Além Do Fraternal escrita por Gey Scodelario


Capítulo 1
Quando fugir é o melhor...


Notas iniciais do capítulo

Algumas coisas serão mudadas. Tipo, o pai do Pedro será o Gael e a mãe da Karina será a Dandara, entre outras coisas que vocês iram ver aqui que não vão acontecer na novela. Espero de todo coração que gostem :) Boa Leitura!



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Dandara amamentava seu bebê recém nascido enquanto ouvia atentamente os murmúrios vindos do andar de baixo da casa onde estava. O dia estava chuvoso, o que combinava perfeitamente com o momento que estavam passando. Ela olhava para o bebê em seus braços, com carinho, e sorria para ele.

—Opa!_ ela disse quando a pequena Karina engasgou._ Não quer mais? Ok. Não vou insistir.

Batidas na porta a alertaram e ela pediu para que a pessoa entrasse. Seu irmão,Marcelo, entrou timidamente no quarto e disse:

— Estamos indo para o enterro, você não vem?

—Não, está muito frio e Karina está um pouco resfriada.

—Tem certeza de que vai ficar bem?

Dandara balançou a cabeça positivamente e pediu para que o irmão fosse logo, senão iria chegar atrasado.

Assim que percebeu que finalmente estava sozinha, ela colocou Karina no berço e foi para a janela observar a chuva. Tinha ficado viúva aos 24 anos de idade, com apenas um ano de casamento e com uma filha recém nascida para criar. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela não as deixou rolar. Aguentou firme a dor, pela sua filha.

*-*-*-*-

Do outro lado da cidade, Gael tinha acabado de dar mamadeira para seu filho Pedro e agora tentava organizar suas tarefas. No outro dia voltaria ao trabalho depois de uma semana de licença devido a morte da esposa. Pedro tinha apenas cinco meses e nem tinha conhecido a mãe, que morreu devido a uma infecção hospitalar, adquirida logo após o parto.

Gael tentava não pensar na sua atual situação, procurava fugir da realidade que estava ali, há poucos centímetros de distância, deitado em um berço escolhido com muito amor por ele e sua falecida esposa. Desde a morte dela, ele tinha se isolado de todos, inclusive de sua família. Não atendia as ligações, não respondia cartas e nem atendia a porta. Decidiu que seria assim, dali para frente: apenas ele e o pequeno Pedro.

—*-*-*-*-*

Um mês havia se passado desde a morte do seu marido, e Dandara tentava voltar à normalidade, mas estava difícil. Seu irmão, Marcelo, havia se mudado para o Canadá, por causa do trabalho de sua esposa, Delma. A família de seu marido não a procurava mais, ela nem entendia o porquê, mas como nunca gostou muito deles também, não insistiu em manter os laços.

—Vamos querida, vamos dar uma volta no parque._ Ela disse, colocando Karina no carrinho.

Dandara havia recebido uma herança de seu marido, não era muita coisa, mas era o suficiente para ela e sua filha. Além disso, ela tinha um cargo excelente em uma firma de advocacia. Tirou aquele dia de folga a toa, não estava doente como havia dito, mas sim sem rumo. Percebeu que sua vida havia se resumido em folhas e papinhas. "Sonho brasileiro... Não sei quem inventou isso" ela disse a si mesma, enquanto caminhava pelo parque.

—Mamãe! Papai! Olhem só o que eu achei!_ gritava uma menininha loira, segurando um grilo.

Os pais, que estavam fazendo um piquenique, correram até ela e explicaram o que era aquilo. Um aperto no peito fez Dandara querer ir embora imediatamente quando viu que o sonho de uma família unida e feliz havia acabado de forma terrível. Virou-se de imediato, querendo sair correndo dali, quando trombou em algo... Ou alguém.

—Me desculpe!_ ela disse ao homem à sua frente.

Gael, que também observava a mesma cena, desviou seu olhar para a mulher à sua frente, sem demonstrar reação alguma.

—Tudo bem._ ele disse.

Os dois ficaram se encarando, até que Dandara se apresentou:

—Me chamo Dandara._ estendeu a mão.

—Gael._ ele aceitou o comprimento.

Mais uma vez o silêncio caiu.Dandara evitava olhar aquela família e por isso fixava seu olhar no homem à sua frente, e ele fazia o mesmo.

—Então... Que bebê mais fofo! _ ela foi até Pedro, que estava no carrinho dormindo._ Como se chama?

—Pedro.

—Ah... Oi Pedro! Onde está a mamãe?

—No céu. _ Gael respondeu e, sua resposta, fez Dandara sentir-se gelar. Ela pediu desculpas e ele, enfim, sorriu._ Está tudo bem, a culpa não é sua.

—Eu sinto muito... Faz muito tempo?_ ela perguntou, recompondo-se.

—Seis meses, eu acho. E seu marido?

—Ahh, faz pouco tempo também...

Gael riu e perguntou desconcertado:

—Como assim? Desculpe-me...?

—Ah, nossa! _ Dandara riu também._ Me desculpe! È que também sou viúva e também faz mais ou menos um ou dois meses que ele se foi.

Os dois gargalhavam como nunca! Ou melhor, como há muito não faziam. Dandara sentiu uma pontada de vida voltar ao seu peito, ao seu ser, a cada risada que dava. Gael, por sua vez, constatou o inimaginável: existia vida após a morte de um ente querido. E ela estava ali, sorrindo para ele.

Recompuseram-se pouco depois e resolveram caminhar juntos pelo parque. O assunto era o mais improvável para qualquer um que os ouvisse naquele momento: a morte de seus respectivos parceiros. Dandara sentiu que precisava desabafar, assim como Gael. Quando deram por si, o Sol já estava se pondo.

—Nossa, já está tarde. _ ela disse, olhando o relógio de pulso.

—Eu posso te dar uma carona? _ ele ofereceu.

Pouco depois, Gael estacionava na frente do prédio onde morava. Ele a ajudou a retirar o carrinho de Karina do porta-malas e a acompanhou até o saguão de entrada do prédio.

—Foi uma tarde ótima! _ ela disse.

—Sim... Olha,_ ele tirou um cartão do bolso e entregou para a moça._ esse é meu número. Me liga se precisar desabafar ou... De fraldas.

Os dois riram mais uma vez, ela tinha perdido a conta de quantas vezes ele a tinha feito rir naquele dia.

—Com certeza vou ligar.

Ele sorriu e lhe deu um beijo no rosto e seguiu para seu carro. Dandara esperou até que ele sumisse na próxima curva e entrou no seu prédio. Depois de dar um banho em Karina, alimentá-la e fazê-la dormir, Dandara sentou-se exausta no sofá. Olhou para o telefone na mesinha ao lado e não pensou duas vezes. Discou os números do cartão e se sentiu reconfortada quando ouviu aquela voz dizendo:

—Eu sabia que você iria ligar hoje.

—*-*-*-

O romance entre os dois foi maravilhado, mas ambos queriam mais. Por isso, com 1 e meio de namoro, resolveram oficializar a união. Convidaram alguns amigos íntimos e se casaram no cartório.

A essa altura, Pedro e Karina já conviviam diariamente e Dandara tratava Pedro como filho, assim como Gael via Karina como sua princesinha... A princesinha do papai.

—O que faremos?_ Dandara perguntou do nada, enquanto Pedro mexia em seus brinquedos e Karina dormia tranquila em seu berço.

—Em relação a que?_ Gael perguntou.

—A eles.

—Como assim Dandara?_ ele sentou ao lado dela, no sofá.

— Quero dizer, eles não são irmãos de verdade, logo ficarão sabendo, aí vão querer saber o que houve com o pai, ou a mãe e vão crescer rebeldes!

—Danda calma! Isso não vai acontecer!

—Vai sim... A não ser que...

—Que...?

Ela se ajoelhou no sofá, com o olhar fixo na parede atrás de Gael. Parecia em transe, enquanto dizia:

—Vamos criá-los sem contar isso.

—Dandara, isso é impossível! Eles têm familiares que contarão futuramente.

Dandara se desanimou e voltou a se sentar ao lado do marido. Mas desta vez, foi Gael quem quebrou o silêncio:

—Bom... Eu recebi uma oferta de emprego.

—Que ótimo! Conta mais.

—Em São Paulo...

Dandara ia falar quando percebeu o sentido daquela conversa. Seu sorriso se alargou e ela disse:

—São Paulo?

—Sim... Vida nova... Novo cidade... Acho que você está certa, não tem necessidade de eles sofrerem, já acreditam que são irmãos então, vamos manter isso!

Dandara deu um grito de alegria e saltou para os braços do seu amado, enquanto Pedro batia palmas ao vê-los felizes. Ela se emocionou e correu até a criança, o pegou no colo e disse:

—Fala mamãe... Ma... Mãe...

—Ah é assim? Vou ensinar a Karina a falar papai então!

Os risos tomaram conta do apartamento. Na semana seguinte estavam a caminho da vida nova. São Paulo esperava por aquela família que tinha tudo para dar certo, se não fosse um detalhe: a mentira que os rondava.


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