POV Ally

(...)

– Só quero ligar para um velho amigo. - eu disse.

– Ta. Quer que eu saia?

– Não precisa, eu vou ali no corredor. Já volto.

– Okay…

Levantei da cama e andei até o corredor, peguei meu celular e liguei. Ele atendeu na hora.

– Alô? - disse a mesma voz aveludada de anos atrás.

– Shawn?

– Sim. Quem é?

– É a Ally.

– Ah, oi. O que aconteceu? Você nunca mais me ligou.

– Nada de mais… É só que…

– Lembrou da ponte?

– É…

– Você contou para alguém?

– Só pro Austin.

– O cantor? Vocês voltaram?

– Sim, tipo isso.

– Ally, você ta bem?

– Eu ainda me sinto culpada.

– Esquece isso. Não aconteceu nada.

– Mas podia ter acontecido!

– Mas não aconteceu. Além do mais nós estávamos chapados! Ninguém teve culpa.

– Onde você está?

– To chegando no campus da minha faculdade, começo ano que vem mas já vou arrumar as minhas coisas.

– Que cidade?

– Miami, Flórida. Por quê?

– Eu moro aqui.

– Legal, pelo visto já tenho uma amiga na cidade.

– Quer dar uma volta amanhã?

– Claro. Eu te ligo, pode ser?

– Ok. A gente se vê. Beijo, tchau.

– Tchau. Ah, e vê se esquece o lance da ponte.

– Vou tentar.

– Ok. Tchau.

Ele desligou.

Guardei o celular na bolsa novamente e voltei para o quarto de Austin.

– Vai sair amanhã? - disse ele parado em frente a porta.

– Você tava escutando?

– Perguntei primeiro.

– Sim eu vou sair amanhã. Com um amigo.

– Por que eu não senti firmeza nesta resposta…?

– Tá duvidando da minha palavra?

– Eu não disse isso.

– Mas pensou. Ok, eu não vou sair com um simples amigo. Eu vou mostrar a cidade para o Shawn. Ele vai fazer faculdade aqui e acabou de se mudar.

– Hm… Ta.

– Cíumes?

– Não.

– Não me convenceu.

– Chata.

– Idiota.

– Metida.

– Bobo.

– Boba.

Eu sorri e disse:

– Você não consegue brigar comigo. É evidente.

– Desta vez eu tenho que concordar. Não consigo.

– Eu escrevi uma música pra você no The Camp quando eu tava sozinha com a Maia.

– Posso ouvir?

– Entra no YouTube.

Ele pareceu não entender, mas assim fez. Sentou em frente ao computador e entrou na página inicial do YouTube. Fiquei na frente dele e digitei “All Of Me - John Legend”. Assim que os vídeos apareceram na tela, Austin olhou para mim e disse:

– Você escreveu uma música para o John Legend?

– Apenas ouça.

Cliquei no vídeo lyrics (com a letra).

https://www.youtube.com/watch?v=Spe6113csjU (primeiro assista o vídeo).

Quando a música terminou, ele me olhou e sorriu. Me inclinei para beijá-lo, mas meu celular tocou. Atendi na hora. Trish:

– Trish? - falei.

– Liga na TVZ agora.

– É muito ruim?

– Depende do ponto de vista. Eu não vejo nada demais, mas…

Desliguei o celular e liguei a TV do quarto do Austin, pus na TVZ e vi.

– Ally Dawson a compositora e namorada de Austin Moon foi flagrada por uma câmera de celular com um garoto desconhecido na saída da faculdade municipal de Miami. A fonte afirma que eles conversavam com uma intimidade surpreendende, apesar de não ter ouvido o que diziam, a fonte afirma que Ally Dawson após se despedir do garoto, foi vista aos beijos com seu parceiro de trabalho: Austin Moon. Será que há um triângulo amoroso entre eles? Ou uma traição ainda não esclarecida? - disse a repórter.

Durante a fala da repórter, apareceu uma foto minha e do Jerry saindo da reúnião. Ele estava tentando me convencer de ir para a casa dele, contudo, parecia estar me galanteando (ato de galantear, atenções amorosas, em outras palavras: cantada).

– Ally… - disse Austin assim que a reportagem acabou - Quem é ele?

– Jerry. Aluno de dança da faculdade.

– Isso é verdade?

– Sim, Austin. - falei ironicamente irritada - Eu te traí com o garoto que eu mais odeio!

Ele ficou calado.

– Francamente, Austin! Esse disco riscado já ta irritando! Você acha mesmo que eu te traíria? Eu nunca traí alguém na minha vida!

– Só o Dallas…

– Com você! Pelo amor de Deus, seja racional! Você acha que todas as vezes que eu disse que te amo foram da boca para fora?! Eu nunca duvidei de você! Quer dizer, uma vez…

– Então… É mentira?

– Eu vou pra casa. - falei já farta.

Peguei minha bolsa e andei até a porta. Estava prestes a sair quando ele pulou na minha frente e fechou a porta.

– Hey, é brincadeira.

– Nunca brinque com isso!

– Ok, aprendi a lição.

– Saco… - murmurei cruzando os braços.

– Você fica linda quando ta irritada.

– É, seria lindo ver um garfo no seu pescoço na próxima vez que você fizer isso!

– Eita! Calma esquentadinha. Abraço? - disse ele abrindo os braços.

Revirei os olhos e disse:

– Você me paga.

Mas depois o abracei.

Ainda no abraçados ele disse:

– Eu prometo que nunca mais vou duvidar de você.

Respirei fundo, me separei dele e disse:

– Não faça promessas que não pode cumprir.

– Ally…

– Não diz nada. - falei calmamente - Não precisa dizer nada. Eu… só quero ficar um pouco sozinha. Eu te ligo depois.

– Ok.

Abri a porta e desci as escadas, ele me acompanhou. Quando eu estava saindo ele disse:

– Hey, - chamou ele - eu te amo.

– Também te amo.

E fui embora.

Assim que entrei no carro, peguei meu celular e liguei para Trish, ela atendeu após alguns toques.

– Ally?

– Oi.

– Ta tudo bem? Ele viu a reportagem?

– Sim, no geral ta tudo certo. Mas… preciso conversar com alguém. Você ta sozinha?

– Er… O Frank ta aqui. Se quiser eu peço para ele voltar mais tarde.

– Não precisa. Eu… posso passar aí daqui a pouco?

– Claro. Pode vir.

– Ok, já chego aí.

– Ok.

Então desliguei. Fiquei um pouco dentro do carro parado, tentando organizar as minhas ideias. Então, por uma ideia maluca ou por puro orgulho, pus a mão que eu estava usando o anel no volante e tirei uma foto, não da mão em si, mas do volante o retrovisor, fiz uma leve inclinada para a aliança aparecer.

Botei a foto no Instagram com a legenda: Colocaria uma legenda tão foda,com toda a ideologia e poesia, mais você não ia sacar que é do seu sorriso que faço minha alegria!

Liguei o carro e dirigi até a casa da Trish. Chegando lá, desci do carro e toquei a campainha, logo, Trish abriu a porta.

Eu, ela e Frank ficamos conversando na sala.

– Eu não entendo. - disse Trish - Você disse que ele não confia em você, mas é você quem não devia confiar nele.

– Como assim? - perguntou Frank.

– Eu traí o Dallas com o Austin no segundo ano do ensino médio. - falei.

– Mas o Austin traiu a Cassidy com a Brooke, a Brooke com a Kira e a Kira com você, sem contar outros casos que não sabemos…

– Trish… - falei repreendendo-a.

– Desculpa.

– A questão é, ele desconfia de mim, mas essas “acusações” são totalmente sem nexo. Ele acha que eu traio ele com todos os garotos da cidade. - falei.

– Mas ele tem alguma razão ou prova?

– Não! - dissemos Trish e eu em coro.

– Ok, desculpa. - disse Frank se rendendo.

O celular de Trish apitou, ela viu o que era me mostrou a tela. Um artigo da Seventeen:

“Ally Dawson posta foto no Instagram usando anel suspeito

A aspirante à cantora postou uma foto na rede social na qual mostrava sua mão em cima do volante, os fãs da cantora não viram nada de mais na postagem, mas o que chamou a atenção foi um anel jamais visto antes na mão de Ally e a legenda amorosa para um suposto namorado:

‘Colocaria uma legenda tão foda,com toda a ideologia e poesia, mais você não ia sacar que é do seu sorriso que faço minha alegria!’

O anel não parecia nada de mais, mas o grande detalhe era uma incrível semelhança ao anel que Austin Moon, parceiro de trabalho de Ally. Alguns minutos após a publicação de Allycia, Austin postou uma foto na qual estava tocando violão, e o mesmo detalhe, uma única mão a mostra na qual possuía um anel com tremenda semelhança ao de sua parceira, porém, em um tamanho, aparentemente, um tanto maior.

Será o mesmo anel? Conhecidência de gostos? Um simples presente em comum? Ou, um simbolo de algum compromisso maior?”

– Mas esses fofoqueiros são rápidos, hein! - falei.

– Pois é. Mas vamos combinar que foi fofo o Austin ter postado uma foto com a aliança.

– É…

No mesmo instante eu senti uma revirada no estômago, um gosto ácido subindo na garganta. Então disse:

– Eu acho que vou…

Tarde de mais. Corri até o banheiro no corredor e joguei para fora todo o meu almoço. Senti um par de mãos puxando o meu cabelo para trás. Trish. Levantei, lavei o rosto (principalmente a boca) e ela disse:

– Quer dormir aqui? Como nos velhos tempos?

– Não dá. Amanhã eu tenho compromisso.

– Com quem?

– Shawn.

– O garoto da ponte?

– Como você sabe?

– Maia me contou.

– Ah.

– Dorme aqui e depois vai pra casa de manhã.

– Ta bem...