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Casamentos eram entediantes e chatos. Como ele havia dito uma vez para a Mrs. Hudson casamentos são celebrações sem sentido e puramente feitos por convenção social. É a comemoração de sentimentos que não fazem sentido e promessas que serão, cedo ou trade, quebradas.

Casamento é a celebração do erro humano, e Sherlock nunca ia entender por que todos eram tão apegados a isso.

Contudo, essa indiferença para com o casamento não era a razão do mal humor de Holmes. Ele realmente não se sentia confortável em festas desse tipo, e faria de tudo para evitar outra depois do casamento do Watson, mas o verdadeiro motivo do seu estado agora estava em pé, no meio do salão.

Sherlock estava sentado em uma das cadeiras bem próximas da pista de dança. Sua mesa era junto com os Watson’s e Mrs. Hudson e ele estava encolhido na sua cadeira observando com ressentimento o que todo mundo também estava olhando.

Era a primeira dança do casal.

Ela estava absolutamente linda, e Sherlock quis se amaldiçoar admitir isso para si mesmo. Para falar a verdade eu sempre a achava linda, e ele sempre odiava isso.

Os noivos balançavam de um lado para o outro ao som de uma valsa lenta, e todos os olhares estavam voltados para eles. Sherlock comentou para si mesmo que ele a conduziria muito melhor do que o noivo, que a música seria diferente e que o sorriso que ela tinha no rosto seria muito maior do que o atual.

Em sua mente Sherlock faria tudo melhor do que ele. E era verdadeiro esse seu pensamento; esse seu desejo. Mas ele sabia que ele nunca seria capaz de realmente fazer isso. Ele não tinha feito quando ainda podia.

Too young, too dumb to realize
That I should've bought you flowers and held your hand
Should've give you all my hours when I had the chance

E esse sim era o verdadeiro motivo da sua inquietação. Era a dor secreta de deseja profundamente estar no lugar do noivo.

Quando a música parou todos aplaudiram fervorosamente os noivos e Sherlock viu como ela olhava feliz para o seu parceiro, emocionada com o momento. Ela sempre foi tão sentimental. Agora ele não via isso mais como um defeito, mas como presente que ele nunca mais ia receber.

Uma outra musica, ainda um pouco lenta, começou a tocar e as pessoas começaram a dançar junto com os noivos. O salão estava cheio de pessoas, inclusive John e Mary, dançando ao ritmo de uma balada melosa. Sherlock sempre odiou esse tipo de música, mas não resistiu nem um pouco ao impulso que ele teve.

“Posso roubar a noiva?” Holmes perguntou tocando gentilmente no ombro de Tom e olhando para Molly. “Não vai ser por muito tempo.” Por fim ele tentou sorrir e passar alguma confiança.

Tom entortou o nariz e estava muito claro que ele não estava muito confortável com essa situação. Ele encarou seriamente Sherlock, se perguntando se ele realmente tinha essa cara de pau. Tom olhou para Molly com as sobrancelhas levantadas, perguntando com o olhar se ela queria isso.

“Está tudo bem, Tom.” Molly respondeu gentilmente com um sorriso nos lábios.

Tom então depositou um beijo nos lábios de sua mulher e, olhando Sherlock torto mais uma vez, ele se afastou e deixou com que o detetive conduzisse Molly nessa música.

Sherlock a tomou nos braços e a guiou delicadamente ao ritmo da música. O contato com a mão dela foi eletrizante, como sempre. Ela não tinha trocado de perfume, e o cheiro que ele podia sentir nela lhe trazia velhas lembranças de um tempo em que ele podia dançar com ela desse jeito sem pedir permissão para ninguém. Ele podia, mas nunca o fez.

O sorriso dela era terno e o olhos dela brilhavam mais do que nunca. Molly não tinha vergonha e não fugia mais o olhar de Sherlock. Ele podia ver que ela ficou impressionada ao descobrir que ele sabia dançar e que ele era muito bom nisso.

“Você está linda, Molly” Ele disse depois de um tempo que eles estavam dançado, deixando de lado os seus devaneios.

“Obrigada, Sherlock”

Ele sorriu de volta para ela e, agindo mais uma vez por impulso naquela noite, aproximou os lábios da orelha dela para lhe sussurrar um segredo.

“O Tom não é o homem certo para você.”

“Jura? E só agora você me avisa?” Ela afastou o rosto rindo e falando em um tom descontraído, levando o comentário de Sherlock como uma brincadeira “Que amigo você é! Só me fala depois que eu já disse ‘sim’”

Ele fugiu o olhar por um segundo ao ouvir isso e quando ele voltou a encará-la e disse mais sério do que a primeira vez.

“É por que eu não sou seu amigo que eu estou dizendo isso.”

Molly o olhou assustada dessa vez, entendendo o que ele quis dizer mais não acreditando que ele estava realmente falando aquilo. Logo ali; logo agora.

“Sherlock...” Ela tentou fazer com que ele não falasse, mas foi em vão.

“Eu sei, Molly. Eu não vou fazer isso, não vou estragar as coisas como antes.” Sherlock a cortou friamente, vagando seus olhos pelo salão enquanto ainda a condizia de acordo com a música. “Mas eu só acho que você deveria saber que ele não é a pessoa certa para você. Esse seria eu.”

Ela o olhava incrédula por suas palavras, o vendo distraído com as outras pessoas ao redor deles e mantendo a postura, talvez para ninguém notar a conversa que eles estavam tendo.

Molly abriu a boca duas vezes, mas fechou nas duas sem saber bem como responder, pensando por que ele estava dizendo isso agora, por que eles estavam dançando e em onde Sherlock queria chegar com isso.

My pride, my ego
My needs and my selfish ways
Caused a good strong woman like you
To walk out my life

“Você teve a sua chance Sherlock.” A resposta veio seca depois de um tempo; o tempo necessário para ela lembrar quem Sherlock era e lembrar onde ela estava. Tudo em sua vida a levou até aquele momento, inclusive Holmes.

Although it hurts
I'll be the first to say that I was wrong
Oh, I know I'm probably much too late
To try and apologize for my mistakes

“E fiz tudo errado, não nego isso. Mas isso não remove o fato de que eu sou a pessoa certa para você.” Sherlock lhe deu um sorriso triste e deixou cair seus olhos azuis sobre ela. Por instinto e costume ele tinha a puxado mais para si, e olhando-a dali de cima ela pode se lembrar do por que ela foi a única mulher que o fez sentir algo. “O questão é que isso não se trata mais de quem te merece ou não. De quem te quer ou você quer. A questão é sobre o que você merece.”

A respiração havia faltado para a patologista, ela não conseguia achar o ar enquanto ele falava. Sherlock nunca tinha sido tão sincero com Molly, e naquela noite, no que ele considerava que ia ser a ultima noite deles, ele resolveu que ela merecia isso. As coisas iam acabar aqui, mas ela deveria saber tudo quando acabasse.

“Você merece um romance, Molly. Alguém que não só te ame, mais que saiba mostrar isso, e que faça questão de te mostrar isso todos os dias.” Ela sentia seu coração apertar a cada palavra dele, pois tudo isso era verdade. Ela merecia tudo isso por que ela sempre esteve disposta a dar isso. Só doía por que não era ele quem iria dar. “Você merece estar do lado de alguém que vai colocar o relacionamento na frente dos pensamentos egoístas, e que saiba dar valor ao sentimento que você tem. Você merece ser feliz, e ninguém pode te tirar isso. Você merece o Tom, e tenho certeza que ele luta todos os dias para poder te merecer.”

I just want you to know
I hope he buys you flowers, I hope he holds your hand
Give you all his hours when he has the chance

Gentilmente o dedo dele caiu sobre a face dela, enxugando uma lagrima que nem ela tinha visto escorrer. Uma única lagrima que dizia tudo que Molly já tinha dito para Sherlock a muito tempo atrás.

“Eu sou muito egoísta e sempre odiei perde as coisas que eu queria, mas dessa vez eu sei que a questão não é sobre mim. E só dessa vez eu vi que não posso ser egoísta.”

Os lábios dele se aproximaram dela e ele depositou um beijo carinhoso em sua bochecha direita, a mesma que ele beijou em um natal (sim, ela se lembrava disso).

“Seja muito feliz Molly Hopper, você merece isso!”

Dizendo essa ultima frase Sherlock abandonou a noiva no salão em meio a música, deixando-a sozinha entre a multidão. A última visão que ela teria de Sherlock era essa: ele sumindo entre as pessoas que dançavam a sua frente, vendo apenas os seus cachos negros se afastarem até parecerem apenas um ponto preto muito distante, por que ele nunca virou olhou para trás.

Para Holmes, Molly sempre seria dele, mesmo nessa situação. Por que, por mais que ele soubesse que ele a queria, que ela queria ele, e que eles nunca ficariam juntos, Molly seria eternamente de Sherlock. Por que ela foi a única que ele amou, e a única que ele iria amar.

Ele nunca fez nada para merecê-la e sabia que ia sofrer com a sua ausência.

Do all the things I should've done
When I was your man

E no final ele sabia que ela sempre seria um pedaço dele.