por quê?

–Eu não queria ficar sozinho em casa.

–Mas você ficou sozinho aqui a noite toda.

–Mas ficando aqui é como se eu não estivesse sozinho. Você não vai querer entender.

–Tente.

–Não Molly.

–Tudo bem, não vou te forçar a me contar. – Juntei o resto de minhas coisas, peguei minha bolsa e fui saindo – Tchau Sherlock.

–Molly, espere! Posso ir pra casa com você?

–O que?

–Molly, você está com problema de audição?

–Não Sherlock, acontece que hoje você está mais estranho que o seu estranho normal. Primeiro você dorme aqui e não me conta porque, segundo você quer me acompanhar em todos os lugares possíveis e agora quer ir pra casa comigo? Alguma coisa errada tem com você.

–Você não respondeu minha pergunta. Posso ir pra casa com você ou não?

–Que opção eu tenho?

–Tem a opção de dizer não e eu ir de qualquer forma.

–Então não pergunte mais nada e vamos logo. – Saí pisando duro e ele veio correndo feito criança atrás de mim.

Durante o trajeto para casa, diversas coisas se passaram pela minha cabeça. Eu estava tentando entender o que estava acontecendo com Sherlock e o motivo dele estar agindo dessa forma. Sherlock, apesar de estranho, sempre foi muito centrado e seguro de suas atitudes. Mas o homem que estava sentado ao meu lado no taxi, não era nem de longe a mesma pessoa que resolvia casos com maestria.

Ao abrir a porta do meu apartamento, Toby veio miando e se enroscando em minhas pernas. Joguei minhas coisas na poltrona de canto, tirei meus sapatos e disse para Sherlock ficar a vontade. Fui para o quarto trocar de roupa, afinal não poderia ficar com aquele jaleco cheirando a hospital. Quando abri a porta para sair do quarto, segurei um grito na garganta ao encontrar Sherlock parado no batente, estático.

–Porque demorou tanto?

–Sherlock, eu fiquei dentro do quarto menos de cinco minutos! Pelo amor de Deus!

Sua feição era de súplica e aqueles olhos azuis me diziam que alguma coisa estava muito errada com Sherlock e eu precisava fazer alguma coisa. Segurei sua mão e o conduzi até a sala novamente. Sentamos no sofá e me virei de frente pra ele.

–Sherlock, eu sei que não somos amigos. Nós mal conversamos e as poucas vezes em que você me dirigiu a palavra, foram para falar coisas não muito agradáveis. Mas estou disposta a esquecer de tudo isso se você me disser o que está acontecendo com você. Posso perceber que alguma coisa está te consumindo por dentro.

–Molly, não está acontecendo nada comigo...é só que...

–É só que...continue. – Segurei de leve sua mão.

–Ah, deixa pra lá Molly. – Num impulso ele se levantou e no caminho para porta de saída, ainda pisou no rabo do coitado do Toby que berrou em protesto.

–Aonde você vai Sherlock?

–Vou embora Molly.

–Não! Espere, volte aqui! Está claro que você não tem a mínima condição de ficar sozinho Sherlock!

Sherlock paralisou no lugar onde estava, e ainda de costas para mim, perguntou:

–Como você sabe que não consigo ficar sozinho, Molly?

–Sherlock, eu sou médica esqueceu?

Ele virou-se lentamente para mim me olhando com atenção. Esperando ansiosamente por uma explicação da minha parte. – Quando me formei em medicina, eu não tinha muita certeza em qual especialidade gostaria de seguir, então fui fazer residência no Bethlem Royal Hospital, você sabe, o hospital psiquiátrico. Na época eu atendi diversos pacientes com os mesmos sintomas que os seus.

–Sintomas? Eu não tenho nada Molly!

Me aproximei dele o mais calmamente possível e continuei: –Como está sendo sua vida após o casamento de John?

–O que John tem a ver com isso Molly?

–Só responda Sherlock.

–Não tenho nada para responder.

–Então pode deixar que eu respondo por você: Vocês são amigos e apesar de você achar que ele não era importante na sua vida, ele era sim. Ele saiu de casa e foi morar com Mary, afinal são casados agora. Foi depois disso que os sintomas apareceram, não foi?

Sherlock balançou a cabeça em afirmativo. –Eu sabia! Sherlock, você está sofrendo de Monofobia.

–Monooquê?

–Monofobia é como chamamos as pessoas quem tem medo de ficar sozinhas, Sherlock. Até o mês passado, bem ou mal, você tinha a companhia de John todos os dias. Vocês saíam para resolver casos e mesmo que vocês ficassem dias sem se falar no mesmo recinto, você sabia que ele ainda estava lá. Você não está sentindo falta dele e sim com um medo incontrolável de ficar sozinho. Isso é uma fobia. As pessoas que têm monofobia muitas vezes atribuem segurança e proteção a uma pessoa ou a um local específico. Por isso você foi dormir no St. Barts essa noite não é mesmo?

–Sim. Porque eu sabia que a primeira pessoa que eu encontraria pela manhã seria você e assim eu estaria seguro de alguma forma. – Senti meu coração parar por dois segundos. Nunca esperei ouvir isso de Sherlock. Na verdade, nunca esperei ouvir nada de Sherlock.

–Certo – falei meio sem jeito – Sherlock você precisa de tratamento. Como você bem pode perceber, eu não sou psiquiatra, mas devo ter aqui em algum lugar o cartão de um colega meu, ele poderá te ajudar. Acredito que o tratamento, se bem me lembro, seja consultas psiquiátricas, hipnoterapia, terapia de grupo e medicamentos selecionados... Aqui está. – Entreguei-lhe o cartão do Dr. Fuller.

–O que eu faço com isso Molly? – Balançou o pequeno cartão para mim.

–Amanhã você entra em contato com ele e diga que eu lhe indiquei para uma consulta.

–Não preciso de médicos Molly.

–Sherlock, é óbvio que você precisa de um médico, precisa de tratamento urgente.

–Preciso de você. Por favor, não me deixe sozinho! – De repente senti sua mão em minha cintura e ele me puxou para o abraço mais apertado que já senti em toda minha vida. Seu abraço era de uma pessoa desesperada por ajuda. Sherlock estava sofrendo e meu coração ia derretendo junto com ele. – Por favor Molly, prometa que nunca vai me deixar sozinho. Prometa! – Sussurrou com o rosto afundado em meus cabelos.

–Ok. Ok...prometo. – Fui saindo lentamente do abraço e aos poucos ele foi se acalmando. Voltamos para o sofá e ele deitou com sua cabeça em meu colo. Não resisti e passei a acariciar seus cabelos.

–Molly, eu posso ficar aqui essa noite? Não tenho condições de ir pra casa.

–Se você não se importar de dividir o sofá com o Toby...

–Tenho opção?

–Tem, você pode ir dormir sozinho na sua casa.

–Sei que Toby será uma ótima companhia.

–--

Eram quase duas da manhã quando acordei assustada e com Sherlock simplesmente enroscado em mim, na minha cama.

–Sherlock, o que você está fazendo aqui?

–Tive medo de ficar sozinho na sala. Fui abandonado por Toby também.

–Como assim Toby “também” te abandonou?

–Molly, me senti abandonado assim que você fechou a porta do quarto. Por favor, não me expulse da sua cama. Prometo não encostar em você, só me deixe ficar aqui e você não ouvirá nem minha respiração.

–Também não é para tanto, pode respirar se você quiser. – Segurei o riso. Seria uma situação hilária se não fosse constrangedora. O homem que mal falava comigo, agora estava deitado ao meu lado em minha cama. Puxei o cobertor até o queixo e tentei voltar a dormir. Impossível.

–Molly?

–Hmm...

–Está acordada?

–E por acaso você me deixou dormir Sherlock?

–Você pode segurar minha mão?

–Não me diga que você tem medo de escuro também? – Me virei lentamente ficando de frente para ele, infelizmente era impossível ver qualquer coisa além da escuridão. –Tudo bem, onde estão suas mãos?

–Aqui. – Assim que segurei suas mãos entre as minhas, um arrepio tomou conta de mim.

–Sherlock! Suas mãos estão congeladas. – Comecei a esfregar minhas mãos nas dele, na intenção de esquentá-las o mais rápido possível. –Está melhor agora?

–Sim, obrigado. Só não solte, por favor.

–Não vou soltar. – Eu não soltaria aquelas mãos por nada neste mundo. –Prometo.

Alguns minutos se passaram até que Sherlock me chamou novamente.

–Molly?

–Hmm...

–Preciso te fazer uma pergunta.

–Pergunte Sherlock. - Eu não tinha mais certeza quantos anos tinha o homem deitado comigo naquela cama. Estava mais para uma criança de cinco anos.

–Você acha que eu vou ficar curado dessa fobia? – Me apoiei em um dos cotovelos e acendi o abajur na mesinha de cabeceira. Se ele queria conversar, então que pelo menos eu pudesse vê-lo. A luz do abajur deixava seus cabelos mais negros, seus olhos mais azuis e eu mais fascinada com tudo que estava acontecendo. Levei minha mão ao seu rosto e fiz um pequeno carinho em sua bochecha.

–É claro que você vai ficar curado. O Dr. Fuller é um dos melhores psiquiatras que conheço. Fique tranquilo.

–Só tem um problema em ficar curado, Molly.

–E qual é o problema?

–Não terei mais nenhuma desculpa pra poder ficar tão perto de você quanto estou agora.

♫♪♫

Sherlock sorriu para mim timidamente e foi com esse mesmo sorriso no rosto que ele se apoiou sobre os cotovelos e me beijou. Um beijo terno e suave, mas carregado de sentimento. Ele precisava de mim naquele momento e eu não iria abandoná-lo. Nunca mais.

Baby kiss me before they turn the lights out

Your heart is glowing

And I'm crashing into you

Baby kiss me, kiss me

Before they turn the lights out

Eu acordei lentamente de um sono bom. As cortinas estão tentando segurar os primeiros raios de sol que querem incomodar o silencioso quarto com calor, mas por agora as paredes brilham um lilás leve e ainda tem traços de tranquilidade no ar.

–Estou com frio – Sherlock murmurou atrás de mim e roçou seu nariz na parte de trás do meu pescoço, seus braços ao redor da minha cintura me puxaram pra mais perto.

Mesmo que nossas peles estejam quentes por estar debaixo das cobertas e por estarmos grudados um no outro a noite toda, seu nariz está meio geladinho. Eu me virei pra encará-lo e massageei sua espinha com a palma da minha mão, meus dedos entraram em seu cabelo e comecei a acariciar suas madeixas macias. –Quer que eu te aqueça?

Os olhos de Sherlock continuaram fechados e ele não disse nada. O canto de seu lábio começou a sorrir, então eu sei que ao menos ele está prestando atenção.

–Eu poderia te aquecer. Bem devagar. Fazer você ficar todo quentinho...Desde o dedão do pé até a pontinha do nariz. – Eu disse calmamente, tentando segurar uma risada porque isso foi bem cafona. Sherlock não conseguiu segurar o riso, mas eu beijei seu nariz gelado ainda assim. –Ei, estou tentando ser toda romântica às... – Eu me rolei pra ver o relógio. – Quase sete da manhã e estão rindo de mim.

–Ah, Molly. – Sherlock sorriu enormemente e finalmente abriu os olhos um pouco. Minha respiração travou quando ele olhou pra mim com aqueles olhos azuis lerdos e serenos. – Você não tem que se esforçar tanto. – Ele deslizou uma de suas pernas sobre meu quadril e entrelaçou ao redor do meu corpo. – Acredite.

Sherlock plantou um beijo doce na minha têmpora e se aconchegou em mim. –Não quero ir embora nunca. – Ele suspirou. – Sempre ficar, ficar todas as noites...

–Então fique. - Sorrindo, eu deixei que a emoção tomasse conta de meu corpo. Talvez Sherlock me amasse também.

In the darkest night hour

I'll search through the crowd

Your face is all that I see

I'll give you everything


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Notas finais do capítulo

O que acharam? ;)



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