Uma simples camponesa escrita por Ann


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem desse rápido, simples e curto conto. Devo confessar que foi inspirado em um sonho que tive, mas claro que com as minhas próprias alterações hehe. lá vamos nós.



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Continuei correndo atrás dele, sabia que ele ia me guiar até algum lugar, mesmo que demorasse. Chegamos em um muro, ele pulou, eu pulei. Finalmente um grande lago se estendia a nossa frente, com um sorriso bobo de criança pulei dentro, jogando água nele, que pulou logo depois.

Encarei o lugar, encarei ele, o lugar, ele, o lugar, ele. Percebi que não era distante de minha casa. Ele, o lugar, ele , lugar. Só não fiquei tonta por que parei de me mexer ao ouvri um barulho, me escondi atrás das plantas do lago.

– Que fazes aqui lorde Ricardo? Não sabes que tua noiva passa mal? – falou um dos guardas que apareceram, por sorte eles não me viram.

Ricardo olhava para o homem, mas pude notar que ele dirigiu seu olhar ao meu antes de responder.

– Só possuo 17 anos de existência, meu caro. Necessito de momentos a sós comigo mesmo, mas aparecerei para ve-la mais tarde sem dúvida.

– Não andais com aquela moça do campo novamente andais? – e antes mesmo da resposta o homem continuou- Senhor, ficais com o meu conselho. Por mais que seja amigo de seu irmão, não cairá bem para o senhor ser visto com ela.- disse o homem se retirando.

Moça do campo?Bufei. Mas tudo bem. Ricardo virou-se para mim e começamos a rir.

– Senhorita Carol não melhorou? – perguntei insegura. Não gostava muito daquela menina mas não queria ve-la mal.

Ele não respondeu de imediato. O lorde Ricardo não queria esse casamento, coisa que animava um pouco meu coração, por mais que eu nunca fosse ter uma chance com ele.

– Sabes que eu não gosto dela. Não pretendo casar-me mas terei que visita-la, não a quero mal. Não é culpa dela.

Assenti com a cabeça já saindo do lago. Como estava anoitecendo, comecei a tremer de frio rapidamente. Ricardo deu-me seu agasalho e se despediu com um aceno de mão. Então sumiu pela floresta agora totalmente banhada pelo luar, peguei meu arco e entrei na parte densa da floresta.

Não demorei para entrar no pequeno chalé que dividia com meu irmão. Assim que passei pela porta, Rodolfo olhou-me de cima a baixo.

– Por onde andaste, minha irmã? Está molhada, e andou com armas novamente? – ele falou em um tom severo- Diga-me que não estava na floresta.

– Irmão, estava sim. Tenho 16 anos e sei bem onde vou, sei atirar e andar pela floresta melhor que muito cavaleiro por aí....


–Louise, não responda á teu irmão!- disse ele levantando-se.

– Estava com teu amigo – respondi, entrando no corredor que levava á meu quarto, para azar meu, ele seguiu-me.

–Lorde Ricardo é um homem comprometido, Louise. Não lhe cairá bem ser visto com outra mulher. – Ele falou, fazendo-me lembrar dos guardas. Ignorei esse último comentário, entrei em meu quarto e dormi.

No dia seguinte, levantei-me já com um bom-humor, lorde Ricardo dissera que viria caçar comigo hoje. Preparei meu arco e estaca alisando meu cavalo quando dois guardas surgiram.

– Já pagamos o imposto desse mês, cavalheiros. – disse assim que aproximaram-se de minha casa.

– Temos assuntos á tratar com teu irmão, cara dama. Ele se encontra?

– Rodolfo deve estar em sua caminhada matinal, mas os senhores podem aguarda-lo enquanto tomam um chá.

Os dois sentaram e aceitaram gratos o chá de canela que lhes dei.

– Mas de que se trata? – perguntei para quebrar o silencio.

– Não somos autorizados a contar, mas a senhorita me parece de confiança –disse um em meio aos olhares de dúvida do outro.- A senhorita Carol faleceu hoje ao nascer do sol, e o lorde está desaparecido, creio que pela tristeza de perder a noiva.

– Tristeza nada – disse o outro – Lorde Ricardo a odiava e temos motivos para crer que ele a assassinou. Viemos ver se teu irmão sabe de algo.

Ao ouvir essas palavras, quase derrubei o bule de chá. Eu sabia bem como eram os interrogatórios policiais, perdi meus pais em um deles. Rodolfo tinha que fugir, mesmo que ele não soubesse de nada, ia ser torturado até a morte para falar algo. Arrependi-me imensamente de ter brigado com ele na noite anterior.

– Os senhores podem retornar em algumas horas se quiserem. Meu irmão costuma demorar em suas caminhadas – falei, torcendo para Rodolfo não estar voltando nesse momento.

– Sabes para que lado teu irmão caminha? – perguntou um deles, provavelmente querendo poupar-me de ver meu irmão sendo levado.

– Ele sempre caminha para o leste – respondi imediatamente e ciente que Rodolfo caminhava para o Oeste.

– Muito gratos – e os dois partiram.

Comecei a arrumar as malas de meu irmão assim que vi eles desaparecerem pela direção errada.

Passaram-se horas e nada de Rodolfo voltar, comecei a preocupar-me, será que encontraram ele? Eu já tinha começado a chorar quando ouvi um barulho vindo do jardim. Corri e abri a porta. Um vulto coberto de preto se aproximava, peguei um punhal discretamente e o mantive escondido.

– Quem vem lá? – perguntei para a figura, ele só se aproximou mais, fazendo minhas pernas tremerem, e quando estava perto o suficiente, tirou o capuz.

– Ricardo – falei abraçando ele. Mas depois disso perdi as palavras, tantas perguntas se passavam em minha mente, que quando ele pegou minha mão e me puxou para outro abraço, eu fui sem resistir.

– Estás com teu arco? – perguntou ele depois de ter se afastado. – então entrei em casa, peguei meu arco, comida e um pouco de dinheiro e o encontrei lá fora.

Óbvio que Rodolfo tinha sido pego. E que eu era a próxima, por isso Ricardo estava aqui. Ele veio me levar, fugir, bolar um plano pra buscar Rodolfo e ir embora. Pelo menos era isso que eu pensava.

– Tão calada... – ele comentou me observando montar em meu cavalo. Viola relinchou quebrando o silencio da noite e partimos.

– Estou grato por não me entregar – ele falou quando as luzes da cidade já estavam pequenas longe de nós, e podíamos cavalgar lentamente lado a lado.

– Por favor, diga-me que sabes onde Rodolfo está, e que podemos resgatá-lo.

Uma sombra passou pelo seu rosto, e antes mesmo dele abrir a boca eu já sabia a resposta.

– Não vejo Rodolfo desde semana passada, sinto muito pequena Louise.

Paramos para descansar em uma pequena clareira, ele amarrou os cavalos e sentou-se ao meu lado.

– Sabes que não a matei- ele falou olhando para o nada.

– Confio em ti, não sei por que desconfiam, ela não passava mal?

– A condessa foi encontrada com uma espada em seu peito.

Fiquei surpresa com essa notícia. Ela não era uma mulher amada pela cidade, mas não tinha inimigos, e não merecia uma morte assim.

– Com a minha espada – ele completou olhando para a lua.

– Mas tua espada estava em minha casa, não te lembras que deixaste lá?

– Isso só serviria para provar minha palavra, mas agora que fugi, dúvido que adiante alguma coisa.

– Pensando bem... Não vi a espada quando cheguei ontem... Será que roubaram?- pensei alto. Ricardo parou de encarar a lua e passou a me encarar.

– Rodolfo – ele falou. Percebi que ele arrependeu-se segundos depois de ver a minha reação.

– Como ousas? – disse me levantando.

– Lou, não. – ele ia começar a argumentar mas não permiti.

– Rodolfo sempre ajudou-te e deve estar sendo torturado nesse exato segundo para defender-te- falei com ódio enquanto montava em meu cavalo.

– Lou, desculpa, Não queria. – ele falou segurando minha mão. Parei e olhei com desprezo para ele.

– Não acredito que ainda consigo amar-te – disse com lágrimas nos olhos.

– Voce me ... – não ouvi o resto da frase, Viola pegou velocidade. Eu sabia que ele estava vindo atrás de mim, galopei o máximo que pude, mas como ele era melhor cavalheiro que eu, não tardou a me alcançar.

– Lou, para por favor – disse ele pondo o cavalo dele na frente do meu, bloqueando assim a minha passagem e me obrigando a parar.. – Vamos voltar? – Ele perguntou, eu ia negar mas nessa hora uma flecha atingiu Viola no rosto.

Antes que eu tivesse qualquer reação, Ricardo puxou-me para seu cavalo.

– Está ali, e acompanhado! – Disse um dos guardas. Virei- de costas para Ricardo e comecei a lançar flechas em nossos seguidores.

Logo não havia sobrado nenhum. Senti uma dor infinita ao lembrar de meu cavalo morto. Desci da montaria aos prantos.

– Bela pontaria – ele comentou, depois viu meu rosto – Lou...- e me abraçou. Ficamos assim por um tempo. – É melhor irmos, antes que venham mais deles, não acha? – subimos de volta no cavalo e fomos avançando.

E então Ricardo pareceu entender algo.

– Temos que voltar.

Não questionei, eu mesma estava pensando nisso, poderia haver algum sinal de Rodolfo em minha casa.

– Mas antes, precisamos de um plano – respondi, ele concordou. Ele não poderia ser visto de jeito nenhum, Peguei o punhal que havia guardado em minha capa tantas horas atrás e cortei metade de meu cabelo.

– Mas o que?

– Shiu – interrompi ele, meus cabelo agora batendo em meu ombro, coloquei o que tinha cortado em meu gorro e pus na cabeça de Ricardo, fazendo-o parecer uma mulher.- Me dá sua roupa – falei olhando para o traje um tanto chamativo dele. Ele começou a se despir na minha frente, e me virei com o rosto rubro. Ele deu uma risada baixa.

– Joga sua roupa para mim – falei e logo vi as peças em minha frente. Eu sabia que ele me encarava. Peguei suas roupas e comecei a arrancar aquelas coisas exageradas que os lordes usam nos trajes. Por fim só havia restado uma blusa comum, uma calça e a mesma capa preta que ele usara mais cedo, joguei de volta para ele. Quando estávamos prontos, partimos a cavalo até um certo ponto, quando chegamos na nossa floresta, decidimos que seria melhor continuar a pé.

Andamos por um tempo calados até que ele não aguentou.

– Aquilo que você disse é verdade?

– O que? – perguntei mesmo sabendo exatamente ao que ele se referia. Ele parou de andar, virou-se para mim e segurou meus dois ombros.

– Que você me ama. – era um pouco pandego ouvir uma “mulher” dizer isso para mim.

– Não é hora para isso. – falei desviando o olhar do dele.

– Eu preciso saber. – ele falou segurando meu rosto com as duas mãos.

– Por que?

– Por que se a resposta fot sim, eu terei um motivo para querer sair com vida dessa situação.

Sorri, eu ia contar tudo para ele, mas ouvimos um barulho e nos escondemos, passaram uns guardas. Aquela tinha sido por pouco, continuamos andando calados. Finalmente, minha casa apareceu diante de meus olhos. Pedi para Ricardo esperar e entrei, procurando com meus olhos qualquer sinal de meu irmão, então vi um papel no lugar da mala que tinha feito na noite anterior. As palavras de Ricardo ainda ecoavam em minha mente, então precisei ler o bilhete 5 vezes para que fizesse sentido. Então entendi o recado. Lágrimas silenciosas rolaram por meu rosto e borraram uma parte do recado. Rodolfo deixara o bilhete dizendo-me onde encontra-lo, e outras coisas terríveis. Corri para fora de casa.

– E Então? – perguntou Ricardo.

Olhei desconfiada para ele.

– Ele esteve aqui e levou a mala.

Ricardo abraçou-me e sussurrou em meu ouvido.

– Ainda bem... e ... eu também te amo – ele falou e beijou-me.

Aquilo era o que eu mais queria, mas as palavras de meu irmão piscaram em minha mente e me fizeram empurrar Ricardo.

– Fique longe de mim – falei e saí correndo. Devo ter deixado o bilhete cair no chão, mas na hora não me importei. Roubei um cavalo de um estábulo qualquer e segui na direção que meu irmão indicara.

Depois de algumas horas, parei em uma árvore, amarrei o cavalo, e deitei no chão abraçando minhas pernas, só aí consegui chorar tudo que estava guardando. Acabei adormecendo. Acordei com o sol se pondo e alguém do meu lado. Não fiquei surpresa ao ver Ricardo sentado, eu estava deitada no colo dele.

– Voce acha que sou psicopata? – ele perguntou, com o bilhete de Rodolfo na mão. Me levantei e recuei.

– Fique longe de mim – Eu só conseguia falar isso. Ele me olhava nos olhos. Eu não acreditava que ele era psicopata, mas acreditava em meu irmão.

– Lou, é mentira! Eu não sei o que Rodolfo almeja com isso, mas ele tá mentindo Lou! – ele falou colocando as mãos para cima, como quem se rende.

Minha respiração estava alta e acelerada, eu estava alerta a todos seus movimentos. O pouco que eu sabia sobre psicopatas era que eles não sentiam, e matavam sem dó. Isso era mais que suficiente para eu não querer nenhum na minha vida.

– Louise, Pequena. Pensei em algo – ele falou se aproximando.

– Eu também... Tchau. – disse montando no cavalo.

– ELE É O PSICOPATA! LOU, VOCE ESTÁ FAZENDO O JOGUINHO DELE! – consegui ouvir ele gritar lá de longe. Os próximos três dias, eu cavalguei sem descanso, com medo de dormir e acordar no colo de Ricardo novamente, Mas quando eu cheguei na cidade indicada por Rodolfo, eu não aguentava meu corpo, precisava dormir um pouco antes de prosseguir.

Acordei com uma claridade tremenda machucando meus olhos, perguntei para um forasteiro a data. Eu havia dormido mais de 30 horas seguidas. Me levantei num impulso e fui procurar meu irmão na cidade. Ia ser difícil, o lugar era enorme. Segui uns três caras que me chamaram atenção e não deu em nada. Então um cara de preto sorriu para mim e saiu andando. Segui ele também, ele não parecia saber da minha presença, mas nunca se afastava demais, parecia estar me conduzindo.

Ele entrou em uma taverna e aproveitei de minha capa para cobrir meu rosto e entrar lá também. Ele andou entre as mesas e entrou em uma sala escura deixando a porta aberta. Então eu tinha que entrar lá também? Interessante. Mas onde Rodolfo está?

A sala tinha mais dois ocupantes que não pareceram me notar encolhida em um dos cantos, acho que a falta de iluminação me ajudava um pouco. Eu não podia ver seus rostos por que os dois estavam de capa, pelo que parecia, um deles estavam amarrado. Segurei meu arco e me mantive escondida.

– E então? – perguntou o que não estava amarrado, ele parecia o chefe dali.

– tudo certo – respondeu o que eu havia seguido.

– monstros- sussurrou o sentado. – e teve seu capuz arrancado. Controlei-me para não gritar, quando vi lorde Ricardo ali. Notei que um seus olhos estava roxo.

– calma milorde – disse o que estava em pé tirando também tirando o capuz, ele estava de costas para mim e tinha uma voz até familiar. – logo ela estará aqui.

Ela?Pensei mas não tive tempo para tirar conclusões. O diálogo continou.

– suspeitei de ti desde o início, mataste minha noiva, não foi?

– Sem conclusões precipitadas, por favor – disse o chefão enquanto o terceiro homem lutava para dizer alguma coisa – calado.

– Por que? – perguntou Ricardo.

– A condessa negou meu pedido de casamento, eu poderia ter me tornado um conde, ela mereceu o que teve, e tu me destes a arma perfeita e de mão beijada. Era brilhante.

– Mestre, ela está aqui – finalmente o terceiro homem se pronunciara. Uma luz focou em mim, fazendo-me sacar meu arco.

– Cortaste o cabelo, Lou-Lou? – disse ele virando-se para mim.

Quando vi seu rosto deixei cair minha arma.

– Rodolfo – sussurrei.

O terceiro homem aproveitou-se de minha surpresa e puxou-me para o lado de Ricardo

– Cara irmãzinha – disse ele com um sorriso.

– Por que? – perguntei com os olhos cheios de lágrimas.

– sempre quis ter essa expressão de choro... nunca consegui... me ensina, pequenina? Me ensina a ter medo também? – ele se aproximou de Ricardo com um punhal. – Agora me mostra que cara que faz, quando alguém que você ama morre bem na sua frente.

Foi tudo muito rápido, saquei meu punhal de minha capa, e depois só me lembro dele enterrado na barriga de meu irmão, seu sangue jorrou. Sangue de meu sangue.

– Traidora – fora sua ultima palavra. Ignorando o terceiro homem, soltei Ricardo e sai com ele de lá.

– Me desculpa. – falei depois de deixarmos a cidade.

– eu também devo-te desculpas – disse ele me beijando. E então subimos em um cavalo qualquer e pertimos.

Não poderíamos voltar mais para nossa cidade. O único que poderia provar a inocência de Ricardo era meu irmão. Íamos ter que passar o resto da vida cavalcando. Roubando comida. Matando mal-feitores pelo caminho. Confesso que a ideia até me fazia sorrir um pouco. Abracei a cintura de Ricardo e senti ele acelerar o ritmo do cavalo. Senti o seu sorriso e sorri também. Aí vamos nós.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam! opiniões são bem-vindas e podem ajudar muito! obrigada por acompanharem!