Deixando suas obrigações de lado, Fugaku tira o resto da tarde para esperar junto com sua esposa Itachi voltar da academia ninja.

Ou ao menos essa era uma boa desculpa.

Se fosse sincero, o líder do clã Uchira simplesmente não queria voltar ao caos que estava a aldeia e aproveitar essa estranha paz que estava sentindo. Sua esposa embalava Naruto enquanto o alimentava, e ele apenas observava ora essa serena cena, ora as folhas da arvore próxima a janela que caiam lentamente.

Aquela paz

Aquele silêncio

Aquele...

- BUAAAAAAAA

... forte choro vindo do quarto de Sasuke.

- Querido, está na hora da mamadeira de Sasuke – Mikoto sem erguer os olhos de Naruto diz com calma – poderia acalmá-lo um pouco enquanto eu esquento mais um pouco de leite para ele?

Geralmente Fugaku não se dignaria a responder tal pergunta, mas algo naquele dia estava diferente e tomado por um instinto mais paternal que o normal se levanta sem dizer uma única palavra e se vira na direção do corredor.

- E leve o Naru

- Como... – antes de perguntar qualquer coisa, a mulher já havia enfiado o bebê nos braços do marido e começado a ir em direção aos armários.

- Sasuke também precisa conhecer o novo irmãozinho – ela vira o rosto na direção do marido e sorri – cuide dos meninos por alguns minutos, por favor.

Novamente sem dizer qualquer palavra, Fugaku simplesmente se resignou e com Naruto em seus braços se dirigiu ao quarto de seu choroso filho.

Sasuke debatia seus braços e pernas em um desesperado intento de chamar a atenção de seus pais.

Cadê vocês?

Estou com fome!

Alguém me ouve?

Seus choros tentavam em vão passar essas palavras que em sua mente infantil faziam todo o sentido, mas que para os adultos ao seu redor não passava de simples barulho.

Próximo ao berço de seu filho do meio... digo, filho mais novo, Fugaku leva uma mão a criança e sem saber que palavras dizer para acalmá-lo simplesmente chia entre os dentes tentando produzir um ruído tranqüilizador.

-Buaaaaaaaaaa

Mas aparentemente não funcionou.

Sentindo o único braço que segurava Naruto cansar, ele desce o loirinho no mesmo berço em que está Sasuke. Ele se preparava para pegar Sasuke nos braços quando...

- Buaaaaaaaa

- Buaaaaaaaa

Naruto começa a chorar junto com Sasuke.

O choro do moreno estava deixando o loirinho tão nervoso que sem poder se conter mais, forma um irritante dueto com o moreninho.

- Buaaaaaaaa

- Buaaaaaaaa

Agora, sem saber a quem pegar primeiro, o adulto virava de um lado para o outro com os braços esticados na direção de um e do outro, em pleno pânico e inconfundível indecisão.

Sasuke, finalmente consciente do segundo corpinho em sua cama, ainda em prantos, olha curioso para o choroso loiro a sua frente.

Se sentindo observado, Naruto abre seus olhinhos, que antes havia fechado na hora do pranto e ainda com lagrimas caindo de seus olhinhos azuis funga tristonho sem tirar os olhos do segundo bebê no confortável berço.

Sasuke se aproxima de Naruto curioso, nunca havia visto alguém tão pequeno quanto ele!

E aparentemente era até menor!!!

Assustado pela aproximação do estranho bebê moreno, Naruto treme o lábio inferior, mas não volta a chorar alto, deixando as lagrimas caírem silenciosamente.

Próximo o bastante, Sasuke ergue a mãozinha e curioso cutuca os risquinhos nas bochechas de Naru, piscando a cada cutucão em seu rostinho Naru franze o cenho e sem poder se conter por muito tempo, espirra. Sasuke ri da cara engraçada que aquele outro bebê fez, e diante de um riso tão gostoso, Naruto também começa a rir.

Era uma cena adorável, e Fugaku assistia tudo aquilo um pouco pasmo.

“No final eu acabei não servindo para nada, bom trabalho Naruto” pensa com um sorriso divertido no rosto.

- Oras, vejam quem está se dando bem com o novo irmãozinho – disse uma voz ao lado de Fugaku.

Mikoto, com a mamadeira de Sasuke na mão pega o filho do berço e o embalando com delicadeza o alimenta.

Naruto acompanha todo o trajeto do companheiro com os olhinhos azuis um pouco decepcionados e estendendo os bracinhos o balança como se dissesse.

“Me devolve, me devolve”

Sem poder se conter, Fugaku solta uma baixa risadinha.

- Disse alguma coisa querido? – Mikoto pergunta sem desviar sua atenção de seu filhinho.

- Nada – se abaixando ele pega Naruto no colo e se aproxima o máximo possível da esposa – nada de mais.

Próximo o bastante para ter uma boa visão de seu novo irmão, Naruto sorri feliz, e recebe de resposta um outro sorriso vindo de uma boquinha toda suja de leite.

PAK

Um novo irmão?

Essa era uma coisa que Itachi não esperava encontrar quando voltasse para casa.

Não era como se não gostasse de Sasuke, era barulhento, babão, e sem um pingo de noção de propriedade – suas kunais que o digam – mas esses eram defeitos fáceis de aturar se levarmos em conta que foi o seu irmãozinho que fez, não um desconhecido.

Mais amadurecido para sua idade do que uma criança normal de seis anos. Itachi nem chiou quando sues pais lhe deram a estranha noticia. A principio pensou que sua mãe estaria grávida de novo, mas então explicaram que haviam adotado uma criança orfã.

Adotado? Para que precisavam adotar uma nova criança?

Não estavam satisfeitos com as que tinham?

Não estavam satisfeitos com ele?

Calado ele remoeu todas essas duvidas e de longe, com um olhar, observou aquela bolinha de carne rosada.

Qual era a graça afinal de terem mais um bebe na casa?

Mais sujeira, mais barulho...

Os pais deram por certo que ele havia aceitado tudo muito bem, mas como aceitar aquilo?

Sasuke parecia muito confortável com o novo amigo, tanto que nem queria que ele deixasse seu berço, ambos os bebês se divertiam com suas brincadeiras bobas e rindo tontamente de nada em especial.

Coisas de bebê, Itachi concluiu revirando os olhos.

Depois do jantar, depois que todos foram dormir, depois, bem depois de todas as luzes das outras casas que podia ver através de sua janela finalmente apagarem, ele se levantou sorrateiramente de sua cama e foi na direção do quarto de Sasuke.

Não gostava daquilo.

Não gostava de agir como um intruso em sua própria casa, mas queria olhar mais uma vez para aquele estranho bebê.

Queria ver o que tanto seus pais viam nele.

O que o próprio Sasuke pareceu ver nele que ele não conseguia.

Na frente do berço de Sasuke, o irmão de sangue dormia calmamente, encolhido e segurando a mãozinha de Naruto. O loiro também dormia, mas quando o moreno mais velho se escorou no berço para vê-lo mais de perto, sem querer esbarrou no leito e acordou o loirinho.

“Merda” pensou Itachi “agora o pivete vai berrar e meus pais vão brigar comigo”

Mas diferente do que pensava, o loirinho não chorou, ainda com uma expressão cansada, Naruto olhou para aquela pessoa que parecia tanto com as pessoas gentis que durante todo o dia o embalaram e alimentaram.

Sorrindo, o loirinho força sua mão para cima, mas ela estava presa, olhando para o lado vê que o outro bebê segurava ela. Bufando inconformado, ele cruza um de seus bracinhos gorduchos sobre o outro na vã tentativa de esticá-lo na direção do moreno, mas tudo o que conseguiu foi acordar Sasuke e não chegar nem perto de sua meta.

Sasuke abre cansadamente os olhos e percebe a presença de seu irmão Itachi.

Largando a mão de Naru ele estica o bracinho e envolve o peito do mais novo antes de se deixar adormecer, como se dissesse:

“ELE É MEU!!!”

Itachi não pode conter um pequeno sorriso diante da atitude de seu irmão.

Naruto, confuso, tudo o que pode sentir foi alivio de sentir a mãozinha livre e esticando ela na direção de Itachi ele sorri olhando diretamente em seus olhos.

Sem saber muito bem o que fazer, por pura inércia, o mais velho estica a mão e pega a do loirinho.

- Então... você é meu novo irmão.

Naruto não entendeu aquelas palavras, Itachi sabia disso, mas por segundos pareceu ter entendido, pois soltando um de seus balbucios de bebê ele cabeceia cansadamente até adormecer.

- Talvez não seja tão ruim... – sem ter coragem de abandonar o calor daquela mãozinha, Itachi se inclina mais naquele berço – esse lance de ter um novo irmãozinho... talvez não seja tão ruim.

PAK

Depois que o pivete Uchira abandonou o quarto de seu irmão, Kyuubi, ainda na forma de cachorro, invade o aposento, e com pés misticamente mais leves que o vento sobem no berço e se senta ao lado dos dois bebês adormecidos.

- Tsc, pensei que ele não voltaria para cama nunca mais. – a raposa grunhi irritada.

Voltando a ficar em pé, se aproxima mais de Naruto, e não precisou olhar duas vezes para perceber que algo estava errado.

- Essa energia, não é de um humano normal... – levando sua patinha na direção da barriga do bebê sente algo formigar – o que é isso?

Sem pensar duas vezes ergue a camisa azul da criança e se surpreendeu com o que viu.

- Asas? – murmura impressionado ao ver as tatuagens ao redor do umbigo de Naru – e não são asas normais – ele leva a pata novamente para cima da marca e sente a mesma sensação de formigamento – ela emana uma energia celestial, não é a toa que todo mundo parece babar tanto por esse fedelho.

Inconformado ele volta a cobrir a barriga do menino e com um único salto sai do berço e atravessa a janela que abriu e atrás de algumas moitas bate a pata no chão com raiva.

- Eu não esperava por isso, a energia lacrada do Serafim é tão forte que pode ser facilmente sentida pelos humanos, droga, não vai haver criatura nessa aldeia que diga não a ele. – seus olhos se estreitam por segundos com raiva, mas logo algo lhe vem a mente – ninguém poderá lhe dizer não... – sorri maligno – oras, e quem disse que isso é necessariamente ruim.

Pelo resto da noite Kyuubi pode sentir seu humor melhorando gradativamente, com um pouco de engenho, seus dias daqui para frente poderiam se tornar bem, mas beeeem divertidos