Depois da minha queda de pressão, Trish me fez descansar durante a ida para Londres. Eu já me sinto melhor.

Os shows em Londres foram incríveis, de certa forma não tivemos problemas. Durante a turnê, liberamos todas as músicas que Ally compôs, com exceção de Superhero, que vou cantar para ela no seu aniversário.

Neste momento, estou a caminho do hotel em Amsterdã. Farei três shows aqui, depois irei para Paris, Tokio, Hong Kong, Sidney, Lisboa, Madri… Bem, essa correria toda.

Trish e Dez decidiram ficar no mesmo quarto que eu desde a minha ida ao hospital em Toronto.

Trish não para de discutir com Dez por ter vomitado nela durante o vôo, enquanto eu rio deles.

Assim que chegamos, Trish, Dez e eu subimos para o nosso quarto, alguns minutos depois, os dois saíram para resolver tudo com o local do show. Então, resolvi tomar um banho e depois ir para a cama.

(...)

Assim que saí do banho, pus meu pijama e saí do banheiro, percebi que a tela do meu celular estava piscando, fui olhar o que era, ligação da Ally. Atendi.

– Oi Ally! Que saudade. Acabei de chegar em Amsterdã. Como andam as coisas aí? A Clar... Ally? - falei percebendo que ela não havia dito nada - Você ta bem?

– E-Eu não sei... - pude perceber que ela estava chorando.

– Ally o que aconteceu?

– Eu nunca senti quando ele estava se mexendo, nunca senti um chute...

– Ally o que ta acontecendo? - perguntei interrompendo-a.

– ...Nunca senti nada...- continuou ela - Mas noite passada... Aconteceu uma coisa...

– Uma coisa? O que aconteceu?!

– Eu acordei sangrando Austin. Não sabia o que estava acontecendo, aí o Dallas me levou no hospital, eu fiz uns exames e o médico me disse o que eu já sabia... - ela chorava mais ainda.

– O que aconteceu, Ally? O que o médico disse?! - gritei.

– A-Aborto espontâneo. Ele... Ele morreu.

Fiquei paralizado.

– Austin? Austin! - gritou ela aos prantos - Ai meu Deus!

Ela desligou. Deixei meu celular cair, então desabei. Literalmente, eu caí no chão e comecei a chorar, e que se dane o resto. Pude sentir a dor que Ally estava sentindo...

Neste exato momento, Trish e Dez voltaram para o quarto, ainda discutindo.

– Você podia ter usado um saquinho! - disse Trish

– Eu não tive tempo, além do mais… - então ele me viu no chão - Austin? Você ta bem?

– É óbvio que ele não ta bem, seu babaca!

Trish andou rápido até mim e se ajoelhou ao meu lado. Ela começou a esfregar levemente o meu ombro.

– Austin, o que aconteceu? - disse ela mudando seu tom de irritada para preocupada.

– A-Ally… - falei aos prantos - O bebê…

– O bebê? O que aconteceu?

– Ele morreu…

– Ai meu Deus, Austin. Sinto muito.

Ela me abraçou, assim como Dez.

Eu não tenho palavras para descrever a dor que estou sentindo. Na verdade, nem sei o que estou sentindo. Não sei se é tristeza, angústia ou alívio.

Tristeza por ter perdido um filho que eu nunca conheci e nem vou. Angústia por pensar no que Ally estaria sentindo. Alívio por não ter que me responsabilizar a cuidar de outra vida, até porque eu nem consigo cuidar da minha própria…

POV Ally

– Sinto muito Allycia, a senhorita sofreu um aborto espontâneo.

Neste momento, meu mundo desabou… Pensei que tudo não passava de um pesadelo, mas o sangue que saía de mim parecia bem real…

Eu me agarrei na camiseta de Dallas e comecei a chorar desesperadamente. Ele não disse nada, parecia estar paralizado ou extremamente surpreso (no mau sentido).

Enquanto eu estava no hospital, o médico já aproveitou para remover o “feto”, como o chamou.

Dallas me levou para casa e me ofereceu companhia, mas eu recusei. Tranquei-me no quarto e chorei até desidratar, FAIL.

No dia seguinte, liguei para Austin assim que acordei. Ele devia saber.

Disquei o número e liguei, ele atendeu alguns segundos depois

– Oi Ally! Que saudade. Acabei de chegar em Amsterdã. Como andam as coisas aí? A Clar... Ally? - disse ele percebendo que eu não havia dito nada - Você ta bem?

– E-Eu não sei... - falei já chorando.

– Ally o que aconteceu?

– Eu nunca senti quando ele estava se mexendo, nunca senti um chute...

– Ally o que ta acontecendo? - disse ele me interrompendo.

– ...Nunca senti nada...- continuei - Mas noite passada... Aconteceu uma coisa...

– Uma coisa? O que aconteceu?!

– Eu acordei sangrando Austin. Não sabia o que estava acontecendo, aí o Dallas me levou no hospital, eu fiz uns exames e o médico me disse o que eu já sabia... - chorei mais ainda.

– O que aconteceu, Ally? O que o médico disse?! - gritou ele.

– A-Aborto espontâneo. Ele... Ele morreu.

Fiquei paralizado.

– Austin? Austin! - gritei aos prantos - Ai meu Deus!

Desliguei na hora. Não soube ao certo o que havia acontecido, mas sabia que não era nada de bom…

(...)

Passei a tarde toda em casa. Ignorei todas as ligações que recebi. Não estava no clima para consolo… Fiquei sentada no sofá, enrolada em um cobertor e assistindo “O Que Esperar Quando Você Está Esperando”. Estava na cena em que Anna Kendrick descobre que perdeu o bebê que esperava, e por um momento, eu me vi naquela cena. Anna interpretou aquele papel com perfeição, tanto que pude sentir a dor que ela transmitia naquela cena… Não só por já ter passado pela mesma situação mas também por me ver na cena em terceira pessoa… Segurei as lágrimas até onde pude.

De repente, ouvi o som da campainha tocando. Não me levantei, apenas gritei:

– Ta aberta!

Alguns segundos depois, Clary e Mimi apareceram na minha frente, ambas caladas e sem expressão. Soube no momento em que entraram que elas estariam pensando em como reagir, se me consolavam ou não, se tocavam no assunto…

Eu teria segurado por mais tempo, mas desabei em lágrimas. Clary se sentou ao meu lado, assim como Mimi. Clary acariciou a minha cabeça e Mimi o meu ombro.

Alguns minutos depois, recebendo consolos e chorando até desidratar, eu parei de chorar. Sabia que não adiantaria de nada… Sentei direito no sofá e abracei meu joelhos. Mimi chegou mais perto e disse:

– Quer falar sobre isso?

– Eu não sei o que aconteceu…

– Dallas nos disse que foi aborto espontâneo, - disse ela - você estava muito anciosa ou estressada nos últimos dias?

– Não… Só… Muito irritada…

– Com…?

– Austin. - disse Clary.

– Como? - pergutou Mimi.

– O Austin foi visto com uma garota ontem.

– Está irritada por uma possível traição?

– Não. Eu to irritada porque acho que ele não está sendo sincero comigo. Nem ele, nem a Trish, nem o Dez, nem ninguém!

– Bem, vamos focar no assunto mais importante. Você acordou sangrando, certo?

– Sim.

– É. Realmente foi aborto espontâneo… Mas não se sinta assim, talvez não fosse a hora.

– Não era e nunca será.

– Não entendi.

– Eu não estava pronta para assumir um relacionamento sério com o Austin, muito menos para ser mãe! Eu nunca quis ser mãe. Não me sinto segura ao imaginar que terei de cuidar de uma vida além da minha.

– Eu me senti exatamente assim dois anos atrás… - disse Clary.

– Ahn? - falei sem entender.

– Eu fiquei uns dois meses sem menstruar, então resolvi fazer um teste de gravidez na farmácia. O primeiro deu positivo, o segundo negativo, então fui com o Dallas fazer um teste no hospital. Nesse meio tempo, eu entrei em desespero, tipo, uma garota que nem se formou no ensino médio grávida. Foi muita pressão. Mas quando recebemos o resultado, negativo, eu fiquei muito aliviada, pelos mesmos motivos que você.

Eu sorri. Clary me abraçou e eu retribui.

Era bom ter alguém do seu lado que já sentiu o mesmo que você para dizer que tudo ficará bem...Era bom ter Clary como amiga…

POV Austin

Não cancelei o show. Mesmo me sentindo horrível, eu me apresentei. Meus fãs são incríveis. Eles me fazem esquecer de tudo. Só a adrenalina de estar me apresentando para eles ao vivo é incrível, é capaz de me mover para outro mundo.

Esqueci de Ally por alguns segundos, mas quando olhei para a fileira da frente, imaginei ela dançando com uma criança nos braços, e isso me deixou pra baixo novamente.

Será que Ally estava aliviada também? Ou estaria chorando até desidratar? Ou quem sabe as duas opções…

Bem, isso, só ela sabe...