What changed your mind escrita por raquelthehobbit


Capítulo 8
Flames


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um, gente! P.S. cada vez mais perto da quinta temporada = eu prestes a morrer.



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Era começo de noite na Geórgia. O grande grupo se uniu no centro do acampamento, reunindo sacos e latas de comida, além de carne de coelho e algumas garrafas d’água. Era um jantar quase comemorativo. Beth estava de volta e segura, então aquela noite merecia uma ceia, por mais simples que fosse: não havia mesa, toalhas ou talheres, mas havia um pouco mais de alegria.

Reunidos em um pequeno círculo desajeitado, comiam Beth, Maggie, Glenn e Carl. Maggie não largava a irmã. Fez questão de emprestá-la roupas mais limpas que as dela, embora ainda um tanto sujas, e também penteou seus cabelos.

– Não sou uma boneca, Maggie – havia dito Beth, entre sorrisos.

– Não precisa ser. Só me deixe cuidar de você, está bem?

E ali estavam as duas, prontas para abrir e dividir com o grupo um saco de torradas temperadas.

Em um certo momento, Vincent passou por eles, parecendo satisfeito por estar em um grupo interativo.

– Vincent – chamou Beth. – Onde está Susan?

– Ela disse que o filho estava se sentindo mal – parando por um momento, ele respondeu. – O cara barbudo que veio conosco no carro, Rick, se não estou enganado, cedeu sua barraca para os dois. Devem estar dormindo.

Beth assentiu, sentindo, lá longe, o gosto de tempero de ervas na boca. As torradas estavam borrachudas, mas ela não se sentia no direito de reclamar. Era comida, afinal.

– Estou feliz que você voltou, Beth – disse Glenn. – E que trouxe bons amigos.

Beth sorriu, olhando de Glenn para Vincent, que já havia se afastado.

– Sim. Estou feliz por estar de volta. Mas ainda me pergunto como todos vocês acabaram se encontrando.

Glenn e Maggie entreolharam-se e Carl abaixou a cabeça. Beth sentiu a atmosfera pesar.

Glenn abaixou o tom de voz.

– Foi complicado – disse. – Eu, por exemplo, fiquei sozinho na prisão. Ou, pelo menos, naquilo que restava dela. Depois encontrei Tara.

– Quem é Tara? – perguntou Beth.

– Aquela moça, ali.

Glenn acenou com a cabeça para uma mulher nova que comia coelho assado, encostada a uma árvore. Ela conversava com Carol e parecia estar apreciando o banquete. Beth a observou.

– Ela estava do lado do Governador antes de tudo – Glenn continuou. – Mas era a única pessoa ali. Dispôs-se a me ajudar.

– Ela é confiável – Maggie concluiu. – Ela não sabia dos planos do Governador. Não sabia quem éramos. Eu estava com Bob e Sasha quando Glenn e ela me encontraram.

– Nós também encontramos Abraham, Eugene e Rosita. Aqueles três ali.

A moça, de botas longas, prendia o cabelo em um rabo de cavalo. Conversava com um ruivo e um homem de cabelos pretos compridos, que tinha no rosto uma expressão engraçada.

Beth assentiu.

– Mas e Rick e Daryl? Michonne? Como os encontraram?

Carl pigarreou, lambendo os dedos oleosos.

– Havia um lugar no fim dos trilhos – o garoto começou. – Terminus. “Aqueles que chegam, sobrevivem”. Eu e meu pai já havíamos encontrado Michonne quando seguimos para lá. No caminho, encontramos Daryl com um grupo de brutamontes.

Beth limitou-se a franzir a testa.

– Ele estava com um grupo?

Carl confirmou com a cabeça, levando à boca um punhado de torradinhas.

– Vários caras muito ruins. Iam nos matar, mas conseguimos nos livrar. Continuamos nosso caminho para o fim dos trilhos e lá encontramos Glenn, Maggie e os outros.

Beth olhou para Maggie, que confirmou. Parecendo amedrontada, aproximou-se de Beth, continuando a explicar os ocorridos.

– O lugar era um pesadelo, Beth. As pessoas de lá nós prenderam. Nunca ficou explícito, mas... Eram canibais. Comiam... pessoas.

Beth tremeu um pouco. Por um minuto, pensou ter entendido errado, porém, após processar o que ouviu, percebeu que era mesmo verdade.

– Meu Deus. Eu sei que esse mundo é insano, mas as coisas realmente chegaram a isso?

Glenn assentiu.

– Bem, pelo menos vocês conseguiram fugir, não é mesmo? – Beth tentou passar um sentimento otimista aos demais.

– Na verdade... – Carl começou.

– Estão aqui – disse Glenn, quase que em um sussurro. – Quatro deles. O líder é o homem próximo à fogueira. Seu nome é Gareth.

Beth olhou em sua direção. Estava sentado de pernas cruzadas e observava o fogo de um modo intenso, vidrado, talvez hipnotizado. Era muito magro; seus cabelos quase cobriam os olhos. Não parecia normal, ali, observando as chamas serem engolidas pelo vento.

– Por quê? – Beth estava assustada.

– Conseguimos fazer um acordo – Maggie também falava baixo. – Eugene, um dos homens que Glenn conheceu após a prisão, é um cientista. Ele diz conhecer a cura para toda essa... Confusão. Diz que pode fazer o mundo voltar ao normal. Mas, para isso, precisa chegar a Washington, DC. Gareth e seu grupo nos deixaram sobreviver sob a condição de irmos à capital encontrar essa cura. E estamos no caminho para lá.

– Mas não se preocupe, Beth – disse Carl, dando um sorriso torto. – Não confiamos nele. Meu pai, principalmente. Se algo acontecer... Somos um grupo muito maior que o dele. Tudo vai dar certo.

Era muito para ser absorvido. Havia tantas pessoas que ela não conhecia e algumas delas eram inconfiáveis. Ao ouvir sobre o que o grupo passou enquanto ela estava afastada, quase ficou aliviada por ter estado longe, mas logo mudou de pensamento. Preferia passar por tudo aquilo com todos, com sua família, a ficar confinada a um quarto de hospital em que tinha pesadelos todas as noites.

– Tudo bem, então. Confio em você, Carl – sorriu, ainda um pouco transtornada.

Minutos depois, Rick se aproximou do pequeno grupo. Bagunçando o cabelo de Carl com a mão, anunciou:

– Vamos partir amanhã cedo, tudo bem? Michonne, Gareth e Tyreese encontraram um pequeno caminhão e um carro. Parece que foram usados recentemente. Estão funcionando bem.

– Certo, pai – disse Carl, enquanto os outros assentiam.

Glenn limpou as mãos na calça e levantou-se.

– Hoje é minha noite de guarda – disse. – Vou me preparar.

Beijou a testa de Maggie, que sorriu, e caminhou por entre as pessoas.

– Bem, vou indo também – Carl mais uma vez lambeu os dedos. – Michonne deve estar cansada de trocar as fraldas de Judith. – O garoto levantou-se, correndo em direção a Michonne que, apesar dos esforços, realmente parecia cansada.

Restaram Maggie e Beth comendo as últimas torradinhas do saco.

– Você deve estar cansada – disse Maggie à irmã. – Tenho uma barraca com alguns lençóis. É até bem confortável, sabia?

Beth sorriu.

– Posso apostar que sim.

– Estarei lá. Quando sentir sono, haverá uma pilha de roupas dobradas servindo de travesseiro para você, prometo.

E com um sorriso, levantou e sumiu dentro da barraca.

Beth suspirou para si mesma. Estava só, mas não se sentia só. Ao seu redor, havia rostos familiares, vozes calorosas, comida, água. Se estivesse vivendo a vida antes do apocalipse, se irritaria por não ter refrigerante e batatas fritas, por não poder ver televisão ou escrever em seu diário. Naquelas circunstâncias, tais coisas não importavam mais. Estava acompanhada daqueles que amava.

Parou de refletir quando pousou seus olhos sobre Daryl Dixon. Ele estava deitado perto de uma árvore com seu arco no colo, observando o céu por entre os galhos e folhas.

Beth percebeu que mal trocaram palavras desde que se reencontraram. “Tudo bem, só faz algumas horas”, pensou. Mas era estranho. Durante o tempo que passaram juntos, logo após o fim da prisão, haviam se aproximado de uma forma intensa. Beth passara a saber muito sobre a vida de Daryl e Daryl sobre a de Beth. Faziam pequenas piadas, dividiam potes de comida, passavam horas conversando. Mas, no acampamento, mal se olharam.

A moça decidiu aproximar-se do arqueiro. Quando ele percebeu que Beth estava em pé bem ao seu lado, observando-o, sentou-se, desconfortável.

– Olá – disse ela, sentando-se ao seu lado.

– Olá – Daryl respondeu.

Passaram alguns segundos em silêncio.

– Como estão as coisas? – ela perguntou.

– Bem. – Daryl mexia em algumas folhas no chão, evitando olhar para Beth. – Está tudo bem.

Ele sentia-se estranho. Sentia-se frágil à presença dela. O que o deixava ainda mais transtornado era o fato de que ela havia se aproximado e sentado ao lado dele, sem delongas ou hesitação. Estava completamente à vontade. Porém, embora ele não estivesse se sentindo confortável, ficava angustiado quando estava longe dela.

– Maggie, Glenn e Carl me contaram sobre as coisas que aconteceram com vocês. Deve ter sido duro.

– Foi – ele confirmou. – Mas estamos bem, como você pode ver.

– Sim, é verdade.

Beth o observava brincar com as folhas secas. Nada disse sobre isto, mas percebia que ele estava incomodado com a conversa. Já ela se incomodava com o silêncio.

– Quer saber o que aconteceu comigo naquela noite? – perguntou.

Não houve resposta. Ela considerou aquilo um sim.

– Corri para o lado de fora para esperar por você. Havia muitas daquelas criaturas, então corri em direção à floresta, que parecia mais tranquila. Só parecia, na verdade, porque também estava infestada – ela deu uma risada irônica. – Havia um carro estacionado. No exato momento em que o percebi, alguém me agarrou pelo braço e me puxou até o veículo. Achava que era um errante, logo que me tocou, mas era um homem. Não me lembro do rosto dele.

Daryl sentia o olhar de Beth pousado sobre o lado direito de sua face, mas resistia à tentação de retribuí-lo.

– Uma coisa é verdade: caso ele não tivesse me levado, eu poderia ter morrido. Havia muitos, muitos errantes. – Beth suspirou. – Mesmo assim, não queria ter sido levada, Daryl. Queria ter ficado com você.

As palavras provocaram algo em Daryl. De repente, pareceu que algo o impedia de permanecer imóvel. Algo o impedia de ignorar o olhar insistente da moça que sentava ao seu lado. Esse algo era invisível, até incompreensível, mas estava dentro dele; disso tinha certeza.

Finalmente, olhou-a nos olhos. Estavam úmidos e o faziam lembrar-se da última vez em que os olhara de forma tão profunda. Sentados à mesa de uma cozinha intacta, iluminados por luzes de velas, haviam se encarado suavemente, quase esquecendo o mundo insano que existia do lado de fora. E novamente estavam ali. Encarando-se suavemente.

Com um nó na garganta, Beth desviou. Encarou os sapatos e mordeu o lábio. Logo continuou:

– Depois de passar uma hora no carro com o sujeito, ele não havia trocado uma palavra comigo. Apenas me empurrou quando tentei atacá-lo. Mas consegui fugir logo, quando ele saiu do carro para... Você sabe... Necessidades do corpo.

Daryl, que ainda a observava, assentiu.

– Voltei para aquela casa funerária. O lugar ainda estava cheio de errantes. Até peguei de volta minha mochila e esperei algumas horas por você... Que não apareceu. Então me uni ao grupo do hospital, que me encontrou vagando por ali. – Passou as mãos no rosto. – Não sabia que seria ruim.

O rosto de Beth refletia as chamas da fogueira que fora acesa ali perto e alguns fios de cabelo fugiam do penteado que ela usava. Observando-a, Daryl novamente percebeu o hematoma em sua face.

– Como conseguiu isso no rosto? – perguntou a ela.

– Já disse. – Ela voltou a olhar para ele, depois desviou novamente. – Desentendimentos no hospital. A líder do grupo era dura. Má. Acabou fazendo isso comigo num pequeno acesso de raiva.

O rosto de Daryl aproximou-se do dela. Beth se assustou ao sentir o hálito quente contra sua face.

– O que você está fazendo? – Soltou um riso nervoso.

– Estou vendo o ferimento – ele respondeu.

– Ah... Tudo bem.

Daryl tocou seu queixo; isso a fez estremecer um pouco. Ele inclinou um pouco sua cabeça para trás, estreitando os olhos para observar bem diante da pouca luminosidade. Beth tentou vê-lo com o canto dos olhos.

– Como está? Está feio? – perguntou a Daryl.

Ele soltou o rosto da loira com delicadeza.

– Está bem. Tem um pequeno corte, mas nada muito sério. Talvez o hematoma demore um pouco a passar.

Beth assentiu.

– Tudo bem. Obrigada.

E voltaram a se olhar. Beth contraiu a boca em uma espécie de sorriso desengonçado, mas Daryl permaneceu com uma expressão séria. Ambos tinham tanto em mente, mas nada que fosse compreendido por eles, muito menos que pudesse ser dito. Sabiam que havia algo. Mas o que seria esse algo?!

– Daryl... Você não voltou por mim, voltou?

– O que quer dizer?

– Digo... – Beth prosseguiu. – Quando eu retornei à casa, você não estava por perto. Carl contou que você estava com um grupo e depois se juntou a ele, Rick e Michonne. Vocês foram para aquele lugar... Terminus, eu acho.

Daryl contraiu o maxilar.

– Não foi fácil, Beth – respondeu.

– Não estou reclamando, certo? – ela tratou de explicar. – Só estou curiosa. É só você confirmar que não voltou.

O arqueiro sentiu-se culpado, e, para ele, talvez a culpa fosse um dos piores sentimentos. Vendo o rosto machucado da moça, pensou que, caso tivesse a encontrado, ela nunca teria passado por aquilo no hospital.

– Você realmente acha que eu queria ter deixado você? Abandonada com qualquer um?

– Não é o que estou dizendo...

– É o que você está dizendo. – Ele elevou o tom da voz. – Acha que sou um filho da puta que larga qualquer um por aí?

– Daryl, por favor.

– Achei que já me conhecesse o bastante, Beth. – Pôs as mãos na terra, atrás do seu tronco. – Mas talvez você me conheça e saiba que eu sou mesmo um filho da puta.

– Daryl... – Beth suplicava. – Esqueça. Não é culpa sua. Eu não devia...

– Não precisa se justificar, garota.

Beth franziu o cenho.

– Acho que vou dormir agora. Depois conversamos.

No exato momento em que se levantou, um grito feminino ecoou no acampamento; vinha de dentro de uma barraca, a poucos metros dos dois.

Beth e Daryl olharam-se rapidamente e correram em direção à desconhecida súplica.


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Notas finais do capítulo

Tenso, gente. Tenso. E ROMÂNTICO TAMBÉM! O próximo vem o mais rápido possível, ok? Beijosssss