Martín Hernandez suspirou pesadamente ao ver o décimo replay daquele estúpido gol alemão que destruíra suas chances de voltar a ser campeão em uma copa do mundo. De novo. Já desejara os parabéns a Ludwig com uma ligação desajeitada e não muito calorosa e bebera alguns copos de cerveja com seus irmãos latinos que acharam uma boa ideia realizar uma reunião em um bar pouco conhecido de Buenos Aires para consolá-lo da derrota. Mas o mais desejado pelo argentino no momento era ficar um pouco sozinho. Tanto que convencera os outros a voltarem para casa antes do planejado, alegando que mais tarde seria difícil de saírem em razão do amontoado de gente nas ruas da cidade.

Mas não esperava que até mesmo as televisões de seu próprio país passariam horas transmitindo a vitória alemã, acabando ainda mais com sua animação para o resto da noite, e aquela silhueta já tão bem conhecida entraria em seu campo de visão.

– Oi, Martín...

Luciano da Silva encontrava-se a sua frente passando os dedos pelo cabelo escuro e mostrando-se claramente desconfortável. O loiro arqueou as sobrancelhas ao ser cumprimentado de uma forma normal – e até mesmo tímida – pelo moreno que sempre tratava de ser animado e extravagante. E inconveniente, em algumas situações.

– Se veio se gabar por essa derrota desista já, Luciano – disse com a voz ríspida. – Afinal não foi a minha seleção que tomou sete gols.

– Não é isso! – exclamou o brasileiro rapidamente. – Eu só que pensei que você estivesse um pouco... desanimado.

Martín franziu a testa. Sua descrença crescera ainda mais por imaginar que seu maior rival no futebol estivesse preocupado com ele. Não que o argentino não sentisse pena pela humilhante goleada sofrida pelo brasileiro, mas não chegara a se encontrar com o outro ou ao menos fazer uma ligação para saber como estava se sentindo. Pareceu sentir um peso no coração quando percebeu sua crueldade, mas não poderia se importar mais. Não era como se Luciano esperasse alguma simpatia por parte dele, assim como Martín também não esperava.

– Por que se importar com seu rival perdedor? – perguntou.

– Olha, estou tentando ser legal aqui – retrucou Luciano, puxando a cadeira mais próxima para sentar-se ao seu lado na mesma mesa do argentino. – Até porque grande parte do meu povo estava torcendo contra a sua seleção.

– Nunca precisamos do apoio do seu povo.

– Poxa vida, Martín, deixe de ser tão cabeça dura!

O moreno deixou o queixo repousar sobre a mesa e fez um biquinho emburrado. Suas atitudes infantis faziam o loiro rir por dentro. Apesar de também estar agindo com imaturidade naquela situação.

– Tudo bem, aceito sua tentativa de me animar – disse Martín. – Afinal ambos perdemos para o mesmo time. Embora a minha seleção tenha jogado melhor que a sua.

Ele não perdia a chance, não mesmo, aproveitava todas as oportunidades que lhe apareciam para irritar o brasileiro quando se tratava de futebol. E a tentativa obteve sucesso, pois Luciano ergueu a cabeça automaticamente e lançou ao outro um olhar fumegante.

– Minha seleção jogou melhor em todos esses anos de copas do mundo – replicou. – Temos cinco títulos e vocês dois!

– Qual a utilidade disso se não conseguem jogar como no passado? – Martín exibia um sorriso provocante nos lábios.

– O que importa é que Pelé ainda é o melhor jogador do mund- – Luciano interrompeu-se para respirar profundamente e voltar a voz ao seu tom normal. – Não estou aqui pra discutir isso, Martín, pare de criar confusão.

Martín deu de ombros, mas o sorriso em seus lábios se alargou. Apenas Luciano levaria uma discussão daquelas tão a sério após a final de uma copa do mundo perdida para ambos. Ele era mesmo estupidamente infantil.

– Mas o mais importante – o brasileiro voltou a falar. – Não tem problema não ter vencido a copa, nem mesmo eu consegui. Vamos treinar para a próxima vez.

As bochechas de Luciano estavam levemente coradas e seus olhos evitavam se encontrar com os olhos argentinos. Aquelas palavras haviam gerado um clima constrangido e quieto entre os dois rivais. Nem mesmo Martín encontrava as palavras para responder o encorajamento.

Por fim se lembrou que ainda não havia falado nada e forçou as palavras a se desentalarem de sua garganta.

– Sim, vamos ter uma partida digna em uma copa do mundo.

Luciano sorriu e voltou a apoiar o queixo sobre mesa. Martín imitou o ato, sentindo o cansaço do dia recair sobre si. O loiro sentiu um toque na lateral de sua cabeça e percebeu pelo canto do olho que o outro recostava a cabeça na sua. Em situações normais o afastaria envergonhado, mas não o fez naquela situação. Poderia não admitir, mas ter Luciano por perto conseguia o divertir e fazê-lo se acalmar quando estava muito estressado. Apreciava a presença de seu rival naquele momento, mesmo que no início apenas quisesse ficar sozinho.

A televisão continuava transmitindo a felicidade do povo alemão com o novo título, mas nenhum dos dois prestava atenção nas palavras ditas por tal. Deixavam se consolar em completo silêncio e era o bastante, pois nunca foram muito bons com frases que não houvessem finalidades provocativas. Mas ainda era a melhor forma de conforto que poderiam pedir.