Diário de Bordo - Hammock Flying escrita por Sasagawa


Capítulo 4
Capítulo #03




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/531033/chapter/4

19 de Março de 2118 – Hammock Flying

(Céu de Sarabasta)

– Ai! Minha cabeça... – Resmungava enquanto tentava me localizar.

Observava o estado de minha nave. Parecia que um furacão havia passado por ali. Por que diabos está tudo bagunçado? Por que o chão estava molhado? E por que eu... Ai... Estava com uma tremenda dor de cabeça? Nenhuma resposta podia ser pensada naquela hora. Ao tentar me localizar, percebi que estava na cabine do piloto, sentado na cadeira em frente ao volante da nave. Que estranho! Realmente não me lembrava de como consegui chegar aqui. Apenas que estava procurando algo para comer...

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! SOCORRO!

– SALVE-SE QUEM PUDER!

– O HORROR! O HORROR!

– MAMÃÃÃÃÃE!

Que gritos eram aqueles? Olhei assustado a minha volta, procurando de onde poderiam ter vindo. Como é que posso estar ouvindo pessoas gritarem se ainda estou voan...

– MEU DEUS! – Gritei desesperado.

Quando me toquei, era tarde demais. A Hammock já estava sobrevoando perto do solo e atropelava o que parecia ser uma feira. Maçãs, peras, melancias, entre outras frutas pulavam sobre o vidro frontal da nave. Caixotes e barris de madeira eram destroçados pelo caminho. Ambos me impediam de enxergar. Por sorte, estava sentado na cabine do piloto e pude puxar o volante de forma que a nave colidisse com o chão. Aos poucos, a Hammock Flying ia de encontro com o solo, arrastando sua base até “estacionar” por ali.

– Ufa! – Suspirei enquanto limpava minha testa e me levantava do chão. A cabine do piloto estava uma bagunça. Haviam papéis e cadeiras jogadas por toda parte. Coçava minha cabeça com um ar de desaprovação. Alguma hora teria de limpar aquela algazarra, mas primeiramente, eu deveria me localizar e descobrir em que lugar a Hammock estava caída.

19 de Março de 2118 – Feira de Solarium

(Reino de Sarabasta)

Enquanto a porta da Hammock se abria lentamente, caminhei em direção à saída, pronto para achar uma resposta para a minha dúvida. Observei ao horizonte, e pude perceber que parecia estar no meio do nada. O local era totalmente deserto. Dunas de areia espalhadas por todo canto. Um sol castigador se localizava acima de minha cabeça. A minha frente, barracas e tendas destruídas. Parecia que algo muito grande havia passado por ali. Algumas pessoas choravam por suas tendas. Outras, desesperadamente, corriam sem saber o que fazer.

– Por que nosso senhor nos castigou desta maneira? O que fizemos para merecer esta atrocidade? – Gritava aos céus um pobre senhor de barbas longas.

– Primeiro a seca, agora isso? O que mais querem de nós? – Perguntava uma jovem dama, enquanto colocava sua mão sobre a testa, decepcionada.

Era minha hora de se mandar dali, antes que alguém me percebesse.

– ALÍ! ELE É O RESPONSÁVEL POR TUDO ISSO! – Gritava um homem de longe.

– OS RASTROS SAGRADOS VÃO ATÉ ELE! – Uma mulher exclamava, distante.

Pois é, tarde demais.

– Pode parecer loucura, mas... Vocês acreditariam se eu dissesse que eu acabei... Dormindo ao volante? – Tentei acalmá-los.

– Então, quer dizer que isso não foi um castigo divino? – Dizia o pobre senhor.

– Bom, se isso os conforta... Sim, foi tudo por minha causa! – Respondi um pouco sem jeito.

– Ainda há esperanças! Ouviram isso, pessoal? Não foi um castigo divino! – Anunciava contente o senhor.

As pessoas levantavam seus braços, felizes, como se estivessem vibrando para algum discurso diplomático real. Me sentia com certa importância. Achei que seria empalhado vivo!

– Agora que sabemos toda a verdade! Podemos empalhar o responsável por estragar a Feira de Solarium!

– ÉÉÉÉÉ! – Gritavam as pessoas.

Por que eu ainda cismo em pensar besteira na hora errada? Isso ainda vai me colocar numa situação de grande risco! Como essa...

Enquanto fugia, tentava procurar algum lugar para me esconder, porém, apenas avistava tendas feitas de panos, vendedores ambulantes e alguns mercadinhos de frutas e carne. Logo, senti um puxão na gola da minha camisa. Pronto! Fui capturado! Agora onde vou arranjar dinheiro para pagar toda essa mercadoria?

– Shhhhh!

– Quem é vo...

– SHHHHHH!!!

Uma mão tampava minha boca. Havia uma pessoa encapuzada, revestida por vários panos marrons velhos. A estranha figura observava para ver se ninguém havia nos visto. Quando me dei conta, percebi que o encapuzado havia me puxado para um beco estranho. Graças às construções ali perto, o sol não iluminava o terreno, criando sombras que mergulhavam o beco na escuridão. Não havia nada demais. Barris, um caixote de madeira e uma grande parede de pedra. Nada tão surpreendente.

19 de Março de 2118 – Beco Estranho

(Reino de Sarabasta)

– Obrigado, mas... Quem é vo...

– Eu é que lhe faço esta pergunta! Quem é o senhor? E por quais motivos quis arruinar a Feira de Solarium? – O encapuzado agora parecia me encarar. Não sabia se deveria temer sua presença. Nem ao menos sabia quem aquele ser era.

– Vou lhe perguntar mais uma vez. Quem é o senhor, e quais motivos o levaram a querer destruir a Feira de Solarium? – Insistia o ser encapuzado. Eu não havia reação. Não sabia o que responder.

– Por favor, senhor! Não dificulte as coisas. Eu só gostaria de saber por que...

– Quem deseja saber? Primeiramente, devemos nos apresentar antes de sair interrogando as pessoas desse jeito! – Disse tentando impor algum respeito. Estava cansado de ter que ouvir perguntas e mais perguntas de uma pessoa que nunca sequer trocou um “oi” comigo.

– Me perdoe! Não agi de forma educada. Sinto muito! – Dizia o encapuzado enquanto tentava se redimir.

– Pois bem! Pode começar sua apresentação! – Respondi.

– Sou Sirena Sandgard, Princesa do Reino de Sarabasta! – Dizia enquanto removia seu capuz.

Na minha frente, a imagem de uma bela jovem de aproximadamente 19 anos aparecia. Seus cabelos longos eram loiros e possuía olhos azuis-claros. Sua pele era um pouco morena, por conta do sol de Sarabasta. Era um pouco mais baixa do que eu. Seu nariz era pequeno e delicado. A garota olhava para mim e fazia uma reverência, se desculpando.

– Então, agora que me apresentei, o senhor poderia responder minhas perguntas, por gentileza?

– Sim, claro! – Respondia um pouco assustado. – Sou David Hersey! Aviador da C.P.A.Q.!

– Então, o senhor é o representante enviado do Comitê dos Pilotos Altamente Qualificados? – Perguntava surpresa, a princesa.

– Sim, sou eu mesmo!

– Isto é um absurdo! Como eles puderam fazer isso conosco? Enviaram um piloto sem qualificações nenhuma! Eles quiseram tirar um sarro de nossa terra? É isso? Como ousam! Enviarei uma carta para aquela diretoria neste exato momento! Nossa situação é grave, e eles vêm querer zombar de nosso reino! Além do mais, só porque nós não somos uma sociedade não muito bem localizada, acham que podem...

Eu não aguentava mais ouvir reclamações! Tudo bem dizermos que nem tudo saiu como eu queria, mas pelo menos eu estava ali e havia encontrado a razão da minha convocação.

– Hãm... Princesa?

– Será que isto é realmente um castigo divino para nosso reino? Será que não atendemos as exigências sagradas? O que foi que nós fizemos? Por favor! Diga-nos, senhor?

– AAAAAH! CHEGA DE CASTIGO DIVINO! Desde que cheguei só me chamam de desastre!

– Pois bem merecido! O senhor ainda possui a audácia de resmungar? Mesmo depois de ter destruído a Feira de Solarium? – Indagou a princesa.

– O que há de tão importante em uma feira? Tá certo que a estraguei. Peço desculpas por isso, mas por que se importam tanto com ela? – perguntei.

– Há problemas muito maiores que a Feira de Solarium! Sente-se! Te contarei o porque de ter enviado aquela carta para a C.P.A.Q.!

Sentei-me no caixote de madeira, pronto para ouvir o que quer que fosse que a princesa queria me contar. Sabia que ficaríamos ali por um longo tempo...

– Tudo começou a dezoito anos atrás, em uma época em que Sarabasta havia acabado de se proclamar um reino. Serenethe Sandgard, minha mãe, ainda estava viva e junta ao rei Arenus Sangard, havia um pronunciamento oficial à fazer: A rainha estava grávida e pronta para entrar em trabalho de parto. O Reino de Sarabasta comemorou intensamente por três dias, esperançosos para verem sua futura governanta. A princesa era um bebê lindo, fofo e adorável. E todos no reino achavam isso dela.

– Será que você poderia pular um pouco a parte dos adjetivos e focar na história, princesa?

– Ah! Sim, sim. Perdoe-me por isso. Pois bem, o povo já estava preparado para receber a garota. No dia de seu nascimento, a princesinha havia recebido uma carta com um pedido de casamento arranjado, para quando ela completasse dezoito anos, a cerimônia estaria planejada e pronta para acontecer. Nem preciso dizer que Arenus ficou irritadíssimo com o requerimento. Sua filha mal havia chegado ao mundo e já estavam interessados no governo de meu pai. O rei mandou uma carta para o responsável pelo convite, negando o pedido de casamento e solicitando para que a princesa fosse deixada em paz. Muitas pessoas importantes, politicamente falando, começaram a desfazer suas alianças com o reino, alegando que o rei Arenus Sandgard se recusava a entrar em acordo com eles. Quando o futuro da princesa parecia pré-determinado, eis que Serenethe surge com uma proclamação: “Como minha filha Sirena ainda é um pequeno bebê e não possui total consciência de seus atos, não há motivos para começarmos os preparativos para esta cerimônia. Por isso, decreto que quando fizer seus dezoito anos, a princesa poderá escolher seu marido através de uma lista de candidatos oferecida pelos aliados do reino. O melhor candidato aos olhos de minha filha será escolhido para ser o futuro sucessor do trono de Sarabasta. Portanto eu, Serenethe Sandgard, Rainha do Reino de Sarabasta, prometo que tudo acontecerá conforme o prometido. Contudo, espero a paciência de todos para que este grande dia chegue. Até lá, a princesa será treinada e bem cuidada para se tornar uma grande princesa para este reino.” Os aliados aceitaram a proposta de minha mãe e esperariam até meu décimo oitavo aniversário. No mesmo ano, minha mãe faleceu. Não soube qual foi a causa de sua morte, pois meu pai achou melhor esconder isso de mim. Acredito que foi o certo, pois eu ainda era uma criança. O reino ficou de luta até eu atingir a maior idade. Quando completei dezessete anos, uma lista chegou em minhas mãos contendo o nome de todos os candidatos a príncipe do Reino de Sarabasta. Eis que para minha surpresa, apenas um nome era fornecido naquela lista: Crown V. Darlikan. No começo, achei uma boa ideia não ter de escolher entre vários homens para achar meu futuro marido. Porém, isso se mostrou a pior coisa que poderia ter acontecido em minha vida, ou pior, para o nosso reino.

Sirena dava uma pausa. Observava o chão com um olhar preocupante. Parecia estar perdida em suas lembranças. Mesmo assim, algo ainda me era curioso

– Princesa, por favor! Me tire uma dúvida...

A princesa erguia sua cabeça em minha direção.

– Sim, Jovem Aviador?

– Sei que você está triste por relembrar suas memórias, mas eu gostaria de saber o porquê de você odiar tanto aquele homem, o Crown Darlikan?

Sirena suspirava, tomando coragem para continuar a falar. Percebi que seus punhos tremiam e seus olhos lacrimejavam.

– Este homem... Quer matar o meu pai... – Lágrimas escorriam dos olhos da princesa. Não conseguia conter sua dor. Sirena agora soluçava enquanto levava suas mãos a seu rosto. Gostaria de saber mais, porém, aquele não parecia ser o momento ideal para se perguntar. Algo dentro de mim se despertava, se comovia. Não podia deixar aquilo acontecer.

– Sirena, olhe para mim. – Disse rígido.

A garota enxugava suas lágrimas pouco a pouco, enquanto se recompunha. Ainda soluçava, porém, menos do que antes. Sirena agora fitava meus olhos.

– Meus serviços são de sua total atenção. O que vossa majestade ordenar, será minha missão, e com grande orgulho, a completarei sem hesitar. – Disse enquanto me curvava perante sua presença e abria um grande sorriso para ela.

– O senhor... – Soluçava Sirena.

De repente, Sirena se jogava aos meus braços, enquanto segurava meu peito com bastante força.

– Eu não quero que isso aconteça ao meu pai... Ele sempre foi um homem tão bom... Por que esse desgraçado tinha que aparecer... – Chorava Sirena enquanto desabafava comigo. – Meu pai nunca quis o mal de ninguém. Pensava primeiro em seu reino para depois pensar em sua própria saúde.

– Princesa, não deixarei que este bastardo encoste em seu pai. Eu prometo! – Após minhas últimas palavras, abracei Sirena forte, oferecendo conforto para ela em meus braços. Sabia que aquilo era apenas o começo de minha estadia no desértico Reino de Sarabasta.

19 de Março de 2118 – Centro da Cidade

(Reino de Sarabasta)

Caminhávamos sem rumo pela cidade. Sirena arrumava seu capuz, se disfarçando perante a multidão. Parecia querer esconder sua identidade. Será que era para evitar chamar alguma atenção? Talvez. Não pensei muito nisso.

Estávamos percorrendo um longo caminho de areia. Casas e tendas formavam um grande corredor à nossa volta. Seguíamos sempre em frente. Os vendedores anunciavam suas mercadorias com bastante vigor, oferecendo frutas, joias e pedras preciosas. Nada de muito valor para mim, pois nunca fui um homem mesquinho, cuja luxúria dominava o corpo e a mente. Aprendi a usar apenas o necessário. Desde que me formei na C.P.A.Q., me transformei em um novo homem. Não sei se era por conta dos estudos, pois odiava ter que ficar preso dentro de uma sala de aula ouvindo o professor ficar de bla bla bla com a turma. Preferia a prática do que a teoria. Por sorte, abandonei aquele meu lado rude e imaturo.

Enquanto caminhávamos, um grande arco amarelo, cercado por cercas brancas, era visto por nós. Sirena abria um sorriso em seu rosto.

– Estamos perto do palácio real! – Dizia enquanto tirava seu manto e revelava um vestido amarelo com bordados laranjas nas pontas e uma sapatilha amarela. Sirena usava um pequeno colar dourado em forma de sol. Seu cabelo loiro estava solto, e era um pouco ondulado. Usava uma sapatilha da cor do vestido. Como não pude perceber tanta beleza assim?

Ao atravessar o arco, nos deparávamos com um maravilhoso jardim, seguido por uma trilha que se dirigia ao palácio do reino, uma enorme construção branca feita de concreto com duas torres. Em cima destas torres, um grande cômodo em formato de um coração amarelo invertido estava ali. Voltando ao jardim, havia diversas flores. Desde rosas até violetas e cravos. Me espantei com a grande variedade de plantas. Como elas sobreviviam às condições climáticas daquela região?

– Gosta do que viu? – Perguntava a princesa.

– Si-Sim... – Respondi espantado.

– Cultivamos plantas de diversas regiões para provar que nossa terra é capaz de gerar a dádiva da vida. Não é lindo? - Sirena dizia bastante feliz. Aquele lugar, de alguma forma, trazia um sentimento esperançoso para ela.

– Nunca pensei que um lugar como esse pudesse trazer tanta beleza assim. – Respondi enquanto seguia a trilha para o palácio.

– Infelizmente todas as pessoas que chegam a nosso reino pensam da mesma forma. Querendo ou não, isso é algum tipo de preconceito para a nossa sociedade...

– Eu não quis ofendê-la! Digo, não quis ser preconceituoso...

Droga! Me embolei com as palavras. Agora ela pensará que sou um sujeito metido à superior...

– Não se preocupe! Sei que o senhor possui boas intensões! – Me confortava Sirena, enquanto sorria. – Eu tenho muita fé em meu povo. Este jardim é para todos! Ninguém é proibido de entrar aqui e apreciar sua beleza, pois somos uma nação! Um reino! Devemos todos permanecermos unidos, não acha?

– Acho que essa é uma forma muito nobre de se pensar, princesa.

– Jovem Aviador, pode me chamar de Sirena. Não precise ficar acanhado.

– E-Eu não estou acanhado! Onde você viu que eu estava? Francamente, prince... Digo, Sirena...

– Hahaha! Você é engraçado, Jovem Aviador! – Sirena dava uma pequena gargalhada. Algo bem sútil e delicado, como uma princesa ri.

– Hey! E sem essa de me chamar de “Jovem Aviador”. Me sinto um moleque assim. – Respondia enquanto cutucava-a de leve, brincando com ela.

– Me lembrarei disso, Jovem Avia... Quero dizer, Moleque! Hahaha!

Nunca tive um passeio tão divertido quanto estava tendo ali. Parecia que nos dávamos muito bem. Faltavam poucos metros para alcançarmos o portão do palácio, quando uma figura estranha apareceu:

– Não acha que deveria nos avisar quando resolvesse se retirar do palácio, princesa?

– Hum? Ah! Senhor Chacal, perdoe-me! Esqueci completamente de alertá-los sobre minha saída. Peço desculpas pelo que aconteceu... – Dizia enquanto se curvava perante a figura.

– P-Por favor, alteza! Não é necessário se reverenciar perante pessoas como nós! – Dizia uma segunda pessoa, que se aproximava dali.

– Sim, alteza. A senhora deve dar um bom exemplo! Perceba que há um cidadão junto a nós. Mostre-o uma atitude da realeza. – Dizia Chacal.

– Isso não é necessário, mesmo... – Tentei acalmar a situação.

Chacal era um homem baixo, um pouco corcunda. Usava um manto roxo que envolvia seu corpo inteiro, seguido de uma corda marrom que a prendia, amarrada em sua cintura. Usava um turbante da mesma cor que sua roupa, com um rubi preso ao centro dele. Usava sapatos roxos pontudos e possuía um bigode arredondado nas pontas. Seu nariz era um pouco grande comparado ao das outras pessoas.

– Chacal, não precisa exagerar com a princesa. Ela sabe de sua obrigação como membra da família real. Certo, Princesa Sirena?

O outro homem era moreno, alto e forte. Usava uma calça branca folgada em seu corpo e um colete vinho fechado com botões amarelos. Usava um pequeno chapéu quadrado laranja. Havia um fio amarelo que saia por ele, com uma espécie de “espanador” na ponta. Parecia ser uma roupa típica dali.

– Senhor Jaguar, quando irá parar com suas atitudes liberais com a princesa? O senhor deveria saber que está a influencia-la de forma negativa, aliviando-a de sua responsabilidade como princesa do reino.

– Não seja tão casca grossa assim, Chacal. Relaxe um pouco. Até parece que nunca foi um menino levado quando criança.

– Posso saber o que o senhor está induzindo, Senhor Jaguar? – Chacal abria uma expressão enfurecida em seu rosto. Seus olhos fitavam Jaguar friamente.

– Er... Não foi o que eu quis dizer, Chacal! Só estava tentando quebrar o gelo e...

– POIS FIQUE SABENDO, SENHOR JAGUAR, QUE DESDE A MINHA INFÂNCIA FUI CRIADO PARA SER O MELHOR SERVO PARA ESTE REINO. NENHUM ERRO ERA ADMISSÍVEL EM MEU TREINAMENTO! AGORA, O SENHOR ACHA QUE FICAREI DE BOCA FECHADA ENQUANTO OUÇO UM IRRESPONSÁVEL COMO VOCÊ TER A OUSADIA DE VIR FALAR DE MIM NA MINHA FRENTE SEM AO MENOS SABER SOBRE A MINHA VIDA? POIS ESCOLHEU O SERVO REAL ERRADO, SENHOR JAGUAR!

Chacal cutucava o peito de Jaguar de forma agressiva. Estava furioso e pronto para acabar com Jaguar. Admito que estava um pouco nervoso com aquela situação. Não sabia como reagir.

– Por favor, parem de brigar! Sei que sou culpada e aceito minha penitência! Mas por favor, eu imploro para que os senhores parem de brigar! – Dizia Sirena preocupada. - Os senhores são amigos, não deveriam brigar. Perdoem-me, por favor!

Na mesma hora, Chacal parara de cutucar Jaguar, que estava bastante preocupado com o que a princesa tinha acabado de falar. Os dois se entreolharam por alguns segundos, porém, Chacal interrompeu o momento:

– Eu não sou amigo deste irresponsável. Minha única função é servir a Família Real. Com sua licença, princesa... – Dizia o servo de maneira brusca, enquanto se retirava dali.

Sirena olhava para o chão, triste. Jaguar notara sua preocupação.

– Princesa, por favor, perdoe-o. Ele às vezes é um pouco ranzinza, mas no fundo é uma grande pessoa. – Jaguar fazia carinho na cabeça de Sirena, o olhava esperançosa.

– Quando será que o Senhor Chacal mudará, Senhor Jaguar?

– Eu não sei, princesa. Apenas o futuro esclarecerá esta dúvida. E por favor, me chame apenas de Jaguar. Não se lembra do que eu te disse?

– Desculpe-me, Senhor... Digo, Jaguar... Mas não quero lhe faltar com respeito.

– De maneira alguma, princesa. Apenas o fato de vir conversar comigo e ser esta maravilhosa pessoa que é já é respeito o bastante para mim! Bom, princesa. Tenho que ir. Seu pai estava precisando de uns documentos e fiquei de acha-los. Com sua licença, altera. Senhor. – Jaguar falava enquanto se reverenciava para Sirena e logo depois para mim.

– N-Não se preocupe, Senhor. – Disse sacudindo minhas mãos abertas para que ele não precisasse fazer aquilo.

Sirena ainda olhava bastante triste para o chão. Pelo que tudo indicava, está não era a primeira vez que aqueles dois discutiam em frente a princesa.

– Sirena, eu... Digo, você está... Bem?

Ótimo, David! Nem para dizer alguma coisa para apoiá-la. Você é realmente um “encanto” com as mulheres...

– Eu estou bem... Desculpe-me pela cena que presenciou... – Sirena me olhou com um sorriso no rosto. Diria que era bem forçado, mas acreditei para que ela não pensasse que eu estava ofendido com aquela situação.

– N-Não foi nada, Sirena! Não se preocupe com isso!

A princesa me olhava com um olhar diferente. Não estava mais forçando seu sorriso.

– Pronto para conhecer o castelo? – Perguntou ansiosa.

– Sim! – Respondi com empolgação. – Já estava na hora! – levantei o polegar e pisquei para ela.

– Então, eu lhe apresento o Palácio Real do Reino de Sarabasta!

Após falar isso, os enormes portões de madeira do palácio se abriam. Estava curioso para ver como aquele lugar era, afinal, está seria a minha primeira vez em um lugar tão importante quanto um palácio.

19 de Março de 2118 – Palácio Real

(Reino de Sarabasta)

Estava de boca aberta. O palácio era enorme. Suas paredes eram brancas, com bordas amarelas e beges. Algumas cortinas tampavam as janelas do palácio, permitindo um pequeno feixe de luz entrar. O bastante para iluminar o ambiente. Havia um grande corredor direcionado a uma sala aberta. Dois grandes tronos dourados se encontravam um ao lado do outro. Abaixo deles, um tapete vermelho com bordas em amarelo que ligava a entrada do palácio até ali. Antes dos tronos, duas escadarias beges. Uma pela direita e a outra vinda pela esquerda. No final, as duas se encontravam, formando um novo andar. Havia um grande portão neste espaço.

Continuei a observar o palácio bastante surpreso. Era tudo tão grande e espaçoso. Sirena puxava meu braço bastante animada. Parecia querer sair dali depressa. Tentei dar uma última olhada no local, pois já estávamos subindo as escadas do palácio.

– Princesa, eu...

– Sirena, por favor!

– Desculpe-me! Sirena, eu queria me encontrar com seu pai, se fosse possível, afinal, vim em missão para o seu reino, acho justo me apresentar de forma educada e adequada!

– Não se preocupe, David! Você terá todo o tempo que quiser para conversar com meu pai! Isso eu te garanto!

– A senhorita... Digo, você tem certeza disso, Sirena? – Perguntei um pouco preocupado.

– Você duvida da palavra de uma princesa, jovem David? – Me encarava, Sirena.

– N-Não! É claro que não!

– Então confie em mim!

Não havia prestado atenção no caminho que percorríamos, apenas deixava Sirena me guiar. A princesa me levou até uma porta. Encarei-a por alguns segundos.

– David, já esteve em um quarto feminino antes?

Que tipo de pergunta era aquela? O que Sirena queria dizer com tudo aquilo?

– Por que a pergunta? – Instiguei.

– Nada! É que você não parece ser do tipo que se dá bem com as mulheres! – Sirena dava uma risadinha.

Respirei firme. Infelizmente aquilo era verdade. Durante minha vida inteira, conheci e me relacionei com poucas mulheres. Havia uma que se destacava das demais, porém, isso não vem ao caso.

– É, parece que cutuquei uma ferida aberta. Me desculpe, David! – Dizia Sirena enquanto se curvava.

– Não precisa se preocupar com isso, Sirena! Foram poucas, porém, quantidade não diz respeito a qualidade. Do que adianta conhecer tantas garotas se poucas são tão interessantes como você?

Sirena olhava assustada para mim. A princesa estava começando a ficar avermelhada.

– Princesa, você está bem? Parece doente! – Colocava minha mão na testa dela. O que eu iria fazer se ela pegasse uma febre forte de repente?

– N-Não é nada, D-David! – Gaguejava.

Juro que quanto mais quero entender as mulheres, mais confuso eu fico...

– P-Por aqui, David!

Sirena abria a porta. Ao visualizar seu conteúdo, a pergunta que Sirena havia me feito começara a fazer sentido. Aquele era seu quarto. Um grande salão com paredes laranjas. Uma cama de casal enorme se localizava colada no meio da parede do fundo do quarto. Cortinas amarelas cobriam a grande janela que havia ali. Vários armários, um do lado do outro, completavam o canto do quarto, sem falar da enorme quantia de bichinhos de pelúcia de tudo quanto era tipo de animal que se localizava em cima da cama. Havia uma porta fechada, onde eu suspeitava ser o banheiro de Sirena.

– Entre rápido, preciso falar com você em particular! – Sirena fechava a porta rapidamente.

Admito que o quarto parecia ser um local bem tranquilo, mas não me sentia tão à vontade em um lugar como este. Eu e Sirena estávamos sozinhos dentro do quarto, com a porta fechada. Dois jovens solteirões maiores de idade. Isso não era uma coisa que poderia se considerar “normal” em um momento como este.

– Sei que a princípio isso pode parecer estranho, mas... Eu precisava estar a sós com você.

Sirena sentava sobre sua cama, me chamando para acompanhá-la.

– Venha aqui, Jovem David!

Eu estava um pouco nervoso. Caminhei lentamente e me sentei na cama de Sirena, pedindo licença. Minha cabeça não parava de pensar em diversas coisas. Será que vai rolar o que estou pensando que vai rolar? Não, claro que não! Sirena é uma princesa, como eu poderia pensar besteiras sobre a realeza?

Sirena me puxara para deitar consigo. Meu coração batia cada vez mais forte. Não sabia o que poderia vir em seguida.

– O que eu queria te dizer é que a partir de agora...

Era agora! Toda a pureza que pensava sobre a realeza era uma farsa! Sirena estava pronta para...

– Você dormirá aqui! – Sirena dizia enquanto me empurrava para uma pequena cama que estava armada do lado direito da sua.

Caí em cima da pequena cama, paralisado e sem conseguir mover um músculo.

– Sou um ser impuro...

– Disse alguma coisa, David? – Estranhava Sirena.

– Nada não, mas como assim irei dormir aqui? – Exclamava para ela.

– Digamos que meu pai, o rei de Sarabasta, não sabe que enviei aquela carta. Na verdade, ele não sabe nem da sua existência!

Agora fiquei confuso! Por que raios Sirena iria me esconder do rei?

– Eu sei que você deve estar se perguntando: “Sirena, por que raios você me esconderia do rei?”, não é?

Ela é boa...

– Acompanhe meu raciocínio: Se o meu pai, o rei, não sabe que você está aqui, logo é menos chances de Darlikan também saber. Com isso, você poderá se disfarçar como um empregado e inspecionar o palácio em busca de pistas.

– Realmente é um grande plano, princesa. Mas só tem um pequeno problema...

– Já sei! Por que que eu não faço isso? Bom, é bastante simples, se eu fosse fazer isso...

– Não, isso eu entendo perfeitamente! Você levantaria muitas suspeitas. O problema é que você não poderá me esconder aqui para sempre. Alguém terá que vir aqui no seu quarto e verá minhas coi... MINHAS COISAS! – Gritava espantado!

Eu havia esquecido completamente das minhas coisas! Estavam tudo na Hammock! Será que eu a deixei aberta? E se alguém a roubou? Minha vida estava toda ali!

– Aconteceu algo com suas coisas, David? – Perguntava Sirena preocupada.

– Bom, é que... Lembra quando você me encontrou pela primeira vez?

– Claro que sim! Acha que eu esqueceria o momento em que a Feira de Solarium foi arruinada por um rude avia...

Encarei Sirena com um olhar intimidador.

– Desculpe, como dizia?

– Pois bem, a Hammock ficou para trás. Eu preciso chegar até ela e me sertificar se está tudo bem com ela. Afinal, caí de uma altura de mais de cem metros.

A princesa me observava de cima a baixo. Analisando cada parte do meu corpo.

– O que está fazendo, Sirena?

– Você se machucou? Me perdoe, na hora, não fazia ideia de que tinha sido uma distância tão grande! Que péssima anfitriã eu sou.

– N-Não se preocupe, Sirena! Não é a primeira vez que isso acontece! – Dizia meio sem graça, enquanto coçava a nuca.

– Ah, você dizia algo sobre uma tal de “Hammock”. Ela é sua... Namorada?!

– A Hammock? Pff... – Não aguentei, precisava rir daquilo.

– Qual é a graça? Se você tinha uma namorada, era só me avisar! Não teria problema nenhum. – Dizia Sirena enquanto suspirava.

– Hammock é o nome da minha nave, princesa!

– AH! Da sua... Nave?!

Sirena estava um pouco encabulada. Ela colocava suas mãos no rosto, de forma que o cobrisse, tentando se esconder.

– Me desculpe! Não sabia que sua nave possuía um nome.

Sirena se calou por um momento. O silêncio tomava conta do quarto. De repente, um barulho ecoava da porta.

– Princesa Sirena, está tudo bem?

Sirena, desesperadamente, olhava para os lados, procurando alguma coisa.

– Eu... Eu estou me trocando! Não entre!

Sirena corria para perto de um de seus armários e movia suas mãos de forma a me chamar. Levantei-me da cama e caminhei silenciosamente para o seu encontro.

– Fique aqui e não diga nada! – Sussurrava Sirena enquanto abria a porta do armário e me empurrava para dentro dele.

– Princesa Sirena, preciso conversar com a senhorita!

– Claro! Pode entrar!

Sirena fechara a porta do armário. Por sorte, consegui deixar uma fresta aberta para poder enxergar o que estava acontecendo. Podia ver Chacal entrando no quarto, acompanhado de um homem forte e robusto. Seu cabelo era longo e preto, com um rabo de cavalo atrás. Seu nariz, arrebitado e pontudo. Possuía um cavanhaque. O homem usava um manto comprido, preto, com sapatos pretos também. Havia uma faixa amarela na cintura. Nunca havia visto aquele sujeito. Olhei para Sirena. De alguma maneira, Sirena estava trêmula e parecia gaguejar algo. Não conseguia entender o que estava acontecendo.

– Princesa Sirena! É uma honra reencontrá-la! – Dizia o homem enquanto abria um largo sorriso em seu rosto.

Por algum motivo, aquele homem não me parecia ser boa pessoa. Sirena suava frio. Nenhuma palavra saia por sua boca. Seus olhos estavam bem arregalados, como se tivesse visto um monstro a sua frente. Aquilo me incomodava demais.

– Você não esperava encontrar seu futuro noivo tão cedo, não é, querida?

O homem se aproximava de Sirena, que se afastava lentamente.

– Senhor Darlikan, por favor, mostre mais respeito com a Princesa Sirena! Não invada seu espaço pessoal.

– Ah, me desculpe, caro Chacal! – O homem se curvava para Sirena, enquanto se afastava dela. – Me desculpe, princesa!

Darlikan! Então este era o desgraçado de quem Sirena me falou! Eu não posso deixar Sirena nas mãos de um mentiroso como ele! Preciso agir de alguma maneira.

Sirena olhou para mim e caminhou em minha direção, encostando a porta do armário. Em seguida, um “click” podia ser ouvido da maçaneta. Sirena havia me trancado dentro de seu armário. Escuridão total. Não conseguia enxergar um palmo a minha frente. Por que Sirena fez isso? Estava querendo evitar que eu fizesse algo? Eu não posso deixa-la assim. Devo proteger a princesa!

– O Senhor Darlikan estava fazendo sua visita real ao palácio quando me pediu permissão para falar a sós com a princesa. Vim acompanha-lo para que não se perdesse. Se me dão licença, estarei arrumando alguns documentos reais.

Chacal se curvava e se retirava do quarto. O que ele tem na cabeça? Como ele deixa a princesa sozinha em um quarto com um cara desses? Algo me diz que este servo não é tão “leal” assim...

– Ah, minha cara princesa. A senhorita não sabe o quão difícil está sendo viver sem você ao meu lado! Todos os dias, eu rezo para o dia em que finalmente estaremos juntos, como um lindo casal.

Não conseguia ver nada, mas podia sentir que Sirena não estava querendo conversar. Ela parecia muito assustada quando viu aquele homem e agora ela estava sozinha dentro do quarto com ele.

– Agora que aquele servo inútil não está aqui, podemos ter um papo mais “adulto”. O que me diz, princesa?

Eu podia ouvir os passos do sapato de Darlikan. Pareciam se aproximar de Sirena. A princesa parecia imóvel. Conseguia ouvi-la gaguejar algo.

– A-Afaste-se de m-mim, Da-Darlikan!

– Eu sei que você não conseguirá gritar. Afinal, se mal consegue falar, imagine fazer outra coisa? Que tal pularmos as preliminares e encararmos isso como adultos de verdade?

Naquele momento, pude ouvir um barulho de lâmina sendo sacada da bainha.

– Da-David...!

Aquilo me irritou profundamente! Chutei com todas as minhas forças a porta daquele armário e parti para cima daquele desgraçado. Darlikan se assustou com minha investida. Derrubei-o no chão, tirando a faca das mãos dele. Virei a lâmina para seu pescoço, o ameaçando.

– O que pretendia fazer com a princesa, desgraçado?!

– Mas quem é você?

– RESPONDA A MINHA PERGUNTA! Ou arranco a sua cabeça fora! – Aproximei mais a lâmina no pescoço de Darlikan.

Podia ouvir barulhos na escada. Quando me dei conta, Chacal e Jaguar, acompanhados de cinco guardas trajando um manto laranja comprido com as bordas em amarelo, estavam na entrada do quarto, horrorizados com a cena que presenciavam.

– PRINCESA SIRENA! – Gritava Jaguar.

Os guardas apontavam suas lanças para mim. Larguei a faca e disse:

– Vocês não estão entendendo! Este homem queria assassinar a princesa!

Jaguar e os guardas olhavam desesperadamente para Darlikan.

– Eu? Assassinar minha futura esposa? Você está louco? Em primeiro lugar...

– Não se preocupe, Senhor Darlikan. – Se aproximava Chacal.

– O que disse?

– Guardas, prendam este garoto! Está na cara o que aconteceu aqui!

Sirena olhava desesperada para mim. Tentava falar algo, porém apenas gaguejava.

– Mas eu sou inocente! – Indaguei.

– Se você é inocente, então por que estava em cima de Darlikan, com uma faca, ameaçando mata-lo na frente da Princesa Sirena, sua futura esposa?

Sirena estava chorando. A garota levava suas mãos ao rosto. Sei que ela queria falar o que aconteceu, mas graças ao choque, Sirena não conseguia se comunicar. Saí de cima de Darlikan, com as mãos para cima. Caminhei lentamente até a janela do quarto de Sirena.

– Em nome de Arenus Sangard, rei de Sarabasta, você está preso por tentativa de assassinar Crown V. Darlikan e a Princesa de Sarabasta, Sirena Sandgard. Guardas, levem-no para as masmorras!

Os guardas caminhavam em minha direção, todos apontando suas lanças. Olhei para Sirena e lhe fiz um gesto, colocando meu dedo indicador e meu dedo do meio na testa, arremessando-os para frente, enquanto pulava de costas em direção da janela do quarto. Enquanto caia, conseguia ouvir Chacal gritar “Atrás dele! Não deixem que ele fuja!”. Os guardas rapidamente arremessavam suas lanças em minha direção, por sorte, elas passavam longe de mim. Olhei para trás e vi o chão se aproximar. Virei de peito para baixo e fiz um rolamento para amortecer a queda. Grande pouso! Agora precisava sair dali o quanto antes. Quando ia começar a correr, senti algo atravessando meu braço direito. Uma das lanças pegou em cheio na parte superior do braço. Sentia uma dor horrível, mas não podia permanecer ali. O tempo era curto e cada segundo que passava era mais um passo para dentro da prisão de Sarabasta. Segui em frente para a saída do castelo, porém, para o meu azar, os guardas já cercavam o jardim do palácio. Não tinha para onde ir. Estava sem opções de fuga. Meu braço sangrava muito e a dor não sessava momento algum. Os guardas faziam um grande círculo em minha volta, impossibilitando qualquer movimento meu. Darlikan se unia aos guardas. Estava com um sorriso medonho em seu rosto.

– Então, temos um pequeno intruso por aqui! – Darlikan caminhava envolta de mim. – Me diga, garoto, qual é seu nome?

Hesitei em responder. Não queria que meu nome fosse manchado. O silêncio foi a minha resposta.

– Entendo! Prefere manter o anonimato, correto? Pois bem, entendo perfeitamente! Guardas, levem-no para a cela dele. Depois farei uma pequena visita de boas-vindas para ele.

Olhava fixamente Darlikan, quando de repente, senti uma enorme pancada em minha cabeça. Depois daquilo, minha consciência apagava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Diário de Bordo - Hammock Flying" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.