Minha visão era periférica, como se minha estatura fosse menor  que o normal. Algo brilhava intensamente a poucos metros a minha frente, aquele brilho me hipnotizava. Ao correr para pode verificar mais de perto, pude sentir meu peso se equilibrar em quatro patas, eu parei totalmente absorta. Eu era... Eu estava em forma de cachorro?

            -Bella? – Sussurrou uma voz de veludo que vinha do lugar onde se encontrava o incrível brilho, a voz me puxava e eu comecei andar rapidamente – Venha Bella!

            Até que um rosnado vindo de algum animal atrás de mim me parou, e de repente minha mente foi tomada pela voz de Jacob, que me falava com uma voz feroz:

            -Volte Bella, volte. Eles vão te matar, eles são nossos inimigos.

            Eu me encontrava no meio do caminho, sendo puxada pelas duas vozes. Uma , a de Jake, puxava-me pela submissão, a outra, a voz de veludo, puxava-me por um fogo que jazia em meu coração.Minha estrutura animal, ameaçava-se explodir-se em duas partes, e eu gritei tomada pela dor.

            Estava totalmente suada, afastei meus cabelos grudados na testa pelo suor, enquanto tentava recuperar meu fôlego. Eu não tinha entendido aquele sonho, mas ele me assombrava arduamente.

            Olhei para o despertador que marcava seis horas da manhã. Pulei para o banheiro a fim de tomar um banho quente, que aliviaria a tensão dos meus músculos. Após ter feito minha higiene, desci até a cozinha para fazer o café da manhã para mim e Renée.

            Estava fritando alguns ovos quando a sua voz infantil ecoou pela cozinha:

            -Bom dia Bella!

            Esbocei um sorriso para ela e depois disse:

            -Bom dia Renée. Eu estou fritando alguns ovos.

            Ela revirou os seus olhos enormes:

            -Não precisa cozinhar Bells, numa casa normal a mãe cozinha para filha!

            Murmurei enquanto servia-nos:

            -Numa casa normal a mãe sabe cozinhar.

            Renée pareceu escutar, me olhou com desdém e deixou essa passar. Era tão fácil com ela, a convivência em casa era completamente monótona, porém era melhor assim, com ela eu não tinha que esconder meu mau humor nem nada do tipo.

            Liguei a picape e me dirigi até a casa de Jake ainda constrangida pelo modo que ele me tocou na noite anterior.Nos não éramos habituados a carícias daquele tipo, nossa amizade sempre foi muito fria nesse aspecto.Eu não entendi Jake ontem, talvez fosse que eu não tocasse mais no assunto.

            Foi Billy quem saiu na porta quando eu buzinei.

            -Olá Bells – Ele se arrastou a cadeira de rodas até a porta de meu carro – Jake não vai à escola hoje.

            Eu arregalei os olhos. Jacob nunca faltava a escola, e quando o fazia sempre me ligava antes para podermos faltar juntos.

            -Por quê?

            A testa de Billy ganhou linhas de preocupação, eu estremeci.

            -Ele está com mononucleose.

            Continuei encarando Billy, absorta.

            -Bella, talvez fosse bom você ir, senão vai se atrasar.

            Olhei por reflexo em meu relógio, ainda faltava algum tempo. Seria bom checar o estado de Jake, se ele estivesse muito debilitado, faltar a escola para ajudá-lo em algo.

            -Billy eu quero vê-lo – Disse abrindo a porta , quando ele a empurrou fechando-a bruscamente.

            -Não! - A sua voz era brusca, depois ele continuou em um ritmo menos agressivo – Não Bella, ele está suando em bicas, é constrangedor. Ele não quer receber visitas.

            Pisquei varias vezes, confusa. Um pingo de suor escorreu no meio de minha testa.

            -Billy, eu irei visitá-lo. Ele não sentirá vergonha de mim.

            Os traços do rosto dele indicaram irritação. Ele disse com a voz mais áspera que ele já tinha se referido a mim:

            -Bella, agora vá. Eu não quero mais problemas, por favor.

            Eu não ia desistir. Ia vencê-lo pelo cansaço.

            -Ok – Eu disse fechando a porta – De tarde eu passo aqui, a situação dele já vai estar melhor...

            Acelerei antes que ele tivesse tempo para protestar.Cheguei na escola um pouco atrasada, todos os meus horários eram com Jacob naquele dia, o dia ia ser mais vazio do que eu podia imaginar.

Entrei na aula de espanhol, enquanto o professor recitava um poema, ele acenou para que eu entrasse e eu me sentei em meu lugar de sempre. Como de esperado a cadeira ao meu lado estava vazia, mas vê-la assim, fez com que minha ansiedade para ver Jake aumentasse. Porque Billy havia tradado-me daquela maneira? Ele era um deficiente físico, se Jake estivesse realmente debilitado minha ajuda seria indispensável. Mas ele não pensava assim, estranho ele nunca fora rude comigo antes.

            O sinal tocou antes que eu pudesse pensar em abrir meu livro de espanhol. O horário agora era biologia, e claro, meu par era Jacob. Talvez eu pedisse para ficarem com Leah e Emily, elas com certeza não se importariam com minha presença.

            Dirigi-me lentamente para a sala, tentando encontrar Leah ou Emily para pedi-las com antecedência para  trabalhar com elas hoje. Porém não consegui, entrei na sala e o obvio me ocorreu: Jacob estava com mononucleose, uma doença altamente contagiosa, com certeza o vírus iria atingir uma ou duas das pessoas que estavam conosco. Era obvio, porém ainda sim me incomodava. Cambaleei para dentro da sala aquecida, sem saber qual seria meu destino naquela manhã.

            -Isabella Black?

            - Bella – corrigi automaticamente, olhando para o professor que dissera meu nome.

            -Bem, a sua dupla de biologia faltou... Logo hoje que irrevogável trabalhar em dupla, bem se sente ali  - O Sr. Barry apontou para uma cadeira na primeira fila – Juntamente com o Sr. Cullen.

            Aquilo foi como um tapa na cara. Eu disse ao professor com a voz trêmula:

            - Ma-mas Sr.Barry... Cu-cullen?

            As sobrancelhas dele se ergueram.

            -Algo contra o Sr. Cullen, Sra. Black?

            Eu pisquei os olhos varias vezes, incrédula. Cambaleei até a cadeira ao lado do menino que estava sentado: o menino de cabelos bagunçados. Ele me olhava, se divertindo. E de novo eu somente pude olhar para os seus olhos de topázio, e perdendo a concentração no chão, tropecei em alguma mochila e cai em cima da cadeira destinada  a mim.

            Uma risada, que mais parecia o barulho de sinos tocando, ecoou na sala, vinda dos lábios do garoto. Levantei-me rapidamente e sentei-me. Joguei meus cabelos como uma cortina para que ele pudesse parar de se divertir às minhas custas.

            - Então, algo contra os Cullen? – Disse a voz de sino, eu o encarei, assustada, seus lábios estavam apertados contendo um sorriso – Você não me deu a chance de te ajudar a levantar, como um cavaleiro faria.

            Eu não contive o impulso de revirar os olhos.

            -Os cavaleiros não costumam a rir quando uma “dama” cai  - Fiz o sinal das aspas com os dedos.

            Ele mostrou os dentes brancos cintilantes,em um sorriso, e eu fiquei tonta.

            -A propósito, Edward Cullen – Ele estendeu os dedos pálidos e longos para mim.

            Minhas mãos tremiam, e eu estendi a minha mão trêmula para ele.

            -Er... Be-Bella Black.

            Quando minha pele encostou-se à superfície fria da dele algo estranho aconteceu. Uma onde de choque transpassou minha espinha, sua pele era fria  e dura como gelo, eu podia sentir a maciez da minha roçando na dureza da mão de Edward, o oposto pensei, totalmente o contrário da minha.

            EDWARD PDV

            Quando minha pele sentiu a dela, eu pude ter a certeza que minha hipótese estava correta. Bella Black era uma lobisomem. Tudo estava explicado,  sua pele ardia como fogo, eu podia sentir a essência no seu cheiro, apesar de seu sangue ter o teor de sangue de cachorro, por dentro disso eu podia sentir o cheiro de lavanda. Na normal  realidade, um vampiro teria nojo de uma loba, porém eu sentia tudo menos nojo da garota.

            Os demais Quileutes, ainda não transformados, ganharam meu asco. Porém Bella somente ganhava minha curiosidade. Eu estava totalmente frustrado, a mente que eu mais desejava ler, era a mente que me era negada?Eu desejava, quase como o sangue dos humanos daquela sala, poder lê-la, poder conhecer cada detalhe de sua vida pessoa. Bella era a pessoa que mais me interessara durante meu século de existência.

                        -Então, o que aconteceu com os seus amigos? Não vi nenhum deles me encarando esta manhã. – Tentei distraí-la, e deixar minha expressão ilegível, mas a menina me olhava com um tipo de curiosidade extrema.

            -Eles acham vocês estranhos – Tudo saiu de sua boca, a qual meu olhar se recusava a desviar, como um suspiro. – Desculpe.

            -Não precisa se desculpar – Meu olhar estava colado nos lábios pequenos da futura loba – Nós somos... Estranhos mesmo.

            Consegui desviar meu olhar para os olhos da garota, eram castanhos, e pequenos, analisei o rosto de Bella, meu olhar quis passear por todo  seu corpo, captando cada detalhe, memorizando-os, como se aquilo fosse necessário para minha sobrevivência a partir dali.

            BELLA PDV

            O garoto me hipnotizara, seus traços rígidos em sua superfície de mármore. Eu estava absorta, e também convicta aquela beleza não podia ser humana.

            Eu não falei até ao longo da aula, eu apenas pude observá-lo atentamente, o jeito com que ele segurava os objetos, os movimentos sempre tão perfeitos e certos.

            Quando vi a escultura de mármore se afastando de mim, seus lábios cheios por um sorriso, eu não consegui  responder a sua saudação de despedida. Eu apenas pude ficar olhando-o ir.

              Como mágica, a medida que ele ia se afastando eu ia me sentindo péssima.Extremamente tonta, sentindo um frio absurdo.Droga! A mononucleose não havia se contentado apenas me deixar sozinha na escola, tinha tratado de apossar-se de minha pessoa.

            Bati a porta de minha picape, decidida que estava debilitada demais para assistir os horários restantes.