Stiles se arrependeu do que disse no exato momento em que as palavras saíram de sua boca. Ele balançou a cabeça, se negando a acreditar que tinha se declarado tão rapidamente pra um semidesconhecido.

É verdade que ele acabou se apaixonando por Derek nesses poucos dias que passaram juntos, mas uma coisa é ‘amar’ em segredo e outra completamente diferente é abrir a boca para o cara hétero que você está afim.

“O que?” Derek deu alguns passos para trás, a expressão facial confusa. Stiles podia jurar que ele estava dividido entre o susto e a felicidade.

“Eu não devia ter dito isso.” O mais novo suspirou. Sua vontade era sair correndo para bem longe do Hale.

Derek praguejou mentalmente. As palavras do garoto ainda rodavam em sua mente em um eco interminável de “eu te amo”. Saber que Stiles gosta dele quase o fez sorrir. Quase. É esse tipo de coisa que ele vem evitando por anos. Desde que sua namorada psicopata matou a sua família ele se afasta de qualquer um que demonstre ter interesse em algo mais profundo que sexo.

Seria mentira dizer que ele não sente nada pelo mais novo, mas seria exagerado dizer que o que sente é paixão. Está mais para uma queda ou uma enorme vontade de agarrá-lo. Derek queria mais do que tudo dizer que retribui a forte paixão que Stiles sente por ele, mas esse não é o caso. E mesmo que fosse ele não teria coragem. Como assumir perante toda a Hogwarts um relacionamento homoxessual com um dos campeões do torneio tribruxo?

Talvez seja por isso que não admite estar apaixonado por Stiles. Talvez isso que ele insista em chamar de queda seja algo forte demais para que ele admita até mesmo em pensamentos. É por isso que decidiu o que fazer. Iria afastar-se do garoto antes que as coisas tomem outro rumo e acabe levando a um namoro sem sentido e estupido.

“Stiles como você pode estar apaixonado por alguém que você conheceu a poucos dias?” Pela primeira vez Derek usou um tom de voz calmo para com Stiles e isso o assustou mais que seu tom de voz normal.

“Eu não sei, Derek. Eu só... sinto.” O menino deu de ombros, os olhos fixos nos do homem a sua frente.

“Eu nunca fiquei com garotos.” Confessou.

“Posso te ensinar.” Stiles deu alguns passos vacilantes pra frente na intenção de aproximar-se de Derek, que recuou.

“Stiles o que eu quis dizer é que não gosto de garotos.” Mentiu descaradamente. Derek não só gosta de garotos como está se segurando para não agarrar Stiles.

“Oh.” O garoto parou de andar, os olhos se desviando para o chão. “É que eu pensei que... Deixa vai. Eu fui um idiota. Não é como se alguém fosse gostar de mim. Ainda mais alguém tão bonito.” Ele sorriu ao terminar de falar. Não existia auto piedade em sua voz. Stiles dizia o que julgava ser verdade.

“Stiles nã...”

“Calado, Derek. Você não tem que me reconfortar por isso.” O garoto deu uma pausa. “Aliais eu preciso ir pro castelo preparar-me pra primeira prova de alguma forma. Você sabe, aquela que provavelmente vai me matar ou me deixar sangrando igual estou sangrando por você nesse exato momento.”

“Stiles, quando estiver lá se lembre de que eu te proibi de morrer. Não quero que o torneio seja cancelado na primeira prova.” Derek disse ríspido e aquilo de alguma forma confortou Stiles. Talvez ele possam ser amigos.

“Vou tentar, senhor Hale.” Disse antes de dar as costas pro mais velho.

(...)

“Se eu morrer você pode ficar com os meus HQ trouxas e a Allison pode ficar com os meus livros do mundo mágico. Você sabe, ela é mais inteligente que você e isso pode ser útil. ” Stiles tentou fazer que o tom de voz saísse descontraído, mas falhou miseravelmente.

Ele e Scott estavam parados de frente pra floresta proibida. Todos os estudantes já entraram na orla da floresta e nenhum dos outros campeões esta a vista. Provavelmente os dois estão dentro da barraca preparativa. Aonde Stiles também deveria estar se não tivesse sido parado pelo melhor amigo.

“Você não vai morrer.” Scott colocou a mão no ombro dos amigos, os olhos demonstrando toda a preocupação que sentia em relação a prova.

“Claro que não.” Zombou Stiles antes de jogar-se nos braços do amigo.

“Tome cuidado. Você é como um irmão pra mim. Porra, nós crescemos juntos.”

(...)

“A prova vai ser bem simples. Cada um de vocês terá passar por um trasgo diferente. Ele está guardando um tesouro. Esse tesouro contem uma pista muito importante para a próxima tarefa. Feito isso os juízes avaliarão os métodos utilizados e darão pontos conforme suas performances. Vocês terão uma hora para realizar a tarefa. Passado disso, ou caso seam feridos gravemente, um professor poderá interferir. Fácil e rápido. Boa sorte!”

Stiles tinha de fato acreditado nas palavras do diretor, mas foi só ver Isaac sair do campo de batalha carregado em uma maca, com varias partes do corpo machucadas e com um corte profundo na cabeça, para que todos os seus medos voltassem a tona. Ele lançou um olhar preocupado pra Lydia que o retribuiu na mesma intensidade antes de ser chamada pra realizar a tarefa.

O garoto passou então a andar de um lado para o outro na barraca, o rosto suando frio e as mãos tremendo de forma descontrolada. Ele ficou quase meia hora nesse impasse até que os aplausos anunciaram que Lydia havia finalmente conseguido realizar a tarefa. Ele postou-se então na frente da entrada da barraca, respirou fundo diversas vezes e esperou.

Foi quando o som de um ganhão perfurou seus ouvidos que Stiles passou pela porta de metal que o separava da primeira tarefa.

“Porra!” Foi tudo o que conseguiu dizer.

De frente pra ele encontrava-se um trasgo montanhas de quase dois metros de altura. De cor verde, olhos pretos profundos e rosto ameaçador ele poderia matar qualquer um sem nem pestanejar. Em sua mão direita um pedaço de pau – Stiles não sabia como se chamava o nome do bastão – balançava de um lado para o outro de forma ameaçadora.

Stiles constatou que a perna esquerda do trasgo estava presa em uma corrente fina de metal, que poderia ser quebrada em cinco minutos. Talvez fosse uma armadilha e talvez seja por conta disso que Isaac se fodeu logo de cara.

O garoto retirou a varinha de dentro das vestes e a apontou diretamente para o pequeno monstrinho, mas não sabia ao certo o que fazer. Não tinha conhecimento de nenhum feitiço que fizesse trasgos desmaiar.

“Eu vim em paz.” Murmurou confiante, os dedos da mão direita formando o símbolo de mesmo nome. Talvez um pouco de conversa animasse o trasgo. O garoto esperou por cerca de dois minutos para ver se havia uma resposta. Como não houve ele caminhou.

Os trasgos são conhecidos por não terem inteligência alguma, mas esse realmente conseguiu surpreender Stiles. Ele esperou até que o humano estivesse perto o suficiente para rugir de forma ameaçadora e levantar o bastão.

O garoto jogou-se paro lado no exato momento em que o pedaço enorme de mateira atingia o chão quebrando uma pedra como se não fosse nada mais que um pedaço de graveto. Frustrado, o trasgo ergueu o pé livre chutando Stiles, que dessa vez não teve tempo de reagir, para longe.

A dor nauseante tomou conta de seu estomago no exato momento em que o trasgo o atingiu. Ele gritou, esquecendo-se que a prova estava sendo transmitida a todos na orla da floresta, enquanto voava para trás. Suas costas chocou-se contra uma arvore e mais uma vez ele praguejou de dor.

“Merda de trasgo.” Murmurou, a dor visível em cada palavra dita.

Xingando os idealizadores das provas de tudo que é nome, Stiles colocou-se de pé. A dor em todo o seu corpo era quase insuportável, mas ele não iria permitir-se desistir logo no começo. Em passos lentos ele caminhou pra mais perto do trasgo – apenas o suficiente para que estivessem frente a frente – a varinha apontada para seu rosto.

Seus olhos perpassaram por toda a sua volto procurando cada pequeno detalhe que pudesse lhe ser útil. Foi só então que se deparou com a caixa preta atrás do trasgo. Era obvio que aquele era o tesouro que tinha que resgatar.

“Accio caixa preta.” Gritou com a varinha erguida, mas como era de se esperar nada aconteceu. Stiles bateu com a própria mão na testa, a raiva o consumindo. Os telespectadores deveriam estar rindo de sua cara depois de uma dessa.

“Eu sou mais espero que isso!” Pensou.

Seus olhos pousaram então em uma pedra. Ele mordiscou o lábio inferior e no mesmo momento soube exatamente o que fazer. Apontou a varinha para o objeto inanimado, os olhos brilhando de animação.

“Wingardium Leviosa.” Disse em um tom confiante. Ele guiou então a pedra no ar, que tinha começado a flutuar graças ao feitiço realizado, em direção ao trasgo. O bicho enorme balançou os braços no ar, tentando alcançar a pedra flutuante. “Já que você quer.” Stiles soltou a pedra na cabeça do mesmo e se achou muito mal ao dar risada da desgraça da criatura.

O trasgo não chegou a desmaiar, mas ficou bem próximo disso. Seus pés começaram a executar uma dança lenta e suas mãos agora não tinham forças para segurar o bastão que caiu no chão com um baque estrondoso. Aproveitando o momento de estupor do trasgo, Stiles correu em direção à caixa preta. Ele passou entre as pernas gigantes da coisa verde, a varinha em punhos.

Não demorou para que suas mãos agarrassem o objeto. Ele sorriu de orelha a orelha, orgulhoso de si mesmo pela primeira vez na vida. Estava quase guardando a varinha no bolso interno das vestes quando algo o arremessou contra o chão novamente. Stiles gritou de dor quando a cabeça bateu contra o chão duro, a caixa escorregando em suas mãos.

O trasgo tinha voltado à ativa, muito embora não tivesse conseguido recuperar o bastão. Ele levou as mãos até o humano, agarrando sua perna e o pendurando no ar.

Stiles pegou a varinha e apontou para a pedra novamente. Entre gritos de dor e lamentos de indignação ele murmurou o mesmo feitiço de levitação e postou a pedra sob a cabeça da criatura mágica, que dessa vez desmaiou com o feito.

O garoto caiu no cão usando os punhos para amortecer a queda, o que não dimunuiu em nada a sua dor. Todo o seu corpo estava doando, seu pulso havia se fodido agora mesmo. Da cabeça gotas de sangue escorre – assim como dos arranhões do rosto e das costas – e seu abdômen provavelmente está roxo por causa do chute.

“Eu estou sangrando, mas estou vivo.” Pensou. Por algum motivo aquilo o lembrou de Derek Hale e o sorriso que surgiu em seus lábios foi inevitável. Colocou-se então de pé, agarrou a caixa preta e colocou-se a andar, um gemido de dor escapando de seus lábios sempre que fazia movimentos bruscos.

Quando chegou a orla da floresta uma onda de aplausos quase o deixou surdo. A maioria, se não todos, estudantes de Hogwarts tinham ficado até depois do horário para parabenizar Stiles pelo grande feito na primeira tarefa. Mesmo com o sangue escorrendo por todo o seu corpo e uma dor insuportável estar o dominando, ele conseguiu sorrir e acenar para todos.

“Eu sabia que você não ia morrer. Vazo ruim não quebra tão rápido assim.” Derek se aproximou de Stiles de forma cautelosa e com um sorriso mínimo nos lábios. Isso decepcionou Stiles. Ele imaginou que o outro ficaria mais feliz ao o ver vivo.

“No fim você estava certo.” Stiles deu de ombros. Estava quase dando as costas para o mais velho quando esse o puxou para um abraço surpreendendo até a ele mesmo.

“Parabéns.” Murmurou em seu ouvido, o tom de voz orgulhoso.

Stiles abriu a boca para responder Derek, mas um clarão que quase o cegou fez com que as palavras fugissem de seus lábios. Ele afastou-se do amigo e olhou em direção da onde a maldita luz tinha vindo.

Parada a poucos metros de distancia encontrava-se Rita Skeeter. Em sua mão pendia uma maquina fotográfica e em seus lábios um sorriso satânico.

“Pronto, agora já tenho a foto pra minha matéria.” Disse ela.