Ohana escrita por Miss FleurDeLouis


Capítulo 3
Sobre a estupidez e a falta de tato


Notas iniciais do capítulo

Olá, depois de passar uns bons perrengues pra postar, aqui estou eu.
Esse capítulo é um presente de aniversário atrasado pra Isa, happy birthday, docinho!
E também é dedicado para a D. Glorinha e para Sweet Dreamer pelos comentários lindos.
Aproveitem!



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N-acetil-para-aminofenol e para-acetil-aminofenol: a nomenclatura em química orgânica. N-(4-hidroxifenil) etanamida: a nomenclatura IUPAC. Parectamol: o nome comercial. Para Elouisie, era o exorcismo do demônio mental que bagunçava sua mente. Ela poderia dizer sem hesitação o nome de todos os compostos químicos presentes na fórmula, um por um. Tal capacidade foi adquirida com a precaução de não topar com o doping e arruinar a própria carreira. O que era um simples cuidado, tornou-se uma mania, assim como balançar os pés de modo frenético, apertar o maxilar, segurar firme o chaveiro do Kamehameha I entre outras.

A cartela de comprimidos sacudia na bolsa que estava no banco de passageiros. Enquanto Elouisie dirigia aérea e meio melancólica. O dia anterior sacudia suas lembranças fazendo com que sua expressão ficasse cada vez mais taciturna. Ela lembrava-se de ganhar a Expression Session, erguer o troféu e depois aquele evento ruim no estacionamento. Todos em um único dia. Lembrava-se de ser amparada por Hinata e depois, a mesma dirigir seu carro enquanto sentou-se no banco do carona, catatônica. Depois que voltou a si, exigiu assumir o volante, ignorou a via que a levaria para casa e deixou a amiga em Kaneohe com a recomendação de que chamasse Neji de bastardo. Não era um ato de gentileza, era para que a Hyuuga soubesse que ela estava sã o suficiente para não demandar cuidados. Quando chegou em sua casa, em Wahiawa, apenas largou o troféu e sua bolsa no chão, fechou a porta, apagou as luzes e jogou-se na cama, do jeito que estava, caindo nos braços de Morfeu.

Ela decidiu parar o carro diante de uma das praias desertas de Honolulu, percebeu que não podia estar dirigindo com a cabeça tão carregada de informações difíceis. Saltou do Jeep e encostou-se no capô vendo como as ondas dançavam de um jeito delicioso quando quebravam na margem, percebeu que tinha muita sorte. Indo contra a maré de pensamentos de muita gente, a dona dos olhos verdes mais profundos que o lago Tahoe, o devorador de corpos, gostava de rezar. Rezava para quem pudesse a proteger e era isso o que a garota fazia enquanto admirava aquela imensidão azul do mar:

Hey, Kanaloa, Poseidon e Susanoo! Eu não sei se vocês são deuses distintos ou um carinha legal que gosta de usar muitos nomes, mas sei que me protegem e não permitem que eu caia em qualquer situação. Eu agradeço por isso. Realmente agradeço pela gentileza. Mahalo, Eukaristó e Arigatô.

–Bem, Deus... Eu quero pedir desculpas pela minha negligência para contigo, o que é bem grave, porque eu vou com frequência no templo xintoísta e vou à igreja somente quando a Hinata convida. Eu sinto muito se não demonstro tanta fé, mas saiba que acredito muito em sua existência. A filha do tio Orochimaru diz que isso não é o suficiente para impedir que eu vá para o inferno, mas nunca ligo para o que aquela vadia diz. Eu posso dizer vadia em uma oração? Se eu não puder, me perdoe por dizer vadia duas vezes. Três vezes. Eu estou sem jeito agora, então... Eu estou indo... Obrigada pela atenção, proteja Gaara e papai e transforme minha mãe em alguém menos ruim. Adeus... Oh! Amém!

...

–Shikamaru, porque você não me demite?

Quem conseguisse ver a menina jogada no balcão da loja de conveniências de Shikamaru Nara, nunca iria imaginar que o locutor da Expression Session de Maui estava referindo-se à ela na frase "Sakura Haruno ganha a competição e é a rainha do Surf havaiano." A menina debruçada no balcão, com a maquiagem negra, o cabelo desalinhado e o piercing pendendo na sobrancelha, parecia o que sobrou de uma festa mal-sucedida, um desastre que respira. Shikamaru passou-lhe a caneca com o chá de alecrim e mirou-a com curiosidade:

–O que há com você?

–Por que haveria algo comigo? - esquivou-se com outra pergunta.

–Quando eu faço insinuações sobre a sua demissão, você sempre argumenta que eu nunca conseguiria alguém melhor para esse trabalho e agora está aí, perguntando porque eu não te demito. Vamos, o que houve?

–Certo... Eu tive uma crise e somente eu, Hinata, e agora você, sabemos disso.

–Meu Deus! Você tem contar ao seu irmão.

–Não, eu não tenho, Shikamaru.

–Então eu conto!

Elouisie levantou-se do balcão:

–Não, você não vai. Sabe o porquê? - a retórica dela não permitiu que Shikamaru falasse. - Porque eu posso contar a Sra. Nara onde o filhinho dela costuma encontrar-se com dançarinas nativas. O que acha disso?

Yoshino Nara é aquele tipo de mãe que pensa que seus filhos são eternos bebês. Para o azar de Shikamaru, ele era filho único e somando isso com a carência que Yoshino adquiriu após a morte do marido, a vida do filho tornou-se um verdadeiro inferno pelas mãos dela. Interferindo em sua vida, arruinando os encontros dele com o velho discurso de "Você não é boa o suficiente para o meu bebê.", entre outras coisas. Uma vez, Shikamaru até tentou sair de casa com direito a discussões, gritaria e lágrimas; Yoshino só precisou de chantagem emocional, persuasão e uma lasanha para fazê-lo voltar.

–Você é um monstro! - Shikamaru rosnou.

–Temos um acordo, eu suponho.

Shikamaru saiu da vista de Elouisie que sorriu.

...

O celular da menina tocava insistentemente, deixando-a aborrecida. Ela nem poderia desligá-lo por causa da possibilidade de seu pai tentar entrar em contato ou alguém da fundação dos Médicos sem Fronteiras comunicá-la sobre o seu óbito. A segunda possibilidade causava-lhe pesadelos. Mas ela sabia que não era o seu pai ou a fundação, sabia também que a ligação causaria aborrecimentos a mesma:

–O que você quer, porca maldita?

–Olha só! A testona! Eu consigo ver o brilho da sua testa aqui em Kaneohe. Você devia limpar a oleosidade dela, causa acne, sabia?

–E eu consigo inalar o chorume da sua porquice aqui mesmo, em Waikiki. Você devia usar desodorante! É sério, o que você quer, Ino?

–Saber onde Edgar está! Ele ainda não veio me ver!

Gaara está no projeto ambiental da faculdade e você sabe disso, porque me ligou?

–Algumas pessoas já voltaram do projeto e ele ainda não apareceu, é óbvio que está se escondendo de mim e você sabe onde ele está! - Ino parecia exasperada.

–Sim, eu sei. Ele está no projeto ambiental, sua idiota! E se ele realmente estiver se escondendo de você, é porque o relacionamento de vocês está patinando na lama, igual aos porcos. - Sim, Elouisie sorria.

–O que você sabe sobre relacionamentos? Tudo o que você teve na vida foram fiascos emocionais e decepções!

A garota fechou o semblante, não queria ser rude com Ino.

–Realmente deve ter sido assim, mas nem por isso eu interfiro no que vocês dois fazem. E é apenas porque eu acho que o dia em que Gaara decidiu namorar com você, ele fez um pacto com o demônio. Portanto, ele que que trate das impertinências do contrato. - ela desligou sabendo que Ino espumaria de raiva.

Não dá pra ter tudo que se quer.

Honestamente, ela não odiava Ino. Apenas eram donas de personalidades extremas que não entravam em acordo, sem contar o ciúme que ambas sentiam de Gaara. Acima de tudo isso, estava as desconfianças de Elouisie perante Ino, ela sentia que a loira tinha algo obscuro escondido no seu sorriso e não gostava nada disso. Enquanto divagava sobre Ino, Gaara e sorrisos falsos, o sino da porta anunciou a chegada de um novo cliente.

Se Elouisie não estivesse tão indisposta a lidar com pessoas, teria notado quão bonito o jovem em questão era. Olhos escuros, lábios finos, nariz aristocrático, cabelos desalinhados em um tom realmente fascinante e um belo porte. Ah, sim! Um belo porte! Enquanto a menina se ocupava com a tarefa de estalar os dedos, o rapaz fazia suas compras. A ignorância da moça sobre o ele durou até o mesmo aproximar-se do balcão:

–Aloha, bom dia.

Elouisie o mirou entediada:

–São sete e noventa...

Tudo poderia ter acabado aí. Seria perfeito. Um casal dominante da linguagem fática, usando lugares-comum. Ele receberia seu troco, iria embora e esqueceria o rosto dela no rebolado da primeira nativa que visse, se ele fosse do tipo que aprecia o rebolado havaiano, é claro. Ela já não importava-se com a existência dele, portanto, nada mais fácil do que ignorar o encontro casual divertindo-se com caixas de chiclete. Entretanto, o destino é um safadinho que gosta de aprontar e é muito bom nisso, acredite! A conversa dos dois iria muito além do pressuposto:

–Aqui o seu troco.

O jovem fez menção de pegar o dinheiro, mas notou algo errado:

–Moça, eu dei a você vinte dólares e você me encheu de moedas. - ele tentou inutilmente soar simpático.

–Sim, eu enchi. - ela cedeu-lhe atenção pela primeira vez. - Algum problema?

–São muitas moedas.

–Eu sei. E antes que você me peça, eu não vou trocar. Porque é assim que se faz negócios na América, você me passa a sua verdinha comprida e eu te passo as prateadinhas curtas. Entendido, Haole?

–O quê? Do que me chamou? - Ela o deixava confuso com essa agressividade toda.

Revirando os olhos, ela ergueu-se:

Haole. Turista... Entendeu?

Ele finalmente a notou e gostou do que viu. Ela era bonita, não como uma modelo ou uma bailarina; era bonita como uma taça de vinho tinto com uma dose de veneno. O cabelo era rosa, comprido e exuberante, porém ele achou que ela não morreria se o cortasse um pouco. Os olhos dela cintilavam em ferocidade e, até mesmo maldade, existia uma selvageria velada em cada gesto dela. Ele gostou realmente gostou.

–Sinto muito, se você interpretou as minhas intenções de forma errada.

Ela cerrou os punhos:

–Eu interpretei errado? O quê? - O olhar dela revirava em fúria. - Para de olhar assim pra mim, é estranho, os meus dias não gentis comigo e eu também não sou gentil com ninguém.

Então era isso. Ela não tinha uma vida saudável.

–Sabe do que você precisa, moça?

–Eu estou rezando para você dizer camisa de força.

Ele sorriu aproximando-se e colando a boca em seu ouvido:

–Você precisa de alguém que te pegue no colo e retire a farpa da sua pele que te deixa tão agressiva.

Ela ficou estática.

Quando recuperou-se, ele já havia atravessado a porta.

Mais tarde, ao chegar em casa, ela o veria outra vez na casa vizinha, cozinhando com sua mãe. Cairia em si, sabendo que ele era um dos Uchiha que havia se mudado para Wahiawa, o veria sorrir de forma carinhosa para a mãe e entenderia que estava errada o tempo todo.


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Notas finais do capítulo

Lago Tahoe: situado na Califórnia, esse lago tem como característica o fato de que se alguém morre afogado nele, o corpo simplesmente não volta para a superfície devido a profundidade e a temperatura muito baixa. É ótimo para comparar com olhos da Sakura dessa fanfic! :)
Mahalo, Eukaristó e Arigatô: Obrigado em havaiano, grego e japonês, respectivamente.
Comeeeentem, please! *-*



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